sexta-feira, 23 de julho de 2010

Quero sentar-me no jardim...



Este jardim, grande e pintado de verde, coberto de relva, onde as laranjeiras e alguns arbustos de amoras descansam os seus últimos dias.
Sento-me a um canto, cuidado pela minha avó, e regateado pelo meu avô.
Deixo-me ser tocada pelas flores, que me cheiram e se agarram ao cabelo.
Olho as nuvens, e imagino formas de animais.

Sinto o calor nos braços, e a sombra nas pernas.
Quero deitar-me, e imaginar-me no país das maravilhas.
Tocar no coelho, e fugir com um pote de bolachas.
Correr pelo jardim, e dançar ao som dos discos velhos da minha avó.
Saltar para dentro do tanque da roupa, e imaginar-me no oceano, rodeada de golfinhos.

Sorrir, e sentir o topo do mundo, sentir o frio e a distância de mim mesma.
Puder fugir de tudo, num despir, num nu verdadeiro, e sentir os meus pensamentos leves, como um céu azul vazio, e uma praia deserta de água límpida.

Quero descalçar os sapatos, e sentir a relva entre os dedos, atormentar as minhocas, e sujar-me de lama.
Sujar o chão de terra, e fugir do meu avô, que diz, numa voz engraçada: "-- vou-te comer!".
Deitar-me de barriga na relva, e amedrontar-me com as formigas, explorar a floresta velha de pinheiros, roubar as fagulhas secas das tocas dos coelhos e fazer um ninho para as andorinhas.

Quero pegar num livro poeirento.
Abri-lo e entrar no mundo mágico.
Ler cada palavra, e sentir-me em cada uma, ser transportada.
Correr até à ponte de madeira, e saltar para o lago.
Ver os cisnes nadar à minha volta, enquanto nua, me transformo numa ninfa, molhada em sorrisos, e no sentimento de férias.
No desejo ardente de comer bolachas, acalmo a respiração, mas não o coração, que pula desesperado por sentir as pernas correr em ardor.
Sentir falhar o ar no peito, e cantar.

Toco o sol, sento-me na raiz de um velha árvore.
Quero sentar-me no jardim, e sentir o vento forte, calorento e impertinente, despentear-me o cabelo.
Quero... sonhar.

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