domingo, 30 de outubro de 2016

Ele existe em ti, consegues ver?

[Horizon - Pinterest]

Conheces o vazio? Consegues senti-lo? A subir pelo teu corpo, arrastando a tua sombra pelo chão, esticando-a e torcendo-a através do caminho que tomas.
Sentes o frio comer-te as costas e as mãos? O choro da chuva inundar-te a mente de melancolia e fazer descer por ti um diluvio de incertezas e inseguranças? Os desejos e os sonhos dissipam-se na escuridão e um poço é tudo o que tens para usar; sem corda, sem balde, sem água.
Sentes a solidão engolir-te? O horizonte assombra o teu presente com o inevitável fim que antevês, que se aproxima e não muda, não melhora, não se transforma. Caminhas lentamente para ele, o teu fim trágico, onde todos os teus arrepios acordam e gritam apavorados o assombro que se avizinha, ali, ao fundo, aqui tão perto, no agora que se cobre de nuvens.

E não há nada mais bonito que o terror que sentes na alma, no peito. O desejo de abraçar essa negra nuvem que se avizinha, com o nevoeiro que a acompanha como uma capa de herói.
O que ser nesse momento? O que fazer? O que dizer?
O nevoeiro passa por ti, atravessas-o sem mexer um músculo e sentes que te arrasta. Deixa-te levar, qualquer lugar será melhor do que a vida miserável que levas neste mundo em devaneios.

Conheces o vazio? A dor que ele traz? O ódio de que te alimentas? O frio que te derrota?
Queres conhecer o fundo do poço que escavas de mãos despidas e de costas rasgadas? Abre os olhos e chora. A derrota vê-se no horizonte e nunca poderás fugir dela.

quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Ernst, prazer em conhecer-te!


Ernst atravessou a biblioteca, colando o olhar ao de Catherine, a bibliotecária alta e extremamente tímida.
Não sabia o que fazer. Estava em pânico e o balcão à sua frente não ajudava muito a sua confiança. Meia trémula e apavorada, de um lado para o outro, tentou desviar o olhar sobre uns livros empilhados, mas a postura de Ernst, com os olhos focados no seu corpo, não a impediram de espreitar, por entre o cabelo, aquele rapaz confiante, lindo e destemido a caminhar na sua direcção.
-- Olá, boa tarde. -- ofereceu-lhe Ernst, poisando alguns livros.
-- Boa tarde. -- gaguejou Catherine. As bochechas já rosadas escondiam-se atrás do cabelo loiro longo e liso. -- É para levar? -- perguntou sem o olhar.
-- Sim. -- confirmou, tentando encontrar os olhos da trémula rapariga.
Passou os livros no leitor de barras e devolveu-os ao pedaço de homem que lhe estava a tirar as forças das pernas e da fala.
-- Catherine? O que fazes mais logo?
-- Eu? -- a lingua enrolou-se e gaguejou muito nervosa. -- Eu... Não sei... Vou para casa.
-- Não me dispensas cinco minutos da tua companhia?
Devidamente informatizados, entregou os livros a Ernst. As bochechas coradas aquecia-lhe a face e as orelhas pareciam inchar. O coração palpitava, o peito custava a encher e as mãos tremiam nervosamente segurando uma caneta.
-- Respira fundo. -- segurou-lhe a mão e a esferográfica num só movimento. -- Não há razão para uma rapariga como tu estar nervosa.
-- Não estou. -- desculpou-se, olhando-o nos olhos por breves momentos. A sua mão continuava presa pela confiança do rapaz, e tão cedo não a forçaria para que fosse livre novamente. O toque dos seus dedos nos dela, quase entrelaçados, combinando a firmeza dele com a pele sedosa dela, fazia-lhe crescer entre as pernas e na ponta da lingua, um desejo ardente de ser atacada por tudo o que compunha o rapaz. Desde o seu físico à sua personalidade e mistério.
-- Telefona-me quando estiveres pronta. -- pediu Ernst com um olhar sereno.
Catherine não respondeu nem acenou com a cabeça. Ficou a olhar para o número na palma da mão. Uma caneta bateu-lhe nos dedos e caiu na mesa logo abaixo. Ernst tocou-lhe com um só dedo no anelar. Nesse mesmo instante, Catherine olhou-o nos olhos e vislumbrou um sorriso, seguido de um piscar de olho. O rapaz virou costas e saiu com os livros debaixo do braço. Em choque e com a vergonha a entupir-lhe os ouvidos, deixou-se ficar a olhar para ele, já do outro lado da janela, enquanto uma rapariga da idade de Ernst aguardava a vez de ser atendida.
A campainha tocou e o transe desfez-se. Das seis horas que lhe restavam do dia de trabalho, Catherine iria passar os seus olhos mais vezes no número de telemóvel tatuado na sua mão do que no Enter do teclado.

O seu primeiro dia de estágio acabara de se tornar ainda mais inesquecível!
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terça-feira, 4 de outubro de 2016

Hipnótica

[Wuthering Heights - Pinterest]


Hipnótica. É a palavra que melhor descreve o teu rosto. Só um poeta apaixonado seria capaz de pintar uma obra da tua beleza.
Os teus olhos não me penetram, chamam-me a ti, fazem-me questionar a sanidade da razão e ponderar a loucura. A misteriosa dor que é te olhar, a da paixão, de te conhecer e saborear em cada palavra "louca" que teces na minha mente, numa conversa que só faz sentido no coração que já não pertence a nenhum de nós.

Sê simples, sê mulher. Sê, sem nunca te fechares do mundo; principalmente de mim. Quero ver o teu sorriso ao acordar de manhã, para o resto da vida, e inspirares-me com toda a tua essência.
Sê minha. Faz-me crescer. Pois do que do que depender de mim, já mais te largarei a mão, os pés nunca terão descanso e a mente viajará na nossa história, nos nossos sonhos, nas nossas conquistas.


Encontrar-te, foi mágico.
Conhecer-te, um desafio.
Mas amar-te... divino!

domingo, 2 de outubro de 2016

Adoro ouvir-te, ver-te e cheirar-te... [49]

[Standing on her neck - Pinterest]

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Adoro ouvir-te, ver-te e cheirar-te... [48]

-- Não me mates por favor! -- gritou, berrou, esperneou, enquanto a arrastava pelos cabelos para fora da cozinha.
-- Na cama não gemias tanto... -- comentei, sentindo o peso do seu corpo incomodar-me o cotovelo.
Atirei-a para o sofá e tapei-lhe a boca com fita-cola. Prendi os membros com Zips. Vê-la assim amarrada, de cara vermelha e em pânico acendia uma chama em mim que já não controlaria durante muito tempo. Esta noite será memorável!
Tranquei a porta da frente, ajeitei os cortinados, apaguei as luzes e subi as escadas. A mãe da criança arrastava-se pelo chão, até à casa-de-banho onde a sua filha gritava por si. O chão manchava-se de sangue e a maçaneta da porta movia-se violentamente, sincronizada com a vosita de Carolina.
-- O que quer de nós? -- gritas-te, com raiva, seguindo-se um choro descontrolado e derrotista de ti mesma. Ias morrer, ouvias a Morte aproximar-se.
-- Não preciso de nada vosso, por enquanto. Mas levarei a tua filha comigo...
Vi a raiva surgir na tua cara em volta do nariz e o teu franzir de sobrancelhas. Se não tivesses levado um tiro no ombro, acredito que naquele momento terias tentado atirar-me ao chão.
-- Não abras a porta Joana!
-- Mamã! -- gritou a criança indefesa.
-- És patética. -- levantei-a pelo ombro ferido. Gemeu e gritou de dores. -- Ainda não te convenceste de que não há nada de que eu não possa fazer. Continuas a acreditar que tens salvação. O que pensas? Que um raio vai entrar por aquela janela e matar-me!? -- nos milésimos de segundo que passaram, o quarto iluminou-se com um clarão do exterior, seguido de um estrondo que fez o soalho tremer.
-- MAMÃ! -- gritou a miúda assustada, forçando ainda mais violentamente a maçaneta.
-- Quem diria... -- respondi admirado. -- Joana, se não te calas, EU MATO A TUA MÃE! -- gritei. Os gritos histéricos pararam de imediato.

Sinto a ferida no ombro aprofundar-se e uma dor aguda intensificar-se. Não conseguia controlar o meu corpo com tanto sofrimento. Agarrou em mim, arrastou-me até às escadas e atirou-me por elas a baixo. Senti a cabeça bater em cada degrau. Senti-me um saco cheio de ossos partidos. Não me conseguia levantar.

Deitei-te no chão, atei os braços e as pernas. construí a cena de um crime perfeito e bastava agora dar-te um tiro na cabeça.
Madalena seria acusada de triplo homicídio e ocultação de cadáver, pois Joana nunca mais seria encontrada. Em tribunal, as investigações revelariam que tudo tinha sido um acto de ciúmes, comprovados por emails e telefonemas trocados entre um homem e a patroa.
Enquanto me investigassem, Joana estaria escondida na minha cave, por pouco tempo obviamente, até poder mudar de país e a declarar como minha filha.
Fui buscar a tua funcionária e soltei-a. Estava assustada, vidrada no teu corpo nu coberto de sangue.
-- Estás bem? -- perguntou a amiga.
-- A Joana! Vai buscar a Joana!
Madalena olhou-me nos olhos e pisei-lhe a cabeça com a bota.
-- Ninguém vai a lado nenhum. -- proibi.

Adoro ouvir-te, ver-te e cheirar-te... [50]