segunda-feira, 6 de março de 2017

Adoro ouvir-te, ver-te e cheirar-te... [50]

[Stepping in her body - Pinterest]

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Adoro ouvir-te, ver-te e cheirar-te... [49]

-- O que queres de nós? Dinheiro?
Soltei uma gargalhada.
-- Achas que me faz falta o dinheiro? -- respondi.
-- Não toques na Joana! Ela não te fez mal nenhum! -- gritou-me a mãe.
-- Não te preocupes com a Joana, a filha da nossa querida Madalena vai-lhe fazer companhia!
A cara dela ficou vermelha de raiva. A fúria crescia visivelmente nas veias dos seus braços, no arfar cadenciado no seu peito e atirou-se a mim como se a vida da filha dependesse daquele momento. E dependia. Mais ou menos...
Com um murro bem calculado, atirei-a ao chão, através do estômago. Contorceu-se e cuspiu-se toda, sentido as entranhas arderem por dentro.
-- Não te preocupes querida Madalena, a tua filha vai seguir o mesmo caminho que a mãe. O de puta!
Ela não respondeu, limitou-se a cair ao chão encolhida em dores. Tentou balbuciar qualquer coisa, mas nem conseguiu abrir a boca.

Ouvi a porta da casa de banho, do piso de cima, começar a bater novamente. A voz de Joana estava distante. Os relâmpagos caiam lá fora e a chuva abafava qualquer som que viesse de dentro de casa. Ninguém estaria perto o suficiente para ouvir gritos, tiros, moveis a cair e vidros a partir. Apontei a arma à amante de Jesus Cristo e os olhos focaram-se na minha arma. O medo cresceu lentamente em volta dos seus olhos, à medida que o chão tremia debaixo dos meus pés.

Disparei.
Gritou.
Sentiu uma dor no ombro.

Caminhei até ao andar de cima, arrombei a porta com o pé, depois de muito tentar dialogar com uma mulherzinha cheia de medo de mim, mas não adiantou. Agarrei a criança por um braço e empurrei-a para que fosse à minha frente. Chorava, desconsoladamente, sempre olhando para trás, por cima do ombro. Foi então que correu desenfreada pelas escadas, numa tentativa de me fugir, mas uma bala alojou-se a poucos metros mais abaixo, ultrapassando os seus pés rápidos e parou; Como uma estátua ficou imóvel. Ali, no meio das escadas.
-- JOANA!!! -- gritas-te tenebrosa. Nesse momento nem os relâmpagos tem faziam jus à força da voz. Foi revigorante sentir o timbre feminino aflito descer-me pela espinha.
-- Joana, Joana, Joaninha...  -- chamei, descendo degrau a degrau, soletrando cada palavra em cada passo. -- Se não te portas bem, a próxima será na tua mãe. -- avisei. Agarrei-lhe no punho, e trouxe-a até à sala. Deixei-me ficar no hall, para que mãe e filha se olhassem.
-- Minha filha! Querida!
-- Vamos todos dar um passeio? -- perguntei às mulheres. -- Queres ir dar um passeio Joana? -- questionei, erguendo-lhe o pulso para que tomasse atenção ao que dizia e me olhasse nos olhos.
A face vermelha acagaçada de medo, de olhos pequeninos e quase sem brilho olharam-me e cruzaram-se de novo com os da sua progenitora. Chorou nesse momento, enquanto a minha mão a apertava e arrastava para longe da mãe galinha.

Adoro ouvir-te, ver-te e cheirar-te... [51]
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