segunda-feira, 28 de março de 2016

Vou dar-te uma proposta irrecusável...

[Be strong to stand alone - Pinterest]


Tenho errado bastante estes últimos dias... seja por falar demais, por achar que tenho piada, por sentir que posso dizer tudo o que me apetece, brincar com a situação ou levantar a voz só porque me chateio com alguém que não faz o que era suposto fazer.

Por causa disso, tenho andado muito stressado e sem vontade de escrever. Mas como sempre usei o blog como uma escapatória para expor os meus pensamentos, para falar sobre eles, para me re-educar e avaliar, vou aproveitar para despejar mais um monte de balelas, só porque sei que me vai ajudar na criatividade futura.

Percebo agora, com 26 anos, que continuo a falhar mesmo quando não quero. Pouco controlo a situação, mas continuo a ficar zangado comigo mesmo por essas coisas acontecerem. Era suposto eu já ser um homenzinho certo? O que me falta? O que estou a fazer de mal? É falta de namorada? É falta de ter um filho? Esse ultimo pensamento aparece todos os dias, sempre que vejo uma criança. Mas e a namorada? Em que falho?

Não posso achar que consigo controlar tudo. É impossível. Mas tenho aprendido muita coisa de todas as merdas que faço. Sejam pequenas ou grandes. Isso é bom sinal. Significa que ainda não parei no tempo.
Tenho continuado a ler, coisa que eu raramente fazia antes de começar a escrever o meu livro, em 2014, que ainda nem o primeiro capítulo está concluído porque é muita informação e pesquisa para introduzir; Mas tenho aprendido bastante com todas as páginas que li das dezenas de livros que já comprei. 400€ em livros é obra!

A verdade é que eu sei o que me falta. Falta-me falar mais com as pessoas, faltam-me amigos. Abrir a mente e expor o que sou. Conversar. Mas... é só isso que preciso? Socializar? Eu sei que a essência humana exige o sacrifício do meu espaço pessoal, "exige" de mim a partilha de tempo e paciência, mas eu não sei lidar com as pessoas com conversas de "café". Prefiro observá-las nos seus a fazeres.

As minhas ideias têm mudado bastante, principalmente perante o mundo, desde que comecei a ler mais. Grande parte das minhas opiniões, principalmente as que escrevi já vezes sem conta no blog, são hoje "muito" diferentes das que defendia antigamente. Hoje atribuo a culpa da geração, única e exclusivamente aos pais, à educação que eles dão aos filhos, seja em casa ou na rua. A culpa não é da televisão, nem da moda, nem da publicidade, nem do dinheiro. É dos pais. É impossível controlar tudo o que acontece na vida dos filhos, mas é a prepará-los para a vida, para a sociedade, que eles vão saber fazer a escolha certa mais vezes do que as más.
Isto para dizer que apesar de por um lado eu ter deixado de ser burro e com mania de que "eu sei tudo", tenho aprendido com todos os livros que já li, de qual é o meu valor. Por essa mesma razão, sinto-me dividido entre o ser Nada e o desejar ter uma mulher e uma filha a quem amar, porque independentemente de tudo o que fizer, a minha biologia e condição humana, acima do instinto animal, me gritam para deixar os meus genes, para ter filhos, constituir familia. Ser feliz. Ter amigos.

Tenho 26 anos e não tenho namorada. O que é que isso diz de mim? Que sou muito tímido e não saio de casa. Mas tenho um centro de backups, "WD Mirror 4TB", ao qual posso aceder fora de casa, ou partilhar um ficheiro com alguém sem pagar serviços de terceiros. Ou um novo aparelho de gravação que me permite gravar da televisão com uma qualidade muito superior à que antigamente tentava fazer. TVRip-DesenhosAnimados

Estou apetrechado com alguns dos equipamentos mais incríveis que nem sonhava vir a ter, e a conseguir configurar, apeser de me dizerem que seria impossível. Mas não tenho namorada! E eu quero uma, porque quero dar, quero receber, e a punheta não é a mesma coisa... verdade seja dita. Todos queremos ser amados, e eu sou um deles. É preciso julgarem-me!?
Tenho um quarto que é só meu, verdadeiramente. Cujas paredes de 3 cores diferentes foram todas pintadas por mim. Incluindo o chão, que não escapou ao cimento que tive de colocar para tapar os grandes buracos causados pela "tinha". (Vermelho escuro, Amarelo e Verde.)
Quando foi preciso redesenhar a instalação de cabos de rede para a Fibra da Vodafone, tomei a iniciativa, desenhei a planificação da passagem de cabos no computador, dialoguei com o meu pai sobre a melhor estratégia a tomar e quando foi altura de fazer os furos nas paredes, peguei no berbequim e furei tudo sozinho. O meu pai comprou as calhas, é certo -- ficava-lhe a caminho do trabalho -- e quando foi para finalizar, colei as calhas nas paredes. Re-instalei os cabos e as cabeças RJ45 nos mesmos. Comprara em antemão uma bateria UPS, que fornece energia aos aparelhos de internet sempre que falha a luz cá em casa, o que é quase todos os meses, pois a minha mãe liga forno, máquina de lavar roupa e loiça tudo ao mesmo tempo e vai tudo abaixo. Perdi a conta ao número de computadores e discos que perdi por causa disso.
Já no quarto, colei outras calhas para passar cabos de rede para a box e o computador. Aos poucos tenho tornado um quarto que era do meu irmão, no meu. Mais pessoal, mais arrumado.
Tenho-me tentado aperfeiçoar, incluindo nas roupas, gastar bem gasto, gastar no que gosto, e comprar sempre que me interessa verdadeiramente e me fica bem.
Tomar a decisão de pintar o meu quarto, de arranjar e construir tudo o que tinha, na verdade, era uma das coisas que precisava às bastante tempo. Dar um significa a tudo o que sou por dentro e exteriorizar, em parte, o que tenho para oferecer. É por isso que continuo a errar. Porque continuo a aprender, e a estudar tudo o que me rodeia, principalmente quem sou e o que quero ser, para além do que não quero ser e fazer. Aos poucos torno-me no que sempre quis ser, mas que não tinha coragem para tomar a iniciativa.

Mas não tenho amigos... não tenho namorada... não tenho sexo... não tenho uma aventura que me guie. Faço a minha vida, passo a passo, seja lento ou muito lento. E independentemente de errar mais vezes do que as que acerto, orgulho-me, e vou-me orgulhando de todos os pequenos apontamentos que vou alimentando ao meu cérebro, à minha personalidade.
Estou mais confiante. Sou confiante! Tenho tantos projectos que quase não tenho tempo para mais nada. Mas tenho algo que valorizo... Tempo para mim! Tempo para rir. Espaço para ser e existir. Espaço para descansar e ouvir-me. Tempo para apreciar e aproveitar... Não me falta dinheiro, não me falta tempo nem felicidade.

Só procuro alguém que queira sentar-se comigo e ouvir o que houver para se ouvir.

terça-feira, 1 de março de 2016

A rapariga que cheirava a pão quente... [3]

Sentada à mesa, olhando pela janela, a avó observava as aventuras da neta que tão vincada na sua memória a faziam lembrar a própria filha, que fugia brincando dos patos e das galinhas, que se tornava mãe dos coelhos e pintainhos. O avô juntou-se à avó na recordação do tempo. O que era a velhice sem netos e bisnetos?
O avô aproximou-se da sua amada, deu-lhe a mão, e num momento indecifrável, por qualquer animal ou pessoa neste mundo, partilharam uma pequena memória. Sofia tinha a mãe impregnada no corpo.
Viram-na correr até ao fundo da quinta, trepando a muralha que separava a vinha do vizinho dos animais do seu avô, cuja gula não tinha fim.
O Sol dizia-lhe "Olá", e ela juntava todas as coisas à sua festa; o seu sorriso, a sua energia, o seu olhar, as suas mãos delicadas. Sentia o ar entrar-lhe nos pulmões, sem venenos ou doenças, e assobiava uma música clássica, que recordava de quando era criança. Um som que dançava com o incenso do quarto do pai e que parecia vir das próprias paredes escondidas pelos livros. Tornara-se na melodia que melhor descrevia o seu espírito. Juntava o primeiro passo com a primeira mesada. Recordou o toque pesado do vinil na sua mão, cuja escuridão da sua cor sempre lhe dera um ar misterioso e sinistro.
Perdida por um momento, procurou os seus avós ao longe. Olhavam-na num só sorriso. A avó acenou.
Vagarosa e curvada, preparou a mesa para fazer um bolo. O seu melhor amigo de amor eterno, deixou-se cair no sofá. Ajeitou a lenha na lareira, incitando o fogo a rugir, e deu-lhe de comer mais umas cavacas compridas.
Finalmente o cheiro da farinha sentia-se no ar.