quarta-feira, 29 de junho de 2022

À descoberta de Germil - 3º dia de caminhada (8KM)

[Germil - Perdido no monte - 8km]

The Interrupters - Take Back The Power

A manhã começou com a vontade de fazer a mesma volta que fiz no primeiro dia, mas ao contrário; Foi na aventura que decidi tomar, nos riscos que me pareceram "fáceis" que me perdi a tentar subir o primeiro monte.
Passei, com um toque de aventura e medo, um riacho escondido entre espinhos e vegetação densa rasteira. Atravessei com sucesso o vale que era separado pelo rio e ao avistar a encosta que me levaria ao cume do outro monte onde no primeiro dia explorei.
Inicia a demanda cheio de energia e confiança, mas à medida que o me aproximava do cume, era obrigado a desbravar terreno por mato denso, ervas e arvoredo mais alto que eu, e pedras que não conseguia trepar, a coisa foi piorando à medida que forçava a subida entre espinhos que me cobriam até cintura, incapaz de ver o chão que pisava. Fiquei com os pés encharcados e as pernas a gritar de dores pelos espinhos, numa questão de minutos. Quando percebi que não havia forma de subir, que não havia caminhos, nem pedras, nem terreno mais liso e arvoredo rasteiro, entrei em pânico.


Não fazia ideia onde estava mesmo tendo a estrada e as casas ao longe como pontos de referência. Tinha que descer e voltar a passar pelo mesmo inferno que foi subir. Não queria desistir, mas voltar a terreno seguro era a melhor opção. A meio da "derrota" ainda dei um trambolhão, acabando no meio das silvas que por sorte não me picaram, mesmo ficando de pernas para o ar. 

Depois de voltar ao inicio da primeira aventura desenfreada mato a dentro e encosta acima, voltei a aventurar-me por outros caminhos menos traiçoeiros, mais fáceis de percorrer.

Apercebi-me, com a derrota e o pânico, que a natureza não tem leis, nem castiga, não espera nem derrota.
A natureza simplesmente existe e vive, independentemente de quem se aventurar nela.
Fui até onde ninguém iria e isso deixa-me orgulhoso com uma mistura de medo e dores, já que o joelho e a canela continuam doridos.
Não me arrependo de me ter aventurado com o risco de me perder ou ficar lá preso e magoado, pois estava ciente dos riscos, porque sabia que combater esse medo e enfrentar esse desejo, essa vontade, essa energia, e de receber em troca algo que não consigo de forma alguma controlar na minha vida. Porque subir uma encosta de mato grosso e impossível de trespassar não é o mesmo que enfrentar um colega de trabalho ou um cliente chateado. Naquele momento de pânico, a culpa não era de ninguém a não ser minha, e até mesmo essa culpa eu não fiquei com ela. A vontade de enfrentar o desconhecido e o desconforto do que não controlo foi maior do que ter "caminhado pelo seguro".

"Para a frente é que é Orlando!"

À descoberta de Germil - 2º dia de caminhada (9KM)

[Rota - Percurso Germil - 7km]

Aproveitei o 2º dia para estar mais um pouco na cama, acabar de ver um filme, e esperar pelo padeiro que só chega à aldeia pelas 10 horas.
Tomei o pequeno-almoço, arrisquei ir ao Intermarche mais próximo para comprar algo doce para que ajudasse a dar-me um pouco mais de alento neste mundo quase vazio. Comprei tudo o que estava na lista, menos as molas para a roupa e os fósforos...

às 14h00 preparei-me e saí com destino à rota de Germil de +/- 7km. O que ao início parecia uma rota fácil, tornou-se numa verdadeira aventura, onde de um momento para o outro me vi consumido por arvoredo e silvas tão altas como eu durante algumas dezenas de metros. Não fosse mais corajoso e teria desistido à primeira.
Aproveitei o tempo que tinha para me aventurar em caminhos não marcados, para que pudesse fazer mais alguns kms ou percurso maior, mas aquela parte da montanha tinha sido conquistada por silvas, ervas rasteiras ou arvoredo alto e forte. Por muito esforço que eu fizesse, não conseguia avançar mais do que 2 ou 3 metros. No entanto, foi gratificante puxar os limites do meu conforto um pouco mais, tendo sempre a segurança como primeira prioridade.



Os últimos 3kms do percurso, apesar de terem sido feitos por estrada, foram muito mais difíceis do que estava à espera devido ao Sol. A mochila já pesava nos ombros e as costas davam sinal de cansaço.

Não sei o que o dia me espera amanhã, mas sinto quase como se já tivesse comprido esta aventura. Resta saber se é um sentimento interno de realizado pessoal alcançada, ou se é o meu ser, habituado ao mundano, ao fácil, à rotina a dizer-me num pequeno sussurro, que está desconfortável neste "novo" tédio.

segunda-feira, 27 de junho de 2022

À descoberta de Germil - 1º dia de caminhada

[Germil, Ponte da Barca, Portugal]
MÚSICA CELTA - Piano, Flauta - CALMARIA #034

O peso da solidão, ao longo da noite do primeiro dia,  que se fez mais fria do que o esperado, foi-se levantando. Enrolado em cobertores mais pequenos que eu mas que ajudaram a enfrentar o vazio e o silêncio de Germil.

O silêncio durante a noite, acompanhado pelo sino falso feito de megafones, foram a minha companhia, até ser recebido por um cão bege, de uma mistura de Lavrador, de pata da frente (direita) no ar e a de trás com uma ferida no joelho. Mais tarde percebi que era quase tudo fita para ter comer requintado porque rejeitou um pedaço de maçã que lhe tentei dar, tão depressa como apareceu.

A vontade de subir a encosta cresceu durante a tarde de ontem e a noite do dia seguinte. Estava decidido em desbravar terreno, fosse ele qual fosse, para chegar ao topo do monte mais próximo. Meti-me a caminho, acompanhado de silêncio, sem saber que estrada tomar, sem conhecer percursos, rotas, passagens. O objectivo era chegar lá acima, e cheguei, várias vezes, entre mato grosso, silvas e pedras.


O silêncio acompanhou-me durante toda a viagem, mas preferia que um poeta o tivesse feito. Que um pintor e um músico recriassem a obra desta magnífica natureza. Paisagens, ecossistemas, animais, plantas, que constroem este lugar rochoso, quase inóspito, num dos locais mais tranquilos que tive o privilégio e a sorte de visitar. Em certos momentos, sentia-me percorrer a Terra Média do Senhor dos Anéis.

Durante a caminhada de reconhecimento e na tentativa de chegar a um novo topo, ergui os olhos para contemplar a paisagem e deparei-me com uma cavalaria (grupo de cavalos), castanho-escuro, a comer o que o solo lhe proporcionava e a mim transformava o passeio numa aventura. Fiquei alguns minutos a apreciar, e decidi segui-los, sem medos, sem entraves, mesmo que ficasse longe da civilização, o importante era aproveitar o momento. Percorri mais 1km atrás deles até mudar de direcção para tentar descobrir caminho e voltar para casa, e ao longe bem perto do topo, dois bois enormes com cornos ainda maiores que me fizeram apreciar o animal a uma distância segura. A imponente cabeça ergue-se com o olhar fixo em mim e decidi continuar o meu caminho.

Com o passar do tempo, o peso da solidão foi desaparecendo. O peso do medo, do desconforto, do incontrolável, da tristeza. Apesar de longe do conforto da cama, da aldeia e de caminhos marcados, não me senti perdido, nem desconfortável. Estava finalmente a ter a aventura que sempre quis mas que nunca tive tempo. Pude arriscar. Pude viver, ao meu ritmo, ao meu gosto, sem horas, sem prazos.


Agora que a noite se aproxima, anseio o Padeiro que só trás pão às Terças, Quintas e Sábados pelas 10h00.
O tapete que trouxe tem dado muito jeito ao lado da cama. Faltou trazer uns chinelos, meias quentes, molas para pendurar a roupa, algo doce para dar mais conforto ou desconforto e dores. Os wraps (fiambre, queijo, frango e alface) e a fruta têm sido uma salvação, e faço questão de ter sempre duas latas de atum e garfo para emergências. 1L de água chegou perfeitamente para os 10km que percorri hoje, e ao fim da caminhada as pernas e os pés já gritavam para parar. Foi fantástico! Foi maravilho! É magnífico!
Fazer isto sozinho é incrível, mas com boa companhia, é transcendente!

domingo, 26 de junho de 2022

A solidão onde sempre vivi e que sempre me controlou...

O projecto QuotaGest deu-me a oportunidade de conhecer o Sr. Carlos Moreira da Associação Péd'Rios em Germil, Ponte da Barca, Portugal.
Numa primeira conversa fiquei a saber que o Sr. Carlos utilizava o meu programa e ele que eu era o programador por trás de todo o projecto. Rapidamente trocámos cartões de visita/publicidade do nosso trabalho. Foi então, que depois de um ano fechado em casa, e problemas que se tornaram autênticas bolas de lava, que decidi lutar contra esta solidão onde sempre vivi e que sempre me controlou.
Arrisquei, enviei email, marquei cinco dias de férias no albergue e esperei mais de um mês para iniciar esta nova aventura.

Depois de ter feito 210km, 2h de viagem, o jantar, preparar o lanche para a caminhada de amanhã e me deitar na cama, apercebi-me de que faltou trazer o essencial: boné/chapéu, meias quentes e garfos.

Introspecção
Sinto o peso do silêncio à minha volta enquanto descanso deitado num colchão com cobertores improvisados.
Estou sozinho, acompanhado apenas pelas fotos e mapas nas paredes, de colchões vazios e a escuridão lá fora.
Com o pôr do sol quase no fim, a encosta começa a cintilar de luzes, como uma procissão e festas que aparecem devagar para alegrar a aldeia neste canto remoto perto da fronteira com o norte de Espanha.

É aqui, no meio de tudo e do nada, do silêncio que tem peso, de um silêncio que sussurra levemente apenas o som do vento e dos pássaros. Uma solidão externa, fora do que sou, onde a consciência é transportada para cada célula do meu corpo. Sinto-a em cada parte do meu corpo como um lençol molhado, à temperatura ambiente, sem peso suficiente para me enterrar o corpo, nem leve que não o consiga sentir nos pêlos que me cobrem.

Tenho ainda em mim o medo que me controla. Um controlo manipulador da minha liberdade, do meu espírito. Carrasco das minhas aventuras, dos meus sonhos, dos meus desejos, das minhas conquistas.
Trago ainda preso, acorrentado às paredes do meu cérebro, talvez até faça mesmo parte das paredes e da gelatina de todas as sinapses de pensamentos e sentimentos que me formam, o controlo desmedido pelo que não posso nem consigo controlar.

Esta é a primeira etapa da minha experiência na verdadeira solidão. Acompanhado apenas por mim mesmo, com os meus monstros, medos e desejos.

segunda-feira, 15 de outubro de 2018

Chora. Sofre.

[Alone in the room - Pinterest]
Dark Piano - Broken by Lucas King

O que fazes sozinho, sentado na escuridão?
O que consegues aprender no silêncio do quarto que se fecha sobre ti?
O que sentes nas costas cansadas?
Onde se entranha o medo? As tristezas? As desilusões? A solidão?

Quanto mais lutas para fugir do frio que te embrulha nos cobertores da cama, na frieza e instabilidade da tua vida, dos teus pensamentos, mais sozinha ficas; mais longe de ti, mais fundo no poço.
Quanto mais lutas por ti, pelo sopro da vida, pelo carinho, pela voz que te sai trémula entre os lábios, mais fundo vais, mais longe te perdes, no choro que tens como único amigo.

Repetes vezes sem conta, na tua mente, a aparente destruição de tudo o que existe em teu redor, ao teu lado, à tua frente... desenterras memórias do passado para te dar alegria no presente e te servir de apoio ao futuro. Mas os teus olhos em lágrima, de garganta apertada de sofrimento, da aflição do descontrolar de uma avalanche que cai sobre ti como se tudo tivesse escolhido o mesmo dia para acontecer.
Descobres entre as frestas do muro que te enclausura, te sufoca, te faz perder o toque da luz, a força dos raios do sol, que a natureza apodrece e morre aos teus pés e tudo se torna incerto.
O que restava de beleza no mundo, desapareceu com o vento, com a chuva, com a queda das folhas.

Não há palavras bonitas, não há doces, filmes ou noites longas na cama, que curem as feridas que se abrem e se mantém.
O frio entranha-se nos ossos e tornam-se parte do frio que carregas na face, nas mãos, nas costas arqueadas.
Todos os sonhos e objectivos de dissipam, como a beleza do mundo, perdem as cores, a vontade, a inspiração. A única vontade que existe nesse novo mundo, é chorar.

O que fazes sozinha sentada na escuridão?
Não estás sozinha, não estás abandonada.
Onde se entranha o medo?
No coração que sempre bateu.
Chora. Sofre.
As coisas melhoram, vais ver.

segunda-feira, 28 de maio de 2018

Adoro ouvir-te, ver-te e cheirar-te... [51]

[We just bought it! - Pinterest]

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Um raio rasgou o céu, de uma ponta da casa à outra, iluminando a violência do vento e da chuva para lá das amplas janelas. O chão tremeu. O som entrou pelos ouvidos como uma locomotiva em descarrigalamento.
De entre a fúria da natureza, surgiu o tom azul e logo de seguida um tom vermelho. Piscavam cores lá fora. Abri a porta de madeira, inchada e pesada, as dobradiças deram sinal de horrores e a miúda tentou desprender-me os dedos da sua pequena mão. Era escusado ter medo do que desconhecia se nunca lhe desse uma oportunidade... espreitei com a garota à frente e vi uma figura feminina, fardada, sair do carro de pistola em punho. Escondia-se por trás da porta, sob a chuva gelada, com os relâmpagos a cair atrás de si.
Conseguia sentir a difícil respiração daquela agente, sobre as toneladas de água, os barulhos rasgados e as vibrações sonoras que se acompanhavam de um espetáculo de luzes.
-- Se queres viver volta para trás! -- gritei-lhe com a arma apontada à criança chorosa, com a mãe a arrastar-se ensanguentada em plano de fundo.
A agente aproximou-se, cuidadosamente.
-- Larga a arma e solta a criança! -- gritou-me, com um paço firme.
-- Jéssica... querida! -- descobri-lhe no rosto.
-- O que fazes aqui!? -- parou, surpreendida, com o dedo ainda no gatilho.
-- A acabar um serviço, e tu? -- sorri-lhe, olhando Joana.
-- Fui chamada devido a assalto e tentativa de homicídio.
-- Vieste à casa certa!
-- Hã? Porquê? -- perguntou de arma apontada para o chão, lançando o olhar entre mim e a garato, e a mãe que tentava pedir ajuda numa voz já sem força.
-- Vais-me ajudar a arrumar esta desgraça toda ou...?
-- Que valente merda que tu fizeste!!! -- gritou-me. Num só movimento, empurrou-me para trás, quase como um soco no peito.

Entrou, furiosa, arrumou a arma, e olhou em volta. No momento em que seguiu o rasto de sangue da mãe galinha, parou a marcha. Digeriu o rasto de destruição por toda a sala. Pintado no chão, nos tapetes, nos móveis virados, no sofá ensaguentado, nas mulheres de corpo e alma destruidas. Enraivecida, voltou a atenção para mim, de mãos nas ancas.
-- OLHA-ME SÓ PARA ESTA MERDA!!! VÊ O QUE FIZESTE!!! Não sei se te consigo safar desta... Pedi-te para não voltares a fazer mais nada do género, e nem um ano passou e voltas ao mesmo!? Eu devia-te ter prendido logo na primeira vez! Mas és meu irmão... ODEIO-TE TANTO!!!


Adoro ouvir-te, ver-te e cheirar-te... [52]
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domingo, 15 de abril de 2018

A construção de um império pessoal...


[Photo: Chadwick Tyler | Model: Jana Knauerova]

Viver não é sinónimo de fumar, de beber, de ir para a esplanada do café, do bar ou dançar numa discoteca. Não é viajar, nem ir à praia.
Não é sinónimo de gargalhadas com os amigos, numas muitas "loucuras" de brincadeiras parvas e infantis, que surgem pelo simples facto de ou já estarem bêbados ou em grupo.

A falsa satisfação social que o tabaco e o álcool proporcionam, envenenam o cérebro jovem que ainda não amadureceu, que ainda não cresceu. Depende do contacto social, das amizades, das conversas efémeras e do vício luxuoso de gastar +5€ cada vez que sai.
Porque quando as árvores tombadas começarem a surgir no teu caminho, e situações difíceis que não podes controlar ou melhorar te inundarem a preocupação; As conversas cheias de gargalhada, onde te sentiste aceite, integrado, ouvido e valorizado, não terão o impacto suficiente para te ajudar a decidir.

És tu quem dá o paço em frente.
És tu quem toma a última decisão.
Mas garanto-te que tomá-la quando o álcool já entrou no organismo, as gargalhadas substituiram as conversas sérias e o conforto que os amigos te deram nesse momento ínfimo da tua vida, não terá o impacto que desejas. Pura e simplesmente, porque não foste capaz de ver que a árvore tombada tinha um arbusto de silvas do outro lado. Se estás à espera que eles estejam ao teu lado na tua primeira entrevista de emprego, na ida às finanças, na fila dos CTT, ou naquele primeiro exame de código, estás cego.

Os amigos ajudam a apaziguar o stress, o nervosismo e a dar uma falsa satisfação ao ego. Esses teus "momentos de viver", de "aproveitar a vida", são outra droga, outro vício que já não controlas, que julgas ser o bem mais necessário; Os momentos que te tornam quem és...
És incapaz de ir para o café sozinha, porque na realidade, és incapaz de estar sozinha no mundo, por tua própria conta. Tens medo da solidão. Tens receio do que os outros possam pensar em ver alguém sozinho no café. Vives de um medo que não controlas.
O momento em que entras para o mercado de trabalho, recebes dois sacos: um de responsabilidades e outro de deveres.
A tua liberdade, a tua voz, a tua opinião, deixam de contar, porque as pessoas são mais velhas do que tu, têm mais poder do que tu, e se te poderem foder, fodem.
Voltas então ao mesmo vício, à necessidade de estar com os amigos, de puxares um cigarro e beber uma cerveja, na esplanada do café, com o desejo de soltar o stress, o nervosismo e a tristeza acumulada durante a semana de trabalho.
Entras num poço, numa espiral que não te leva a lado nenhum mas que acreditas estar a fazer alguma coisa com a tua vida porque estás feliz nesse momento, e a vida nem está má; recebes o teu ordenado, tens carta e até carro próprio ou dos teus pais, e sais para passear e até lês uns livros... mas não podias estar mais longe da realidade em que se tornou e se transforma a tua vida.
Paras no tempo. Estagnas. Tornas-te mais um(a), português amargurado, que critica o estado do mundo, do país, ou da mentalidade dos outros, por o país não ser como os teus amigos. Não ser fácil como o teu cigarro e a tua cerveja.
A única solução que encontras para combater esse tédio, essa falta de vida própria, é sair com os amigos, lançares objectivos para o "próximo ano" e "acreditar" que as coisas vão melhorar.
Mas continuas a estar longe da realidade. Continuas a ser incapaz de ver e de compreender por ti, sozinho(a), que viver a vida não se faz através de cafés, cigarros e cervejas, tão pouco de viagens, mas das decisões. Do caminho difícil que precorres para realizar um sonho.

É fácil sonhar, mas é na luta dele, do esforço ao longo dos anos, dos sacrifícios, que te realizas e vives.
Os livros de auto ajuda são uma excelente oportunidade para aprender a ser alguém melhor do que já és, mas apenas ler não chega. É preciso ver os outros, experimentar, errar e tentar.
Se não partir de ti a mudança... Se não vier de ti a vontade consciente de deixar para trás os maus hábitos, os vícios, e começares a fazer da tua solidão, do teu Eu, da tua alma, um amigo, uma prateleira com livros de tuas anotações, da cultura e razões fundamentadas de seres o que és, não cresces, não te tornas melhor...

Por viveres a vida de forma tão vibrante, divertida e despreocupada durante tantos anos, o impacto da realidade das coisas que te rodeiam começam a apertar no pescoço, a fazerem-se sentir em peso nas costas mal habituadas, começa-se a fazer sentir, quando precisas de tomar uma atitude, uma decisão importante e falhas ou te é difícil, porque o hábito assim o proporciona.
Entras em stress, em pânico, em parafuso, por coisas tão simples... Não te é habitual "pensares demais" nas coisas. Preocupares-te com elas. Com a responsabilidade ou exigência do trabalho que tens a fazer, dos documentos para assinar ou assuntos para tratar, nos mais diversos locais que desconheces, onde não se riem para ti, não te aceitam no grupo ou bebem uma cerveja contigo enquanto puxam do segundo cigarro, porque não estão entre amigos que se apoiam...
Por viveres a vida de forma tão vibrante, divertida e despreocupada durante tantos anos, as coisas que te rodeiam, tal como as pessoas, as aventuras, as coisas exitantes, loucas e diferentes, perdem força, beleza, curiosidade aos teus olhos. Tudo se torna "igual", parado, monótono, indiferente...

Viver, caro humano, não é a "curtição" num café, numa esplanada, em pleno desboche social, para quebrar tabus, ideias políticas ou ideologias sociais, mas sim na produção e desenvolvimento de quem tu és, e usares o que tens para dar, para melhorar o mundo. Não precisas de ir tão longe, basta fazer a diferença com aquilo que mais gostas de fazer.

Viver, tem como base dois pontos:
  • A construção de um império pessoal.
  • A construção de um império social.

A construção do teu império pessoal, é aquilo de que te constróis. É aquilo que és quando estás sozinho. É a maturidade e a personalidade que desenvolves ao longo da tua vida.
São as experiências que tiveste. São os erros, os fracassos, os sucessos. São os filmes, as séries, os livros, as revistas, os documentários.
Esse teu império pessoal, é o que te define. São os argumentos que possuis para provar porque gostas da cor, ou da música, ou do filme que te dizem tanto.
Se não és capaz de crescer por dentro, será dificil cresceres por fora quando estiveres sozinho. E acredita, um dia vais estar sozinho... E se não estiveres sozinho fisicamente, vais estar sozinho de forma pessoal, sem conhecer ninguém e ninguém te conhecer. Nesse dia, quando o teu Eu surgir, vais sentir na mente que não foste capaz de desenvolver nem de habituar, a solidão e a frieza do que é estar sozinho e dependeres de ti para sobreviver no mundo. Porque na verdade, criaturazinha, não tens valor nem és ninguém, tal e qual como eu.

A construção do teu império social, é tudo o que fazes com familiares, amigos, estranhos, empregados de mesa ou qualquer outro tipo de interacção com pessoas. São a "cortição" até às tantas da noite com os amigos e colegas, seja de trabalho, de escola ou de infância.
São as tardadas ou as horas prolongadas na esplanada do café, no meio de uma conversa para marcar presença, para rir e engalhofar.
São as cunhas, são as amizades rápidas, os namoros. São a capacidade de meter conversa para criar amizades, através da simpatia ou educação.

Ambas são importantes. Ambas te dão ferramentas para viver e saborear a vida de uma forma consciente e responsável. Pois de um lado tens a capacidade de estares sozinhos e criares os teus momentos, os teus sonhos, e do outro tens o amor ou a atenção que muitos de nós precisam.

A única diferença, é que preferiste desenvolver as tuas "competências" sociais, enquanto acreditavas que o teu império social crescia no mesmo passo.
Fazem mais por ti as caminhadas no meio da floresta, com ou sem GPS, o pôr do sol e aqueles pequenos momentos que te dão energia ou tristeza à alma. Faz-te melhor a exploração da gruta que negas existir dentro de quem és desde que nasceste. A escuridão da depressão de que todos transportamos como um cancro em bomba relógio.
Faz mais por ti um livro, que um cigarro e uma cerveja na mão.
É quando tens a cabeça debaixo da bota pesada, que te pressiona o crânio, te prende as mãos e te arranca do coração e do corpo todo o desejo e força de "viver", que passas a saber o que é realmente estar vivo e a importância que as coisas que nunca fizeste te começam a gritar tanto, até abrirem tuneis na pele, do nó da garganta às pontas dos dedos, como arrepios e assombros que em voz de lamentação, te fazem perceber e consciencializar de que deverias ter sido mais produtiva para contigo, ao invés de "curtir" a vida da forma mais despreocupada e luxuosa possível, porque "só se vive uma vez."

Mas é precisamente aí que pessoas como tu se enganam, se engasgam, se tornam hipócritas. É nesse momento de paralesia social do "desboche" e "curtição", que param, que estagnam. Porque é verdade que só se vive uma vez, e que se deve levar e fazer essa caminhada da forma mais alegre e preenchida possível, só não te podes esquecer de que para viver ao máximo, precisas de comer, precisas de roupa, de um tecto, de uma cama, e essa vida tão maravilhosa que levas de adolescente irreverente, um dia acaba, porque o dinheiro é emprestado pelos teus pais, como injecções de capitais.

Se não fizeres pelo teu futuro, não terás nenhum.


Para ti, que não fumas nem bebes, que não sais muito de casa e tens poucos ou nenhuns amigos com quem sair... Lê; Percebe que não precisas de nada dessas coisas para viveres. Para cresceres, para te tornares num homem ou numa mulher. A tua história não se constrói no meio de venenos e vícios que te sugam o pouco dinheiro que tens todos os meses. E o tempo que estarias num café, poderias estar a ler um livro, a escrever, a desenvolver projectos. Não precisas de ter medo por andar sozinho(a).
Sê tu próprio. Não te sinjas por modas, nem pelo que os outros fazem.
Acusarem-te de não viveres, de não curtir a vida, não significa que estás errado, signfica que preferes investir o teu tempo noutras coisas.
Usa esse tempo livre para enriqueceres a tua cultura geral. Para ler, para compreender melhor o mundo que te rodeia.
Constrói e solidifica a essência daquilo que és. Tornares-te melhor de ti para os outros. Cada tentativa que resulte num erro, estás a um passo mais próximo de te tornares quem sempre desejaste ser. Mesmo que te inspires em alguém físico, ou no personagem de um livro ou das tuas histórias, reconhece e percebe que um dia irás lá chegar, irás ser tão bom ou melhor do que aquilo que sonhas.
Dá tempo. Alcançar esses objectivos demora anos.
Uma dica... Põem os pés fora de casa ou os pés bem acentes na terra. Sê analítico em tudo o que te acontece ou te rodeia. Não deixes as emoções tomarem e controlarem as tuas decições. É esse o caminho que tens de percorrer para te tornares alguém ainda mais interessante. Crescer! Descobrires-te, re-inventares-te. A ti, e à tua história. Virares a página do teu próprio livro, e continuares, levando contigo tudo o que sabes, tudo o que sentes, tudo o que sonhas, tudo o que te faz sofrer e sorrir.

Tu, que me lês, e és um merdas; Sentes-te um merdas ou te fazem sentir um ninguém que não sabe aproveitar a vida, curtir, festejar, fazer amigos. Vou-te contar um "segredo".
Para poderes fazer alguma coisa da tua vida, tens de começar uma revolução dentro de ti para alcançar a mudança mais importante da tua mente: Confiança!
Enquanto não tiveres confiança em ti, nas coisas que fazes, nas coisas que dizes, e te deixares dominar pelas incertezas, pelos medos, pela vergonha, pelos pensamentos negativos, pela depressão ou pela morte daquilo que testemunhas todos os dias de ti próprio, vais continuar a caminhar na mesma estrada, com espinhos e árvores tombadas.
O dia em que respirares confiança, vais enfrentar o próximo degrau: tornares-te Macho/Fêmea-Alpha. E por muito que finjas ter confiança, um dia isso vai tornar-se parte de ti como o caminhar, e não há mal nenhum nisso, porque no fim e no fundo, todos nós usamos máscaras.
Os ombros vão estar direitos, as costas deixaram de estar quebradas pelo medo e insegurança, e o teu caminhar vai ser firme e confiante.
Com o tempo, com a luta que pretenderes fazer, vais perceber mais tarde que TU podes alcançar tudo! Que TU podes fazer tudo, ser tudo, ir a todo o lado e perguntar o que quiseres! Porque a vida, torna-se muito mais simples, muito mais fácil, quando a vês sem medos, sem vergonhas, sem o nervosismo de interacção humana.
Depois do teu exame de condução, o medo de conduzir controlava a tua mente. Injectava em ti sonhos aterrorizantes de acidentes e multas. No entanto, com o tempo, ganhas-te confiança nos pedais, nas mudanças, no volante, e em ti mesmo. Se olhasses para trás, para a tua primeira aula de condução, dirias que foi uma das experiencias mais assustadoras da tua vida, mas que conquistaste, com o tempo, por muito dificil que tenha sido.
É precisamente assim que deverás ver a vida. Não há razão para ter medo, vergonha, incertezas, receios, nervosismo, ou entrar em paranóia ou stress por algo tão insignificante.
Porque o segrego, é saberes que o podes fazer! É saber que com o tempo tudo se torna um hábito ou te nsai aturalmente.
É agarrar a vida pelos cornos! Torcer e amassar! É rasgar tudo aquilo que te prende numa zona de conforto que existe apenas na tua mente, e seres a pessoa curiosa que és! Perguntar, descobrir, aprender.

Não precisas de beber, de fumar, de sair à noite, de ir ao cinema, de ter montes de amigos e te sentires integrado num grupo. Isso são tudo cadeados que te prende nas caixas daquilo com que a sociedade te pretende controlar e desmiular. Esses vicios e fraquezas não fazem parte da pessoa que és; da pessoa que escondes e guardas dentro de ti: o Macho/Fêmea-Alpha! O líder! O corajoso! O destemído! E não há mal nenhum em seres tudo isso porque os outros não fazem ideia nem querem saber.

Enquanto não te puseres á frente do urso, não saberás que tens um lobo dentro de ti. Se vais sair, cordeirinho, sai à vida agarrando-a pelos cornos! Torce e amassa! Tudo o que tens de fazer, é saber que o podes fazer. Só tens de ir lá e conquistar. E mostra a todos os filhos da puta que te disseram que não podias fazer nada da tua vida, que estás a caminho! Porque tu vais conquistar tudo aquilo que eles disseram que não serias capaz. E lembra-te: Tudo aquilo que não te matar, é melhor correr!!!
Tens dentro de ti tudo o que precisas para ser um líder, para conquistar e dominar a tua vida e o que desejas para ti. Será com esses pés que vais desbravar caminho para que outros te sigam. Será com essas mãos que irás criar o que mais desejas. Com a tua postura, irás dominar e conquistar qualquer lugar que entres. Se errares? É natural, como a natureza. Não vives para aprender, aprendes para descobrir realmente como viver.
Tu constróis a tua vida.

Mas... e quando te sentires triste? Vazio, com medo, nervososo, envergonhado, sensível? Aprende a perdoar. A perdoar aquilo que és. Aprender a analisar o porquê das coisas que te deixam assim. Além disso, quem disse que depressão é uma coisa má? Que descer até ao fundo do poço é uma coisa horrível? Que ter medo te destrói? É com os momentos mais tristes e infelizes da nossa vida que podemos valorizar o sorriso, a gargalhada, a piada, os momentos realmente bons, bonitos e genúinos. Pois para sentires o carinho e o afecto de um abraço, tens primeiro de sentir a solidão e a tristeza profunda. Aprende a abraçar a solidão e tudo o que ela traz consigo.

Existe uma frase muito interessante sobre relacionamentos:
"Ao inicio é tudo muito bonito. Cheio de amor e paixão; A pessoa lambe-te de alto a baixo e de um dia para o outro, deixas de ser alguém."
As pessoas à tua volta, têm o Síndrome Titanic. O que me sempre me diferenciou de pessoas da minha idade, é que eu sabia que o navio iria bater um dia. Enquanto eles estão na "curtição", a fumar, a beber, a "viver a vida", despreocupados por o navio ir bater no iceberg, eu já comecei a aprender a nadar.
Consciêncializa outra coisa: Essas pessoas que conheces, que vão para os cafés, ou que bebem e fumam, que saiem de casa para "aproveitar" a vida, que saem à noite, grande parte dessa gente não tem filhos, não tem obrigações financeiras dispendiosas todos os meses. Muitas não trabalham, não têm filhos, só estudam, e os papás sustentam todos esses gastos de vida louca. Vivem a vida com o dinheiro dos pais, e não há nada mais humilhante para o carácter de uma pessoa dessas, do que usar e gastar o dinheiro de outras pessoas, para aclamarem e plenos pulmões que eles é que sabem "viver a vida", e curtir, e que eles é que são fixes porque têm amigos, e saem de casa, e fazem festas e vão todos juntos até á praia. Mas alguém os sustenta...

A construção do teu império pessoal, da tua pessoa, da tua mente, da tua solidão, da tua força, da confiança e da tua presença, é a escada mais importante que subirás na vida. Tu és o Alpha.
Se as coisas não te desafiam, não te irão mudar. E quando um dia olhares para trás, para a pessoa que és hoje, vais sentir orgulho ou saber que podias ter feito mais?

O que farias se não tivesses medo?

O que farias?
O que dirias?
Onde irias?

Isso que sentes, que te prende, é o único obstáculo entre ti e a realização de tudo o que desejas ser. É uma pergunta que te faz tremer, porque descobres nesse ponto de interrogação o vazio em que sempre sobreviveste, sem nada para espremer, sem nada para emoldurares. Foste, simplesmente. Existes meramente, como um peão num jogo de xadrez. Como uma cara no meio da multidão, no plano de fundo da vida dos outros.

Vais ter medo a tua vida toda, ou vais fazer alguma coisa com ela!?