terça-feira, 28 de maio de 2013

Sê meigo, sê gentil...


Caminhaste até à porta do quarto, e o meu coração já a mil, bateu outros mil. Senti-as mais duras, ela, cada vez mais quente e molhada. Estava nervosa. Mais nervosa do que tu, porque... sabes? Nós raparigas temos... complexos com o nosso corpo. Vergonha, medo que não gostem, que nos achem feias, que fiquem enojados e não queiram mais nada connosco depois de tirarmos as roupas, que vos escondem tamanhas imperfeições.
Sentia na minha barriga as borboletas e pequenos tremores pela coluna a baixo. O sangue espalhava-se com força, aquecendo-me. Suava ansiedade por todos os poros do meu corpo. Medo e desconforto prévio. Sabia que eras meigo, simpático e carinhoso comigo, com o meu corpo. Mostravas-lo todas as vezes que me falavas baixinho, ou sempre que me agarravas com aquela confiança ternurenta. Imagens dignas de filme. Mas não me sentia confortável, sabes? Era a nossa primeira vez, o que era muito mágico e especial para mim. Pelo menos para mim era. Gostava que também o fosse para ti. Não sabia se naquele momento a tua cabeça continuaria no mesmo sitio, ou se voaria da "razão" e do "presente", deixando-me amargurada, sozinha, ao frio, como tanto aconteceu com algumas colegas minhas. Não queria mesmo, mas mesmo nada que te tornasses num apressado egoísta. Bastou olhar-te nos olhos, que me acalmavam, para saber que estaria protegida.
O quarto tinha um silêncio estranho, mas extremamente provocador. Fazia-me ficar ainda mais atenta aos pequenos barulhos que a casa fazia. Pensava sempre que entraria alguém pelo quarto a dentro, o que me deixava incomodada, por saber que a privacidade num momento tão único como este, podia tornar-se nula de um momento para o outro, mas excitava-me saber que poderia ser apanhada.
Deste a volta à chave e trancas-te a porta. Sorriste e caminhando na minha direcção, tiraste a camisola vermelha. Desapertando aquela camisa azul que te fica tão bem, chegas-te mais perto, dançando levemente com a roupa, com o teu olhar, acabando com os teus lábios nos meus, deitados na cama. Sentias-me tensa , com receio e sorriste ligeiramente. Desceste a cabeça até ao meu umbigo, e com os lábios borbulhaste uma brincadeira. Senti as cócegas libertarem-me das correntes que não querias ver em mim. A pequena brincadeira abriu a caixinha tímida e fizeste-me sentir tua de novo, presente na tua vida, nas tuas palavras, nos teus gestos, no teu toque.
Ajoelhaste-te aos pés da cama. Receei. Pegas-te no meu pé como um príncipe calça uma princesa e beijaste-o gentilmente, sem pressas. Através dos teus lábios senti o reconforto do nosso primeiro abraço e do nosso primeiro beijo.
Não me abandones, agora que tudo parece ser tão mágico e perfeito! Não te percas de ti nem de mim. Quero sentir a tua voz no meu ouvido entrar como uma melodia, os teus olhos castanhos penetrarem-me a mente e cuidares de mim até ao fim, como uma flor dança com a brisa. Rodeares-me com os teus braços, sentir o coração palpitar no teu peito e sorrires. Sê meigo, sê gentil... por favor?
Levantaste-me a perna e muito devagarinho, quase como se tivesses a saborear um gelado, deslizaste a língua pelas costas do pé, perna e virilha. Os teus dedos acompanharam em sintonia, fazendo-me vibrar. Não eram cócegas, mas se tivesse que descrever, seria uma massagem agradável e muito divertida para os meus 6 sentidos. Sabias exactamente o que fazer. Era de loucos! Dominaste-me por completo. Sentia os teus dedos percorrem-me o corpo e a tua língua, o teu cabelo, o teu nariz, acalmarem-me o corpo tenso. Relaxei, fechei os olhos e deixei-me absorver pela massagem. As mãos de dedos compridos aproximavam-se, uma e outra vez, daquele local tão sensível, a provocar-me, a despertar-me de novo.
-- Amo-te. -- declaraste-te, deitado em cima de mim, fitando-me nos olhos. -- Amo-te tanto... -- e a tua mão passou pela minha cara, fazendo as tuas palavras e o tom de voz meigo e sincero, entrarem-me pelos ouvidos como um banho quente e lençóis aconchegantes. Soltaste uma lágrima. Permaneceste a olhar-me, choroso, e eu sem saber o que tinha feito. Beijaste-me, senti o salgado da gota tão preciosa e de seguida os teus braços à minha volta, que me apertavam de uma saudade que conhecia de cor.
-- Amo-te meu príncipe...

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Hoje, na nossa cama...
Passar a manhã e uma vida...
Boa noite amor...
Deslumbre de momentos esquecidos...
A nossa eterna manhã...

quinta-feira, 23 de maio de 2013

A eugenia existe...


A eugenia está presente na nossa sociedade, e vocês, simplesmente ainda não se deram conta. Está tão vincada na nossa cabeça, no meio ambiente que nos rodeia, que acaba por se perder dentro dos nossos ouvidos e dos nossos olhos. É como quando deixamos de ouvir o tic-tac do relógio por estarmos com o ouvido atento a outras coisas, ou por simplesmente estarmos com a atenção focada para outro tipo de estimulo exterior.
Só o simples facto de os mais ricos ou os mais inteligentes terem mais capacidade de poder aceder a certas coisas que são... ou poderão dar mais cultura e inteligência, não é por acaso.
A eugenia existe e é praticada por todos os órgãos de comunicação social, mesmo até fora dos filmes, das novelas, das revistas, dos telejornais, dos jogos, da rádio. É por isso que só um conjunto restricto de pessoas têm acesso a informações sobre música clássica, que têm dinheiro e capacidade para fazer mais. Como aquela festa privada e "secreta" feita pela "Skins Party Portugal", em que só os "escolhidos", os melhores podem entrar. Um pouco como no filme "Eyes Wide Shut", em que só os mais ricos podem entrar num culto secreto, em locais secretos.

Juventude Inquieta
Skins Party
As “Skin Parties”

O mesmo acontece com música clássica, em que só os que têm mais dinheiro, porque um bilhete não deve ser barato, sabem da sua existência. Existe alguns mais públicos porque é coisa corriqueira, muito normal, no entanto, a publicidade que passa sobre esses concertos é tão pouca, que 99.99% da população desconhece que existem. E porque razão há pouca publicidade sobre isso? Sobre grandes concertos de música clássica e opera? OU porque as pessoas são tão burras que estariam apenas a olhar para um palácio sem saber, ou porque a grande elite não quer gente medíocre e ignorante nos locais de culto que frequentam. É simples. Se esta cultura musical, tão valorizada pelos papás e mamãs que acham que por irem ouvir música clássica durante a gravidez que terão um filho sobre-dotado, e voltamos a falar e a bater num ponto que abordo em "O riquismo e a superioridade..." em que os papás querem obter e não fazer crescer, um filho cheio de talento, está longe do público geral, da mente da população ovelha, por alguma razão é. E eu concordo que assim seja, pois caso todos tivessem acesso, algo que é tão único ir-se ia perdendo, tornando em lixo e demasiado mastigado como acontece com a música em geral.

O Holocausto a cru...
A tua mente num frasco...
Eu quero, posso e Compro!

No sistema social em que vivemos, os únicos que terão a chance de aproveitar o mundo são os ricos... Já esta acontecendo  as praias, lugares, rios e etc, mais bonitos estão sendo privatizados. Tudo esta sendo comprado e no futuro vai ser pior. 
Por ju282828 em O vídeo que deve dar a volta ao mundo
A Eugenia não é feita apenas num contexto hereditário, psicológico, de inteligência, de escolaridade. É também construído em volta do que é "raro" e poucos devem ter acesso. Como falei acima por causa da música clássica, em que só uma parte da elite rica de um país tem acesso ou conhecimento. O mesmo com as roupas, com os trabalhos em grandes empresas, com a alimentação, restaurantes, viagens. Com este comentário, acrescentam-se as praias, os rios, os lagos, as florestas, os grandes terrenos e terras de cultivo. Tudo o que for "raro", único, diferente, grande, majestoso, compra-se e priva-se. O que até tem a sua lógica pois no fundo raso do nosso interior, do nosso ser animal, somos, como já escrevi e já li, invejosos. Tal como os macacos, que não sabem trabalhar em conjunto. Porém, por alguma razão, são muito bons a lutar.
À milhares de anos, quando ainda não havia civilização, o principal foco de descanso era junto aos rios e aos lagos. Famílias inteiras paravam e por vezes até formavam as suas aldeias. Basta entrar outro grupo na área, para despoletar-se uma guerra por um bem precioso. O mesmo que acontece quando um bando de leões ou lobos invade território inimigo.
Basicamente, estas privatizações, são o resultado de um ser que não quer partilhar com os mais fracos, aquilo que lhes pertence, não por direito mas por dinheiro. Aquilo a que dão valor, que tem valor e fornece uma quantidade cósmica de experiências.

Antigamente havia pobres e ricos, agora tudo quer ser rico.
-- Eu tenho um carro e tu tens uma carroça.
Hoje, é pior do que há 20 anos. Hoje, todos querem ser mais do que os outros. Querem ser melhores, ganhar mais, subir mais.
Como dizia um senhor na Sic em "Os Comentadores": Os portugueses são muito trabalhadores, mas não se dão bem. São invejosos, são somíticos. São como macacos! Os macacos não trabalham em conjunto, porque são invejosos! Porque sabem que terão de partilhar aquilo que conseguem, com o outro, e preferem não ajudar, não trabalhar em conjunto, do que ter fruto partilhado por mãos alheias. 
Em O riquismo e a superioridade...

É por esta razão, uns que não querem partilhar o que é bom, com aqueles que não compreendem, que não dão valor ou não merecem porque não são tão inteligentes ou melhores do que eles. Privam-nos, e talvez até com razão, porque as espécies não evoluem com beijinhos mas com lutas.

Outro ponto importante a mencionar, é o facto de todos os homens usarem cabelo curto, ou +/- curto. É raro haver rapazes com cabelo comprido. Isso, é anti-natura. Mas não é algo "anti-natura" desde sempre, nunca foi assim até à altura em que começou a haver aquilo a que hoje chamamos de "tropa", onde os rapazes eram obrigados a rapar o cabelo por causa, não só dos piolhos e doenças, mas também pela facilidade de lavar o cabelo e de remover a sujidade. Quando ainda combatíamos com espadas e escudos, os cabelos compridos eram predominantes por todo o soldado, desde os vikings ao gregos e romanos. É verdade que os romanos foram dos povos mais avançados em termos de tecnologia militar, e óbviamente para não gastarem tanta água em banhos, usavam o cabelo rapado/cortado, pois era mais fácil. Não pesava tanto, e a cabeça arejava melhor, no entanto, não significa que todos usavam cabelo rapado, ainda continuava a haver homens com cabelo comprido.
Tornou-se, com o passar dos séculos, sinónimo de homens viris, com dinheiro, com força, com poder. Já quando começou a "tropa", no seu sentido mais actual, este significado permaneceu igual e com uma imagem invejável, pois quem andava na tropa, tinha sucesso com as raparigas. Eram "homens" e já não meninos. Ainda hoje são vistos como uma delicia.
É essa a razão de se ver tanta publicidade com modelos de cabelo curto, porque são "geneticamente" perfeitos. "Socialmente" aceitáveis. Essa é a eugenia. A existência de padrões estandardizados e aceites pela sociedade. Porque um rapaz de cabelo comprido já não faz parte da norma, é uma excepção à "regra" que se transforma quase numa obrigação. Porque se alguém quer ser aceite, tem de pertencer à regra e não à excepção.
O cabelo curto, passou a ser a chama para grande parte de todas as mulheres, desde que a tropa foi introduzida na sociedade humana. O acto de rapar o cabelo, era algo duro de fazer para os homens até àquele momento, mas com os anos, tornou-se uma imagem de marca, um sinal de respeito e superioridade. Daí existirem os Skinheads, homens e mulheres com a cabeça completamente rapada, que tentam mostrar superioridade por um acto tão simples. Portanto, o cabelo curto, nos dias que correm é algo que atrai as mulheres, porque sentem que o homem fica mais limpo, mais visível, que não compete com o cabelo dela, é mais fácil de passar a mão, de o controlar.
Em O cabelo consciente...

As mulheres vão atrás dos bonitões por causa dos seus sistemas imunológicos
Você prefere mulheres de seios grandes ou pequenos?
Mulheres odeiam barbas, diz a ciência
Barbudos, alegrem-se! Ter o rosto coberto de pelos faz bem para a saúde
E se os seres humanos fossem duas vezes mais inteligentes?

É este bombardeamento constante de: "isto é perfeito, isto é bonito, isto é aceitável" e de "isto é feio, isto é mau, isto não é aceitável, isto é estranho, isto é diferente, isto é tabu" que os nossos cérebros são manipulados com facilidade.

Quando em 2010, houve a facilidade de entrar nas universidades, muitos alunos universitários, pais e professores vieram contestar essa nova possibilidade. Estavam contra a facilidade com que gente com notas baixas, gente medíocre, entrava nas universidades para terem os mesmos direitos e privilégios que aqueles que tinham dinheiro, que tinham mais capacidades, que tinham estudado... São gananciosos, é essa a realidade. São somíticos, invejosos, preconceituosos, eugénicos.

Como dizia um senhor na Sic em "Os Comentadores": Os portugueses são muito trabalhadores, mas não se dão bem. São invejosos, são somíticos. São como macacos! Os macacos não trabalham em conjunto, porque são invejosos! Porque sabem que terão de partilhar aquilo que conseguem, com o outro, e preferem não ajudar, não trabalhar em conjunto, do que ter fruto partilhado por mãos alheias. 
Em O riquismo e a superioridade...

O próprio rapaz que tem dado que falar não sei bem onde, o "Martins Neves", "cala" a Raquel Varela. Diz o rapaz que falou com as miúdas mais giras da escola dele, para fazer publicidade das suas roupas. Óbviamente, como inteligente e bem introduzido que o rapaz está na nossa sociedade elitista portuguesa, preferiu de imediato raparigas bonitas, por serem modelos, por serem seguidas e admiradas, invejadas e também cobiçadas pelos rapazes. Não é só por serem bonitas, mas por os rapazes possuírem a mente comercializada pela publicidade, filmes, novelas, músicas.
P&C Martim "over it"

A eugenia também aparece nos nomes das crianças. Algo que explico em  Eugenia "gramatical"... e  O ódio aos nomes....

São nomes que nos fazem lembrar pessoas e tipos de pessoas, namorados/namoradas, rancores, inveja, ciúmes, tristeza, poder, riqueza.
Só prova que as pessoas são "preocupadas" e acreditam, acima de tudo, com o futuro e no futuro "social", monetário e emocional "inter-pessoal" do seu filho. Pois cada nome representa um estatuto social e não querem que o seu filho seja o maior merdas. É um novo tipo de "riquismo". "O meu filho tem de ser melhor do que o teu!". 
... 
Perde-se muito tempo a guerrear o nome, enfiando no mesmo saco as duas famílias  numa luta gladiadora exaustiva para que o filho/filha tenham o melhor nome do mundo! Fazem do nome próprio tal alarido, como se o futuro do próprio filho dependesse disso. Uma coisa é não atribuir nomes cómicos aos filhos para não serem alvo de chacota e risadas dos professores, colegas e amigos, outra coisa é esmiuçar toda a lista de nomes do Wikipédia à procura do nome que soe a "dinheiro", "poder", "beleza", "respeito", "inteligência". O que estas pessoas não sabem, e que desconhecem de todo, é que nenhuma qualidade é atribuída automaticamente ao seu filho, só por ter um nome mais sonante. Pois uma criança só desenvolve se tiver bons pais e um ambiente sensitivo suficientemente "bom" para isso. 
Em Eugenia "gramatical"...
A eugenia está até nos preços das coisas, dos bens e serviços, nos alimentos, no bens de primeira necessidade. Quem tem dinheiro pode comer melhor, usar produtos melhores, ter tecnologia de ponta e segurança redobrada, casas mais acolhedoras, rios, carros, e terrenos enormes. Quem não tem... tivesse.
É normal que isto aconteça, pois como expliquei mais acima com a música clássica, se não queremos que algo "único" se torne corriqueiro, então limitamos esse acesso só a pessoas que valorizem.

E as novas possibilidades que os pais de hoje têm em escolher um bebé com os olhos azuis, loiro, sem doenças, alto como o pai e bonito como a mãe?
É também ela uma eugenia, vendida única e exclusivamente, pois está claro, a pais, a casais que possuam dinheiro. Quem não tem, sujeita-se ao que sair.
Clínica nos EUA oferece escolha de cor de olhos de bebês

É a lei dos mais ricos, dos mais inteligentes, dos mais "fortes". O que podes tu fazer contra isso? Absolutamente nada... Ou achas que as escolas e as universidades privadas existem só para os ricos? Óbviamente que não. São para aqueles papás que querem a melhor educação, o melhor apoio, os melhores professores, auxiliares, psicólogos, actividades e dedicação especial para o seu filho "prodígio". Se a eugenia existe nas escolas, então existe em todo o lado.


The Horrifying American Roots of Nazi Eugenics
Sociedade Civil - Como se Mede a Inteligência

As brincadeiras, não tão inocentes, das crianças...


Uma coisa que muitos ainda não repararam, que ainda não perceberam e que se esqueceram com o tempo. Algo que não sei quando surgiu e se já havia no tempo dos meus pais ou dos meus avós, o que não acredito muito. E essa coisa é: "cachaços", depois de alguma criança cortar o cabelo.
Os cachaços não são uma brincadeira de crianças, os cachaços são violência física e psicológica, perpetuada por crianças más e sem empatia, sem respeito ou educação. Quem o faz são as mesmas crianças que fazem o bullying. As mesmas que incentivam à criação de colunas paralelas uma à outra, de alunos, num corredor, só para dar uns pontapés e carlassos a quem passar pelo meio.
Desenganem-se se são actividades inocentes, feitas apenas por brincadeira sem querer fazer mal aos outros. É precisamente isso que essas brincadeiras são. Para fazer mal aos outros! São um tipo de bullying mais "soft", mas não deixa de ser agressão psicológica, pois quem leva, quem apanha, fica com medo, é-lhe-o incutido pelo simples facto de ter cortado o cabelo, ou outra coisa qualquer que signifique ter de levar alguns. São rituais passados de turma para turma, de ano para ano. Não são praxes, porque ninguém as aceitou. E até as praxes são agressões, têm gritos, têm obrigações e proibições. São como seitas, onde só entra e é espezinhado quem quer, é um facto, mas não deixa de ser um tipo de bullying. Onde o cérebro do jovem é bombardeado com medo por errar.

Esquecem-se que as brincadeiras feitas no recinto escolar, as brincadeiras que implicam contacto físico sem autorização e abusiva por parte do "agressor", também é bullying. Mas tendemos a achar que é algo que já vem de à muitos muitos anos, que é uma tradição centenária e ai dos nossos filhos que não se deixem "praxar" nas escolinhas, ai deles que não abracem o espírito de interacção do secundário e do liceu. Ajuda-os a conhecer gente nova, não é!? Bem, os garotos na praia são os que mais facilmente fazem e descobrem amigos sem recorrerem a chapadas no pescoço ou outro tipo de agressões, por tanto... algo está mal e é a mentalidade.
Mas não são só os contactos físicos, são também os jogos, mesmo até os de futebol, em que os melhores formam a equipa e vão escolhendo os melhores até chegar àqueles miúdos que não sabem a ponta de um corno, que não sabem jogar ou não têm tanto jeito. E então, no fim, acontecem duas coisas: OU um deles engelha o nariz e chama o mongolóide, OU então faz-se de amigo super simpático, e com um sorriso aceita-o na equipa. Numa (equipa), o rapaz nem toca na bola, na outra, é provável que também não toque. Sim, é a selecção animal a decorrer diante dos nossos olhos, a escolha através de uma selecção não só genética, mas também de perícia, de engenho, de capacidades intelectuais e físicas para se desembrulhar numa actividade e durante uma actividade. Coisa que é aceite por 50% dos papás e criticada pelos restantes 50%. Em que uns defendem a Eugenia, e em que os outros se manifestam e criticam pelo direito à igualdade.
Nisso, tenho duas opiniões. Acho normal, pois com os animais acontece os mesmo, e acho errado, pois somos seres que devemos partilhar com gosto e não sermos egoístas e com o sentimento de superioridade no corpo só porque um não sabe aquilo que eu sei e isso faz-lo ser menos do que eu e eu melhor do que ele. Como falo em "A eugenia existe...". A tal "superioridade" que andam a incutir muito aos garotos e que eles próprios levam para cova. Coisa que eu acho mesmo de crianças, porque também já fui assim, egoísta, e a achar-me superior aos outros por saber ou fazer coisas que poucos fizeram ou fazem. Parolices de cachopo...

Recebi mais do que os que dei, e quando os dei, dei-os para me integrar no grupo, para não ser excluído e não me sentir escorraçado. Já não bastava quando se formavam equipas em qualquer desporto. e ser escolhido em ultimo. Normalmente os que não têm grande perícia ou destreza, ficam sempre com as raparigas. Nem vale a pena explicar porquê.
Parei, quando tomei consciência de que não gostava que me fizessem a mim, e eu próprio odiar fazer aos outros. Eu sabia que odiava, que não me sentia bem, mas foram tão poucas as vezes que o fiz e eu era tão novo, que nunca tinha pensado muito sobre o assunto. O acto tornava-se divertido, não por eu tirar prazer de magoar os outros, de os fazer sentirem-se tristes ou vê-los fracos, mas porque estava a interagir com os outros miúdos "fixes" da minha turma. Porque fazia-me sentir parte do grupo, da matilha, acolhido. Não que as minhas opiniões passassem agora a ter mais valor ou a merecer tempo e atenção deles, mas estava lá. Com o grupo. Um (pouco) muito como acontece nas universidades. Quando uma pessoa vê que é recebida por todos, dá-se a vaidade, pois todos nos olham, e o Ego iluminasse, irradia de felicidade. Pertencemos finalmente a um grupo, e aquilo que temos para oferecer, é a devoção. Como também acontece com a religião. Ou com bandas de música. E se criticam aquilo pelo qual nos ajoelhamos, há bulha da grossa! Crianças... só é pena não terem argumentos.

Por isso, se somos assim tão "humanos" e nada haver com animais "irracionais", porque temos e vocês têm a  tendência de perpetuar actos que não são reais e que também não fazem bem? São como as histórias de encantar, que nos encantam a mente com as suas lições de mural pouco compreensíveis mas que ensinam alguma coisa que ainda não conseguimos perceber. Basicamente, servem só para nos entreter. Não nos dão nada, não nos ensinam, não nos instruem nem educam.
Não se vende tanto por aí, a ideia de que as crianças devem ser amigas umas das outras? Amar e abraçar as outras sem quaisquer preconceitos, sem superioridades. Com igualdade e respeito mutuo? O que eu vejo muito por aí, principalmente nos ciclos e no liceu, e sim, sei que os jovens começam a entrar na fase da adolescência por essa altura, mas também conheço gente que está nessa fase, por exemplo raparigas e até os rapazes mais calmos, e não os vejo a serem tão parvalhões como parte dos que andam com eles. Porque será então? É uma geração de atitudes e maneiras desenvolver a sua vida que é passada de pais para filhos, com o intuito ou sem intuito de eles serem mais... desenrascados, maduros, responsáveis, adultos.

As brincadeiras das crianças, não são sempre inocentes, e deve-se ter cuidado com isso, pois começa já a haver certos problemas criados pelas roupas que as crianças trazem.
Eu tenho roupa de marca e tu não!
Eu tenho lápis caros e tu não!
Eu tenho e tu não!

O que tens, é falta de educação!


A geração anti-pedagógica...
A violência infantil...
A publicidade da deseducação...
O período fértil da irracionalidade...
Praxes...
Praxes... II

domingo, 19 de maio de 2013

Eu não quero morrer... III


Por trás da vedação, começavam a surgir edifícios de betão, baixos, feios, grosseiros, assustadores e intimidantes. Vapor saía de umas chaminés, e por breves momentos, a mão da minha mãe perdeu as forças.

O seu passo tornou-se mais lento, sem pressa. A cara dela olhava sem expressão. Estava pálida, como quem nunca tinha apanhado Sol. A sua cabeça manteve-se imóvel, guiada pelo olhar que parecia fingir passar por alguém que não queria cumprimentar ou ver.
Durante a caminhada até ao portão guardado por muros altos, aguardavam-nos vários senhores fardados, que faziam as pessoas deixar todas as suas malas cá fora. Com alguma relutância a minha mãe atirou a minha para cima do monte já tão alto como eu e guiaram-nos até um complexo com vários cabides. A vergonha tomou conta da minha cara, à medida que via meninos e meninas, mulheres e homens, despirem-se à frente uns dos outros.
-- O que é que estas pessoas estão a fazer mãe? Elas não sabem que estão nuas umas ao pé das outras?
-- Vamos todos tomar um banho. Não há mais espaço e estamos todos com pressa de voltar para casa.
Um senhor já despido da cintura para cima, afastou a sua pouca roupa para o lado, e deixou que a minha mãe poisasse o casaco dela no cabide. Colocou-me em pé sobre o banco e desabotoou-me o casaco. Queria fugir de tão vermelha que estava. Tapar os olhos e fingir que não estava a ver aquele momento tão tabu para a minha mente ainda tão inocente. Olhei para a minha mãe e assim de me deixei ficar durante todo o processo de despir.
-- Mas eu não cheiro mal mãe... -- retorqui, enquanto me segurava nos ombros dela e me tirava os sapatinhos pretos pela fivela. Ela sorriu. Olhou para mim e disse de uma forma calma.
-- Eu sei meu amor, mas podemos ter algum vírus e assim limpa-se tudo.
Retirou-me o resto da roupa. As cuecas e as meias foram arrumadas junto com as roupas da mamã, dentro do seu grande casaco. Sentei-me na ponta do banco e vi-a despir-se. De uma forma mais ou menos lenta, tentando não se despir por completo à frente de tanta gente. Ganhou coragem, e deixou-se cobrir apenas pelas mãos, nos seus peitos e na sua concha. Senti o perfume nas roupas por breves segundos, até ser arrastada de novo pela mão, para fora do complexo onde todos se alinhavam e faziam fila até um edifício quase tão baixo como eu.

O passo era lento, e a face de todos os que componham aquela marcha, assemelhavam-se às dos mendigos que vi uma vez nas ruas, pobres, famintos, tristes, sozinhos, abandonados. De cabeça baixa, guiávamos-nos pelos pés da pessoa da frente. Fazia-se um silêncio ensurdecedor, o ambiente criado à minha volta era de uma frieza poderosa. A barriga contorceu-se de novo. Segurei com força os dedos compridos da mãe e os meus passos tomaram conta do destino do meu corpo. Fizeram-nos parar, enquanto o primeiro grupo de homens e mulheres, crianças e jovens entravam dentro da pequena casita de betão.
Empurrados com força, à cacetada e ao pontapé, enfiaram-se assim quase 100 pessoas num espaço que não dava para mais de 60.
Estranhei, e entranhei. O silêncio quebrou-se com os gritos de uma senhora. Com o decorrer do tempo, todas se iam tornando claustrofóbicas, assustadas, stressadas. Começava-se então a cantar uma arrepiante tragédia. Contorciam-se todos de um lado para o outro, com berros e gritos estridentes, acompanhados por murros na porta pesada, trancada.
O gás foi ligado e o caos instalou-se em segundos. Lentamente os gritos desconfortantes que me faziam arrepiar a espinha das costas e o cabelo da nuca, tornaram-se em murmúrios e pequenos sopros.

Podia-se sentir a respiração das pessoas ao meu redor. Leve, com consciência de que estariam a entrar no inferno, de que em breve estariam mortas, queimadas e atiradas para uma valeta comum. Engoliam em seco e saboreavam o ar que nunca lhes tinha sido tão puro até àquele momento. As memórias passavam depressa, tal como o tempo. A agonia via-se nas caras e os pêlos eriçavam em sincronia nos braços de todas as crianças que começavam a chorar descontroladamente. A garganta parecia cortar-me o ar e sentia o medo subir-me pelas pernas e braços.
Era agora... o ultimo momento nesta terra. A minha mãe segurou-me com força nos braços dela, junto ao seu peito, enquanto me beijava sem parar os lábios já trémulos e tão secos pelo medo das imagens e sons agora fantasmas. Soluçava, chorava, tremia e exprimia-se contra todos os outros adultos. Os gritos voltavam aos poucos. Pareciam vindos do próprio inferno, de um sofrimento infinito, de almas furadas , perfuradas pelo diabo, comidas, queimadas, esfoladas.
-- A mamã ama-te muito! -- olhei em volta. A porta foi fechada e trancada. O pânico já instalado intensificou-se. Queria sair dali.
-- Mamã... -- chorei de punhos fechados atrás do seu pescoço
-- Krystyna, olha para mim. Olha para os meus olhos! -- limpei as lágrimas. -- A mãe ama-te! Não vais sentir nada. É como adormecer.
-- Tenho medo! -- respondi. O coração da minha mãe saltava-lhe pelo peito, assim estaria o meu, que o sentia no pescoço e na barriga.
Ligaram o gás, verde e espesso, inodoro, com um travo a azedo na língua.
-- A mamã adora-t...

Os meus braços permaneceram à volta do seu pescoço.

O cheiro a sabão perfumado voltou a cair sobre os meus cabelos. Estava a tomar banho, a brincar com uma pequena boneca, enquanto a minha mãe me lavava os cabelos com sabão e um pente.
-- Dá um beijinho à mãe. -- pediu ela, aproximando-se.
Beijei-a. Estava em paz.


Inspirado em Krystyna TrzesniewskaCzeslawa Kwoka e no documentário "Viagem ao Interior do Holocausto"

sexta-feira, 17 de maio de 2013

O Holocausto a cru...

Question: "At Auschwitz, tell me, where was God?"
Answer: "Where was man?"

Deus não existe, e o homem... sempre esteve lá, presente, mas com o poder que nunca teve, diante de uma mente que não sabia dominar.

Existe uma simples explicação racional, vários pontos positivos, e uma razão instintiva.
  1. Somos feitos de guerra.
  2. Criamos e aperfeiçoamos.
  3. As criaturas não surgiram através de beijos e abraços.
É através do sexo que somos criados, e é através da guerra que nos aperfeiçoamos. O sangue assassino que nos corre nas veias e na mente, é tão capaz de matar como de amar, mas a força do hábito, desta besta animal com consciência própria que descontrolamos, rege o mundo. O melhor que poderíamos fazer, não era aprender, mas desaparecer. Não por sermos o mal, por nos esquecermos das coisas extraordinárias que fizemos e somos capazes de fazer, mas por não saber quando parar. E se é tão fácil criar dividas, ficar-se viciado ou facilmente aliciado pelas palavras de uma pessoa qualquer, então também é fácil, chegar-se ao "extremo" de erradicar toda uma "espécie". Coisa que não é de agora. Existiram tanto ou mais que uma dúzia de espécies de humanóides diferentes no planeta terra, sendo das mais "estranhas" para o Cró-Magnon, o Neanderthal. Pensa-se que os Cró-Magnon tenham erradicado, perseguido até à extinção os Neanderthals por serem tão feios, estranhos e diferentes.
O Holocaust não se fez sozinho, e não apareceu na cabeça de um único homem. Foi aperfeiçoada por vários, por todos os não judeus, por todos os afectados pela chegada de estrangeiros. Como é falado no documentário "Inside The Nazi War Machine - Inside The Holocaust", os Judeus não foram os únicos a serem perseguidos e mortos. Tudo o que era estrangeiro, foi morto ou deportado. Na altura, simplesmente eram mais Judeus que outro tipo qualquer de raça. É quase como os Chineses em Portugal. Só aqui na minha zona, existem umas 3 lojas, que eu saiba. Grandes lojas. Para não falar de que no concelho onde também moro, existem bairros sociais com gente problemática. Basicamente, o que Heinrich Himmler e Hermann Göring, entre muitos outros fizeram, foi o que Alberto João Jardim (segundo ouvi dizer) fez na sua ilha. Colocou a um canto dessa, todos os deficientes, drogados, pobres, pedófilos, o estrume da ilha, todo espetado a um canto, longe de tudo o que é suposto ser e permanecer bonito.
Os Nazis, simplesmente aprimoraram o processo. Juntaram tudo o que estava a mais, a prejudicar os alemães e a economia dos pequenos comerciantes alemães. Viram-se acorrentados, sem possibilidade de guerrear preço com a quantidade de lojas dos judeus que existiam nas ruas e no país. Era normal que fossem escorraçados, pois tinham muito mais coisas do que os alemães. Não concordo com a chacina fria executada nos Campos de Morte, mas escravos de trabalhos pesados é uma coisa que também não é de agora. Já no Egipto se utilizavam aos milhares, os escravos capturados.
Eles tinham os meios, tinham o ódio, tinham razões e colocaram em prática as ideologias que já não eram assim tão controversas. Os próprios alemães apoiavam a guerra. É verdade que mais de metade, possivelmente, era obrigado sobre pena de morte por serem contra o regime. No entanto... faço uma vénia à capacidade que Hitler e todos os seus generais, filósofos, cientistas, engenheiros, entre muitos outros, tiveram naquela grande máquina de propaganda ao Racismo, à guerra, à supremacia racial. As coisas que fizeram, que inventaram, que descobriram, que aperfeiçoaram, mudou o mundo por completo. As experiências executadas em crianças gémeas, em judeus, foram macabras  mas os EUA aproveitaram toda a informação catalogada pelos próprios cientistas alemães.
Já no Japão, durante a 2ª guerra mundial, eles próprios criaram o seu laboratório de experiências em pessoas. "Unit 731". Já no fim da 2ª Guerra Mundial, como todos estudámos, a América largou duas bombas atómicas, e rapidamente se apressaram a estudar os efeitos da radiação nas milhares de pessoas afectadas.
Devido a estas experiências "nojentas", hoje tem-se uma melhor percepção de como funciona o corpo quando é envenenado, infectado com vírus, como reage a certos procedimentos médicos com ou sem anestesia. É cruel, eu próprio sinto pena pelas pessoas que passaram horrores antes de morrer, mas nada posso fazer.
A própria Eugenia, foi um esforço para manter as raízes do povo Alemão, limpas do "lixo" proveniente de raças de fora do país e da própria Europa. Os próprios Americanos faziam testes de QI a todos os estrangeiros que chegavam às fronteiras. Os que eram realmente medíocres, teriam de voltar para trás.
Hoje, grande parte dos alemães mantém a sua linhagem mais limpa depois deste aterrador acontecimento. Sim, é frio dizer que a hereditariedade é mais limpa, mas ao abrirem as portas da Europa, voltaram a "sujar-se".

Somos o que somos por termos cérebros sobre-desenvolvidos. Somos tão capazes de praticar o bem, como mal. E o mal, é algo que é-nos muito natural e que está enraizado em qualquer animal que viva nesta terra. É matar para sobreviver, para liderar, para controlar. Somos micróbios assassinos. Um mundo sem guerras, seria perfeito, mas enquanto o próprio sistema social que abraça os jovens para a sociedade e a vida em conjunto, não mudar... nada muda. Mas sejas honestos. Sem guerra, a nossa tecnologia não estaria tão desenvolvida. A necessidade faz progredir, inventar, inovar, criar, re-construir, re-inventar. Uma necessidade pelo poder que está farta de nos dar tecnologia. Por tanto, não se queixem muito por haver guerras. Elas fazem avançar o mundo, infelizmente. Para cada ano que a sociedade avança tecnologicamente, a tecnologia militar avança 4. Existe dinheiro, existe poder. É o resultado de animais com capacidade psicológica superior. Quer queiram quer não, é superior. Não é no que vocês acreditam!? "Não somos animais selvagens, somos humanos.". Pois bem, aqui estou eu a dizer que vocês são horríveis e amorosos porque têm uma mente mais desenvolvida. Porque são humanos e não os animais. Não estão contentes?

O que voz faz pensar que outras criaturas inteligentes no universo não passaram/passam pelo mesmo processo auto-destrutivo? Não é uma coisa que apareceu na mente humana, mas uma reacção química e cerebral de animais com instintos pré-históricos. Acredito que com o tempo toda esta frieza, estas guerras, desapareça, mas nunca será de vez.
Como li num artigo na internet de um psicólogo. "Todos nós somos assassinos. Todos mataríamos pelo menos uma pessoa na nossa vida."

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What I Learned From Auschwitz (Tese)
6 experiências médicas supersinistras
Europeus, todos primos!
Mysterious Minoans Were European, DNA Finds

domingo, 12 de maio de 2013

Eu não quero morrer... II



Agarrou-me com força a mão, e senti-lhe nos dedos, o horror de me perder.
-- O que se passa mãe? Porque estás a chorar?
-- Não é nada filha. -- respondeu limpando à pressa as lágrimas, trocando-as por um grande sorriso. -- Foi o Sol. Não te preocupes, sim?
Acenei ligeiramente com a cabeça, enquanto a minha mãe tentava manter aquele sorriso estranho.
-- Daqui a pouco estamos em casa! -- sorriu, soltando uma lágrima.

Passou-me a mão pela cabeça. Trémula. Dos megaphones, suou a voz víbora, que todos em meu redor escutaram com toda a tenção. Pareciam tensos, muito concentrados à medida que os senhores fardados percorriam aquele longo amontoado de pessoas, com paus e pistolas compridas. A minha mãe apertou-me com força, à medida que lhe sentia o olhar ficar mais pesado e repleto de medo, foi então que um senhor à minha frente levou com um pau na cabeça. Assustei-me, encolhi-me. Senti-lhe a dor na voz. Ao meu lado, agarrado às saias da sua mãe, estava uma criança muito pequenina, com pouco mais de 6 anos, a chorar. Soluçava com o medo estampado no rosto, nos olhos, nas mãos pequeninas que seguravam com força a única pessoa que lhe poderia dar protecção, carinho, compreensão, alimento.

Tão rápido como todos nos tínhamos encarcerado, afastámos-nos. Apertando com força a minha mão, mantendo-me sempre com ela, colada, levou-me. Colocaram-nos numa fila só para mulheres e crianças. Havia rapazes mais velhos com olhares sérios mas com uma expressão irreconhecível. Talvez medo... disfarçado de coragem. Olhei para trás, para a fila serpenteante, e vi uma senhora dar um bocadinho de pão às escondidas, a uma criança.
Olhava para a minha mãe de vez em quando, mas ela não desviava a sua atenção da mesa que recebia as pessoas, para outros pais, para outras crianças, para outras mães, e a sua expressão séria, confundia-se com a de dor, com a mesma expressão de incapacidade. Os seus dois cristais, largavam lágrimas que lhe percorriam a face, o nariz, o queixo e que caiam no meu cabelo ou no meu vestido. Depois de várias dezenas de minutos à espera, sem água, sem comida, e ao sol intenso, chegara finalmente a nossa vez. A situação nova, não me recordava as filas de espera para o comboio, para o dentista ou para a casa de banho. Havia demasiado no meu horizonte que me causava desconforto. Eu própria desconhecia se compreendia o que estava a acontecer. Não existem histórias tão horrendas, como aquela em que se tornou a minha vida, como aquela que estava presente a assistir. O silêncio de todo aquele grupo de pessoas, desfazia-se com a voz vibrante dos soldados.

Chegámos-nos à frente e entregou os papeis de identificação. Olhava para ela, que não limpava as lágrimas, e para o senhor do qual não entendia a língua. Escreveu qualquer coisa numa folha já meia preenchida, com estranhos traços, falou para minha mãe que acenou a cabeça e me levou de novo para outro local desconhecido. O senhor levantou o olhar, e com raiva mandou que o próximo se aproxima-se. Não foi preciso entender. Os seus gestos curtos e brutos demonstravam violência, ordens que nem eu própria me atreveria a desobedecer. Lembrei-me do papá, quando ele costumava ficar zangado comigo por deixar as bonecas espalhadas pelo chão da sala.
-- Quero que te mantenhas com a mamã. Vai correr tudo bem. Não precisas de ficar assustada. -- senti na voz da mãe, um aperto, um arfar, uma dificuldade em respirar. Estava com medo. O que se passa? Foi alguma coisa que eu fiz? O que fizeram estes senhores ou aquelas crianças para estar aqui? O que fez de mal aquele homem para levar com um pau na cabeça? O que querem de nós? Porque fazem isto? O que está a acontecer?
Seguimos em frente, onde vi o que me arrepiou o corpo. Um senhor fardado, que estava parado de arma na mão, caminhou até a um rapazito que trazia um pequeno brinquedo nas mãos. Assustado, olhou para o senhor, muito branco e de cabelo rapado, jovem e com cara carinhosa...ZÁS! Com uma chapada nas mãos, tirou-lhe o brinquedo, gritando de seguida ao seu ouvido. A minha mãe tremeu, cessando o passo por momentos, e a dele, puxou-o para si, passando-o para o seu lado esquerdo. Tive um suor frio pela espinha a baixo. Sentia a mesma mão pesada nos meus neurónios espelho. Chorei. O monstro aproximou a sua cara da minha. Cheirei-lhe o mesmo hálito bêbado que tanto decorei da boca do meu pai, sempre que me dava as boas noites, e com um grande aperto na cara, encolhi-me entre as roupas daquela mulher que me obrigava a acompanhar as suas largas passadas, apressadas, pesadas e breves num chão sem vida. Morto.
Por trás da vedação, começavam a surgir edifícios de betão, baixos, feios, grosseiros, assustadores e intimidantes. Vapor saía de umas chaminés, e por breves momentos, a mão da minha mãe perdeu as forças.

O problema deste lugar, é que eu sou daqui...

Eu não quero morrer... III

Question: "At Auschwitz, tell me, where was God?"
Answer: "Where was man?"
William Styron em Sophie's Choise

Uma organização anti-natura...


Hoje, na fila do supermercado, vi um garotito ajoelhado, a mexer nuns pequenos pacotes de balões. O que me intrigou. Não por estar a mexer, interessado, a "brincar" com aquelas embalagens individuais espalhadas pela caixa, fora do ferro de exposição, mas sim a "dedicação" com que se sentou a tentar arrumar.

Veio-me uma pergunta à cabeça, comparando-me a ele com a mesma idade. Será que ele em casa faz o mesmo com gosto, com dedicação? Ou fá-lo apenas para arrumar, porque está aborrecido, não tem nada para fazer, e... aquilo até está tirado do sitio. À primeira, até pensei que fosse voltar a colocar nos ferritos, mas deixou estar. Pôs-se antes a atirar uns para cima dos outros, para um canto, sem ordem, sem organização de tamanhos ou feitios. Diria até que ele é mais um daqueles que desiste assim que percebe que as coisas demoram a fazer, a concluir. Pelo esforço que fez em organizar convenientemente aquilo, foi fácil perceber que não está minimamente interessado em fazer as coisas da forma correcta. Apenas fazer.
O cérebro dele ainda não tem ordem, não tem regras nem ordens vincadas pela sociedade, mas tê-las à um dia.
O interessante e mais curioso daquela breve observação, foi o facto de ele estar programado socialmente, para "arrumar". Não significa que o faça em casa, com os seus brinquedos, mas arrumou. Sentiu-se impelido, no meio daquele aborrecimento todo à espera na fila. Já entende programaticamente o que é "desarrumado" e o que é "organizado". O facto de não se ter importado com a maneira como empilhava as coisas, demonstrava também que, ou ainda não tinha tacto para tal pensamento, ou o próprio cérebro ainda não estava desenvolvido o suficiente para se sentir obrigado em fazer as coisas de uma certa forma mecanizada, absorvida pelo exemplo e repetida.

Temos o gosto de ter as coisas perfeitas, de ver as coisas perfeitas, direitas, limpas, rectas, lisas, brilhantes, bonitas, arranjadas, corrigidas, sem imperfeições, sem riscos, sem erros, sem defeitos, sem dobras, sem amolgadelas. Tudo muito anti-natura. Imperfeitamente "correcto".
Não será a nossa mania algo que não existe nem pertence à natureza? O chamado "caos"? Mais nenhum animal é tão "organizado" como nós. Talvez uma das razões para isso tenha surgido na Roma e Grécia antiga, quando as casas passaram a ter paredes direitas, com cantos, com roda-pés e portas, para apanhar o pó, ou diminuir a sua acumulação. Segundo vi num documentário sobre vírus/saúde no Odisseia à coisa de 1 ano.
Foi a partir do momento em que colocámos portas e separámos divisões que antes davam acesso a tudo. Por exemplo, na antiguidade, fazia-se sexo em qualquer lado, mesmo nas casas, e tomava-se banho, fazia-se as necessidades, sem qualquer tipo de divisórias ou privacidade. Não havia "vergonha". A "mania" do individualismo, surgiu em parte, teorizo eu, como uma tentativa de separar e fechar, potenciais riscos que cada ser humano trazia e espalhava onde quer que toca-se. Nas casas de banho, fecha-se a 4 paredes, filtra-se o ar, e o próprio cheiro ou resíduos são eliminados todos os dias. Não é como nas nossas casas de banho, que são limpas talvez... 1 vez por semana? O que estou a tentar dizer é que nós nunca fomos "organizados". A própria roda não tinha traços rectos, não era um rectângulo, era uma roda, uma imperfeição perfeita e evolutiva.
Mas as lanças... essas tinham de ser o mais direitas e "perfeitas" possíveis, para voar mais longe e melhor. As roupas não tinham necessidade de serem tão grandes em certas zonas do corpo e até do chão das casas começámos a exigir que ficassem mais secas, ao invés de molhadas, lamacentas, poeirentas ou pedrosa para os pés. Tinha de ser lisa, pois os nossos pés perdiam a capacidade de caminhar sobre terreno acidentado como antes.
Com a industrialização, modernização e estandardização do mundo que nos rodeia, tornámos-nos naquilo que somos melhores. Fanáticos pelo "correcto", pelo "organizado". Odiamos caos e incoerência. Odiamos confusão visual, barulho e sabores que não estamos preparados, quer física como psicologicamente para decifrar e trabalhar.
Vê-mos esse resultado de organização cerebral e interpretativa, nas revistas, nos placares e posters de publicidade. Na organização das letras e de um texto. Nas imagens de modelos, na composição de um texto, de uma fotografia, de um conjunto de cores, efeitos e feitios numa roupa ou numa página da internet. Nos icons, nas cores da fruta, de sinais de transito ou universais. Somos organizados compulsivos, e tornámos-nos sem saber, em arquivadores.
Somos viciados em "perfeição", e exigimos-lo instintivamente perante fêmeas ou machos aptos a procriar. Uma guerra microscópica que dura à milhares de milhões de anos. Somos assim, não por termos deixado de ser animais "irracionais", descontrolados e selvagens, mas precisamente por termos deixado de ser como os animais "irracionais", descontrolados, selvagens e preparados para o mundo selvagem e animalesco, duro, frio, seco e exigente.

A criança fez, o que está social e comercialmente preparada. Para o que foi "programada" psicologicamente  Não é por necessidade, porque os brinquedos ficarão no chão, ao monte, espalhados, até causarem desconforto e ocuparem espaço para outros tipos de actividades. E quando digo que não foi por necessidade, porque nada daquilo lhe pertencia, significa apenas que a necessidade, foi implantada pelo cérebro ordeiro, pela força do hábito. A mesma força ordeira, que temos para enrolar um novelo de lã, corda ou dobrar umas calças. Porque aprendemos, é eficaz e economicamente temporal.
Seremos animais com hábitos que se tornaram "obrigatórios" para a nossa sobrevivência psíquica e social, ou hábitos que levámos ao extremo? Acredito que somos animais, que, neste pequeno mundo de organização caótica que aqui abordei, melhorámos o que se tornou insuportável, e aperfeiçoámos o que já havia. Mas não somos melhores. Psicologicamente, exigimos menos esforço, e isso.... é o pior de toda esta organização. Facilidade/facilitismo.

sexta-feira, 10 de maio de 2013

A chuva faz-me companhia...

[2561 by ~Amatorka]

A chuva batia na janela com força. Parecia que alguém do outro lado me gritava para ir até ela, ver a natureza do vento torcer os ramos das árvores e a fúria da água ensopar os jardins e matar os canteiros. Aquele som picado, trespassava a janela. Já não eram gritos, eram murmúrios acompanhados por grandes relâmpagos que rasgavam o céu negro, pesado, sombrio e obscuro.
A criança tremeu dentro de mim, à medida que me aventurava até à janela. Senti o cheiro da terra e da água nas tábuas velhas da janela. Senti um frio percorrer-me os pêlos dos braços e dançar nos ossos das minhas costas. Arrepiei-me e um relâmpago desfez o chão. Os tambores ressoaram pelo quarto, pelos meus ossos e ouvidos. Caí no chão ao lado da cama, e sem tempo para me acalmar, a escuridão transforma o meu quarto. A luz falta, ninguém está em casa. Sinto-me sozinha...

Entre as nuvens, aparece uma Lua pálida de morte. O forte brilho tornou-se meu companheiro, meu amigo. Uma personagem imaginária, sem cara ou voz. Que zela por mim, pelo menos por enquanto...
Os grossos lençóis forram-me as pernas geladas, as almofadas protegem-me do desconforto dos relâmpagos e assim fico, deitada, neste quarto vazio e despido. Aperta-me nas mãos, não o frio, mas a saudade do calor; A saudade de não ter, mãos que me aqueçam os dedos presos e o coração apertado. Quase consigo associar os raios a memórias difíceis, a tristeza que tento esquecer, em vão, de um passado que me é todos os dias presente e não sai, não acaba, não expira. As lágrimas da saudade, da pena de não ter na cama mais uma fonte de calor e um grande abraço para me aconchegar como me fazia a mamã quando eu era mais pequenina... brotam e deixam a marca de um pensamento que temo ser real, que se torne verdadeiro, em mais um sapo e num momento difícil onde certamente irei tropeçar, rasgar as calças e ser gozada.

O tempo acalmou e faz agora dançar o seu som nos meus ouvidos.
A natureza cortou-me a comunicação. A minha língua não mexe, apenas gagueja. O meu corpo não respira, não trabalho. Fechou por motivos que desconheço e que já não sonho.  Esqueci ou afastei dele, daquela pequena maça cinzenta que me pesa na testa, a realidade. Já não lembro nem penso. O piloto automático controla o medo e faz trabalhar os membros enferrujados, esquecidos, como as palavras que posso apenas ler. Ouvir? Fechou-se longe e lá se mantém  até que o traga de novo pela mão, prometendo pela viagem, um grande doce e um carinhoso beijinho.
Quero ser amada de novo, agarrada com força e sentir nas palavras, o que tenho medo de nunca vir a ter.
Não quero que este dia acabe, a chuva faz-me companhia.

Eu não quero morrer...


O ambiente estava pesado, ninguém falava. Entre os tambores que ressoavam na locomotiva lá mais ao fundo e do metal que rangia com a fúria da velocidade, do peso da sua carga, ouvia-se a tosse e os espirros de caras fantasma. O choro das crianças e os gritos já quase roucos dos bebés esfomeados. Cada vagão compunha em conjunto, uma melodia mecânica, continua e cadenciada. Parecia um galopar. Através de uma pequena fresta naquele contentor de metal, podia adivinhar quando se aproximava a próxima curva apertada, ou o próximo solavanco através das pedras que batiam por baixo dos nossos pés. Espalhava-se por aquele espaço apertado, o cheiro à urina, ao suor, ao sujo. Um odor forte que não conseguia sair, tornando-se a pouco e pouco, reciclado pelos pulmões de quase uma centena de pessoas esfomeadas, cansadas, doridas, ensardinhadas, defuntas.
A luz iluminava tão pouco aquele interior já tão fechado, que até a luz do sol parecia ter sido economizada para nós.
Através do peso que se apertava e caia sobre mim, senti o comboio travar durante vários metros. No meio dos sons a vapor, de cães a latir e de um chiar estridente, ouvi indistintamente o que me parecia ser um homem a falar. A travagem seguinte foi brusca e todas as pessoas que seguiam naquela besta de metal, comprida e esguia, gritaram numa cacofonia que pareciam pequenos murmúrios. No seu folgo breve, sentiu-se o medo. Ficámos parados, trancados por breves segundos, enquanto várias vozes se aproximavam. Senti uma risada forte do outro lado da chapa. Destrancaram os portões, correram-nos e afastaram-se da imundice ensopada. Agarrei com força a mão da minha mãe e olhei para ela.
-- Não tenhas medo filha, vai correr tudo bem. Está tudo bem. Em breve estaremos em casa.

Um raio de sol bateu-me na cara, e senti o seu calor, senti a paz e o sossego que me faziam recuar no tempo. Estava na casa do campo, a brincar na relva verde com o meu cão "Puffy". Lembrava-me do vestido vermelho e daquele laço tão boni...
Puxaram-me pelo pequeno braço enquanto absorvia um grito gutural junto à minha cabeça. Saltei da carruagem e fizeram-nos alinhar em frente a centenas de homens fardados, grande maioria sentados, a rirem-se e a beber. Estavam à espera de nós. Olhavam-nos com gonzo, tocando nos corpos das mulheres como se fossem suas esposas. Estavam bêbados, contentes e com muita raiva nos seus rostos.
Senti na barriga, um desconforto, uma azia que me subiu pela garganta, à medida que via serem descarregadas, de malas e filhos nas mãos, mulheres e crianças, recebidas à chapada e ao ponta-pé, pelos senhores de língua feia.
A minha mãe levava-me pela mão, carregando na outra a malinha pequena que tinha preparado em casa antes de sairmos com a policia e sermos levados até estes comboios que não tinham destino, mas um fim. Olhei para ela. Preocupada, assustada e cheia de dor, do que quer que estivesse a testemunhar à altura dos seus olhos. Os encontrões tornaram-se frequentes até ao ponto de mais ninguém se conseguir mexer. Estava espezinhada e entornicada às pernas dela, que num momento violento e confuso como aquele, se mantinham suaves, lisas e com cheirinho a sabonete de perfume. Agarrou-me com força a mão, e senti-lhe nos dedos, o horror de me perder.
-- O que se passa mãe? Porque estás a chorar?
-- Não é nada filha. -- respondeu limpando à pressa as lágrimas, trocando-as por um grande sorriso. -- Foi o Sol. Não te preocupes, sim?
Acenei ligeiramente com a cabeça, enquanto a minha mãe tentava manter aquele sorriso estranho.
-- Daqui a pouco estamos em casa! -- sorriu, soltando uma lágrima.


Eu não quero um fim... quero o meu final.

Eu não quero morrer... II


terça-feira, 7 de maio de 2013

Adivinha o quanto eu gosto de ti...



Seguro-te nos braços com a vontade de nunca te deixar partir. Desejo para mim, que fiques para sempre assim, pequeno o suficiente para te segurar, atirar ao ar e levar pelo dedo.
Os olhos profundos que herdaste da tua mãe, olham-me acompanhado de um grande sorriso e do riso mais carinhoso que me encanta todas as vezes que te fazemos uma careta. A tua mãe, ela que te é tão dedicada, derrete-se ao ver-me mudar-te a fralda, a brincar com os teus brinquedos junto de ti ou a ouvir-me ler-te umas histórias de animais encantados.
Tornas os ombros do pai, num cavalo que orgulho em te fazer cavalgar e conquistar o mundo em redor.
À noite permaneço ao teu lado até adormeceres, enquanto a tua mãe te canta uma canção de embalar. Enches de alegria, uma vida já tão rica em abraços e beijinhos. Exiges e aventuras-te por sítios,  que sendo-te completamente desconhecidos, não temes em apalpar, agarrar e conquistar.

A caminho do super-mercado, cantamos as cantigas que aprendes na escola que eu e a tua mãe fazemos um esforço para aprender. Já lá vai o tempo em que as sabia de cor... Danças sem medo e cumprimentas sem vergonha, todos os meninos e meninas com que te cruzas. Atiras-te à fruta e gritas-lhes os seus nomes. Já sabes tirar o saco e escolher as cores da roda dos alimentos que a tua mãe tanto te ensina durante as horas do banho. Corres de um lado para o outro, e só paras quando encontras a tua secção favorita, ou a dos brinquedos ou a dos livros enfeitiçados com criaturas e personagens mágicas. Desfolhas livros medievais, de astronomia. Debruças-te sobre os de pintora, anatomia e de lendas antigas. Mostra-me o que descobriste, ensina-me o que aprendeste...

Tocas em tudo, aprendes e devoras o feitiço do desconhecido. Sento-te ao meu colo, e contamos as nuvens, rimo-nos para a mamã e beijas-nos com um grande abraço nos nossos pescoços. O perfume da mãe "cheira sempre muito bem" e não te cansas de dizer o quando gostas de nós. Fico com ciumes, e às vezes medo, que ela me troque por um príncipe perfeito que tanto me esforço em afastar dos sapos.

-- Papá! -- Não me vês chorar, mas é o que acontece cada vez que te vejo receber-me empolgado de braços abertos. Corres de mim no recreio do ATL para junto das outras crianças, mas assim que o Sol troca com a Lua, sabes que as cócegas e os aviões de colher estão a chegar. Largas tudo o que estás a fazer e corres para nós, que te esperamos impacientemente, orgulhosos e completos, ao portão que serve de entrada para o teu pequeno reino.
A tua mãe, quando sai mais cedo do trabalho, aparece de surpresa no escritório do pai, onde acabas sempre por fazer as delicias de toda a gente, enquanto te observo ao longe, com a mãe galinha sempre por perto.
Levar-te a navegar pelas ruas, pelos monumentos, museus e bibliotecas, delicia-nos. Colas-te aos vidros e tentas sempre mexer em tudo. Queres descobrir, saber o porquê e como funciona. Já seguras na máquina fotográfica, aplicas os dotes que a tua mãe te costuma ensinar e tiras as fotos mais trémulas e engraçadas que inocentemente te esforças em tirar.

Que traquina! Todos os fins de semana saltas e abraças os pais já cansados. Já não temos a tua energia, mas esforçamos-nos para te acompanhar em tudo o que desejas e te empenhas em fazer. Sabes o abecedário e contar até 20. Deixas todos de boca aberta quando lhes respondes de onde vêm os bebés ou como aparecemos na Terra. Não te escondemos nada e esforçamos-nos para que compreendas tudo.
Lá me vês então, eu ou a tua mãe, a desfolhar nos livros grossos o significado de alguma coisa, quando as perguntas que antigamente eram tão fáceis de responder, se tornam autênticas demandas do conhecimento.
Ensino-te a pintar e a desenhar. Já não deixas que te segure na mão como antigamente... és tu, por ti, sozinho. Demos-te liberdade e ensinamos-te que a vida nem sempre é fácil. Tu escolhes, tu decides. Demos-te opinião. Mostramos-te e explicamos-te para que decidas e aprendas por ti. Mas és cabeça dura, sais à tua mãe...

Odeio quando ralho contigo e te ponho de castigo, e até a tua mãe sofre cada vez que te dá uma palmada nas mãos. Deixamos-te sozinho durante um bocado, que para nós parece uma eternidade, a pensar no que fizeste. Conversamos contigo, abraçamos-te e beijamos-te.
És uma criança cheia de vida e sempre com amor para dar. Ensinas-nos o que fingimos por vezes esquecer, só para teres o prazer de ensinar e explicar. De poderes por breves momentos, seres tu o pai e a mãe.

Amo-te com todas as forças que tenho e ensino-te tudo o que aprendi e aprendo, cada vez que te vejo crescer...

segunda-feira, 6 de maio de 2013

Deixa que todos pensem aquilo que na verdade não és...

[Lunch by *gerezon]

Há pessoas que parecendo estranhas, confusas e pesadas na mente dos outros, um dia ainda vão espantar e admirar muita gente.
Há humanos que parecendo não se encaixar na sociedade, tanto pelos pés como pela cabeça, um dia vão deixar muitos de boca aberta.

Deixa que todos pensem que és "estúpido/a", "idiota", fraco e ignorante, até ao dia em que proves o contrário e lhes demonstres que sempre foste mais do que eles. Porque até saber estar calado, saber ouvir, saber aprender e ter paciência é uma virtude que muito pouca gente tem.
E mesmo que não tenhas qualidades nenhumas, está então na altura de deixares de ser vítima e passares a controlar as tuas palavras, as tuas acções e a tua vida pessoal. É melhor agarrares na pouca ou nenhuma personalidade que te resta e moldares o que ambicionas educar e amar. Não nos outros, mas em ti, para os teus filhos e a tua "futura" mulher.

E se te servir de consolo, pensa sempre que há de haver alguém pior do que tu ou em pior situação, no entanto, isso não é desculpa para deixares de tentar e de realmente fazeres por ti, o que nunca quiseste saber.

"Vejo putos a fumar ganzas. Eu ainda vou ao Continente comprar Cerelac."

sábado, 4 de maio de 2013

Alguém como tu...


Bastou aquele pequeno momento para me olhares nos olhos, daquela maneira tão peculiar que nunca tinha visto numa rapariga.
De manha acordei a olhar-te para mim...

Ao olhar-te nos olhos castanhos que não vislumbro, que não costumo reparar nem pensar na dor e sofrimento que já viste e viveste no teu mundo infelizmente imperfeito e sempre contra ti, senti o calor do carinho, o amor e aconchego de me ter ao teu lado e do teu lado.
Partilhas o choro e o sorriso, com um desconhecido que te é tanto. Partilhas noites frias e quentes, com o rapaz que é apenas amigo, te deu mais que um namorado, no qual consegues imaginar o futuro bonito mas que não consegues abrir as mãos, os braços, o peito e o coração para uma emoção que não queres ver no teu cérebro.
Ouvir-te conversar ou simplesmente ver-te trocar de roupa, faz-me sentir e reconhecer a relação e a intimidade que nunca tive com quem achava ser minha, mas que nunca foi  uma amiga. É a pena de não te ter e de não ter tido que me pesa no peito. A tristeza de achar que nunca terei o que tanto batalhei para ter. Alguém como tu...

Beijar-te os lábios, sentir o teu cheiro, o peso do teu corpo sobre o meu peito e o teu abraço às minhas mãos, provocam no meu cérebro algo que não sei explicar, mas garanto-te que sei apreciar, que abraço e aperto com força para gravar na memória. Tudo o pouco que me dás, emolduro com os maiores dos cuidados e tento trocar os álbuns tristes de fotografia que guardo com tanto rancor e sofrimento, pelos momentos únicos e modestos nos quais não precisas de te esforçar.
As mãos sobre o teu corpo cansado, os teus pés doridos e costas chicoteadas pelos anos de amores e amassos incorrespondidos, fazem-te à alma o mesmo que fazem as prendas... surpresas que agradam. Dedicação e carinho que já sentiste no corpo, mas que nunca te foi realmente sincera. Que nunca foi por vontade própria ou com agrado.
Nós que demos tanto, nada tivemos em troca a não ser sapos e abre-olhos que nos ensinam a crueldade da vida. E parece que os outros, mais dia menos dia, acabam sempre com a pessoa "perfeita" para o resto da vida. Tiveram de passar por nós para saberem o que era realmente amar alguém? Para darem mais tarde, valor ao que sempre lhes demos e fizemos?
Gostava de ser um desses felizardos e de te encontrar mais tarde, na mesma livraria onde passámos tão pouco tempo, que parecia uma eternidade. De te descobrir numa caminhada e finalizá-la contigo, lado a lado como sempre estivemos.

Tens um coração enorme... e espero não ser o único a ter a caixa para o guardar e proteger.