quarta-feira, 9 de junho de 2010

À noite, na estação...




As luzes iluminavam os bancos de ferro. E podia ver uma estrela no canto do olho.
Podia ver as nuvens, e as estrelas com grande nitidez. E a lua, descansava sobre o telhado de uma casa.
Eram 11:57 pm, e apenas a brisa caminhava na rua.
O painel de informações actualizou-se, enquanto o via. Um comboio iria parar dali por 3 minutos.

O banco era-me familiar, e o seu frio gélido aconchegam-te.
Mais uma noite, a passear entre a calma que a natureza tem para oferecer, e entre os sonos daqueles que sonham.
A linha hipnotiza-me, e viajo para lá do traço amarelo, em pensamentos e sonhos, em desejos e vontades.
Em fantasias. Encontro-me num parque, onde a vejo passear, e daí, viajo novamente, sonhando com ela, beijando tenuemente os lábios, acariciando a cara e os cabelos. Encantando-nos com o perfume.
Volto então a mim, e sinto-me, presente. Este é o presente, isto é o aqui e agora!
Olho as mãos, e toco o mundo, o ar. Estou aqui! Este é o agora.
Terei sonhado? Terei estado a dormir? Terei viajado?

Será este o meu mundo? É aqui que pertenço?
Olho em volta, tentando capturar o tempo. Tentando perceber porque estou aqui, no agora.
Passo a mão pela cara, e volto a sentir-me de novo no agora. Volto a sentir cada parte do meu corpo ganhar consciência... Porque estou aqui? Eu? Porque choro quando imagino o infinito do universo? Quando me sinto pequeno? Porque choro em perguntar-me "porquê eu?... e não outra pessoa?"?
Sinto a mão tocar-me na perna, sinto um cheiro no ar. Vejo as sombras das folhas no chão, e as estrelas no canto do olho.
Sinto o comboio chegar... Ouço-o travar, e as portas abrirem-se em sintonia.
Lá dentro, vejo uma rapariga, olhando-o o mundo lá fora.
Olha-me, enquanto admiro o seu casaco felpudo vermelho, e os seus cabelos morenos, encaracolados, caírem-lhe graciosamente pelos ombros.

É então que me desligo de novo, entrando num transe de probabilidades e sonhos.

Levanto-me, e dirijo-me para o comboio, sentando-me em frente à rapariga...
Olho-a por mais um bocadinho, e ela desvia o olhar. As portas fecham-se e vejo-a partir devagar.

Olho o relógio, e de novo voltam a ser 11:57.
Sinto as mãos e a cara de novo. Sinto o frio e os dedos encolherem-se uns com os outros, numa tentativa de afastar o frio. Estou aqui. Isto é o agora. Terei viajado?

Ouço o comboio aproximar-se, vejo as luzes tornarem-se maiores, e o seu barulho ensurdecedor.
Não desacelera, e sinto um forte vento bater no meu casaco, à medida que aquele pendular fura o espaço-tempo. Recomponho-me, e volto a olhar as mãos.
Estou presente, mas não sou eu, funciono, mas não me controlo.
Serei eu?

O comboio para, e vejo de novo a menina de vermelho. Estarei a sonhar?
Estou confuso. É este o meu mundo?
Volto de novo à "realidade".
Ao olhar para ela, sou capturado pelos seus olhos, que brilham à luz dos candeeiros de rua.
E o momento assombra-me...
Deverei ir com ela, ou ficar no banco?
Deverei entrar? Ou ficar?
Um único momento que me pode mudar para sempre.
Serei eu? Este é o agora, e apenas um sonho me questiona.

Olho o relógio de novo, e vejo o dia: 22/6/2010.
Ouço alguém entrar-me no quarto e acordar-me, por andar à procura de uns CDs para gravar.
Ligo o computador, e a data volta a mudar, o tempo e o local.
Estou de novo na estação, olhando a rapariga chegar.
Vejo a data no computador, enquanto tomo consciência da "realidade". 9/6/2010.
A mente apanhada pelo sono, tenta compreender o que vê. Será isto o agora?

O dia chega, e vejo-a chegar. Estarei a sonhar?
Ela olha-me intrigada, e quando tenta então, sair, já é tarde. As portas fecham-se. E parte de novo.
No dia seguinte, o meu pensamento está naquela noite.
Grito a mim mesmo para acordar! Para entrar no comboio. A minha mente tenta, enquanto sinto a cama debaixo das minhas costas...

Acordo! São 11:57pm, e sinto as mãos. Sinto-me vivo. Mas será este o agora?
O pendular passa, e o vento, de novo me faz tremer.
00:00am, o comboio ilumina-se à medida que se aproxima.
Mas ela, não vai lá dentro... admiro então, em choro, a sua partida.
Levanto-me, para voltar a casa.
Ouço passos e olho para trás. O seu casaco era vermelho, e trazia um sorriso que me despedaçava o coração de tão cativante e caloroso que era.
-- "Ola." -- respondeu ela, um pouco corada.
-- "Ola... "-- respondo com grande alegria. Ela ri-se e chega-se mais perto. -- "Queres... caminhar um bocadinho?"
-- "Sim."
Aproximei o meu braço do dela, e ela entrelaçou o seu no meu. Com um sorriso, olha-mo-nos, e liga-mo-nos então assim, com o coração e a mente, um ao outro.

Mais tarde no parque, beijo tenuemente os seus lábios frágeis, acariciando a sua face, e os seus cabelos que se confundem com os meus. Sonho comigo, naquele comboio, dizendo a mim mesmo para esperar até ás 11:57. Digo a mim mesmo para esperar por ela...

O seu sorriso ilumina-me, e subo no comboio...
O presente por vezes, já foi um "à de ser".

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Inspirado na minha pessoa, através do filme: Mr. Nobody.
Acho que foi, em termos de estruturação da história e ideias, um dos melhores que já fiz.
Agora... pode é não estar bem escrito e ou perceptível.
Mas gostei bastante desta nova experiência, escrito ao "calhas", mas com um certo seguimento.

1 comentário:

  1. Adorei ^^ está muito giro mesmo...

    como um simples momento pode mudar a nossa vida inteira, quase que parece verdadeiro (:

    Beijinho**

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