domingo, 16 de agosto de 2015

Tornaste-te no retrato de Dorian Grey...


Isto foi o que perdeste

Apaguei o teu número de telemóvel e removi a amizade que partilhávamos no facebook. Ocultei as fotos e os teus comentários.
Vou-te esquecer, mas não tenho a certeza de quanto tempo vai demorar. Achava capaz de enfrentar esta nova vida de "solteiro" de peito bem aberto para novas experiências, mesmo que ainda estivesse de luto, mas cada vez que via as tuas fotos, tiradas sempre com o teu telemóvel e com um jubilante sorriso estranho que sempre senti dizer: "Esta não é a pessoa que me completa. Ainda ando à procura." Lá no fundo, eu até via todos esses sinais de desamores, de desinteresse que tinhas por mim, mas preferia acreditar que me amavas e que eu tinha apenas uma imaginação fértil com queda para o negativismo de tudo o que me faz feliz.
A verdade é que não querias perder muito tempo comigo, a conhecer-me, como fazem as pessoas originais. Sim, tens razão consciente, eu próprio não me deixo conhecer às vezes, quando me isolo no desconforto do silêncio, ou quando o preconceito, a dúvida e a vergonha me dominam. Mas ofereci-te o meu coração, os meus sorrisos, os meus medos e partilhei o meu choro de baba e ranho. Eras linda, e continuas a ser, não tenho culpa de teres bons genes. Mas com o tempo tornaste-te no retrato de Dorian Grey: Cada vez que olho para as tuas fotos actualizadas, todo o teu brilho se perde e a beleza desaparece. Gostava de dizer para mim próprio que ainda posso falar contigo, desabafar, ouvir os teus concelhos, mas não me conheces. Nunca quiseste.
O que custa nas relações que tive, antes e de depois de tu apareceres, é o significado que têm para mim. São relações que me abanam, que me fazem duvidar de mim e de quem amo. São memórias agri-doces que ficam, que me acompanham e me recordam com azia ou felicidade aquilo que já senti ou tive ao meu lado.
Queres saber o melhor? Estou a crescer, tal como tu. Erro e aprendo. E cada erro é pregado no meu corpo para me recordar do que fiz e do que não devo voltar a fazer. Tu foste a minha tese, o meu estudo intensivo e exaustivo da descoberta de mim próprio que não sabia que podia sair da caverna ou sair do poço. Adorava poder não conhecer todas estas amarguras pelo qual me fizeste passar, mas sem essa dor, sem esse choro, sem esses erros... nunca deixaria que o luto de nós me devorasse como me devorou. Fui solteiro com uma depressão que ostentava a tua cara de sorriso estranho, manipulador e sociopata.
Pensa positivo: Causaste um forte impacto em mim. Foram sonhos, conversas, textos, filmes, assombrados por ti durante anos. Preferia dizer que me proporcionaste mais bons momentos do que maus, mas a realidade é que tu nunca os quiseste. Tal como eu, que adoro sentir o sofrimento e o choro, adoravas sentir a inveja e o ciúme consumirem-te por dentro, como uma chama que te efervescia os sentidos e os sentimentos. Recordando a relação, até acho incrível como conseguimos estar tanto tempo juntos. Devorávamo-nos um ao outro. Eu não tinha grande futuro na altura e tu hoje muito menos. Mas... Sou feliz. Sinto-me livre, leve, despreocupado, com tempo livre a mais e sem tempo algum para preocupações. Sou um puto, mas sou feliz. No meio de todo este meu circo de horrores, sou feliz. E isso... era algo que tu nunca me conseguirias dar, porque era eu quem exigia mais dos dois, em ir mais longe. Tu? Preferiste ficar parada e com o tempo tornares-te desinteressante.

Sabes o que és? Um broche mal feito.

Sem comentários:

Enviar um comentário