sábado, 12 de junho de 2010

Um boneco de lã...





A menina,  irrequieta, que mexia em botões e linhas daquela loja, chegou-se perto, olhou para o topo de uma prateleira invadida pela desarrumação de linhas de cores escuras. E entre aquele amontoado de fios, pôde ver uma perna felpuda de algo.
Seria um boneco? perguntava-se a menina, que não media mais do que o próprio balcão ao seu lado.
Olhou para a mãe, e apontou para cima. Parecia muda, mas tentava falar. Pouco tempo depois, gritou baixinho. "-- BONECO!!".
A mãe olhou a estante, e baixou-se para pegar na pequena menina. Colocou-a em cima do balcão.

Deixou que por si própria, a filha conhecesse os seus limites, enfrentasse as vertigens, e se tornasse confiante em fazer e descobrir as coisas por ela próprio. Seria esse o mundo proporcionado pelos pais de uma menina, que trabalhavam a todo o vapor, como os comboios, para que cada explicação, represália ou recompensa, fosse algo mais do que o olho pudesse ver.

Enfiou então, as mãos no emaranhado de "cobras", até sentir algo mais do que uma simples perna macia.
Puxou, trazendo consigo o ninho do coelho de peluche. Sentou-se no balcão, contemplando o trabalho que teria em retirar aquelas fios de lã. Cada um que colocava de parte, desvendava a verdadeira forma do peluche. Mas tinha medo, que o tempo no fosse suficiente para descobrir as capacidades de tal boneco.
Sabia que o dia da mãe na loja estava a acabar.
À medida que o tempo passava, e o boneco se tornava menos num amontoado de fios de lã, a sua imaginação voava, criando aventuras. Reparou então, no fim, de que aquele coelho de peluche, estava magoado num braço. "-- Dói Dói!" -- disse para a sua mãe, que arrumava uns casacos feitos de algodão. Esta, retorquiu com um sorriso e dizendo: -- "faz-lhe um penso.".

A menina tocou no seu "algodão", e tentou fechar com um pouco de fio. Enrolou-o em volta do braço e deu um nó com laço. O seu pai tinha-a ensinado, quando lhe apertava as sapatilhas.
-- "Olha!" -- disse ela para  a mãe.
-- "Muito bem, curas-te a ferida ao boneco. Amanha já estará corado." -- e sorriu.

Sua mãe, fez-la descer do balcão, ainda com o peluche na mão, e levou-a para casa.
Naquela noite, adormeceu envolta daquele peluche meigo. A mãe, enquanto a pequenina dormia profundamente, levou o boneco para a sala, onde com o seu estojo de linhas e alfinetes, agulhas e dedal, cozeu de novo o braço, enrolou novamente a linha de lã, e colocou-o no sítio.

-- "Tira-lhe o penso, para ver se já está curado." -- pediu a mãe, fingindo estar intrigada com o resultado.
A filha, desenlaçou o nó, e a mãe esboçou um sorriso que ela não podia ver.
Foi então que, admirada, a menina se vira para a mãe e diz: -- "curado!"
A mãe finge-se impressionada. Baixando-se para a altura da filha diz: --"És uma boa enfermeira.", e beijou-a nos cabelos.

O boneco de lã... tinha vida.
Tinha principalmente, uma amiga.


Há peluches nesta cama, que me conhecem o nome...

2 comentários:

  1. gostei tanto *.* isto levou-me a quando era mesmo mesmo pequenina :$
    parabéns pelo texto, muito bem conseguido : )

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