sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Sorri, sê feliz, ama...


A tua mãe adora deixar-me sozinho contigo na cama enquanto me conquistas a atenção com livros enfeitados de personagens mágicas. Ela prepara o pequeno almoço para os três e eu invento uma história só para ti, cheia de vida, de risos e brincadeiras. És a minha ouvinte mais apaixonada. Deliciaste a olhar para mim, super atenta, sentindo a minha voz acarinhar-te os ouvidos, e as caretas preencherem a tua sede de imaginação e brincadeira.
Os desenhos enfeitam os livros mas tu enfeitiças as nossas vidas. Roubas-nos as energias só para te pudermos acompanhar e recarregas-nos com um simples sorriso. Adoro quando sorris. A beleza que exteriorizas da tua vontade de conhecer as coisas que te rodeiam. Ajuda-nos a ser crianças de novo. Pede-me só mais uma história. Pede-me só mais uma dança com a mãe. Tu adoras ver-nos dançar e eu adoro dançar com as duas únicas mulheres com quem me casei. Todos os dias és uma aventura de perguntas espontâneas e desinibidas. Todos os dias me obrigas a crescer, a aprender, a aceitar. Todos os dias deposito o meu coração no teu presente.
A tua mãe diz que deveria ter mais calma, mas sou incapaz de te deixar com perguntas por responder, com livros de histórias por contar, com brinquedos de viva própria por personificar. És o meu recreio.

Maria? Sorri. Sê feliz. Nós amamos-te!

Adoro ouvir-te, ver-te e cheirar-te... [39]


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Adoro ouvir-te, ver-te e cheirar-te... [38]

Acordei com a vibração do telemóvel na mesinha de cabeceira. A luz verde piscava intermitente sinalizava uma actualização. Era um email a confirmar que a minha encomenda tinha sido entregue, em mão, com sucesso. Bastava agora esperar.
Vi as horas, calculei o tempo e enquanto me dirigia à cozinha liguei o computador. Tinha 1 hora e com um pão seco, para enganar a fome, sentei-me em frente ao teclado hackeando-lhe o computador.
As pastas de imagens e vídeos encriptados abriam-se umas atrás das outras, levando o meu software de brute-force ao limite. Eu sabia que ias ser difícil. Imprimi IPs, emails, fotografias, contas bancárias, passwords, e preparava-me agora para lhe queimar o disco até que o dono do mesmo me bateu à porta. Chegou cedo.
-- Está aberta! -- gritei. Ouvi a maçaneta e os sapatos. Virei-me para ele. Estava nervoso, furioso com os olhos carregados de medo.
-- Onde arranjaste isto? -- perguntou-me com o envelope na mão. Limitei-me a sorrir. -- Achas que vou ceder às tuas ameaças?
-- Ameaças? Não, chantagem! Tu tens algo que eu quero e eu tenho algo que tu queres.
-- Dinheiro?
-- Não sejas tolo! Tenho provas suficientes para te incriminar e ainda conseguir alguns milhares de toda esta tua trapalhada.
-- Eu sei onde moras. O percurso que fazes para o trabalho e todo o teu horário pessoal...
-- Já somos dois! -- sorri felicitando-o. -- E eu tenho toda a tua vida nesta pen. Eu desapareço e em 24h esta informação é enviada para a policia judiciária mais próxima. Por tanto, vamos negociar! -- ele ficou vermelho de raiva. -- Devo dizer que quando solicitei os teus serviços de fantasias sexuais, nunca pensei descobrir o teu mundo sombrio. Mas a verdade é que adorei cada recanto da tua casa. Tu tens as fotos, já sabes o que descobri. Raparigas mortas? É preciso ser-se doente... Mas eu não sou muito diferente de ti. Não me falta a beleza, o charme, o dinheiro, a inteligência... mas falta-me algo que tu tens: Coragem para matar. Eu nunca matei ninguém. Tenho um gato e é a minha única família num raio de 200km. Para ser sincera, deu-me a volta ao estômago quando acedi ao teu computador, e encontrei o histórico para os sites de snuff que visitas, os vídeos que compras e filmas... deliciaram-me a mente como uma criança a pedir um gelado do lado de da vitrina. A adrenalina que me subia pelas veias, fazia-me sentir viva. Controlar alguém pela internet é uma coisa, mas fisicamente!? Como tu o fizeste em tua casa? Quero isso. Quero controlar as pessoas. Quero matar.
-- Não sabes o que dizes!
-- Achas que tens escolha? Eu tenho os teus tomates! Eu mando na tua vida! Tomaste a decisão no momento em que entraste por aquela porta. Ensina-me a matar e sou tua! Os meus conhecimentos, as minhas fantasias, a tua segurança, a tua fantasia, o meu corpo. -- olhou para mim pensativo, com vontade de me rasgar o pescoço do corpo. -- Eu conheço muito bem esse teu olhar... apaixonei-me por ti no momento em que me apertaste o pescoço. Fiquei louca por ti quando te voltei a ver no escritório. Ajuda-me a realizar as minhas fantasias mais horríveis e nojentas, e não te desiludo. -- fiquei-me a olhar para ele à espera de uma palavra. Ele que sempre tanto jeito. -- E então? Temos acordo, amor?

Ela levantou-se, caminhou em direcção a mim, e de braços por trás do meu pescoço beijou-me. Pela primeira vez em muitos anos, não sabia o que dizer ou fazer. Ela tinha-me na mão e controlava todos os meus movimentos. O que é que eu podia fazer? Matar? 


domingo, 16 de agosto de 2015

Tornaste-te no retrato de Dorian Grey...


Isto foi o que perdeste

Apaguei o teu número de telemóvel e removi a amizade que partilhávamos no facebook. Ocultei as fotos e os teus comentários.
Vou-te esquecer, mas não tenho a certeza de quanto tempo vai demorar. Achava capaz de enfrentar esta nova vida de "solteiro" de peito bem aberto para novas experiências, mesmo que ainda estivesse de luto, mas cada vez que via as tuas fotos, tiradas sempre com o teu telemóvel e com um jubilante sorriso estranho que sempre senti dizer: "Esta não é a pessoa que me completa. Ainda ando à procura." Lá no fundo, eu até via todos esses sinais de desamores, de desinteresse que tinhas por mim, mas preferia acreditar que me amavas e que eu tinha apenas uma imaginação fértil com queda para o negativismo de tudo o que me faz feliz.
A verdade é que não querias perder muito tempo comigo, a conhecer-me, como fazem as pessoas originais. Sim, tens razão consciente, eu próprio não me deixo conhecer às vezes, quando me isolo no desconforto do silêncio, ou quando o preconceito, a dúvida e a vergonha me dominam. Mas ofereci-te o meu coração, os meus sorrisos, os meus medos e partilhei o meu choro de baba e ranho. Eras linda, e continuas a ser, não tenho culpa de teres bons genes. Mas com o tempo tornaste-te no retrato de Dorian Grey: Cada vez que olho para as tuas fotos actualizadas, todo o teu brilho se perde e a beleza desaparece. Gostava de dizer para mim próprio que ainda posso falar contigo, desabafar, ouvir os teus concelhos, mas não me conheces. Nunca quiseste.
O que custa nas relações que tive, antes e de depois de tu apareceres, é o significado que têm para mim. São relações que me abanam, que me fazem duvidar de mim e de quem amo. São memórias agri-doces que ficam, que me acompanham e me recordam com azia ou felicidade aquilo que já senti ou tive ao meu lado.
Queres saber o melhor? Estou a crescer, tal como tu. Erro e aprendo. E cada erro é pregado no meu corpo para me recordar do que fiz e do que não devo voltar a fazer. Tu foste a minha tese, o meu estudo intensivo e exaustivo da descoberta de mim próprio que não sabia que podia sair da caverna ou sair do poço. Adorava poder não conhecer todas estas amarguras pelo qual me fizeste passar, mas sem essa dor, sem esse choro, sem esses erros... nunca deixaria que o luto de nós me devorasse como me devorou. Fui solteiro com uma depressão que ostentava a tua cara de sorriso estranho, manipulador e sociopata.
Pensa positivo: Causaste um forte impacto em mim. Foram sonhos, conversas, textos, filmes, assombrados por ti durante anos. Preferia dizer que me proporcionaste mais bons momentos do que maus, mas a realidade é que tu nunca os quiseste. Tal como eu, que adoro sentir o sofrimento e o choro, adoravas sentir a inveja e o ciúme consumirem-te por dentro, como uma chama que te efervescia os sentidos e os sentimentos. Recordando a relação, até acho incrível como conseguimos estar tanto tempo juntos. Devorávamo-nos um ao outro. Eu não tinha grande futuro na altura e tu hoje muito menos. Mas... Sou feliz. Sinto-me livre, leve, despreocupado, com tempo livre a mais e sem tempo algum para preocupações. Sou um puto, mas sou feliz. No meio de todo este meu circo de horrores, sou feliz. E isso... era algo que tu nunca me conseguirias dar, porque era eu quem exigia mais dos dois, em ir mais longe. Tu? Preferiste ficar parada e com o tempo tornares-te desinteressante.

Sabes o que és? Um broche mal feito.

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Este é o Alfredo...


Este é o Alfredo. Um cão de família que vive para os seus donos.
Num dia de calor, já no fim da Primavera, Alfredo saiu de casa com os seus dois amigos favoritos: Dois gémeos que vivem no seu próprio mundo, com a sua própria lingua e piadas que às vezes não fazem muito sentido.
De rabo a dar-a-dar, o Ovelhinha -- nome dado pelos irmãos -- parou para cheirar melhor um buraco na vedação do vizinho. Desconhecia tal cheiro. Pronto! Tinha o nariz estragado!
De dentro do buraco, assustando-o, surgiu um pequeno ratito muito senhor das suas piadas.
-- Ei! -- chamou a pequena bola de pêlo -- Parece que viste um rato! -- e desatou-se a rir.

Este era o Júlio; Um hamster bastante grande para a sua idade e dieta. Era o animal de estimação da filha do vizinho, a Francisca, cobiçada pelos dois irmãos, que admiravam a sua beleza sempre de longe pela vergonha.
-- O que és tu!? -- perguntou Alfredo intrigado com o tamanho da criatura engraçada.
-- Sou um hamster ora pois!
-- E o que é isso? É algo para brincar?
-- Não! -- assustou-se. -- Sou um rato. Um rato de estimação de marca cara!
-- Ahh... mas podes brincar não podes? Pareces pesado.
-- Pesado? Não! São apenas largo de ossos! -- assegurou-lhe Julio erguendo a barriga felpuda no ar, que a deixou cair de imediato, orgulhando-se das suas curvas e do seu peso.

[05/08/2015]

domingo, 2 de agosto de 2015

Até te vais burrar de medo!

[Scene from Urban Explorer]


Abre de novo a boca, e levas o outro olho inchado para casa da tua mãe. E se voltares a aparecer-me á frente, muda de passeio a menos que queiras ter um certificado de óbito inconclusivo.
Tornei-me no teu pior pesadelo. No cão de guerra a quem agitas a bandeira branca. Aqui vou eu, numa marcha suicida, apontada ao teu corpo enterrado no teu próprio desespero.
Cada vez que te olho, vejo o teu corpo tremer em arrepios de suores frios que te descem pela espinha. Aproxima-te e pode ser que tenhas sorte em sair vivo do nosso cruzamento. E quando fores para a cama à noite, é melhor vestires um segundo par de cuecas, não quero que sujes a cama cada vez que sonhares comigo.
Sim, eu sou o homem que te persegue! Eu sou o dilúvio do qual não podes fugir. Não sorrias, não tens motivos para isso! Enquanto eu existir não serás feliz! E cada vez que saíres casa, olha sempre por trás das costas! Porque te vou perseguir a vida toda de punhos fechados com vontade de te ver engasgar no teu próprio sangue!
Recorda a minha dor quando sentires os nós dos meus dedos esmagarem a máscara idiota que trazes contigo. Foi falta de amor e carinho? Não te preocupes, não apareci aqui para te educar. Não sou teu pai, sou o teu assassino! O teu psicopata pessoal, dedicado e fanático pela tua pessoa!
Colo-te às paredes do meu cérebro, numa teia de conspirações e acidentes do qual és vitima. Não tenho remorsos do meu inferno nem da faca que te degola a confiança, as palavras e te torna num gago cada vez que te olho nos olhos à distância de um grito depravado da minha existência. Sou o Alpha da matilha neurótica no qual te fechas.
Deves-te ter sentido tão sozinho, para abusares da minha fraca postura. Foste um pesadelo que se tornou num objectivo demente. Eu sou o final da história que começaste! Sou o teu fim!
Vou destruir tudo o que amas e encher a tua vida com a dor mais indiscritível que já sentiste! Fazer contigo o inimaginável e deixar-te pendurado pelo pescoço enquanto te vejo lutar na miséria do teu medo.
A minha vingança está a crescer, o teu tempo está a acabar e não te podes esconder! Vou-te apagar da história! Se queres viver, respira baixinho e não me voltes foder a cabeça!


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Lê-me, ouve-me, quando sentires a raiva controlar o teu corpo!