sábado, 30 de junho de 2012

Ouve de mim...



A minha alma não chora por ti!
Ouve-me ao soar dos trovões...
Os meus olhos contemplam a tu morte...
A tua pálida pele... a mim me faz sorrir...
Regurgito a tua dor e enforco o teu amor.

Cai a mim de joelhos e suplica por um sorriso...
Abraça-te a mim à espera de um abraço...
Odeio-a-me ó princesa!
Nega-me os teus sonhos e os teus carinhos...
Penetrei em ti e rasgada te abandonei...

Grita pelo amor que nunca foi teu...
Por mim irás cair...
Comigo te levarei à morte...
Caminha longe...
Encontra outro e faz por merecer.

Odeio a tua vida!
Odeio o teu sorriso!
Odeio os teus olhos...
Serás colhida pelo vento e atirada de novo à sorte.

Do que esperas?
Não por mim, nem por vida.

** ***

A cidade arde...
Vejo fugir ficando eu para lutar.
Um crime que me fez cair... pela mão me levantaram e com ela me acompanharam
Não morri...
Não deixei de ser.

Sou feliz e isso incomoda-te!
Fazem-me feliz e isso deixa-te nervosa!
Dão-me amor e isso queima-te por dentro...
Não chores o que poderia ter sido...
Não sonhes com o que já não te pertence.
Roubei-te o sopro da vida e continuas a querer sair do poço em que te enterras...

Afoga-te! No choro da depressão que te consome e não queres mostrar...
Que te falte o ar à noite antes de dormires...
Enferruja a mente com os sorrisos falsos que tanto gostas de me mostrar...

Não me tens valor, não me és nada a não ser pó...
Pertences ao mundo das pessoas e não dos animais!
Desapareces-te e agora sou eu quem não te quero ver mais...

Morre por outro mas não por mim...
Luta por outro mas não por mim...
Não desistas do amor, ma só te peço que não seja o meu!
Sê feliz nas ruas da amargura que teimas em negar aos teus olhos... fecha-te e cala-te para sempre!

Vê em mim a felicidade que nunca terás, e os abraços esquecidos na tua mente...
A tristeza do teu corpo em não ser agarrado e beijado...
Vê em mim o mundo negro e belo que te escorregou pelas mãos e não soubeste segurar...

Acham-me inferior...


Gozam comigo por ver o BabyFirstTV depois das 22h...
Mas vocês nem sabem aquilo que perdem e não aprendem, aquilo que não vêm, com um simples desenho ou um um pequeno video das ondas do mar.
Perdem e não vêm.
Não aprendem nem descobrem.

Não sou criança por o ver, por me entreter a descobrir coisas sem significado, coisas sem qualquer valor para os olhos das outras pessoas, ou ficar simplesmente a admirar. Torno-me sim, num melhor humano, num humano com melhor consciência, com melhor capacidade para saber lidar comigo e com os outros. Torno-me melhor a olhar para as coisas com outros olhos, em ver o que ninguém capta. Em perceber e sentir o que ninguém processa. Aprendo-me, ensino-me, explico e interiorizo.
Ser pai é algo que vem com o tempo, não vem só com livros, e por muito desejo que tenha no peito e também medo, amor e vontade de lutar por eles... se eu não for um humano consciente, maduro, inteligente e capaz de exteriorizar o meu amor, o meu respeito, não souber ensinar, não souber educar, não souber disciplinar, mostrar amor e carinho, não souber nem sentir o que é ser-se criança. Se eu não souber mostrar o meu mundo, não o souber explicar, nem educar, instruir e civilizar... tenha o dinheiro que tiver no mundo, as casas, os carros, os cursos, os meios e a força de vontade, se eu não souber ser primeiro um bom humano desde o aspecto mais negativo e depressivo ao aspecto mais saudável e fascinante, não me vale de nada desejar ter um filho nas mãos.

Eu não desisto, eu rebento.
Eu não inferiorizo, arranjo maneiras de mostrar que continuo a ser bom apesar de não me correr como desejo.
Não me rebaixo, glorifico-me e ponho-me num alto pedestal, com consciência e humildade.
Não sou fraco, apenas gosto de tentar tombar a árvore antes de lhe passar ao lado.
Não vou pelo caminho mais fácil ainda que pareça que sim... tudo é uma história, são experiências, e faça muito ou pouco, aprendo sempre coisas importantes.
Não sou bonito, não sou rico, não tenho as melhores aptidões para estudar e tirar boas notas, mas não me faz desistir das aulas, nem me faz perder a concentração ou de compreender excepcionalmente bem a matéria que é tão difícil para alguns. Mas a falta de estudo regular em casa perde-se com o desejo de ver um novo filme, um novo documentário, um novo texto, um novo email dos meus utilizadores do software já tão conhecido.

O que eu perco por não estudar mais fora da escola, ganho em matéria e conversas que mais ninguém se lembraria de ter. Não sou burro, apenas tenho uma ligeira dificuldade em aprender, ou em estudar. Não tenho problemas em estar atento 2, 3, 4, 5, 6 horas, faço-o o dia todo, meses seguidos.
Aquilo que os outros me vêm perder, não me aflija minimamente, porque sei que onde quer que eu esteja, estou a aprender algo mais, estou a ler ou a ver, estou a sentir ou a compreender um mundo que ainda não desbravaram. Não perco mais do que aprendo. Aprendo e descubro muito mais do que a minha falta de boas e altas notas. Fico triste, mas por dentro, lá no fundo, sinto-me realizado por saber algo mais, muito mais.

Informática não é para qualquer um, e ninguém disse que seria fácil. Não basta "estudar", nem fazer resumos. Não se chega às boas notas com esquemas, e muitos apontamentos. Aquilo que é necessário saber, compreender e assimilar, tem de fazer parte de nós como o próprio respirar. Programar não é para qualquer um. Se qualquer um pode? TODA A GENTE PODE! Se é algo que é fácil? Nunca.
A semântica de 5 linguagens de programação confundem-se completamente quando estamos dedicados a um projecto. A dificuldade é enorme em coordenar tanto código, tanta técnica, tantas palavras e nuances de 5 ou 6 linguagens de programação semelhantes mas com grandes diferenças entre si.
Não é um curso fácil, e nunca o será. E sinceramente? Com o passar dos anos tem de se saber mais e mais. De ano para ano aprende-se 25% mais que no ano anterior.
-- Se gostam de se adaptar depressa, então vieram parar ao curso certo!
Uma adaptação que demora meses e anos de experiência.

O cérebro é uma ferramenta incrível, e o meu pelo menos, não se parece cansar nem parar de evoluir como li em "A Inteligência Aprende-se". Que a partir dos 18 anos deixa-se de crescer tanto.
O que é interessante, é que li pela internet algo semelhante. Um texto de um programador que falava sobre a  facilidade e dificuldade de se adaptar e aprender uma linguagem nova. Que chegaríamos a um certo ponto, depois do BOOM de conhecimento adquirido numa fracção de meses ou anos, e tudo se tornaria mais lento. Assimilar seria mais demorado e aprender uma pequena coisita poderia demorar semanas.

Não deixo de ser alguém só porque não tenho boas notas nos exames.
Não deixo de ter valor, nem deixo de existir, muito menos de ser humano. Pois aprendo muito mais fora dela, vejo coisas muito mais interessantes fora dela, que colmato essa... "falha" com aquilo que aprendo.
Mas também admito uma coisa, eu podia fazer muito mais. São 16h por dia (24h - 8h dormir), em que posso fazer muito mais do que simplesmente ficar pasmado, só, a olhar para as pombas voar e abanar a cabeça enquanto caminham para as migalhas. Ou observar a rotina e as expressões das pessoas que se sentam no café e caminham nas ruas.
Posso começar a ler muito mais, a pesquisar muito mais, a escrever muito mais, a aprender muito mais, a interiorizar e descobrir muito mais... MAIS do que aquilo que já aprendo por dia.

Eu quero avançar com o meu software, quero ir mais longe e arranjar pessoal para trabalhar comigo e começar a fazer dinheiro. Quero falar com mais associações, marcar reuniões, debater ideias e funcionalidades.
Quero aprender mais, descobrir mais, ver mais, estudar mais...
Quero... mas não basta querer, não é o que se costuma dizer? Bem... não será por falta de esforço nem de vontade que não realizo os meus sonhos!
Mas não é um "eu quero" pindérico, é um "Eu quero" com consciência de que posso fazer muito mais com o meu tempo, com as minhas capacidades. Posso não poder ir ali e acolá, ir a palestras ou comprar os livros que mais gostava de ler, mas não será por esforço e falta de vontade...
Uns têm possibilidades e outros não, se me incomoda? Nem imaginam, mas tenho muitos objectivos.
Um livro, um software, um blog, uma alma no qual posso melhorar, acrescentar, ensinar, cultivar o que bem entender, e não falharei.

Acham-me inferior... por parecer que não sou ninguém, que sou só mais um malandro com algumas capacidades. Só mais um que não faz nada e que não sabe o que perde.
Não, não sou eu quem está a perder, são vocês.
Não, não sou mais, sou melhor. E ser melhor não significa ser mais ou ter mais valor do que qualquer outro ser humano. Pois onde eu falho, outro virá para tapar as minhas falhas.

Não sei assentar um parede de tijolos, mas sei quem sabe, e por saberem, serão muito mais.
Tendo a vontade de ser pai agarrada ao meu instinto animal, à minha alma humana, aquilo que faço, aquilo que escrevo ou digo, aquilo que penso, que vejo e leio, aquilo que vivo e experiencio, fará parte da minha maneira de aprender a crescer, de me tornar melhor, de compreender os meus erros e fracassos como pai que não sou mas que sei vir a ser um dia. Não gostaria de ter um filho nos braços, sentir apenas amor e muito carinho e ternura por ele, mas não fazer a puta da mínima ideia de como o educar, o fazer crescer, fazer ver o mundo, senti-lo, lê-lo, ouvi-lo, como eu o faço e me faz feliz.
Não quero um mini-eu, não quero que seja a minha cópia, desejo apenas e só, que cresça com o melhor que eu souber ser, e obviamente que não irá aprender só pelo belo e bonito, mas também com o feio e o mau. Mas vem a parte mais importante... é preciso saber e compreender, como e quando deverá ser ensinado. E por muito instinto e amor que se tenha, um humano que não se compreenda a ele mesmo, que não saiba re-escrever a sua história, fazer uma introspecção e crescer verdadeiramente, não terá qualidades para ser um bom pai ou uma boa mãe, tenha muito amor, muito carinho e força de vontade.
Uma mente sã, capaz e madura, saberá do que falo, saberá o que é crescer.

Acham-me inferior... mas as minhas grandes falhas como pessoa são apenas sinais na minha cara humana.
Pois não estudar em casa, e não tirar boas notas, para muitos será a imagem do carácter da minha pessoa, pois então, os meus pais não têm carácter nenhum, são burros, são ignorantes, são malandros, são imaturos, são fracos e não percebem nada da sua vida, não aprendem com os erros, não sabem escrever nem falar.
Não, não sou menos, sou melhor...

http://www.babyfirsttv.com/

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Mais do que uma história...


Sentei-me, sobre o cobertor e cruzei as pernas à chinês. Os olhitos dos meus filhos arregalaram-se, empolgados por uma história, não demoraram muito a sentar e a rirem-se entusiasmados. Tapavam os seus sorrisos com alguma vergonha com a ajuda das suas pequeninas mãos, olhando-se entre si a perguntarem-se sem falar, que nova história iriam o papá e a mamã contar desta vez.
A mamã ajeitou a saia do seu vestido e cruzou a perna.
-- Vá mamã! Conta-nos uma história!
-- Sim mamã! Conta!
-- Está bem, tenham calma... -- sorriu ela feliz pelo entusiasmo dos seus filhos. Escolheu um livro fino de capa branca, com dezenas de imagens e pouco texto.

Abriu o livro na primeira página e sobre a perna virou-o para aqueles pares de olhos brilhantes, que pareciam hipnotizar-se pelas imagens simples e coloridas desenhadas subtilmente sobre o branco, enquadrando-se com as letras negras da história.
Começou então a ler, tentando manter o seu cabelo longe daquelas páginas tão gulosas aos dedos dos seus filhos. Leu a primeira página, a segunda e uma terceira, até que fora a vês do papá.

Era uma dupla inseparável, que por vezes assumia a voz de um personagem, deliciando os seus filhos com a história e os vários personagens que ganhavam vida, que saiam do papel para falarem através do seu papá e da sua mamã.
Quando o dia era longo, as histórias pequenas, programavam jogos e actividades, liam todos, quer fosse uma história em inglês, em português ou desfolhassem um simples livro cientifico para crianças. Era assim que cresciam, era assim que os faziam felizes, que seguiam a sua própria estrada e criavam as suas próprias opiniões e talvez... -- quem sabe -- as suas próprias histórias.

Não precisavam de muito para serem felizes... não precisavam de ter muito dinheiro, nem de ter bons carros, uma grande casa, um grande quintal ou um bom curso... a sua vida tinha amor e carinho, felicidade, livros e histórias, puzzles, milhares de perguntas, tinha emoção, tinham sentimentos, viajavam em pequenos passeios até aos montes, aos castelos, a um pequeno parque ou até ao shopping para brincarem com o pai nos corredores compridos quando a mãe não estava a ver.
Eram todos crianças, que se tentavam manter saudáveis, mentalmente bem dispostos, psicologicamente felizes.

Mais do que uma história... era um momento para aprender, sorrir, rir, saltar, jogar e descobrir...

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Pessoas e Humanos...


A "curiosidade humana", é um instinto humano e não de pessoa, não é algo pessoal, é algo animal, pois "todos" os animais têm curiosidade. As minhas cadelas têm, cada vez que lhes dou a cheirar algo novo, ou vêm algo que desconhecem. A curiosidade não move só humanos, mas também gatos, macacos, cães, elefantes, suricatas, etc. Basicamente mamíferos.

Penso que já bordei num texto, a diferença entre um humano e uma pessoa. São duas coisas diferentes.

Um humano reconhece que é um animal, um mamífero, que tem instintos e que vive no mundo com outros "animais", vive em conjunto e não "isolado" para se tornar e manter-se o melhor do grupo ou do mundo.

Uma pessoa, é um humano cujo o cérebro sofreu várias transformações a nível sociológica. Deixou-se levar pela sociedade, pelo mundo das emoções baratas e preocupações mórbidas. Segue à risca dietas, preocupações, superstições, preocupa-se com as modas, imita famosos, deixa-se levar pelas noticias, embrenha-se nas tecnologias sem nunca perceber muito bem para que é que servem.
São homens e mulheres que seguem à risca e de forma, por vezes, abusiva os segredos para ser atraente, para iniciar uma conversa, arranjar uma namorada, uma noite de sexo. Deixam assim portanto, de serem humanos, para serem poluídos pelo pior que a sua pessoa facilmente vendida e modelizada pelos empreendedores (empresas). E elas vivem assim, num mundo de falsidades e preocupações, de modas e noticias de famosos. Envoltas em coisas que façam a sua vida mais cor-de-rosa, mas um cor-de-rosa que não natural mas industrial, mecânico. Julgam ser humanos, mas são simples pessoas transformadas, cujas emoções foram manipuladas.
Eu vivi com pessoas assim de perto. Bem perto. Pessoas que se achavam diferentes e um ligeiramente maior que os outros, que achavam ser algo mais, mas... no fundo, bem espremidas não tinham nada de nada.

Somos apenas humanos, e continuamos humanos, apenas com um vasto numero de ferramentas, de técnicas, de conhecimentos, de experiências. Não somos pessoas, somos humanos industrializados, especializados. Cada um com uma tarefa "especifica" neste mar de árvores. Só que estas árvores são de betão e cimento, de tijolo e telhas. Da mesma maneira que deixámos de caçar à pedrada para caçar com arco e flecha, também trocámos as casas fracas de pele e estacas de madeira por casas de pedra e argila para aguentar com ventos e chuvas.

É uma evolução animal e não "pessoal".
Existe algo torna os humanos ainda mais interessantes do que as pessoas, a nossa capacidade de crescer psicologicamente, de re-escrever a nossa história, de compreendermos-nos a nós, reconhecermos-nos no mundo, saber o nosso valor apesar de o ego por vezes ficar um pouco mais triste.
E a razão? Porque enfrento a vida como ela é: Real e não irreal. Sem magias e contos de fadas. Sem ambições descabidas e mediáticas. Tudo é pensado e repensado, todo o dinheiro é contado para certificar-me de que o comer não me falta, ou de que posso comprar o que eu mais gosto, dentro do pouco que posso comprar. Um CD de música, um gelado ou uma t-shirt.
É essa a razão de eu entrar em "depressão", de me encurralar ou deixar encurralar no meu estado mais frio e distante, mais tenebroso, sombrio, irreal, metódico, suicida, maníaco... pois vejo tudo como as coisas são, e percebo que é difícil. Não preciso que me digam frases feitas. Aliás, dispenso o que quer que seja sobre o assunto.
Não me sinto mal por entrar na caixa negra do meu ser, da minha mais repugna consciência. É um estado que nem todos sabem apreciar, e eu consigo tirar prazer desse. Adoro aquela frieza, as palavras ríspidas que me saem da boca, da mesma maneira que adoro escrever sobre aqueles sentimentos carinhosos e ternurosos que me vagueiam pela mente, sobre a pele, no coração...

Não é um defeito, é uma qualidade!

domingo, 24 de junho de 2012

Um ombro despido...



Os seus caracóis tocaram-me o rosto... gentilmente como a brisa suave.
Senti os seus lábios beijar-me carinhosamente a bochecha, os olhos, o nariz, o meu rosto... 
Serena como um ronronar, beijou-me os lábios, deslizou a língua sobre eles e brincou com a minha.
Deixou-se cair sobre o meu corpo sentindo os traços da minha cara com a sua, como um cego sente objectos.
Beijou-me o pescoço, a orelha e sentiu-me tremer... na sua face desenhou-se um pequenino e maroto sorriso. Endireitou-se e olhou-me do alto... contemplou o seu ombro pálido quase despido, e com a mão contrária, lentamente o despiu. Embrulhou-se em sensualidade e despertou o meu desejo, assim o deixou ficar, meio despido, à espera de um pequeno beijinho meu.

O seu peito sobressaia por entre aquele leve e fino vestido, aproveitando-se das suas curvas, agarrou a minha mão e fez-la descer sobre seus peitos, senti a sua excitação, e pouco depois a sua barriga, fazendo-me agarrar as suas ancas. Com ambas as mãos no meu peito pulou cuidadosamente, sabendo que os seus peitos saltariam diante dos meus olhos inocentes.
A sua mão tocou-me a cara e beijei-a como uma princesa. Aproximei-me do seu corpo, e sentados beijá-mo-nos ardentemente.

Os nossos lábios cumprimentaram-se, e os seus cabelos tocaram-me o rosto. Caracóis caminharam suavemente de bochecha em bochecha, num balançar descendente, até que o seu nariz tocou no meu, e com um pequeno gesto brincámos com eles.
Bastou o toque dos nossos lábios, para que os inexperientes corpos se sentissem leves, as nossas mentes vazias e as borboletas florescessem sobre a nossa pele, como uma pequena electricidade num momento de ímpeto e descoberta. Uma epifania mágica e glamorosa.

Olhos hipnóticos cruzaram-se com os meus, deixando-me pequeno e vulnerável, tocou-me na cara e senti os seus dedos enrolarem-se nos meus caracóis. De forma delicada puxou-os para trás exibindo para si o meu pescoço com o qual encheu de beijos e caricias, pequenas trincas aqui e ali, até que a orelha foi de novo alvo da sua marota língua.
Um raio de sol debruçou-se sobre nós e o seu cabelo iluminou-se como uma autêntica estrela, a sua ondulação ganhou brilho, uma vida que contrastavam com as brancas nuvens fora daquele quarto dourado.

Levei a minha mão à sua boca e os seus lábios chuparam-me o dedo enquanto a sua língua provocava a ingenuidade da minha mente.
Sorriu para mim... abraçando-me sobre os ombros que ela adorava ter à sua volta. Os seus olhos brilharam contemplando o meu rosto, lembrando-se da nossa história e agarrou-se apaixonadamente.
A sua carência de carinhos, de toques suaves e íntimos, rapidamente gritaram às minhas mãos, à minha língua, assim que ela se deixou cair para o meu lado e me olhou com beicinho, à espera de um doce, de uma  massagem, de uma língua marota sobre o seu umbigo e a sua menina.
-- Amo-te... -- declamou com a sua mão no meu rosto.


quinta-feira, 21 de junho de 2012

Não vim ao mundo...

[443 by ~Sasha-Seyd]

Não vim ao mundo só para ser gentil.
Não vim ao mundo para ser uma pessoa como tantas outras.
Não vivo em moda nem em linha.
Não nasci para ser para sempre correcto e ajuizado.

Não falo só para que a minha voz seja ouvida...
Não escrevo só para que seja lido...
Não incomodo para ser mais um parvo...
Não me fecho só porque tenho medo...

Não sou mais, apenas e só por culpa minha...
Pois não vim ao mundo para ser só mais um humano, tornar-me em mais uma pessoa... em ser apenas mais um igual aos outros, que é feliz cegamente, que sorri falsamente...
Viver sozinho... será sempre a parte mais difícil para qualquer animal, deixar para trás, "esquecer" o que agora pertence ao mundo... é o maior sacrifício que qualquer animal ou planta poderá fazer.
Um contributo simples e sem valor, que dará à terra as incríveis paisagens que tantos poetizam, que tantos choram e tentam conquistar...

Não vim ao mundo só para ser bonito...
Para ser interessante, parecido com alguém ou sem direito a ter sentimentos...
Não sou só frio, não sou só distante e com pensamentos problemáticos...
Não sou má pessoa, não sou só má pessoa...

E ainda que não valha a ponta de um corno, de um peido, nem uma foda ou mais que uma colher de ranho...
Que não me valorize, porque sinceramente não há nada para valorizar, apenas emoções falsas por falsas pessoas que pensam... que pensam, que são, que existem, que têm valor... e nunca irão valer mais do que a morte de uma estrela...
Por muito que não seja do interesse de ninguém, que me odeiem e me enjoem... que não vos tenha valor...

Não vim ao mundo para ser um príncipe... ou só mais um rapaz com pila...
Não vim, só para ser feliz...
Não sou eu que perco o que quer que seja, porque eu não tenho nada a perder...

Devia ter morrido durante o parto... enforcado no cordão, abortado se assim preferirem...
Não é suposto ser bonito, é para ser lido e fazer pensar.
Ser diferente não só pelo lado positivo e sorridente... ser diferente pelo negativo e depressivo no bom que se pode tirar de uma experiência...

Conheço muita gente, que não sabendo ser e acharem que são, algo que na realidade não tem qualquer valor, não saberiam lidar nem comunicar com uma pessoa depressiva e com tendências suicidas, pensamentos frios e negativistas.
Pensando elas então que são alguma coisa... na verdade não são nada e nada têm para dar. E se alguém é incapaz de lidar com a morte, o suicídio, a depressão, a solidão e a frieza do puro negativismo destrutivo... então não é nada nem tem valor.
Estar sozinho não é uma opção nem uma causa de uma acção, será culpa minha, de uma culpa que eu não tenho... pois ninguém estará bem sozinho, isso é conversa de pita que acha que já sofreu, e é pior dizer que se está bem sozinho só para não se sentir triste e rodeada pela solidão dos seus pensamentos... do que desejar a morte.
Será pior afirmar falsamente que será mais feliz na sua podre solidão, do que ao lado de alguém. Introduziram o amor e os sentimentos, o afecto e a sensibilidade, e agora fodem-nos em vómito...
-- "Estou bem sozinha." TRETAS!

Eu não serei um mau pai por ser depressivo, negativista ou auto-destrutivo. Serei algo que nunca nenhum de vós teve ou terá em toda a vossa vida simplista e "especial" de bolas e bolinhas, de corações e coraçõezinhos, de flores e florzinhas!
Pois se não souberem lidar com alguém assim... temam o suicídio como resposta.
Temam um filho enforcado! Um filho cortado e degolado!
Temam um filho envenenado...

Não é por se esquecer as coisas, não é por atirar os problemas para trás das costas, não é por seguir em frente nem dizer que se ficará bem melhor quando se estiver sozinha(o)...
É por não falar delas, das coisas, que não se aprende, que não se cresce... e há quem pense crescer e aprender, quem se envolva em falsidade que acha... puramente reais e bem aceites mediaticamente... que pensa ganhar mais do que perde... que para mim, eu, aos meus olhos, diante do meu cérebro e da minha critica destrutiva assim se o desejarem, que não são nada e não possuem valor.

Não desejei vir ao mundo, nem desejo estar nele...
Não desejo a vida, e eu pelo menos, sei dar valor a quem quer acabar com ela.
Porque pelo menos eles têm coragem de se atirarem do banco com a corda ao pescoço... Eles sim! Serão mais do que eu.
Ter coragem para se matarem? Quero ver mais coragem que esta...
Não vi ao mundo para agradar, e não estou aqui de boa vontade.

Conheço gente que pensado conhecerem-se a elas próprias, não sabem ser gente, muito menos humanos. Negam de forma destrutiva o instinto animal e mamífero, odeiam e purgam física e verbalmente o seu ódio mais puro e viril para com a sua própria natureza, dizendo que são melhores pessoas. Pessoas sim... mas nunca serão humanos, mamíferos com a consciência de serem que são só mais uns neste planeta.
Não serão mais uns a pensar que não têm valor, que não são ninguém, que não ganharam a consciência da merda que impregnam no mundo e por causa disso... leva à extinção em massa de humanos com qualidades fantasma.

Não vim ao mundo para ser só agradável...
Eu sei o quanto tenho de crescer, não preciso de papagaios.
Não preciso de repetidores...


Adorava ter morrido durante o parto...

Devia ter morrido à nascença...


Não devia ter nascido
-- Ainda bem que nasceste.
Preferia ter morrido à nascença
-- Ainda bem que isso não aconteceu.
Não faço cá nada... sou só mais um!
-- Fazes...

Não é fraqueza, é desejo de ver perder o brilho dos olhos...
De o sorriso desaparecer na palidez da minha pele...
Os meus braços caírem mortos sobre a branca pedra do meu túmulo...
E os meus lábios secarem de solidão...

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Os meus três botõezinhos...



A noite põem-se, e eu só penso em ver-te chegar a casa... receber de braços abertos com um grande sorriso no rosto, os nossos filhos que correm desenfreados e que nem tolos para junto de ti.
Ver-te chegar a casa é a melhor momento do meu dia, seguido de um caloroso beijo e um abraço único que me mata as saudades. Sentir-me assim aconchegada, rodeada por tudo o que és e me fazes sentir. Desabafar os problemas do trabalho,fazeres-me rir com coisas que nem sabes que dizes ou encantares com a tua ternura, as tuas palavras... amo o teu sorriso!

Não tenho palavras para descrever o que sinto quanto te vejo tão concentrado com a Alice e o André, entretidos com os seus jogos, com os seus legos. Tornas-te numa autêntica criança quando te sentas com eles, naquelas mantas que eles teimam em encher de toda a bonecada que nunca vi na minha vida e que birram em nunca arrumar. Que três... ai a minha sorte!

Os passeios não são passeios, são autênticas viagens! E aqueles puzzles que costumas trazer? Não sei como tens tanta paciência... mas consegues sempre cativar-me, eu!, uma pessoa tão difícil de entreter.
Até quando trazes os Ovos Kinder para eles eu salto de entusiasmo à espera de também receber um pequeno carinho... mas aqui a mamã tem mais sorte! Recebe logo uma grande caixa  de bombons e um beijo ainda mais delicioso...

Anseio aquela língua que brinca na minha boca, as mãos que me afagam os cabelos com uma prazerosa lambidela na minha orelha, no meu pescoço, no meu peito... as tuas mãos na minha cintura, meigamente deitando-me na cama com o teu frágil coração que só eu conheço.

Abraça-me, beija-me, ama-me... diz-me, segreda-me... peço-te!
Não te percas neste mundo que só tu o sabes tornar bonito.
Não chores minha eterna fantasia, meu encanto, meu príncipe... estou aqui.
Um dia sem ti, e o meu coração perde-se nas ruas da amargura onde se encontra com a tristeza e a solidão, que só estes dois piolhitos me fazem esquecer.
Deixas-me um trago amargo no peito e um tremer incontrolável nas mãos cada vez que nos zangamos ou discutimos. Passo os minutos e as horas a desejar que olhes para mim com esses teus olhos hipnóticos e me faças sentir que está tudo bem. Que me beijes como me beijas-te no nosso primeiro dia, no nosso casamento, na lua de mel...

Fazes-me sentir completa com um simples sorriso... és maravilhoso! Quando estas duas andorinhas nasceram, presenteaste-me com a tua singela companhia que tanto me fez derreter de mimos e miminhos. A paciência que tiveste comigo e os dias de sono perdidos...
Sou carente dos teus cuidados, das tuas caricias, do teu amor, das tuas delicadas palavras e suave ternura.

Às vezes é difícil lidar contigo, mas nunca me arrependi de ter casado com um homem como tu, que me fez na mulher que sou hoje. Poderia ter tudo o que sonho na vida, mas sem vocês nunca seria verdadeiramente realizada.

Amo-te...
A ti e aos nossos botõezinhos!

terça-feira, 12 de junho de 2012

O meu príncipe...


O meu gato morreu..
Cinzento de olhos verdes, gordinho e que não me largava. Esperava por mim no portão quando chegava da escola e adorava sentar-se nas minhas pernas e tomar o seu banhinho de língua.

Não sei para onde foi, ou para onde tem direito a ir. A mamã diz que está no céu, mas o papá diz que não.
Onde está então? Está vivo? É feliz? Ainda sente dores?
Não sei para onde foste pequeno gatinho e tenho pena de não puder voltar a brincar contigo. De te abraçar e ver lamber. De te ver saltar o muro e miar.
Na verdade... via-o tao poucas vezes, que para mim parecia um sonho. O meu melhor amigo. Exististe realmente?
Deitava-se de barriga para o ar e assim ficava durante horas, a ressonar um ronronar.
Uma vez foi connosco à praia! Toda a gente o olhava. As pessoas não estavam habituadas dizia o papá no carro à vinda para casa.

Não sei para ondes foste pequeno marufo, mas aqui te deixo alguns bicoitos que tirei sem eles saberem.
És o príncipe mais bonito do mundo!

segunda-feira, 11 de junho de 2012

I'm Here - Spike Jonze


Youtube: "I'm Here" 2010
IMDB: I'm Here

O momento da reza...


À uns dias no comboio, aconteceu-me algo estranho. Tão estranho para mim como para a rapariga sentada ao meu lado.
Uma senhora, já de idade e senil, sem a cabeça a funcionar muito bem, do outro banco olhou para mim e muito admirada puxou do seu livrinho rápido de rezas e pôs-se a rezar virada para mim. Virou-se ligeira e literalmente para mim.
Por vezes lá me olhava, até que teve de ir à casa de banho. O comboio fez uma paragem e duas senhoras ocuparam o seu lugar. Não era tarde nem era cedo! Ia-se sentar mesmo em frente a Jesus Cristo!
Voltou a puxar do seu livrito e continuou a rezar.

A pobre da senhora pensou que eu era mesmo uma aparição, ou jesus cristo renascido. Coitada! Mal ela sabia que eu nem sequer acreditava em deus, e não só não acreditava em deus, como não olhava para as religiões com bons olhos. Mas... para ela, eu era uma estátua viva, uma representação física do seu salvador que nunca salvou ninguém para dizer a verdade.

Achei cómico, engraçado, um pouco assustador até... fui eu e a rapariga do lado! Até na feira, as velhotas põem-se todas as olhar para mim. Vontade de passar por elas e de braços abertos dizer: 
-- Eu sou jesus cristo! Desci à terra para saber quem se anda a portar mal! Este ano não vão receber presentes...
Ok ok... Só a primeira parte. Mas não deixa de ser uma experiência um pouco deslocada daquelas que esperava ter durante a minha vida.

Não posso deixar de sentir, que continuo a ser o alvo de atenções. Vá para onde for. Seja pelo cabelo, seja pelas semelhanças em quem eu não acredito. Talvez um dia me deixem de ver como jesus e ou simples rapaz, e mais como o Paulo Mota. Um rapaz diferente.


Não contem a ninguém... mas eu sou Jesus Cristo, preso no corpo de um herege!

domingo, 10 de junho de 2012

À noite vêm os sonhos...


A menina pulava e saltava. Ria e cantava.
Fingia ser uma filha, enquanto era filha. Brincava aos papás e às mamãs com duas pessoas um pouco mais crescidas que ela. Fazia de conta que tinha outros pais, que comíamos amoras e que tinha de ir ás compras.
Vi naquele momento, naquela brincadeira elaborada que ela criava dentro da sua, ainda inocente, mente a sua maneira própria de crescer. De se tornar um dia como a mamã. Grande e sempre pronta a ouvir. Mas seria algo mais... uma maneira de criar um espaço em volta de algo a que ela ainda não compreendia. A sua personalidade e o seu lado feminino.

Deitámos-nos os três na cama, e ela dormia. Controlava o jogo, as falas, as ideias e as opiniões dos papás. Daquelas pessoas que não o eram nem sabiam ser pais. Ela sabia-o bem e por isso... guiava-os, naquela tarefa tão difícil. 

Ficarmos sentados a ver o desenrolar das brincadeiras e dos jogos das crianças, ensina-nos, ou pode ensinar-nos, mostrar-nos coisas que esquecemos, que não percebemos. Que um dia fizemos mas substituímos por outro tipo de brincadeiras e/ou preocupações.
São um mundo mágico, que nos polvilham com encanto e fantasia. Por vezes... abstracta.
Aprende-se a estimular a memória, a desenvolver as relações inter-pessoais, a sua personalidade, os seus gostos e os "não gosto", os medos, fantasias, sonhos e desejos.
São uma esponja tão fértil, que qualquer contacto com um estímulo trará percussões inimagináveis.


A noite vem, e com ela os monstros. O pai abre o livro e a mãe lê. Inventam vozes e gestos horripilantes ou carinhosos perseguidos por sorrisos ou olhos bem abertos e assustadores.
Apesar de serem pequenas histórias, simples e descomplicadas, são autênticas guloseimas de papar e birrar por mais. Pequenas bolachas que fazem os seus pais criar uma ligação com a sua filha sempre pronta a uma nova aventura.
Os cobertores cobrem a sua cara nos momentos mais sombrios, enquanto os seus pequenos olhitos observam as páginas pintadas com desenhos escuros e gatafunhos que só o papá e a mamã entendem. Devem ser língua de ogres ou de bruxas... Este livro parece estar enfeitiçado, mas só naquelas 2 ou 3 páginas!
Lá vai deixando o medo escapar-se por entre os abraços da mãe para saber, uma e outra vez, que a história acabará sempre em bem.

São contos Peter Pan que fazem voar aquela semente adormecida e agarrada ao peluche que protege com a sua própria vida, com tudo... dos seus próprios medos e pesadelos.
A luz de presença iluminará a escuridão e será o fogo dos dragões, protectores da donzela adormecida. Fará brilhar o seu cabelo, e a mais pequena estrela cintilante no céu será ofuscada por tamanha beleza dourada que são os seus cabelos.
A lua já espreita pela janela, lá no alto da escura e estranha noite. Acompanhada de estrelas e cometas, de brilhos que fazem lembrar o bâton da mãe e as conversas com o telescópio no colo do pai.

Dormir não era um problema para ela... pois as grandes aventuras, tinha-as com os seus amigos nos sonhos mais bonitos e mágicos. As histórias de dormir? Eram só a introdução para que a sua mente voasse para "bué-longe" e se aventura-se com os seus desenhos animados mais favoritos, as conversas mais engraçadas e trapalhices que a faziam chorar de tanto rir.

A sua cama... era um palco de descobertas e aventuras.
A sua almofada? Uma caixinha de surpresas e segredos que jamais revelaria a sua verdadeira identidade.
Era um cavalo chamado Dora e sabia falar com todos os animais!
Que criança tão fértil... só podia sair à mãe! Mas que duas...

sábado, 9 de junho de 2012

Um berço...


Vê-lo dormir tranquilo, no seu berço. Imaginar e sonhar que seja feliz. Vê-lo um dia caminhar pelo próprio pé, correr, cair, fazer amigos, encontrar alguém que o faça também feliz e que assim morram ao lado um do outro.

Acordar com o seu choro, e levantar-me com a preocupação no peito. Pegar-lhe e deitá-lo sobre os meus braços junto ao meu peito. Assim, choramingão e irritado. Desvendar os mistérios que o seu choro esconde e que eu como pai e papá, instintivamente, saberei responder.

Mas lá vem a mãe, orgulhosa e preocupada de braços abertos para proteger o seu rebento do que quer que lhe tenha acontecido ou incomodado.
-- É a fralda. Vai-te deitar que eu mudo. -- responde o pai.
O bebé volta para o seu progenitor, e lá vão os dois a balbuciar numa língua que ninguém entende. Já a mãe... fica de braços cruzados à porta, a ver o desenrolar de todo aquele acontecimento, que ainda hoje, depois de vários meses, não se habituou nem se quer habituar. Ver o pai mudar a fralda ao seu filho, numa ligação que ela própria sabe ser diferente da que ela tem com o seu filho.
Não é por ser uma coisa de homens, ou por ser uma coisa de mulheres. É a natureza no seu estado mais puro.
Do pai,o bebé procura a força e estabilidade. Da mãe... procura alimento, reconforto e calma.

A mãe aproxima-se do seu homem, e abraça-o pela cintura, depositando a sua cabeça no seu ombro. Observando a cena, aquele espectáculo mágico. Feliz.

Deitado de novo no seu berço, limpinho e mais calmo, observam o seu bebé rir e balbuciar de olhos bem arregalados, brilhantes e grandes. Gesticulando com as suas pequenas mãozitas. Mãozitas com o qual vai aprender a desenhar e a pintar. Montar puzzles, acariciar cães, gatos, sentir e arrancar a relva. Trepar aos montes e ás árvores.
Não tinham pressa de ver o seu bebé crescer e tornar-se num alguém. Queriam saborear todos os momentos únicos e fascinantes. Tanto para aprender um com o outro, e muito mais para descobrir em conjunto. Com aquele pequeno ser que entrou nas suas vidas e da qual não queriam que sai-se tão depressa.
Lágrimas de felicidade, sorrisos e noites sem dormir, só para sentir o seu mexer irrequieto na barriga da mamã. Cada vez que acontecia, pareciam testemunhar a sua caminhada, o seu primeiro passo. Um passo lunar...

Vê-lo deitado, tranquilo, no seu berço de olhos e braços esticados para os seus pais, dar-lhes ia outro motivo para não dormirem muito naquela noite. As suas conversas iriam durar horas, com tanto fascínio, desejo e amor que partilhavam por um único ser, num sentimento mútuo que os fazia chorar. Felizes e completos.

Um berço de vida... cheio de vida, repleto de aventuras e descobertas, de emoções e sonhos. Um berço pequeno perante tamanhos corações. Nada teria mais importância do que sentir todo aquele pequeno mundo crescer e ganhar brilho aos olhos daqueles papás tão emocionados perante a fragilidade e capacidade que a natureza e eles mesmos! tiveram em criar o seu bebé.

A dor partilhada... num momento único de cumplicidade, para um perpétuo momento de felicidade.
Do parto ao primeiro colo... animais somos, e façamos o que fizermos, os nossos filhos serão sempre a maior conquista que faremos neste planeta. Por muitas luas e planetas que descobriremos no futuro, o primeiro passo será para sempre mais importante que a ida à lua. Somos seres simples no seu estado mais puro, mas gostamos de dramatizar.
Um dia pelas montanhas, em contacto com a natureza e os animais... e a sua mente voará para palácios e castelos.

Uma mente em borbulho cósmico.
Um abraço e um cheiro para controlar o pior dos pesadelos.
Um choro e um coração preocupado.
-- Mamã... Papá... adoro-vos!
E com um sorriso se iniciará outra etapa da nossa história.

Amo filhos que ainda não tenho...
Que ainda não vi nascer e que nunca abracei...
Amo filhos que ainda não segurei, lhes olhei nos olhos e disse:
-- Tu és o meu filho! E eu sou o teu papá!

terça-feira, 5 de junho de 2012

Ouro negro...


Se a tua cara fosse bonita... já não estarias viva.
Quando te suicidas-te, como foi sentir a lâmina no pulso?
Choras-te? Tives-te medo? Fugiste?

Odeio-te! Esganar-te num sufoco desconfortante e enterrar-te pintada de um azul de morte.
Não compreendem a cor dos meus olhos. Nem o sangue seco nas mãos.
As tuas veias serão estendidas, e farei delas a minha cortina.
Só tenho o meu disfarce, e dele nada poderás roubar nem cobiçar.
Nunca irão compreender a raiva que nasce em mim. Nem a ganância que me queima viva.
Arderás na fogueira e às portas do inferno!
Vais chorar de alma arrepiada, e jamais serás perdoada.

Rasgada de sentimentos...
O meu coração cobrir-te à, a ti e aos teus pequenos sonhos e desejos, da morte e depressão que me alimentam.
Os sortudos, foram os que morreram primeiro...
Assim chegará a nuvem pesada e escura sobre a tua cabeça. Esconde os teus filhos, os teus animais e o teu homem... e reza para que eu nunca os encontre.

À minha espada morrerão, de sangue cobrirei o meu reino, de beleza e superioridade.
Ajoelhem-se... ou serão engolidos pelos meus exércitos. Decepados e torturados.
Amem-me, ou morram...

A morte é minha amiga, e o medo será a tua!

domingo, 3 de junho de 2012

Frágil diamante...


O som da chave entrar na ranhura ecoa por toda a casa... entrou de sorriso, um pouco apressada e apetrechada de sacos. Pendurou o casaco bege e comprido. Trazia um vestido que descia um pouco abaixo dos seus joelhos. Com um acabamento em saia bordada, com um padrão único, belo e harmonioso de flores. Tão colorido como as cores das flores que brotam na primavera e as folhas que caiem no outono. Toda ela parecia um jardim. Apenas pintado pelo mais talentoso dos pintores e descrito pelo mais apaixonado dos poetas. Alta, cabelos compridos, ondulados e loiros. Pele branca e tão bela, que até os sinais do seu corpo, pequeninos e castanhos, a transformavam numa obra de arte. Teria ela sido criada pelo simples acaso da natureza? Uma mulher tão hipnótica e frágil como à vista transparecia onde quer que fosse. Tão charmosa e inteligente, que cada vez que abria a sua boca de lábios carnudos e dava uso à sua língua, os homens deixavam de admirar a sua beleza, e aninhavam-se, enfeitiçavam-se pelas suas palavras, a sua voz e o seu tom.
Uma mulher completa, perfeita, sem qualquer defeito. Teria estrias como qualquer outra, teria celulite como todas as mulheres... mas as corridas ao fim de semana, logo pela manhã, não era um obstáculo.

Descalçou os sapatos à entrada e dirigiu-se para o quarto. Atirou os sacos para cima da cama e correu para a casa de banho. Despiu-se. Abriu a água e tentou lutar contra a irregular temperatura. Ora muito quente, ora muito frio... não fosse ela estar concentrada no que tinha planeado o dia todo, e teria percebido que a sua mente assemelhava-se à água que saía do chuveiro.
Uns dias completamente feliz, outros dias, rodeada por uma tristeza avassaladora que a faziam chorar incontrolávelmente na sua cama.
Um emprego que invejava qualquer um. Dona de uma revista cientifica. Trabalhava muito mas com todo o prazer do mundo. Tinha um horário flexível, amigos e amigas que podia contar com os dedos, e conhecidos dedicados pelo seu trabalho que mal cabiam nos escritórios da sua empresa. Um salário invejável, que a permitiam comprar todos e quaisquer caprichos. Saciar os seus desejos e a sua gulosice.

Deixou a água escorrer pelo seu corpo, enquanto se ensaboava. Lavava os cabelos com gentileza. Fazia o pente passar por aqueles cabelos cheios de espuma, com um só gesto. Brilhavam junto com a sua pele, à luz da janela. Passava a esponja pelas suas pernas, pela sua barriga. Carinhosamente... lavava a sua menina e tocava-lhe sem desejar ter um orgasmo naquele momento.
Saiu do banho, enrolou-se em toalhas perfumadas, pegou no pente e dirigiu-se para o quarto. Sentou-se à beira da cama, virada para a janela do quarto. Sentia o calor na cara e nos seus pés agora fora dos chinelos, tão confortantes e macios.
Abriu os sacos um a um, à procura de algo. Desembrulhou o pacote, e as paredes do quarto pintaram-se de vermelho. Uma lingerie, comprada nos descontos da sua loja favorita. Indicada pela sua melhor amiga. Uma peça única para a nova colecção de Primavera-Verão.
Vestiu as meias, as cuecas e colocou o soutien. Olhou-se ao espelho, esboçou um sorriso e deu algumas voltas. Verificava cada ângulo do seu corpo. -- "Será que fica bem no rabo? Será que fazem o meu peito parecer demasiado grande? As cuecas ficam-me bem?" -- pensava ela.
Chegou-se junto da gaveta onde guardava todos os seus perfumes, cremes para a pele, espuma para os caracóis, desodorizantes, giletes, toalhetes, alguns puxos para o cabelo, bâton, maquilhagem e um pacote de lenços.
Não tinha nada de mais nem de diferente de uma mulher normal. Ela gostava de se sentir assim. Normal. Gostava de se vestir bem como qualquer uma, mas deixava a sua riqueza escondida em casa. Os seus caprichos trancados a sete chaves. Os seus medos escondidos debaixo dos lençóis.

Olhou para o relógio. 15:34h.
Arrumou os sacos, e deitou-se na cama. Virou-se para a janela e contemplou o sol e o seu jardim. A rua era já ali, e adorava poder escutar os vizinhos a conversar. As crianças correr atrás da bola. As suas mães gritavam para que não brincassem no meio da rua, para terem cuidado com os carros. Os sacos das compras ficavam esquecidos na mala do carro da vizinha da frente, enquanto o seu filho fugia para se juntar aos amigos. -- "Oh João!" -- gritou a mãe de mãos nas ancas. Era escusado. Teria de acartar tudo sozinha, como de costume.
Esboçou um sorriso e olhou para o relógio. Ao lado deste descansava um livro, com pouco mais de 500 páginas. Ajeitou-se nas almofadas e depositou o seu olhar naquelas folhas de papel antigo que a faziam entrar num mundo de pura ficção cientifica. "O clã do Urso das Cavernas". Deixou-se perder durante várias dezenas de minutos, naqueles montes e vales que percorriam o livro como um rio.

Reconheceu um cintilar metálico lá fora. Ouviu a porta abrir e um despir de casacos e sapatos. Aquela casa devia-se manter limpa. Não por manias, nem por fobias a germes, mas por higiene. Não queria que o seu bebé apanha-se alguma doença ou brincasse com os seus brinquedos num chão sujo de micróbios por muito limpo que estivesse. Não era medo, era precaução. Amava-o como mãe que era. Protegia-o como instinto de progenitora que ela sabia crescer desde o momento em que soube estar grávida. Mas o seu bebé não estava em casa. E por muita que fosse a saudade e a sua mente tivesse ocupada com a sua imagem e o seu estado de saúde, ela reconhecia que precisava de um tempo para ela. De espaço, de arejar ideias, libertar-se do stress, do trabalho, dos problemas que a incomodavam como mãe. Precisava de descansar, assim lhe sugeriam as suas amigas.

Dirigiu-se à cozinha, tirou um copo simples do armário e bebeu-o com sumo do frigorífico. Vinha com cede e com vontade de urinar. Homens...
Caminhou calmamente até ao quarto e deparou-se com a sua mulher, a sua esposa, num quarto com um ligeiro toque de perfume. Ali, deitada, de lingerie e banhada pelo sol. Uma sombra que lhe cobria os olhos e um livro que descansava ao seu lado. Ficou assim, paralisado, maravilhado por tal surpresa, por tal beleza. Não pensou no sexo, mas na lingerie, nos seus cabelos, nas suas curvas. Sentia-se deslumbrado pela mulher que o escolhera como seu companheiro. Como pai dos seus filhos.
Chegou-se perto e ouviu um choro. Um soluçar desconfortante que rapidamente evoluiu e se apoderou do corpo dela. Escondeu a cara entre as mãos e sobre as almofadas brancas. Permaneceu assim, num soluço sufocante. Um choro que conseguia arrepiar a alma do seu amado.
-- O que foi amor? O que tens? O que aconteceu?
Nada disse e assim ficou, até que o olhou nos olhos, chorosa, de olhos vermelhos e muito tristes. Limpou as lágrimas e o nariz com um inspirar ligeiro. Sentiu uma mão na cara e um acariciar da sua bochecha.
-- Fala comigo amor! -- pediu triste, de lágrimas perdidas no rosto.
-- Não me sinto feliz...