quarta-feira, 5 de maio de 2010

A minha alma nasceu escrita... III


-- Porque de cada vez que te toco, eu fico jovem novamente. Fico recuperada, e com as forças de volta. Quase como uma pilha.
Para ela, um simples toque em mim, de toda a vez que me encontrava à entrada da porta de fumo, fazia-a encher-se de uma extrema beleza e juventude. Enquanto que os outros Eus, lhes simplesmente curavam um bocadinho do corpo grotesco, que crescia e se tornava a cada morte.
-- Digamos que tu, és a minha experiência. -- disse sorrindo.
-- Experiência? Para o quê?

Ela aproxima-se da minha cara, e muito séria responde:
-- Quero quebrar o ciclo.
-- Qual ciclo?
-- Isto! Quero ser capaz de entender como o fazes! Como te consegues sempre lembrar. Como é que só tu me consegues deixar assim. Quero-te tornar imbecil e ignorante como todas elas! -- grita, apontando abrangente-mente para o seu lado direito.
-- Porquê? Pensei que gostasses de mim assim. -- questiono, um bocado confuso.
-- Gosto, e acabas por ser o único com quem posso ter uma conversa normal e diferente de cada vez que para cá vens. Mas eu quero entender melhor como acontece a transformação. Quero puder conseguir olhar para ti, e saber o que vais dizer, como vais dizer, como te moves... Quero ser capaz de te ler.
-- Quantas vezes já vim parar aqui?
-- Tu? Milhares. -- responde -- "E mato-te sempre da mesma maneira"-- pensa ela.
-- Porque não aceitas as coisas?
-- Aceitar? -- pergunta ela furiosa. a sua cara vira vermelha, nervosa. E por fim, dá-me um forte está-lo na cara.
Na minha cara, a marca da sua mão começa a surgir, enquanto um ardor se prolonga durante minutos.
-- Aceitar? Tu sabes o que já fiz por ti? O que já passei? Eu deixei de matar, de me alimentar, só para ficar bonita para ti! Deixei de te matar, só porque não te conseguia ver sofrer nas minhas mãos. Passei a ser doce... demasiado carinhosa! Sempre à espera que mudasses um dia! Sempre à espera de ouvir pelo menos uma vez, a mesma resposta, como fazem todas as outras pessoas! Eu queria fugir daqui, morrer ou desaparecer, como aconteceu contigo... é isso que me custa! Eu queria ir contigo. Mas sei que nunca te encontraria. Teria medo em não te reconhecer. Pelo menos, estando aqui, sei que sempre te verei. Quero compreender como acontece, e compreender este mundo.
-- E é matando-me que o consegues?
-- Sim, tenho esperança nisso. Sabes? Descobri-mos, a partir dos teus outros Tu, que ao decapitar-vos, estamos a apagar-vos grande parte da memória cerebral. Não é apenas o cérebro que guarda informação. Os músculos das tuas pernas, dos teu braços, dos dedos, os órgãos... Mas o cérebro acaba sempre por resistir à nossa "violação". Estamos a treinar novos métodos. E já que, a nossa idêntificação genética não nos permite saltar convosco, nós matamos. Tu vais-nos ajudar a dominar o univerço Pai!
-- Eu?
-- Sim. Com a informação que recolhemos dos vários povos, e com a quantidade de material que adquirimos por cada morte, conseguimos transformar e criar o que quer que seja. E tu! Vais-nos ajudar a sair daqui!
-- Mas porque é que haveriam de crer sair?
-- Queremos caçar! Não que nos apareçam nas mãos. Deixa de ter piada. Além disso, conseguiremos saltar de universo em universo. E poderei finalmente caçar-te! E amar-te.
-- E quem me dará depois a mão? -- ela olha para mim pensativa. -- Eu acho que estás aqui por uma razão.
-- Não acredito em superstições!
-- Bem, tu é que és o monstro. -- respondo, olhando os 3 "guardas" atrás de mim.
Ela fita-os, lembrando-se na figura em que se torna de cada vez que mata.

-- Jahani vu. -- disse ela para os 3 monstros. Fizeram uma pequena vénia com a cabeça, e saíram pela porta de fumo, que se formou um pouco mais à frente.
-- És a rainha?
-- Sou. -- respondeu admirando a porta de fumo desaparecer. Olha para mim e continua:
-- E irei continuar a ser, até tu me dares uma filha! Os rapazes destroem tudo! são corruptos! Ladrões.
-- Eu tenho um filho?
-- Não! tens centenas deles! Ou tinhas, mas eu matei-os todos.
Mal ela sabia, de que os verdadeiros filhos, eram na verdade os meus Eus.
Ela começara-se agora a lembrar de algo, à medida que associa o numero crescente de Eus à quantidade de filhos que vai matando. É então que ela leva a mão à faca...

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