segunda-feira, 27 de junho de 2022

À descoberta de Germil - 1º dia de caminhada

[Germil, Ponte da Barca, Portugal]
MÚSICA CELTA - Piano, Flauta - CALMARIA #034

O peso da solidão, ao longo da noite do primeiro dia,  que se fez mais fria do que o esperado, foi-se levantando. Enrolado em cobertores mais pequenos que eu mas que ajudaram a enfrentar o vazio e o silêncio de Germil.

O silêncio durante a noite, acompanhado pelo sino falso feito de megafones, foram a minha companhia, até ser recebido por um cão bege, de uma mistura de Lavrador, de pata da frente (direita) no ar e a de trás com uma ferida no joelho. Mais tarde percebi que era quase tudo fita para ter comer requintado porque rejeitou um pedaço de maçã que lhe tentei dar, tão depressa como apareceu.

A vontade de subir a encosta cresceu durante a tarde de ontem e a noite do dia seguinte. Estava decidido em desbravar terreno, fosse ele qual fosse, para chegar ao topo do monte mais próximo. Meti-me a caminho, acompanhado de silêncio, sem saber que estrada tomar, sem conhecer percursos, rotas, passagens. O objectivo era chegar lá acima, e cheguei, várias vezes, entre mato grosso, silvas e pedras.


O silêncio acompanhou-me durante toda a viagem, mas preferia que um poeta o tivesse feito. Que um pintor e um músico recriassem a obra desta magnífica natureza. Paisagens, ecossistemas, animais, plantas, que constroem este lugar rochoso, quase inóspito, num dos locais mais tranquilos que tive o privilégio e a sorte de visitar. Em certos momentos, sentia-me percorrer a Terra Média do Senhor dos Anéis.

Durante a caminhada de reconhecimento e na tentativa de chegar a um novo topo, ergui os olhos para contemplar a paisagem e deparei-me com uma cavalaria (grupo de cavalos), castanho-escuro, a comer o que o solo lhe proporcionava e a mim transformava o passeio numa aventura. Fiquei alguns minutos a apreciar, e decidi segui-los, sem medos, sem entraves, mesmo que ficasse longe da civilização, o importante era aproveitar o momento. Percorri mais 1km atrás deles até mudar de direcção para tentar descobrir caminho e voltar para casa, e ao longe bem perto do topo, dois bois enormes com cornos ainda maiores que me fizeram apreciar o animal a uma distância segura. A imponente cabeça ergue-se com o olhar fixo em mim e decidi continuar o meu caminho.

Com o passar do tempo, o peso da solidão foi desaparecendo. O peso do medo, do desconforto, do incontrolável, da tristeza. Apesar de longe do conforto da cama, da aldeia e de caminhos marcados, não me senti perdido, nem desconfortável. Estava finalmente a ter a aventura que sempre quis mas que nunca tive tempo. Pude arriscar. Pude viver, ao meu ritmo, ao meu gosto, sem horas, sem prazos.


Agora que a noite se aproxima, anseio o Padeiro que só trás pão às Terças, Quintas e Sábados pelas 10h00.
O tapete que trouxe tem dado muito jeito ao lado da cama. Faltou trazer uns chinelos, meias quentes, molas para pendurar a roupa, algo doce para dar mais conforto ou desconforto e dores. Os wraps (fiambre, queijo, frango e alface) e a fruta têm sido uma salvação, e faço questão de ter sempre duas latas de atum e garfo para emergências. 1L de água chegou perfeitamente para os 10km que percorri hoje, e ao fim da caminhada as pernas e os pés já gritavam para parar. Foi fantástico! Foi maravilho! É magnífico!
Fazer isto sozinho é incrível, mas com boa companhia, é transcendente!

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