domingo, 26 de junho de 2022

A solidão onde sempre vivi e que sempre me controlou...

O projecto QuotaGest deu-me a oportunidade de conhecer o Sr. Carlos Moreira da Associação Péd'Rios em Germil, Ponte da Barca, Portugal.
Numa primeira conversa fiquei a saber que o Sr. Carlos utilizava o meu programa e ele que eu era o programador por trás de todo o projecto. Rapidamente trocámos cartões de visita/publicidade do nosso trabalho. Foi então, que depois de um ano fechado em casa, e problemas que se tornaram autênticas bolas de lava, que decidi lutar contra esta solidão onde sempre vivi e que sempre me controlou.
Arrisquei, enviei email, marquei cinco dias de férias no albergue e esperei mais de um mês para iniciar esta nova aventura.

Depois de ter feito 210km, 2h de viagem, o jantar, preparar o lanche para a caminhada de amanhã e me deitar na cama, apercebi-me de que faltou trazer o essencial: boné/chapéu, meias quentes e garfos.

Introspecção
Sinto o peso do silêncio à minha volta enquanto descanso deitado num colchão com cobertores improvisados.
Estou sozinho, acompanhado apenas pelas fotos e mapas nas paredes, de colchões vazios e a escuridão lá fora.
Com o pôr do sol quase no fim, a encosta começa a cintilar de luzes, como uma procissão e festas que aparecem devagar para alegrar a aldeia neste canto remoto perto da fronteira com o norte de Espanha.

É aqui, no meio de tudo e do nada, do silêncio que tem peso, de um silêncio que sussurra levemente apenas o som do vento e dos pássaros. Uma solidão externa, fora do que sou, onde a consciência é transportada para cada célula do meu corpo. Sinto-a em cada parte do meu corpo como um lençol molhado, à temperatura ambiente, sem peso suficiente para me enterrar o corpo, nem leve que não o consiga sentir nos pêlos que me cobrem.

Tenho ainda em mim o medo que me controla. Um controlo manipulador da minha liberdade, do meu espírito. Carrasco das minhas aventuras, dos meus sonhos, dos meus desejos, das minhas conquistas.
Trago ainda preso, acorrentado às paredes do meu cérebro, talvez até faça mesmo parte das paredes e da gelatina de todas as sinapses de pensamentos e sentimentos que me formam, o controlo desmedido pelo que não posso nem consigo controlar.

Esta é a primeira etapa da minha experiência na verdadeira solidão. Acompanhado apenas por mim mesmo, com os meus monstros, medos e desejos.

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