domingo, 15 de março de 2015

Adoro ouvir-te, ver-te e cheirar-te... [33]


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Adoro ouvir-te, ver-te e cheirar-te... [32]

A noite mais louca e indiscritível que vivi. Mas a loira não saia da minha cabeça. Parecia esperar de braços cruzados, pelo fim do meu prazer para poder finalmente voltar a dirigir-me a palavra.
Agarrei na cabeça daquela Madalena, e abusei-lhe a boca quente. Dirigimo-nos para o quarto, pé-ante-pé e acabámos a foda às 2h da manhã, comigo a pensar na filha que estava já deitada no quarto ao lado, depois de um jantar estranho e quase silencioso de 4 pessoas cúmplices do prazer que se estampava no rosto.

9 horas da manhã, sais-te de casa, arranjada e de pequeno-almoço tomado, com a filha na cadeirinha do banco de trás. Deixaste-a na cresce e seguiste para o trabalho. 9:30h, vi-te entrar pela porta principal da empresa que chefiavas e esperei pelas 10 badaladas. Entrei, disse à recepcionista que te vinha fazer uma surpresa e mostrei-lhe um saco da intimissimi. Corou. Muito tímida e calada guiou-me até ao elevador onde carregou no 5º andar e se despediu com um sorriso e um "até já" perdidamente apaixonado.
Segui as indicações da moça, que ficara atrapalhada quando lhe conquistei os olhos. Madalena viu-me no corredor, sorriu e entrou numa das portas. Alguns rapazes vestidos de preto e de forma muito formal atravessaram-se no meu caminho com carros-cabide repletos de roupa e outros de jóias e acessórios de moda. Percebi imediatamente que o teu estilo único e chique de luxo teria de ser também uma imagem de marca. Eras chefe de uma empresa prestigiada que organizava desfiles de moda. Desde o que cada modelo levaria vestido, dos pés à cabeça, como a música, as bebidas, o espaço, a comida, a iluminação, até aos cartões de convite VIP. Parece que te acabaste de tornar na minha vitima preferida!
Aguardei, paciente, admirando alguns quadros que pintavam o vidro fosco que me impedia de te ver. Este espaço rodeava-me do design mais incrível que já tinha testemunhado! Que mais segredos escondes tu?
Madalena voltou a aparecer por detrás de uma porta e dirigiu-se a mim, com as pernas completamente molhadas e cansadas da noite anterior.
-- Não te esperava ver por aqui! -- disse-me de olhar atento ao ambiente em redor. Deu-me dois beijos e deixou-se ficar de braços cruzados sobre um vestido preto que lhe realçava a anca e as pernas. Os bicos dos seus peitos notavam-se ligeiramente no vestido, provocando em mim uma vontade louca de os agarrar só para voltar a sentir nas minhas mãos o peso e a forma deliciosa com que abanaram diante dos meus olhos na noite anterior.
Olhei para eles, para ela, e sorriu matreiramente, de olhos provocadores.
-- Vim visitar a tua chefa! -- respondi também com um sorriso. Levantei o saco e os olhos dela, que antes reluziam, perderam o brilho, consciencializando de que não lhe tinha trazido nada. O amuo cresceu-lhe nos lábios e coloquei a mão dentro do saco negro de papel. A face voltou a ganhar de novo energia e surpreendi-a com uma caixa também ela preta, brilhante e com um laço prateado. Abriu sem controlar a alegria e deparou-se com um colar de beleza sublime. Uma autêntica peça que lhe realçavam ainda mais a beleza da cara de safada e o decote provocador que sabia usar tão bem para provocar o mínimo desconforto nas calças de um homem fiel.
Abraçou-me, beijou-me e pediu para que lhe coloca-se o colar no seu pescoço tão despido. Cedi ao seu pedido. "Uma coisa é morrer, outra coisa é não ter estilo."
-- Como estou? -- perguntou admirando o colar.
-- Estás incrível! Esse vestido combina contigo e com o colar!
-- Obrigada! -- agradeceu com um toque ligeiro na mão. -- Vou ver-me ao espelho... Entra, dás logo com ela! -- disse piscando-me o olho. Ao passar por mim beijou-me a cara e seguiu para a casa de banho.
Entrei, vigiando o horizonte de raparigas e rapazes sentados em frente a computadores iMac de várias polegadas, a trabalhar em publicidade no photoshop, de auscultadores na cabeça a editar músicas, a escolher ramos de flores ou vestidos de gala para alguns convidados VIP com quem mantinham contacto através do telefone. Os rapazes olharam-me de alto a baixo por breves segundos e as raparigas admiravam-me em bocejos, várias vezes por minuto.

Conquistava o ambiente com o olhar e um pequeno sorriso...


Shhh...


Ela caiu ao chão. O susto!
Da cara jorrava sangue. A aflição!
A cara tornava-se pálida. O desespero!
Correu impetuosa de braços esticados no ar,
Segurou na sua cria, que mal podia falar,
A respiração difícil, mirravam os músculos do corpo,
E a morte anunciava-se no rosto.

Se estiveres calado, consegues ouvir a morte tirar-te a vida... Arrancar-te o toque da pele, o ar do peito e o sabor da lingua. Se estiveres calada e parares de gritar que nem uma louca, ouves a morte rasgar-te a pele e arranhar-te os ossos frágeis do cancro podre com que injectas a tua mente demente.

Shhh... Quero ouvir a morte encher-te de agonia!

segunda-feira, 2 de março de 2015

A rapariga que cheirava a pão quente...


Ela acordou, pelo cheiro do pão cozido da manhã e da lenha crepitante no fogão negro e pesado. Levantou-se num salto, de olhar faminto e de estômago lambareiro, imaginando-se tão rapidamente a devorar o saboroso pão da sua avó, que ainda lhe faltava calçar os chinelos de algodão. De pijama embonecado e sorriso largo no rosto, agarrou a maçaneta da porta. Estava quente, iluminada por uma fresta nos cortinados que lhe embatia no rosto e numa perna. Como quem nos toca no ombro, voltou-se para o sol e perdeu-se num horizonte sarapintado de cores e flores, num prado verde que se estendia até onde a vista alcançava, limitando-se num muro baixo de pedras velhas e de amizades estranhas com o musgo e os cogumelos. Admirou os patos soltos junto ao lago. Os galos caminharem de peito feito e um fumo cinzento desaparecer com o leve vento que embatia nas árvores altas, e grossas, espalhadas pelo terreno trabalhado pelos seus avós. A casa de férias perfeita para qualquer rapariga da sua idade. Dezasseis anos.
A casa velha, do seu tetra-avô, de teto ligeiramente mais alto que ela própria, acolhia-a sempre com um abraço de nostalgia e conforto. Era o ar, o ambiente, os sonhos, os cheiros, os avós... Aquela era a sua casa. O seu recanto.
Abriu a porta, ultrapassou o avô carregado com um cesto de lenha e correu para a cozinha. Os cabelos castanhos encaracolados voavam numa liberdade e beleza que a sua avó nunca parava de admirar de olhos reluzentes. Lembrava-lhe a mãe quando era mais nova. Alta, sorridente, confiante, bela, apaixonada e quase sempre com a cabeça na Lua. Agarrou então num pão e com a faca cortou-o ao meio, recheando-o com o fiambre e o queixo que a sua avó comprava no mini-mercado ao fundo da estrada, para lá do moinho e da ponte.
Não se bebia leite naquela casa; Não por serem alérgicos, mas porque a vitamina C do sumo de laranja que se preparava na frescura da madrugada, lhes faziam melhor aos ossos e à disposição. Juntavam-se as frutas numa cesta onde a maçã dominava abundantemente de cores garridas, e um doce de abóbora que se deixava devorar pela gulosice do avô de costas cansadas.
Aproximou-se, da janela, quase embaciada, sentindo o frio do exterior com os olhos, aconchegando-se no conforto do lar que parecia acordar e aquecer-se sozinho. Os seus avós, que se moviam lentamente de um lado para o outro, de tarefas decoradas e gentilmente laboradas, pareciam pequenos anões, mágicos, sempre com um sorriso caloroso no rosto.




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