terça-feira, 27 de novembro de 2012

Os segredos do quarto 39... [2]


Sob os olhares atentos, caminhei até ao fundo do corredor do 1º piso, e encontrei do lado direito uma porta sem número, com arranhões e a tinta queimada da exposição ao Sol. Do lado esquerdo, o nº 40, mal se aguentava em pé e a cor do metal prateado perdia o seu brilho de outrora. "Que sorte a minha, deram-me logo um quarto com a porta a cair aos bocados.".
Semiaberta, espreitei.
Bati duas vezes e abri devagarinho...

A escuridão cobri aquele quarto com duas janelas para o exterior. Estavam trancadas e apenas a luz que conseguia passar pelas apertadas frestas me ajudavam a desenhar um caminho sobre aqueles tacos de madeira velhos, tortos e descolados. Apalpei a parede do meu lado direito, à procura do interruptor. A luz cegou-me por uns segundos, e pude contemplar a porcaria sem vida e sem cor que se despojava à minha frente. Paredes pintadas com um tom cinzento escuro, riscadas e rabiscadas com vários tons de cores de caneta. Não existia carpete. Do meu lado direito, uma mesinha pequena sem candeeiro, uma gaveta e uma portinha pequena, e ao seu lado, uma cama. Um estrado de madeira que pouca força tinha para aguentar o colchão despido de lençóis, com os mesmos embrulhados no seu centro. No topo, uma almofada branca normal, sem forro. Aos pés da cama, a pouco menos de 2 metros, um armário velho. Bem, para resumir aquele quarto, tudo o que estava nele, era velho. Tinha medo de tocar no que quer que fosse, não ficasse com um pedaço na mão. E o chão? Lembrava-me daquelas quedas de chão que surgiam nos noticiários e imaginava-me a cair e ficar entalada nos destroços no piso de baixo.
O mundo universitário, sentia-se nas paredes do meu quarto, como um murmúrio. Parecia um pátio conquistado por crianças da primária. Com gritos e correrias, numa casa oca como o uivo de um mocho.
Pousei as malas em cima da cama, destranquei as portas das janelas e pude ver o nevoeiro dissipar com o vento, mas a chuva parecia estar para ficar. O meu cérebro ordenou-me que abri-se uma janela para deixar entrar ar, para arejar aquele quarto bolorento, mas rapidamente lhe respondi que não. O melhor a fazer era esperar que o tempo ficasse mais calorento. Infelizmente, provavelmente até, felizmente, nada tinha que me retese o dia todo naquele quarto. Tinha de ir comprar um interruptor novo, e uma forra para a almofada. Se eu soubesse que aquele iria ser o meu quarto durante o resto do ano, tinha trazido o meu pai comigo, mas... estava por minha conta.
Arrumei as malas ao quanto do quarto junto ao armário, e dirigi-me para a cama. Pousei os lençóis em cima da mesinha de cabeceira, e levantei o colchão. Queria certificar-me de que estava em bom estado. Parecia bem. Aguerracei as mangas e meti mãos à obra. Estiquei os lençóis, a colcha, e fiz a cama. Atirei com a almofada para cima da cama e deparei-me com a ausência de cortinados nas janelas. Mais coisas para o cesto...
O nevoeiro subia devagar, e o sol espreitava ainda envergonhado ou encolhido daquele frio penetrante, e decidi, por pouco tempo, abrir a janela. Não havia tanto vento como à uns minutos atrás, continuava a chover  mas o sol sentia-se na cara. Debrucei me então, percorrendo aquele pequeno espaço da grande cidade, localizando estudantes trémulos do frio e do medo, carros, passeios, contentores, pombos, lojas e árvores. Ouviam-se os cães comunicar entre si, passando o latido de boca em boca.
O som da chuva sobre as árvores perto da minha janela, hipnotizava-me, mas o frio rapidamente me devolvia à realidade. "Tenho de tentar desenhar esta paisagem..."
Alguém me disse um dia: "Não tentes, faz!" Fazer algo que pode não ficar bonito ou perfeito, deixa-me triste, porque não soube nem sei ser melhor, e tentar parece ser muito mais fácil do que fazer. Mas... fazer sempre é melhor do que tentar. Tentar fazer, ou fazer?
Encostei a janela, sentei-me na ponta da cama e levei as mãos à cara. Aconcheguei-a, escondida. Aqueciam-me a face de nariz rosado e cobriam-me os olhos da solidão morta daquele armário apertado que me fazia lembrar um quarto de uma casa abandonada. Sentia-me pequenina, sozinha, no frio da casa de campo dos meus avós. Tinha chegado o momento de caminhar por mim. Tinha mesmo? É que eu não me sentia minimamente preparada. Senti um aperto no peito e chorei uma lágrima por dentro, desejando voltar a ser criança, de sorriso na cara, de orelha a orelha. Vontade de poder correr e fazer festas ao Cookie. De ser mimada e amada pelos meus pais. Fui atirada ao mundo. Não sinto que os meus pais me enganaram, que mentiram que íamos comer um gelado e afinal ia levar umas injecções. Sei que tentaram preparar-me, mas ser-se sozinho neste mundo, desta maneira, é como tirar a carta de carro. Só se aprende realmente a andar quando pegamos no carro pela primeira vez, com a carta no bolso e não estiver ninguém ao nosso lado a controlar os pedais. Quase como andar de bicicleta sem rodinhas de apoio. Aprendemos a "viver" na sociedade, aos poucos. Mas num "pouco" que desejam à pressa. Numa pressa que não ensina, não educa, não consciencializa. Controlados no tempo, nas emoções, nas opiniões. Numa sociedade "democrática" sem liberdade, quer de expressão, quer de opinião. Tinha saudades da minha pequenês.
Ouvi um caminhar junto à porta, e lancei os olhos para a maçaneta. Bateram três vezes. Esperei um pouco e levantei-me enquanto verifica a arrumação daquele quarto velho e rabugento. A maçaneta estava gelada e ao abrir, senti os meus dedos colarem-se a ela. Fui apanhada como um insecto! "Ui tão frio...". Senti um arrepio na espinha.
Abri a porta e diante de mim uma luz dourada brilhou, trespassando-me os olhos. Os raios de sol cegaram-me e depressa ergui a mão para criar uma sombra. A pequena janela fizera a sua primeira vitima. "Com caraças!" pensei eu. Mas antes de me recompor daquele "violento" ataque, fui "agredida" de novo.
-- Ola! Eu sou a Cláudia. -- disse a rapariga com um sorriso metálico.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Os segredos do quarto 39...


Sentia o peso das malas nos dedos frios das minhas mãos expostas à chuva. O sol sorria, medricas, entre as nuvens negras que roubavam das pessoas, qualquer sorriso, e até a mais berrante cor que pudesse ser apreciada ou odiada por ser diferente, parecia lavar. Um tempo tão negro que fazia o dia virar noite.
Continuei a íngreme caminhada por aquela rua de Coimbra, num passeio tão largo que parecia levar-me a roma. Vi a Universidade no alto, ao lado direito, e soube que os dormitórios ficavam já na rua em frente, logo depois da rotunda e da estrada construída em grande pedras quadrados e negras como aquela manhã.
Os meus pés doíam, o meu corpo arrefecia e o casaco já molhado, transformava-se em mais um fardo físico. Sabia que estava perto e não valia de nada parar, mas era o que mais me apetecia. Então mas eu tinha feito uma caminhada pela Serra da Estrela de 18km e queria parar a algumas dezenas do meu futuro quarto? A verdade é que não tinha pressa para ir a lado nenhum, e pouco conhecia a zona. Sabia que o Shopping ficava por perto e que existe uma paragem de autocarros alguns metros mais à frente. Por enquanto, queria apenas acomodar-me, conhecer o espaço e preparar-me psíquica e fisicamente para o que me aguardava dali a alguns dias.
A chuva tornou-se mais forte, a ela juntou-se o vento e o barulho dos carros a derrapar sobre a película de água que se formava na estrada de alcatrão. A cor esbranquiçada e gasta do grande edifício perdia-se naquela manhã escura, de edifícios adjacentes velhos e portas antigas. Um ambiente rústico que camuflava um edifício com pouco mais de 200 anos, e digo isto porque as universidades eram bem mais antigas e continuavam a manter a cor, a forma, e até as telhas permaneciam inteiras. Bem... não era a mesma coisa se o edifício não tivesse a cair de velho. Não seria a mesma coisa, nem haveria o entusiasmo, a excitação ou talvez o receio, de ficar à espera do dia em que tudo ruísse. "Só espero que não caia comigo lá dentro..." pensei eu enquanto atravessava a passadeira, tentando ao mesmo tempo evitar ser atropelada por vários aceleras. Maravilhava-me, de certa maneira, com a atmosfera enigmática que aquele edifício "perdido" no tempo e escondido da sociedade industrializada e tecnológica, que trocava e actualizava o que era velho e já não tinha piada. Diziam os entendidos, que as coisas velhas são para se deitar for e serem substituídas por coisas coloridas, com designs futuristicos e serem uma parte da pessoa e não um "aparte" da pessoa. Achavam que a casa não era apenas um local para descansar  mas um espaço cultural para poder "guardar" o nosso individuo. Não eram locais onde re-criar as bibliotecas dos nossos antigos avós da cidade, se queríamos um livro íamos à internet ou à biblioteca da escola. Estávamos numa era tão elitista, que toda uma geração de cultura se perdia e enterrava no entulho das casas velhas que mais ninguém queria ou não tinham dinheiro para arranjar. As casas, tornavam-se assim, vazias de quaisquer interacções ou comunicações. Já não existiam palavras nem risos para bater nas paredes, apenas o som do teclar ou de um "lol" solto sem sentido.
À porta de entrada, sentavam-se a fumar algumas raparigas, que claramente não partilhavam a mesma idade, mas o mesmo vicio cancerígeno. "Com licença" disse, enquanto tentava, ginásticamente, subir as escadas desviando-me daquelas árvores velhas que não se arredavam nem por nada. O extenso corredor, com o que pareciam ser centenas de portas velhas e sem alma, enchia-se de algumas malas e pequenos grupos de raparigas à porta dos seus quartos, num circulo que estaria eu ainda por descobrir, se seriam de amizade ou por interesses.
Entrei, dei alguns passos, e ouvi gargalhadas estridentes no quarto ao meu lado. Tinha chegado à selva. Ao campo de guerra. Pisava o risco, e estava metida em grandes sarilhos. Mas o pior, é que eu não sabia onde estava esse risco, que forma tinha, qual era a cor, e se mudava de posição com o tempo. A carpete suja e gasta, fora derrotada pelas gerações de raparigas que em nada se preocupavam com as lidas da casa, com a sujidade ou com aquilo que não lhes pertencia. Usavam até ficar estragado, e depois de estragado, tentavam arranjar alguma maneira de pôr a funcionar. Mais ou menos. E como prova disso, eram algumas das portas às quais já pouco ou nada restava das maçanetas. Ou da tinta branca das portas, que se preenchiam de buracos, de tinta a estalar e autocolantes mal arrancados. Alguns, até se pionéses tinham, ou rasgos profundos que desenhavam letras e palavras, frases muito educativas como por exemplo "ÉS UMA VACA" ou "CABRA", "ANDRÉ + ANA = <3 ". Se era isto que encontrava nas portas dos quartos, nem queria saber o que me esperava nas portas das casas de banho.
Os olhares colaram-se em mim, e as conversas cessavam à medida que passava por todas aquelas leoas com as garras de fora à espera de me atacar pelas costas. Ao fundo, junto às escadas para o 1º piso, as casas de banho. Retirei o papel do bolso do meu casaco e tentei memorizar o nº da porta do meu quarto. "39". Sob os olhares atentos, caminhei até ao fundo do corredor do 1º piso, e encontrei do lado direito uma porta sem número, com arranhões e a tinta queimada da exposição ao Sol. Do lado esquerdo, o nº 40, mal se aguentava em pé e a cor do metal prateado perdia o seu brilho de outrora. "Que sorte a minha, deram-me logo um quarto com a porta a cair aos bocados.".
Semiaberta, espreitei. Bati duas vezes e abri devagarinho...

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

É algo que imita, ou algo que é?


[Time by ~Daizy-M]

Há coisa de +/- 2 meses, no Forum de Coimbra, deparei-me com um cenário interessante. Mãe e filha, paradas na escada rolante que subia. A mãe encostava-se do lado esquerdo, com a mão na anca e posicionava as pernas em forma de 4, como é natural fazer. Olhei então para a filha, e encostava-se do lado direito, com a mão na anca e as pernas traçadas num 4. Era o espelho da mãe.


Como já li em vários livros, é natural uma criança copiar os movimentos dos pais. É uma mímica que os ajuda a desenvolver rapidamente sem ser preciso pensar muito sobre o assunto. Sabe-se que é algo instintivo, mas...
Se por um lado é uma prova de que os "neurónios espelho" realmente existem, pergunto-me então, até que ponto, parte da personalidade dos pais passou para os filhos. Neste caso, passa. Existe hereditariedade de pontos, ideias ou sentimentos?
Como debato em: 

Algo interessante sobre estes comportamentos mímicos, é que existem filhos que pretendem des-associar-se dos pais e outros que seguem as suas pisadas e as perpetuam por infindáveis gerações.


Mas focando-me no assunto. Será realmente uma mímica instintiva, ou apenas uma maneira de estar que hereditou? O facto de alguém dizer que uma criança se parece com o pai ou com a mãe quando eram novos, apesar de os próprios filhos nunca terem conhecido as atitudes dos seus pais quando eram da sua idade, a não ser através de histórias, significa que parte da personalidade dos seus pais foi transmitida geneticamente  Ou que simplesmente, quando eram pequenos, os seus pais agiam +/- da mesma maneira que agiam quando eram mais novos e isso influenciou os seus filhos?
Mas isso não explica o sucesso, a inteligência  ou falta dela, a capacidade de aceitar coisas que os seus pais tiveram ou não têm. Explicando melhor, Uma criança inteligente pode surgir num seio familiar com um baixíssimo grau escolar ou de cultura geral. Significando então que a criança não copiou os pais de qualquer maneira, mas que se sobrepôs a eles mesmos. Mas outros nascem filhos de pais inteligentes, e tornam-se inteligentes.
Talvez um ponto fulcral, é a maneira como se educa a criança. Como se lida com as situações e como se as expõe no sei familiar. Uma criança que emita a postura física da mãe ou do pai, poderá mostrar algumas ideias.
Poderá mostrar que se associou, que se agregou à personalidade da mãe. Que fez da mãe uma pessoa importante e necessária para a sua vida.
Poderá mostrar que a criança tem facilidade em imitar, dependendo da perspectiva  porque podendo não se conhecer quem é, usa os outros como uma imagem a seguir. Com uma personalidade que deve estudar. Todos nós já imitámos alguém. O pai, a mãe, o irmão, os amigos, os primos, quer fisicamente, psicologicamente  anedotas, frases, roupas, objectos, etc.
Poderá demonstrar num outra perspectiva  que por ter facilidade em imitar, gosta de fantasiar personagens. Ou se identifica com várias pessoas.

Poderá mostrar que, sim, é uma maneira de crescer, mas imitar poderá ser algo perigoso. Poderá mostrar que é esse o exemplo que acha mais correcto, pois é perpetrado por um adulto. O que poderá criar um sério problema pois a criança assume a mímica que faz como correcta, positiva e algo que se usa no mundo natural humano ou em sociedade. Dependo obviamente do que imita, a criança tanto poderá sair prejudicada como beneficiada.
Voltando então às posições da mãe e da filha, na escada rolante. Pôde-se ver com facilidade, que aquela era a filha dela, e que a senhora era a mãe. Significa então que existe um impressão digital para cada família? Sabe-se que, hoje em dia, os genes transmitidos, são, a cada geração, menores que na geração anterior. De certa forma, podem significar uma limpeza aos genes que não são necessários ou que simplesmente estão a mais, que são lixo ou estragam a própria estrutura de luta dos vírus.
Filhos de homens mais velhos têm mais mutações
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Uma ideia a reter disto, é a de quando vamos na rua, e parecemos ver alguém ao longe ou do outro lado da estrada, de costas, e pensamos que é um conhecido. Ficamos calados e tentamos olhar-lhe a cara. Até ao momento que caminhamos até à pessoa, o nosso corpo estuda o caminhar, a maneira como os ombros balança, o cabelo, a cor, o tipo de roupa, sapatos, e as mãos ao longo do corpo. É uma impressão digital individual. É, de facto. Mas numa família, é possível ver um padrão? É possível ver uma impressão digital? Estatística e psicologicamente, é "praticamente" impossível ver uma maneira própria de uma só família  nem que contemos só com os filhos e os pais. Apenas é possível  e falando por mim, acredito mesmo que seja possível  associar uma determinada criança a um pai/mãe através de um simples olhar, de perceber como interage ou fala com os objectos e as pessoas, quando o laço entre pais e filhos é forte. Não é preciso fazer nenhum estudo para perceber isso.

A impressão genética, está presente na cor do cabelo, tipo de cabelo, cor dos olhos, nariz, lábios, orelhas, etc. Como se estuda em Ciências no 7º ano. Mas uma impressão genética levanta perguntas como nos textos que escrevi e mencionei mais acima. Uma criança, como animal que enfrenta um mundo que desconhece e do qual nada sabe, nem como funciona, com os anos aprende as teias que regem a sociedade, e se tiver sorte, a da psicologia, daquilo que o faz um individuo. Por isso, é natural e um mecanismo que ela mesma possui, uma capacidade adquirida ao longo de milhares de milhões de anos. Mas até que ponto é algo "natural" no sentido de ser aprendido, educado e ensinado através da visão e da experiência própria (óbvio) e não uma descendência de genes?
Mas até a hereditariedade tem limites, tem deficiências. Até um grande impacto profundo no foro psicológico poderá criar uma visão das coisas completamente diferente da normal. E o que é "normal"?

Uma ideia interessante, é a de: Se a personalidade de um individuo, gostos, ideias e opiniões são criadas apenas pelo individuo, na cabeça do individuo, até que ponto realmente as ideias de uma pessoa, as opiniões, as maneiras de ver o mundo, de o sentir, de pensar, de compreender, a consciência  a forma de vestir, a maneira de lidar com as coisas é algo individual, é algo criado pelo próprio e não pela própria sociedade? Pelas empresas, pelo marketing? Até que ponto a mímica "animal", é utilizada para outros fins que não algo natural?
Até que ponto a auto-aprendizagem do mundo através de "neurónios-espelho" é algo nosso, ou se mantém no nosso controlo?
Até que ponto as nossas opiniões deixam de ser as nossas para serem opiniões globalizadas, consciencializadas, pensadas e formuladas por outros? Existem modas, existem estatísticas, existem padrões. Até que ponto alguém é ela mesma?

Monkey See, Monkey Do? The Role of Mirror Neurons in Human Behavior
Mirror Neuron Forum.
Neurons That 'Mirror' The Attention Of Others Discovered
Distinct Brain Cells Recognize Novel Sights


É algo que ela cria e usa, ou algo pelo qual ela se deixa usar?

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Nada que se aproveite...


Odeio o sorriso que trazes na cara, mesmo antes de passares por mim. Odeio o riso que partilhas por quem te rodeias.
Odeio que te sentes à minha frente só para olhar para o meu cabelo, rires-te de mim e sorrires-te de mim. Que te aches mais importante e merecedora.
Odeio que te rias de mim sem nunca me teres conhecido a mão. Que gargalhes toda a parvoíce da estupidez que existe dentro e fora da tua nojenta personalidade só porque achas que é uma grande anedota e que toda agente a deve ouvir. Que te aches no devido direito e dever de abrires a boca e soltares palavras que nunca te disseram nada. Que poluas o ar só por respirares ao meu redor.
Odeio que não tenhas capacidade para ver o mundo, tal como metade do sociedade. Que sejas burra ao ponto de te rires ou gozares só porque sim, ou porque te apetece.
Imaturidade e infantilidade é aquilo que mostras sem precisares de conversar. Superficialidade e falsidade, é aquilo que demonstras cada vez que sorris diante do teu grupo de merda.

Filha da puta!!
Fogem de mim, mas não param de me olhar. De me cobiçar.
6 anos a ser fodida e o estúpido sou eu. 22 anos de experiências, e o imaturo sou eu. Conheço gente mais nova do que eu, que consegue ser mais do que tu sem precisar de abrir a boca.
Conheço gente mais velha do que eu, que se parecem contigo.

E não percebo... porque uns dizem que adoram, e outros parecem gozar.
Não percebo porque uns ficam fascinados e outros simplesmente se gargalham da ignorância anoréctica e infantilidade que as pequenas borrachas cinzentas lhes podem dar.
Porque de um lado uns dizem-me que sou e posso dar muita coisa, e outros me acham ignorante, porco, nojento e insignificante.
Odeio o mundo social em que vives, que pensas conhecer. Na liberdade que estragas e corróis com as atitudes de merda que só tu e vocês sabem dar. Não sabem dar nem fazer mais nada, então fazem merda!
Destroem, estragam, gozam, partem e deitam abaixo porque acham que é algo que a geração pode fazer pelo bem do país.
E enquanto dás de comer ao caralho das pombas, eu compreendo o mundo que sobrevive e vive à minha volta. Enquanto te abraças em amores falsos e fedorentos de falsidade, aprendo com quem tem realmente valor cerebral, o que é ser-se humano, ser-se alguém numa natureza psicológica que me faz preocupar por um futuro que TU, não sabes nem nunca saberás dar.
Pintam-se então de cores, de puxos nos cabelos e bem vestidas, à espera do próximo pilo, da próxima cona, fingindo que não querem nada dos que vos passa pela cabeça. É um estudar mentiroso que tenta ignorar e suprimir.

Sabendo eu aquilo que sei, o que percebi e tu perdes-te. És pior do que eu, és menos, mais fraca, mais frágil, mais estúpida e mesquinha, mais puta, mais cabra, mais ignorante e anoréctica do que cantas e espalhas em "amigos" e "amigas" que desconheces, que se fazem teus de facas nas costas.

Ris-te de mim por ser solitário.
Pintas de mim o que não sou.
Gritas a quem achas ser teu, o que eu fui e não soube ser.
Como todos os 99%, preferes atirar para trás das costas e esquecer.
És uma pessoa individualista, que não percebe um caralho de relações interpessoais, de respeito e maturidade. Mas cada vez que passas por mim, achas-te no direito de sorrir, de gozar e abrir a boca.
Continuas a viver na fantasia que nunca existiu de histórias de filmes e livros que inventaram para serem vendidos. Continuas a mesma merda de sempre, quer tenhas muitos ou poucos amigos à tua volta para se rirem das parvoíces que te alimentam a vida.
Filha da puta!!!

sábado, 10 de novembro de 2012

A diferença entre as lojas...


A 16 de Setembro, qualquer coisa como quase dois meses, entrei na loja de roupa "Massimo Dutti", no Forum de Coimbra.
A primeira coisa que uma pessoa "normal" repara, antes mesmo de entrar, é no preço exorbitante das peças de roupa expostas, para além das poucas ou nenhumas pessoas a frequentarem-na.
Entrei, um pouco envergonhado, porque aquela loja não era para mim. Não tinha dinheiro para tais roupas e status social. Como todos sabem, hoje em dia em portugal, quem se veste bem, é porque é rico e tem bons contactos. É uma pessoa com poder para poder comprar o que lhe bem apetecer. Óbvio.
Caminhei um pouco, observando as peças de roupa que mais me chamavam atenção, que eram quase todas. Uma rapariga chegou-se perto de mim e perguntou-me se precisava de ajuda e eu respondi que estava só a ver.
O que me chamou a atenção, não foi o preço, o pouco movimento na loja ou as funcionárias bem vestidas. Foi o ambiente, a música de fundo, que equiparada às lojas de roupa mais famosas, Pull & Bear, Bershka, etc etc, era música decente. Música para gente intelectual. Tenham em atenção que uma pessoa rica, não é sinónimo de ter ou possuir cultura geral e maturidade, ou responsabilidade. São assuntos muito subjectivos dependendo da perspectiva.
Foi a música calma, ambiente, música que era coloca com um volume baixo com serenidade mas também com alguma ... (falta-me a palavra). Com alguma seriedade, para tentar mostrar e manter uma imagem decente e madura.
De certa forma, senti-me recolhido naquele espaço que de maneira alguma poderia alguma vez frequentar  mas saber que estes locais são dignos e intrínsecos  faz-me sentir bem. Significa que não existe só estupidez no mundo social do "individuo".

Chego então ao ponto fulcral desta critica.
Comparando então a Massimo Dutti, com as restantes lojas de roupa no Forum de Coimbra, existe claramente, nas lojas "sociais", uma falta de querencia. Uma falta de respeito e de civismo. As músicas são barulhentas, sem qualquer gosto. Não existe um ambiente calmo e organizado. São uma loja que parece estar sempre em festa sem qualquer ordem, comparada com a seriedade que se consegue manter sem sequer ser preciso chamar a atenção a consciência das pessoas.
Se existe dois tipos de ambientes, e não falo de preços das roupas, falo da música, da temperatura, das cores, da publicidade, do espaço, do marketing, tenho pena que as pessoas da sociedade "individualista" não tenha regras, não haja de forma correcta e ordeira num espaço que é frequentado por pessoas da mesma laia, do mesmo "status" social. Se ninguém tiver ordem, as lojas de roupas tornam-se cada vez numa anarquia de competição.
Roupas espalhadas pelo chão, que ninguém se dá ao trabalho de apanhar. Pensando agora nisso, até me sinto mal das poucas vezes que não apanhei uma peça de roupa que estava meia perdida. Em minha casa, no meu quarto, EU deixar uma peça de roupa no chão porque vai para lavar ou ainda não tive tempo para lhe pegar, ou tenho preguiça  é uma coisa. Numa loja de roupa, não apanhar uma peça de roupa, é para mim, uma falta de tacto, de "respeito" e "educação". De civismo. Para mim, é a mesma coisa que ir comer a um restaurante fast-food e deixar os tabuleiros nas mesas. Macdonalds e os tabuleiros
Não é um problema que existe nas lojas ou com as lojas. É um problema que existe com as pessoas que as frequentam. Pois nota-se perfeitamente que quem frequenta lojas para gente "rica", são pessoas mais calmas, num ambiente que é calmo e confortável. O mesmo não acontece nas lojas para gente "pobre" que invade e esbraceja, que faz aglomerados de gritos e berros, que cria uma barulheira ensurdecedora juntamente com a porcaria de música, alta e sem qualidade, que a própria loja de nojo, oferece.

Eu entro nas lojas que estou aqui a criticar. Entro, porque às vezes, só às vezes, acredito que possam ter roupas para mulheres/raparigas que eu goste de ver, que eu gostasse de comprar para a minha namorada. Às vezes existem, mas 90% do tempo, não. Quando entro então neste tipo de lojas "precárias" de bons gostos, de bons tecidos, de bons designs, cores e "moda", já nem sequer me dou ao trabalho de ver qualquer tipo de roupa de homem/rapaz. Existe uma abundância de roupas tão feias e pouco atraentes, que me ficariam tão mal ou simplesmente não me iriam assentar bem, que me preocupo "seriamente" com: "onde vou arranjar roupa "barata", que me assente bem e eu goste?".
O problema aqui, é que eu não sou parte da sociedade. Não sou um rapaz como os outros, não faço parte de nenhuma estatística psicológico-social. E é por não me encaixar nos padrões ditos "normais" de uma sociedade individualista. Individualista porque é para o indivíduo e não PELO individuo, fico à mercê das ofertas que as lojas têm para vender. Fico de fora, a ver roupas de homem/rapaz, sem qualquer design interessante, sem possuir uma de paleta de cores vivas e bonitas, ser vendida a tudo e todos sem qualquer sentido de "beleza" estética. Não sou um aficionado e muito menos uma pessoa falsa que se influencia pelas aparências  Grande parte de mim é, realmente é verdade, hipocrisia no seu melhor. O que eu quero dizer é que existe uma moda para homem/rapaz tão feia, neste momento, a ser vendida em todas as lojas de roupas "low-cost", de baixo preço, que me mete nojo. Mete-me impressão de que de facto existe gente capaz de se vestir de uma forma tão bovina, de forma tão bruta e desleixada, que me assusta o seu sentido critico, a sua intelectualidade, a sua maturidade, responsabilidade e educação. Porque estatisticamente, uma pessoa é e torna-se naquilo que veste.
Quando surgiu a moda dos Emos, todos os putos e pitas andavam de camisolas às riscas, penteados à fanjo e sapatos de moda. Era uma moda individual, não individualista. Mas era uma moda de geração que parecia estar para ficar. Influenciou o corte de cabelo de muita gente, o estilo de roupa, a maneira de pensar e de agir. A maneira de estar e de fazer. Foi uma moda tão poluente, que ainda hoje existem raparigas que se vestem com roupas contaminados pelos traços de roupas denominadas "emo". Calças apertadas e elásticas. Se calhar já não são calças pretas ou calças demasiado berrantes, mas talvez umas calças "socialmente" aceitáveis.
Algo que sempre reparei nas raparigas que frequentam a universidade onde estudo, é de que 90% delas se veste bem, se preocupa. O cabelo está sempre arranjado. Usam botas ou sapatos bonitos para 100% das pessoas. Aquela biblioteca está a arrebentar de raparigas que se vestem bem. Eu gosto, agrada-me. Os tempos pré-históricos já passara, é verdade, mas hoje posso ver peles com uma formato muito mais interessante, inovador, fresco, colorido ou confortável nas curvas de uma mulher do que outrora.
De certa forma, convém não nos deixarmos afectar pela mentalidade que existe e é colonizada pela mão da sociedade. Mas não existisse a lingerie  e haveria muitos casais divorciados  Muita gente que nunca teria nascido ou jovens casais unidos. E existe algo interessante nesta ideia. Tornámos nos "deuses" a partir do momento em que alterámos a maneira como "acasalamos"? Tornámos-nos seres poluentes a partir do momento em que alterámos as regras instintivas pelo qual evoluímos?
Não se terá tornado a roupa, o tipo de roupa, o estilo de roupa, o tipo de cabelo, a cor do cabelo, o penteado, o cheiro, os perfumes, os aromas e a falsa imagem que hoje em dia usamos fora de casa, a imagem de uma geração sem qualquer tipo de consciência animal? Pessoas não são humanos. Pessoas não são animais.


A culpa de existir uma geração parva, não é das lojas de roupa, é das próprias pessoas, da educação que receberam e ainda recebem, dos pais. É uma culpa exclusivamente da própria geração de indivíduos que a formam, porque a sua capacidade mental permite a lojas, a publicidade, empresas e promoções, usar e abusar da incapacidade cognitiva que os afecta.
Por terem uma mentalidade tão fraca, permitem a que lojas de roupa como as que existem no Forum de Coimbra, crie e re-crie a sua "personalidade". Os seus gostos, a sua maneira de pensar e de ver.
No filme "Branded", o protagonista explica de forma muita inteligente, como as empresas funcionam, como funciona o mercado. Como funcionam os produtos, as estatísticas do neuro-marketing, e até mesmo o neuro-marketing. As pessoas são manipuladas e nem sequer dão conta. Não é uma conspiração, é uma realidade.
É por isso que as lojas de roupas mais frequentadas passam músicas conhecidas, das rádios favoritas. Fazem um estudo de mercado tão intensivo só para agradar aos seus clientes. Todas as lojas fazem isso, é verdade, mas umas gastam milhões só para conseguir ler e escrever na mente das pessoas que hoje em dia ainda acreditam em liberdade e democracia.
É por isso que alguns centros comerciais têm as frutas e os vegetais logo à porta, como é o caso do Intermarchê, porque depois de se comprar algo saudável, a mente automaticamente fica aliviada e pronta para comprar coisas sem necessidade ou coisas calóricas, porque já comprou coisas saudáveis logo à partida. Porque colocou no carrinho, comida saudável e por essa razão, de uma maneira muito instintiva e tássita, compram o que realmente não precisam.

A diferença entre as lojas, Massimo Dutti e as restantes, é a maneira como se apresentam ao público. Não ao público alvo, mas ao público em geral. À sociedade. É a maneira como interagem. Os preços são demasiado elevados, mesmo tendo os produtos qualidade. Se os mesmos produtos nas lojas "comuns" não tivessem qualidade, nunca sairiam para o mercado, no entanto, não é o preço que influencia a maneira como as pessoas agem dentro da loja, mas o tipo de música, a cordialidade, a calma e tranquilidade que os funcionários mantém. Existe um grau muito mais elevado de auto-consciência, de respeito e maturidade em lojas inacessíveis ao público em geral, porque é esse mesmo respeito que pessoas inteligentes e maduras têm sem grande esforço. Porque até os meus pais nem têm dinheiro para me comprar roupas da Massimo Dutti, e falo dela porque foi a única em que entrei naquele dia e da qual tenho uma experiência, continuam a ter respeito pelo espaço, pelo local e para as pessoas que lá trabalham. Coisa que eu não vejo de todo com os pais dos outros jovens.
Pode-se ver nas lojas da Zara, a maneira como os funcionários e funcionárias se vestem. Vestem-se de preto mas com postura e seriedade. Representam uma marca elegante e "cara" para pessoas que vêm da classe baixa, mas não da classe média-alta. E ainda assim, a Zara é frequentada por muita gente, de todos os traços sociais. Será mesmo? Acredito que seja mais provável encontrar-mos uma família com mais posses, do que aquelas que frequentam a Pull & Bear ou a Bershka. Mas é a minha opinião e em nada entendo de roupas, de moda ou de lojas. Existe uma discrepância grande entre a moda vendida na Zara e  a moda vendida nas lojas existentes para o público jovem em geral. E é essa diferença que separa as pessoas individuais das individualistas.
Existem excepções, obviamente, mas é interessante ver estas estatísticas sócio-psicológicas formarem-se através de uma simples moda. Uma moda que é implementada na sociedade e não "exigida" ou procurada.
É uma moda que não é escolhida, mas sim absorvida pela mente incapaz das pessoas. Uma moda que é imposta na sociedade e que aos poucos se começa a vender. Não são modas. Não existem modas. Elas criam-se. Vendem-se. São impingidas de uma forma tão invisível que as pessoas acham simplesmente que se está à venda, é porque é bom. Se está exposto, é porque existe uma onda, e as pessoas adoram ondas. Adoram pertencer a bandos, a grupos, a alcateias. Como no filme Die Welle.
Se existe diferença entre lojas, diferentes, existem mentalidades/maturidades diferentes que em nada tem haver com o estilo de roupa que se veste, mas com a maneira em como se usa o público. Existem maneiras de estar na sociedade, numa sociedade que possui vários tipos de outras sociedades.
Não significa que uma pessoa possui um QI igual às lojas que frequenta, mas... as pessoas inteligentes só se dão com outras pessoas inteligentes. Como é o caso do homem mais inteligente do mundo, que vive na américa, e que só aceita dar-se com pessoas com um QI superior à media e não abaixo dela.
"Diz-me com quem andas e dir-te-ei quem és."

Diz-me quem és, dir-te-ei o teu penteado!

Existe uma ciência psicológica que as pessoas ainda não se aperceberam que molda a maneira como elas interagem, vivem e decidem. No que me toca a mim, não estou preocupado com elas, de certa forma, até estou bastante confiante e confortável comigo mesmo, por conseguir perceber o que as outras e vocês não percebem.
Se as modas são uma influencia, tu és influenciável?

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Hoje aprendi uma coisa...



Hoje aprendi uma coisa, e espero ainda me lembrar para a explicar. Lembrar-me para poder reaprender.
Hoje aprendi... não, não foi hoje, já foi à algum tempo, mas ressurgiu hoje em conversa.
Aquilo que penso quando olho para uma rapariga que me atrai, é o que ela me pode ensinar, o que eu posso aprender, o que tenho para dar e o que ela tem para oferecer. O que tenho de mais que os outros não tenham. Existirá respeito? Existirá conforto? Existirá desejo e vontade de crescer?
Hoje, e agora sim, hoje, uma ex-professora minha, atirou-me à mente um pensamento, uma opinião. Era novo quando namorei com as namoradas que tive e as coisas não correram bem. Era novo e inexperiente. Era um rapaz que ainda não sabia bem quem era, que não conhecia bem o mundo e como funcionava. Eu sei que estou a acrescentar algumas palavras e ideias, mas é assim que eu sou, gosto de "esmiuçar" bem as coisas. Explicar o que vejo e o que sinto.
Voltando ao assunto. Os erros que cometi, com os quais eu aprendi e cresci, fizeram-me ver as coisas de maneira diferente. De ver as relações de maneira diferente. Dou tanto de mim, dei tanto de mim, que na altura não conseguia perceber onde tinha errado. "Onde errei e não percebi?"
Como escrevi várias vezes por aqui, errei em tudo o que tinha para errar. Porque fazer coisas mal faz bem.
Não significa que seja uma coisa positiva, mas faz bem. Faz bem, ou é algo bom, se soubermos aprender com elas. Se soubermos compreender porque errámos, o que podemos corrigir. E isso faz de mim, falo por mim, uma pessoa melhor a cada passo. Cada caminhada de descoberta que dou, cresço, aprendo, torno-me num rapaz consciente E presente.

"Fizeste uma coisa terrível, mas não significa que sejas uma terrível pessoa." Greys Anatomy
"You did a terrible thing, it doesn't mean you're a terrible person.." — Miranda Bailey to Owen Hunt (Greys Anatomy Season 8 Episode 18)

Tudo o que fiz, como disse com toda a razão, foi o melhor que pude com aquilo que eu tinha e podia dar. E ninguém tem o direito de exigir de mim o que não posso dar. E eu "exigir" dos outros o que não podem ou não sabem dar. Olhando para trás, paras as duas relações, não tenho pena, nem choro nenhuma delas, talvez sinta saudades de certos gestos a que me habituei a ver, que me eram familiares. Mas... quando uma relação se torna dependência  como também já escrevi muita vez por aqui, deixa de ser relação, deixa de ser e haver amor, de haver desejo e paixão. Passa a ser um veneno.
Eu erro hoje, para aprender a ser melhor amanhã. Porque cair faz bem, mas saber levantar-se faz ainda melhor. Não faz melhor ao que fiz, faz melhor à pessoa que sou, que me torno. Acrescenta valor ao que já caminhei para trás. Valoriza as minhas derrotas.

Antigamente pensava que "mudar" de "hábitos" ou de "pensamento" era uma coisa que tinha de acontecer em qualquer coisa como dois dias, uma semana no máximo, mas percebi, com o tempo, que pode demorar meses, vários longos meses.
Num namoro... talvez nem seja eu o problema. Estarei a fugir de um problema que é meu? Ou a colocar também na mesa a incapacidade ou imaturidade da outra pessoa?
Existe uma diferença entre maturidade e liberdade. Uma diferença que às vezes se confunde. Porque eu posso ser livre de fazer o que me apetecer, mas não ter qualquer maturidade.

E eu não me considero um rapaz imaturo. O meu pai acha que sou uma pessoa fantástica e a minha mãe diz que sou muito boa pessoa. Mas dizem-no só porque são meus pais? Ou porque como adultos que são, como responsáveis e educadores que são, reconhecem potencialidades escondidas e até vivas numa pessoa que foi deixada por duas namoradas sem qualquer tipo de explicação plausível? Será que eles não vêm um "defeito" que existe em mim por me terem amor, ou não vêm qualquer problema com as minhas relações, porque realmente eles não acabaram por minha causa?
Escrevi em vários textos, que sabia porque é que me tinham deixado. Porque queriam um homem, um rapaz que lhes desse confiança e conforto. Mas tal como me disse a minha ex-professora, que tipo de homem é que elas queriam? Que confiança ou conforto estavam à espera? Era um rapaz, um jovem que estava a aprender a viver, que não trabalhava, que não tinha casa nem carro.
Ainda hoje aprendo, acresço, caio e levanto-me. Aquilo que não sou, sê-lo ei com o tempo.
Não fui eu quem perdeu, foste tu. Não sou eu quem perde, são vocês que não crescem nem querem crescer.
Desde o momento em que pude ter aquela bebé no meu colo e entrete-la da melhor maneira que sabia, percebi que tudo o que tinha feito de bom e de mau até àquele momento, tinha sido a melhor coisa. Naquele pequeno momento de epifania, percebi aquilo que tu e toda agente estava e está a perder.
Não é por ser calado e de poucos amigos que não tenho namorada, é por ser difícil de compreender que não criam conversas. Odeio gabar-me, ainda que me narcise bastante, mas sei bem que muitas raparigas ficam de olhos a brilhar por causa do meu cabelo ou dar barba, dos olhos ou da cara. Mas têm talvez o mesmo problema que eu... timidez.
Há uns dias um rapariga ficou quase dez segundos a olhar para mim, vincada, sem descolar, enquanto ligava o cabo de energia ao portátil. Sendo assim, a culpa de não ter namorada, de não conversarem comigo, não é uma culpa exclusivamente minha, porque conheço muita gente que é capaz de se apaixonar em menos de um mês, por um rapaz que julgam achar o rapaz "perfeito" ou "para toda a vida".
Odeio namoricos, e este pedaço de texto sirva talvez para mostrar a mim mesmo que eu não sou  assim tão péssima pessoa como acho e desenho de mim mesmo. Que não sou um grande e grave problema bicudo, mas sim um rapaz que aprende a fazer o que pode para resolver os problemas que surgem na sua vida.

Sinto-me a perder de mim mesmo... sinto-me um incompetente que já não se lembra de nada, que sente falta de sorrisos e amor. Perco-me a mim mesmo, revolto-me em mim mesmo. Torno tudo num grande turbilhão de pensamentos que me acabam por fazer esquecer da tanta coisa que sabia e que eu ainda sei.
Talvez seja só falta de criticar, de escrever sobre o mundo através dos meus olhos. Porque eu não tenho quais quer problemas, acho que os crio na minha cabeça, preocupo-me com tudo. Mas no fim... se não me preocupar, não avanço. Sou psicólogo de mim mesmo. Respondo às minhas próprias perguntas. Elevo-me quando mais preciso, e derroto-me quando é necessário. Porque não sou nem funciono como vocês. Se não existir dois campos, não existe personalidade, não existe visão nem sentido critico, não existem textos, nem emoções, não existem ideias, gostos, sonhos ou coragem.
Se não existirem extremos, não existe o Paulo.

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Um dia de cada vez...


O seu nome era Laura. Passeava sozinha de casa à escola. Pelo caminho apanhava um comboio e um autocarro até à universidade onde estudava.
Era calada, não tinha amigos, e as raparigas não lhe ligavam nenhuma. Gostava de passar despercebida, de acelerar o passo ou ficar perdida a olhar para as pombas na estação. Ver a chuva cair ou o sol aquecer-lhe o corpo. Adorava que os cabelos lhe cobrissem a cara, escondessem os seus sorrisos e os seus medos. Sentia-se uma frasco, um invólucro. Uma caixa semi-transparente. Permitia apenas que parte de si sai-se para fora, e toca-se nas pessoas que eram dignas de a ouvir, de a conhecer, de a sentir.
Sentava-se sozinha, de cabeça baixa, sem falar para ninguém. Era uma estranha conhecida. Era uma estranha para todos os que apanhavam o comboio com ela, mas todos a conheciam.
O seu olhar perdido na natureza, na vida das coisas, longe do mundo social, esventrava quem passa-se por ela; e num desejo de lhe tentarem ver o rosto, a postura e o seu caminhar distinto, podiam apenas ser apresentados aos seus olhos castanhos vivos.
Laura adorava vestir meias compridas, de correr pela casa só de cuecas e sem sutiã. Atava o seu cabelo em rabo de cavalo a um puxo vermelho. Atirava-se para a cama e devorava livros de fantasia, ao som das músicas mais melódicas que conseguia arranjar na internet. Ou talvez liga-se a televisão nos canais de documentários, pulando de alegria sempre que uma suricata surgia no seu pequeno ecrã. Não precisava de sair do quarto para se envolver com o mundo lá fora, de certa forma, até bastava abrir a janela em frente à sua secretária, logo depois da cama, que poderia respirar o ar do seu amplo jardim, ouvir os pássaros cantar, voar entre os ramos e ver as folhas cair com o vento, ou ouvir a sociedade reger-se pelos horários claustrofóbicos.
Nas noites de chuva, deixava as cortinas abertas. Fechava-se no quarto, trancava-se na cama e esperava que o silêncio rapidamente fosse conquistado pelo som do vento e da chuva. Da trovoada. Desejava que surgissem os relâmpagos para a assustar, para lhe iluminarem o quarto morto, vazio, incolor. Para iluminarem a sua vida.
Sair de casa, para ela, significa poder vestir vestidos que a mãe e ela escolhiam com tanta demora nas lojas de roupa mais baratas. Calçar os sapatinhos, sentir as ancas com as suas mãos e olhar-se ao espelho, narcisando-se, adorando-se, gabando-se. Piscava o olho a si própria e pensava para si "sou bonita!". Bastava apenas sair da porta do seu quarto e toda a sua mente se revoltava. Transformava-se numa Laura irreconhecível perante os seus pais, que todos os dias tentavam penetrar nas suas emoções, mas desde sempre que estavam a ser afastados. Preocupavam-se com as fotos que a sua filha de 21 anos espalhava pela parede do seu quarto. Pessoas chorosas, crianças tristes e adultos em sofrimento. Todas com uma profunda tristeza enraizada nos seus rostos ornamentados por cabelos desfeitos.
Com o tempo, deixara de tomar o pequeno almoço em casa, o almoço na escola e só saia do quarto para ir jantar. Comia bem, e talvez fosse isso que mantinha os seus pais mais descansados. Existia uma "rotina", uma farsa rotina.

Estava no inicio da sua descoberta, no inicio da sua aventura. Sabia-o mas desconhecia que nome dar àquele sentimento tão... único, estranho.
Perguntassem-lhe o que mais adorava, e facilmente responderia que era poder andar sozinha, estar sozinha, olhar as pessoas. Ver os animais, serem animais. Inclinar a cabeça e interrogar-se do que o horizonte lhe proporcionava.
Adorava a dor, a tristeza, o choro, o negativismo, a depressão, a fragilidade, o borbulhar de emoções. Tal como adorava sorrir, rir, partilhar, correr, passear e ser despida em olhares, pelos rapazes e raparigas. Adorava crescer, aprender, enganar-se e errar. De sonhar e desistir, ou perder.
"Se não estiver preparada para errar, não aprendo, não cresço nem evoluo."

-- Estarei aqui, até ao dia em que deixares de acreditar em ti mesma.
Laura olhou a sua mãe e tentou perceber o que lhe tinha dito. Quando deixa-se de acreditar em si mesma,  a sua mãe abandonava-a?
-- Quando esse dia chegar, estarei ai, ao teu lado. És minha filha, és do meu sangue, e nunca te abandonarei, mesmo que nos abandones a nós.
-- Mãe?
-- Diz filha.
-- Vai doer?
-- Estarei lá quando tudo começar.

Não quero beijos nem abraços!

[aline by ~matmoon]

Entro em casa, penduro o casaco e o cachecol. Olho em volta e grito o teu nome.
-- Amor?
Não há resposta. Não ouço a tua voz doce dançar nos meus ouvidos e adocicar-me a mente. Talvez não estejas em casa. Talvez estejas no quarto e não me tenhas ouvido. Ou talvez tenhas os headphones colocados.
Avancei até à sala, onde te encontrei de camisa azul, meias e cuecas pretas vestidas, junto à mesa de jantar, de braços cruzados e muito zangada. Olhas-te-me verosifedamente os olhos e encolhi-me sem saberes.
-- O que tens? Está tudo bem?
-- Nada, não se passa nada! -- respondeste virando-me a cara, perdendo a tua atenção na rua lá fora.
Aproximei-me sem esboçar quaisquer sorrisos, num passo calmo enquanto o meu cérebro percorria todas as minhas memórias, vasculhava conversas, gestos, criticas ou carinhos que a tenha feito ficar assim.
Já junto de ti, senti o teu característico e preferido perfume. Um reconforto, um mar de aconchego e ternura, de fragilidade e sedução que sabia fazer-me suar ou adormecer tranquilo.
A leoa furiosa olhou-me de novo enquanto me aproximava dos seus limites territoriais. Tentei beijá-la e recusou voltando-me a cara.
-- O que se passa?
Olhou-me nos olhos e balançando entre a rua e o castanho do meu olhar disse:
-- O que andas-te a fazer até esta hora?
-- Estive a trabalhar amor.
-- A trabalhar? Tiveste foi a trabalhar com aquela loiraça nova lá do trabalho!
-- O quê? Estive a trabalhar! Não tive com loiraça nenhuma! Paras com isso?!
-- Não paro! Quando o meu marido se anda a atirar às outras mulheres, é porque alguma coisa não está bem!
-- Mas qual atirar às outras mulheres? Não ando a fazer coisíssima nenhuma! Vim agora do trabalho.
Olhou-me a face na tentativa de ver algum padrão de mentira.
-- Então são elas que se andam a atirar a ti!
-- E depois?
-- E depois?! -- levantou a voz e gritou ainda mais possessa. -- Não gosto! Quem são?! Que eu vou falar com elas!
-- Não é ninguém! Não estejas assim. Estive só a trabalhar. Tanto ciume...
-- E não me avisas?! Nem um telefonema, nem uma mensagem?! Tenho. Ao lado de um homem como tu sou eu quem tem de ter ciumes! Sou eu quem tem de mostrar às outras que és meu e só meu!
-- Pára com isso amor. És muito mais bonita do que eu! Sexy, charmosa, elegante, sensível...
-- Pára com isso! Não sou! Aposto que te aparecem lá mulheres com peitos maiores e todas decotadas!
-- Mas porque é que estás assim?
-- Estou assim porque não suporto que se atirem a ti! Que fales com mulheres mais bonitas!
-- Vou ser mal educado?
-- Falas o que tiveres a falar e acabou!
-- Não exageres. Sabes bem que eu estou contigo porque me fazes feliz! Porque me completas.
-- É? E quando eu deixar de te completar?!
Perdeu a compostura e lentamente chorou os medos e as incertezas que a assombravam. Abracei-a, mas rapidamente me afastou, tentando permanecer zangada.
-- Diz-me lá! Vais deixar-me quando deixar de te completar? De te fazer feliz?
-- Tu fazes-me feliz, não digas essas coisas. Estás chateada, tens razão, devia ter avisado, desculpa. Eu amo-te. -- olhei-a com um pedido de desculpas.
-- Não sei. -- poisou a mão no queixo e deixou as lágrimas escorrem-lhe pela cara. -- Estou cheia de estrias  Estou gorda! O meu rabo é enorme e o meu peito é pequeno...
-- Pára por favor! Pára de dizer essas coisas! Não sabes que me magoas? Desculpa, devia ter avisado, achei que conseguia sair mais cedo e não consegui. Mas por favor, pára de dizer essas coisas!
-- Já não gostas é de mim e é por isso que ficas lá até tarde! Para não olhares para mim, para a minha cara feia!
-- Pára amor... -- senti um aperto no peito, uma dor, uma tristeza, mas uma profunda sensação de amor. Vê-la chorar fazia-me sentir amado. Agarrei-lhe a cara e beijei-a com força, abraçando-a com o meu amor.
Estaria com o período? Nunca lhe contara, mas os seus momentos mais difíceis, sensíveis e emocionais, eram os meus favoritos. Vê-la chorar, sentir-se tímida ou amuada, ou até mesmo zangada, desenhavam um sorriso caloroso nas minhas mãos, nos meus braços, nos meus lábios, que a seguravam com mais força do que era costume.
Abraçou-me com força, com os braços pelo pescoço.
-- Tive tanto medo! Nem imaginas... já tinha começado a pensar coisas...
-- Desculpa amor, foi sem querer.
-- Matas-me do coração...

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

O que uma vez brilhou...



A tempestade aproxima-se e podes ouvir os trovões embaterem no chão que me cobre a cara, que transforma memórias em lembranças, em mágoas, em dor aguda que te aperta o peito. Um coração que se entorse e se encolhe num esqueleto frio, rígido e inerte de sentimentos. Uma face pálida como a lua, que te ilumina num foco perturbador. Um raiar de pensamentos depressivos e suicidas. De sorrisos espalhados pelo chão, de um cérebro com as paredes pintadas.

Folhas caídas sobre o meu túmulo, decoram em vão a raiva que te arrasta a alma à morte, num corredor longo, em conversas curtas com a morte. Mãos trémulas com a saudade de serem entrelaçadas, beijadas, acariciadas. Um olhar perdido na terra escura. Um olhar que perde ao piscar, as cores que iluminaram o teu pequeno mundo.
O teu peito recebe uma memória lançada pelo teu coração, e gritas sem som, à imagem que te perdura na mente. Numa mente triste e sacudida.
Acredito que voltarei para ver as tuas lágrimas desfazerem o mundo. Ao olhares todas as noites a cara dos nossos meninos, e uma vontade de fazeres as malas, saltares do banco e caíres nos meus braços. Deixares tudo para trás, tal como fazes os cabelos voar ao vento, ou as lágrimas cair.
Lembrares-te do meu choro, do meu sorriso, da minha sensibilidade e teimosia. Fazeres crescer duas flores sem a oportunidade de verem o Sol, e de mostrarem à lua que ela só poderá brilhar se o tiver como companhia.

Quando tudo cair sobre ti, as memórias não passarem de fotografias, as noites agarrada ao teu amor um comprar de perfume, as crianças correrem para os teus braços e conseguires ver nos seus tristes olhitos, as palavras que te desgastam, que te fazem ruir como um castelo de cartas, num poço.
-- Tenho saudades do papá, mamã.
-- Eu também filhotes. Eu também...
Abraça-los então com força, na esperança que lhes consigas dar o mesmo abraço com carinho e ternura que  lhes dávamos todas as noites.
Deixares escapar da garganta seca um choro descontrolado. Num aperto forte, proteges-os das memórias que nunca deveriam ter. Do sofrimento que nunca deveriam sentir. Mas não podemos fazer nada... a não ser ensiná-los a lidar com o que mais magoa, com os que os faz chorar.
Olhas-te ao espelho todas as manhãs, à espera que apareça por trás de ti, com aquele sorriso que te faz enfrentar melhor o dia. Que faz o teu coração reconhecer como somos bons pais, que amamos e damos amor. Mas não há nada no quarto que se torna vazio a cada dia. Um quarto que se enche de fotografias, retratos, cheiros e livros.
Sentares-te à mesa, ligares a televisão nos desenhos animados e os três ficarem entretidos com um vazio, num vazio pintado por cores que não vos existe, não vos desperta, não alegra e que só entristece. A comida desliza devagar, mastigas, porque queres aproveitar os poucos momentos que tens com eles, para sentires a minha presença na sua maneira de te falar, de te tocar ou de te olhar nos olhos e saberem... que estás só, por dentro, mas não na tua vida.

A casa ficou mais fria, o comer deixou de ter sabor. Deitas-te na cama e agarrada à almofada, pensas nos nossos filhos. A tua mente voa em recordações chorosas e embrulhos sem sorrisos, de olhares e lágrimas, cúmplices da saudade.
-- Tenho saudades tuas... meu papá.
-- Eu também meu amor, eu também...
-- Ainda não te consegui deixar ir.
-- E eu nunca te larguei...
O anel ilumina-se com a lua, olhas as estrelas, a chuva, as árvores ao vento e os relâmpagos competirem forças no oceano que é agora e sempre foi, o teu. O nosso.
-- Abraça-me papá, tenho medo!
-- Estou aqui.