sexta-feira, 9 de julho de 2010

Longe de mim mesma.


Deixa-me chorar. Colorir as paredes com sonhos negros, e sentimentos negativos.
Deixa-me rir da minha personagem sem vida.
Que me falte o ar, enquanto falo.

Deixa-me sozinha!
Não te quero ver. Não me toques, deixa-me socegada.
Tenho de fugir? Para me sentir bem?

Fujo de casa para ficar em paz, para que dês paz à minha mente.
Visto-me diferente, para que não me reconheçam.
Para que não falem comigo, enquanto caminho para aquele local estranho inexistente.

Salto a vedação, escapo das silvas, e arranho-me nos arbustos.
Toda a vez que aqui chego, e admiro esta casa, velha e pintada de ferrugem, o meu corpo parece não existir neste mundo, tudo o sentimento adquire o gosto por o fazer. Se o pesado era mau, agora torna-se num pesado bom, e ganho o gosto por pegar em algo pesado, em atira-lo com esforço para uma parede, e sentir medo por a estragar.

Sento-me então na borda de um chão partido, onde posso ver, lá em baixo, um corredor feito de pipas de vinho.
Era estranho estar ali, mas senti-me em paz de mim mesma. Estava longe, distante do mundo, do meu pensamento e das outras pessoas.
Podia sonhar acordada, podia imaginar as coisas ganharem vida.

Nos tempos de chuva, podia-me abrigar debaixo deste espaço, e sentir-me nostálgica, melancólica, com o som das gotas morrerem no chão, num grito inaudível, que mais se assemelhava a uma respiração.

Estarei a fazer bem a mim mesma?
Às pessoas que me rodeiam?
Afinal, de cada vez que aqui venho, torno-me mais confiante, mas também muito distante.
Muito eu, muito próprio, muito fechado, sem destino, numa sociedade que começo a desconhecer à medida que o tempo passa.
Cruzo comigo mesma, num tempo e espaço inserto, num universo paralelo estranhamente semelhante, e onde sou apenas mais uma. Sorridente, companheira, feliz.

Para onde foi o que sou? Para onde fugiu o meu sorriso, e o calor do meu corpo...
Será que existo, ou serei fruto da imaginação de alguém? O personagem de uma história.
Um sonho, uma visão de uma rapariga indecisa.

Mas eu quero existir! Quero saber que é real! Porque... tudo parece tão fútil fora deste sonho.
Tudo cresce, menos eu. Todos sentem... menos eu.
Estou tão longe de mim mesma. Pois todos me obrigaram a estar.
Estou longe de ser perfeita, pois valor, ninguém me à de dar...

2 comentários:

  1. É por isso que existem momentos em que se torna necessário partir para voltar a reencontrar.mo.nos a nos proprios. (:

    ResponderEliminar
  2. Eu olho para estes momento de "estar sozinho", como um "apanhar ar". De reflectir, descansar do stress, repor as ideias.

    Talvez lhe dês esse nome de "reencontro".
    Eu não, eu prefiro não chamar-lhe nada, e ver aquele momento como ele é. Uma frustração confusa.

    ResponderEliminar