sexta-feira, 14 de março de 2014

Adoro ouvir-te, ver-te e cheirar-te... [5]


O grito percorreu-me o ouvido, sentindo logo de seguida uma luta debaixo do meu peito. Esforçava-se para se soltar, agredir-me e desfazer-me, mas nós feitos por homens nunca se desfazem. Farto de a ver agitar-se na cama, agarrei-lhe a cara com força, apertei-lhe as bochechas e olhei-a com raiva que já não metiam medo a uma mãe desesperada. Atirei-lhe com uma forte chapada à cara e deitou uma lágrima; Fitou-me os olhos serrando os punhos.
-- Se não parares, só encontrarás fatias da tua filha espalhadas pela casa, sangue pelas paredes, cabelo sobre as escadas e a pele pendurada! -- com um pedaço de cobertor rasgado, enfio-o na boca dela.
Levantei-me da cama e espetei novamente a faca no móvel. A galinha, de bico cozido, permanecia vigilante, espiando incessantemente e sem nunca piscar, os meus movimentos. Agarrei a maçaneta do armário e ouviu-se um conjunto de sons abafados. Devagar rodei e abri a porta, encontrando escondida a um canto, entre camisas e sapatos, um pintainho muito choroso, assustado, triste e apavorado. A adrenalina subiu-me pela espinha e ajoelhei-me sobre uma perna à frente daquele animal ferido. Outro conjunto de sons abafados percorreram o quarto, desaparecendo entre os relâmpagos e o vento.
-- A mamã não volta a gritar, prometo! Ela não te queria assustar. -- assegurei-lhe num tom de voz meigo.
-- Não me faça mal. -- pediu docemente limpando as lágrimas do rosto com a sua mãozita.
-- Não querida, claro que não!
-- Não faça mal à minha mamã!
-- Não faço, prometo. -- sorri.

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