terça-feira, 29 de outubro de 2013

Medo...


Um som oco surgiu na janela, muito ténue, como o caminhar da mamã na cozinha. Ouvi-o de novo, mais forte, acompanhado por um sombra indistinta no cortinado. Cautelosa, agarrei-o, e muito devagarinho afastei o muro bege, enfeitado com flores rendadas, dos meus olhos curiosos. Uma passarinho cinzento, debatia-se para entrar. Aproximei-me para o ver melhor e parou de bater as asas. Olhou para mim e piou. Piou novamente. Senti um pedido no seu piar e na forma de como batia no vidro. Abri a janela e ele saltitou para o parapeito interior. Afastei-me de imediato, com um medo que desconhecia. Desejava tocar-lhe e abraça-lo, mas tinha medo que me picasse.

Tenho um medo irrealista de coisas que me impedem de evoluir, de crescer e amadurecer. Medo e "pavor" de pequenas coisas que exprimidas não saem nada. É um medo de saltar a pequena poça e ficar com receio de que quando chego à outra ponta, cair e molhar. Medo de me ridicularizar, tornar-me num alvo de gozo ou de assalto. Uma variável imutável, constante, que só posso mudar a cada passo que ganho confiança no mundo, para além de mim mesmo. Porque o que me impede de ser um herói, é a violência que não controlo, que destrói o mundo e corrompe as pessoas.

Não estou em Auschwitz, mas às vezes pareço caminhar para as câmaras de gaz.

domingo, 27 de outubro de 2013

Descobri o som que me acalma...



Liguei a torneira da água quente e temperei com a fria. Devagar deixei o meu cabelo molhar-se e o meu corpo cobrir-se por uma fina camada de aconchego. Uma massagem à muito esperada. Coloquei o cabelo para trás, fora da minha cara e tapei os ouvidos, e fechei os olhos. Comecei a ouvir a chuva e o som de forte que parecia um comboio pesado a aproximar-se. Como um gutural vibrante. Um silêncio vindo do espaço.

Descobri o som que me acalma... um som da chuva que se mistura com o correr do sangue nas minhas orelhas. Uma concha que me canta o som do abraço mais reconfortante, que me torna melancólico. Nesse momento tão único, o meu cérebro tem tempo para pensar, ser e observar o mundo que tendo em esquecer na escuridão e profundeza do meu ser.

Fecha os olhos e ouve...

domingo, 20 de outubro de 2013

Às vezes esqueces-te...



Olhou para ele, observando nostalgicamente, como gotas que batem em janelas, uma lágrima que percorria os contornos da sua cara, sentiu um calor no peito e as mãos frias.
-- Eu sou tu nos teus dias mais tristes, e tu és eu, nos meus dias mais felizes. Não preciso de dor para sofrer e não preciso de sorrir para ser feliz. Basta ouvir a tua voz junto ao meu ouvido, sentir as tuas mãos tocarem-me a cara e os teus olhos conquistarem os meus com o tempo. É um amor que me faz esquecer a dor de não te ter. Sonhos e desejos que me aquecem à noite, aprisionando-me por vezes em sonhos abafadores, tristes, repletos de amargura e desafios impossíveis. Vejo-te em cada cor de cabelo, cada caminhar confiante e esfolhar de livros. Estás em todo o lado, mas é a tua voz que denuncia o sócia do teu eu que me entristece, me enraiva e me faz amar-te.
-- Os teus dias mais tristes, Cátia, são os meus dias mais felizes. -- ela olhou para ele, estranha, sem conseguir perceber o que queria dizer. Ele era feliz por saber que ela estava infeliz? Gostava de a ver sofrer? -- São os mais felizes, porque finalmente desces dessa tua grandeza e partilhas comigo uma dor que não me quer largar a mão. Tornas-te mais carente, tristonha e eu embalo-me contigo num carinho mútuo. Olhas-me nos olhos, agarras-me as mãos e beijas-me sem pensar. Fazes-me feliz nos teus dias mais tristes, porque deixas de ser a Cátia e o teu Eu, para passares a ser a consciência instintiva e emocional que esqueces que existe na tua vida e na dos outros. Relembras-te de quem sou e do que faço na tua vida, que achas ser tão perfeita. Uma vida imperfeita que eu ajudo ao limar as pontas da tua rabugice, intolerância ou falta de paciência.

Firme como uma estátua, com os seu par de olhos acastanhados fixos nos do seu namorado, Cátia manteve-se calada. A voz do rapaz entrava-lhe com toda a sabedoria, quase como um poema que explicava o mundo. Tremeu com um arrepio na espinha. Os cabelos eriçaram-se e ficara surda por um momento, sem nunca deixar de ver a face simpática daquele que a comprava através do dom da palavra. Ouviu as ondas do mar perto de si e os sinos tocarem ao fundo. As gargalhadas de crianças seguiram-se como um comboio que se aproximava, tornando-se, no fim, no som da chuva que batia na sua janela. Olhou-a de olhos pesados. As emoções escorriam pelo vidro, aprisionando-se num grito cheio de força de vontade, mas sem poder para fazerem a diferença. Tal como as palavras que se agarravam às papilas gustativas, arrastando uma voz roca e fraca, tal como as fracas palavras que não pensava em dizer.

-- Esqueci-me do quão bonito és...
-- E do quão bonita te tornas...
-- Do calor que me provocas no peito...
-- E na fraqueza que sinto ao respirar...
-- Dos lábios molhados...
-- E nas palavras doces ao teu ouvido...

Cátia sentiu as pernas pesadas. As mãos carentes tocaram a própria cara e ajeitaram o cabelo. Ele sabia que estava submissa, cansada, necessitada e caminhou calmamente para junto daquela rapariga calada, tranquila à janela. Sentou-se, olhou-a e com um sorriso de compreensão, de persistência, levou, com alguns dedos, uma madeixa à frente da cara dela para trás da orelha. Tocou-lhe a cara e de olhos apaixonados nos dela, beijou-a no momento oportuno. Cátia soltou uma lágrima. A chuva lá fora tinha finalmente conquistado. Vim, Vivi, Venci.


A única imagem que faz sentido de pernas para o ar, é a do universo.

sábado, 12 de outubro de 2013

Tu és a Malala, e devias deixar de ser criança...




Vi este texto no facebook, e li o artigo. Vi o video e fechei a aba um pouco confuso sobre o que tinha acabado de ver. Ao fim do dia, enquanto esperava que o sono viesse, o meu cérebro atirou-me de novo com a "noticia" sensacionalista que tinha lido durante o dia, e percebi.

Jovem, Malala, "terroristas" não querem saber se defendes a educação dos filhos deles. Estás errada em todos os sentidos, e pior ainda, fazem de ti e da tua "história" noticia. Precisas de crescer primeiro, antes de achares que atirar um sapato é melhor do que fugir ou acabar com a violência usando a violência. Precisas de ir às aulas de história, para perceber que o mundo não se fez só de abraços e de trocas comerciais, foi também através da conquista, de tortura, de guerras e genocídios. Dá uma vista de olhos a este video: "Map of Europe 1000 AD to Present" ou ainda este: "Europe/Middle East from 1000AD to the 2000".

Quando perceberes que assassinos estão na cadeia por uma razão, irás perceber a razão de haver guerrilhas no teu país. As pessoas que te "perseguem" não são formadas! Não andaram numa universidade, numa escola, ou numa instituição religiosa. Andaram nas terras, a brincar dentro e fora de casa a ver tudo o que lhes pertencia, ser roubado. São pessoas com ideais diferentes dos teus, e muito próximos dos de Hitler. Dominar o seu país e o mundo. Se lesses mais artigos na internet, e focasses a tua atenção em temáticas sobre a história do mundo, quer antigo, quer actual, irias ler e "aprender", que os países árabes nunca tiveram uma verdadeira "revolução" no seu país. Nunca foram países de conquistar outros países, como o foram a Alemanha, Roma, Grécia, Portugal, Espanha, Inglaterra e França. Perceberias que uma guerra no médio-oriente é eminente, pela simples razão de os seus povos começarem a desenterrarem-se das cinzas e poeira com o qual foram pisados pelos templários que tanto sangue e morte levaram às suas terras. Os próprios Espanhóis e Portugueses, apesar de não estarem em guerra e de exportarem e importarem muito dentro da Peninsula-Ibérica, não são um povo que se deixaria absorver pelo outro. Jamais se unificariam. E a razão!? Porque os nossos antepassados lutaram muito para podermos ter um país como o que temos hoje. Porque a história da Europa foi criada sobre constantes lutas, guerras e conquistas, quer por terra, quer por mar. Nenhum país no seu perfeito juízo cederia o seu território para criar um único país, sobre um único "rei". A razão de a "União Europeia" ter sido criada pela França, foi única e exclusivamente para que a Alemanha não voltasse a entrar em guerra com os restantes países da Europa.

Tu és a Malala, e devias deixar de ser criança... devias deixar de acreditar que podes mudar o mundo. Um mundo criado sobre sistemas de droga, guerra e políticas de monopólios que nunca conseguirás derrubar com: "Eu apoio a educação dos teus filhos, senhor-que-me-quer-matar.". Já fui como tu, em que acreditava que podia mudar o mundo. Mas não podes, não da maneira como estás a tentar fazer. Já muitos tentaram e nunca conseguiram. Eis um exemplo mundialmente conhecido: "A garota que calou o mundo por 6 minutos".
De certa forma, o problema nem é o facto de usares as mesmas ideias que Jesus Cristo copiou de culturas antigas, mas o facto de em países "civilizados" e "desenvolvidos", criar uma sociedade com educação, mentalidades, ideias e opiniões fracas, descontroladas, revoltadas ou emocionalmente fáceis de manipular. São sociedades americanizadas, sem qualquer tipo de civismo ou intelectualidade. Se queres mudar o "mundo", tens de mudar os pensamentos daqueles que levaram para o teu país, a tecnologia que os teus co-cidadãos não souberam construir e/ou desenvolver.

Da próxima vez não lances um livro, lança uma posta de pescada. Acredita, faz mais efeito do que atirar um sapato. Ainda não sabes? A crise na Europa começou porque um "analista" americano disse qualquer coisa, num programa qualquer de economia, de que a Europa estava a entrar em receção. A verdade é que também a China o está e não vês ninguém falar disso. Faltou a posta de pescada...

O que eu mais gosto...

[Maks N by ~Anhen]

O que eu mais gosto, depois do banho ou ao fim do dia, é despir a camisa e olhar o meu corpo pálido no espelho. Sentir o cabelo comprido sobre os meus ombros, as minhas costas e os meus braços, quase como se "a" namorada me abraçasse por trás, com vontade de andar às cavalitas. De observar as costelas que se sobressaem como teclas, de ver o peito encher-se de ar.
De vestir a camisa e dobrar as mangas, as calças, os sapatos e sair à rua, numa tentativa de atrair o olhar de alguma rapariga, ou de a assustar com o meu cabelo que, parece agradar mais as mulheres que os homens. Talvez nem seja "nojo" ou "confusão", mas inveja. Porque o meu cabelo comprido e "bonito", Transforma a minha cara, o meu corpo, dá vida aos meus olhos, aos meus lábios ou ao meu corpo. Gosto da transformação "drástica" que este longo pedaço de queratina é capaz de criar à minha volta. De me tornar mais novo com um simples aparo da barba, ou de me tornar num desleixado com a roupa que não me assenta tão bem. Ou de aparecer bonito, ou até "charmoso", e sentir-me bem. De levar as mãos ao cabelo, ou de olhar para elas com alguma vergonha.

O que eu mais gosto em mim... é a minha capacidade de surpreender, de tornar irresistível ou bonito, o que parece ser "só mais um" ou um rapaz "normal".


Não é o facto de eu não ser igual aos outros, é precisamente por eu ser diferente deles.