domingo, 19 de janeiro de 2014

Adoro ouvir-te, ver-te e cheirar-te... [2]


Subi as escadas sem pressa, enquanto os teus gritos chamavam pela Joana que de tanto medo paralisara atrás da porta do seu quarto. Ao longe, vi-te pegar na sua mão e fugir para o teu quarto onde usarias o telefone. Sorri.
Fechas-te a porta com força, exteriorizando o medo, e trancaste-te no único espaço que achavas ser seguro. Ri. O telefone não iria funcionar e tão pouco usarias o telemóvel. Deixaste-o no casaco, como sempre o fazes. Nunca te descuidaste. És monótona e eu adoro isso. És fácil! Previsível! E inteligente o suficiente para perceberes que sou eu quem faz as grandes decisões.
Podia ouvir-te os "shh" cada vez mais baixinhos, num pedido suplicado para que Joana pará-se de soluçar. A minha impressão digital da caminhada tornava-se ténue à medida que me aproximava da porta por cima daquele tapete de arraiolos que tinhas trazido de casa da tua mãe.
Parei. Inspirei e ouvi. A chuva caia, e o som dos relâmpagos caíram sobre a tua porta, desfazendo-se num estrondo que parou o teu coração por breves momentos. Viste a minha bota no ar e recolheste ainda mais a tua filha sobre o teu peito. Aquela cómoda nunca tinha sido um local tão bom para te esconderes como até este dia. Ouvi de novo a tua bela voz expressa através de um grito.
-- Não nos faça mal! Por favor! Leve o que quiser!
Nem sabes a vontade que me deu para rir dessas palavras fáceis de repetir e repetir sem sentires o que realmente querem dizer. O teu corpo pode tentar provar o contrário, mas só te estás a enganar a ti própria. Deixa que me aproxime de ti, da tua filha, da sua boca e das suas cuecas e a tua alma sentir-se à tão violada que serás incapaz de falar. Cada palavra ficará proibida de sair da tua boca e obrigada a usar o teu corpo feminino como escudo ou apenas uma presença chata, incomodativa e esperneada de músculos sem força e amor que nunca mais acaba.
Devagar tirei a máscara, deixando-a cair num soalho caríssimo, coberto de pó e farpas da porta rebentada pela maçaneta. Não precisei de olhar em volta para reconhecer a tua riqueza e luxuria. Passei semanas a olhar para este quarto, a ver-te despir e algo mais...
-- Adoro a decoração! Mas acho que devias pendurar uns puzzles nas paredes, trazer uns amigos, dar um jantar.
As duas porquinhas mantiveram-se em silêncio.

Sem comentários:

Enviar um comentário