terça-feira, 23 de março de 2010

Odeio o meu corpo...


Os demónios do meu corpo brotam dentro de mim.
As suas garras cravam-me a carne,
Rasgam-me os órgãos, e desfazem músculos...
Os comprimidos anulam-me a mente.

Fritam-me as injecções,
Transforma-me a música.
Cortes tatuam-me o corpo magrito.
A comida vomitada, atravessam-me os dedos na boca.
E a minha energia baixa novamente.
O açúcar electrifica-me, apenas por momentos...
Encho o meu corpo de beliscões, apenas para me sentir viva...

Vergo-me perante ele,
Grito dentro do quarto dele.
Penetra-me, e paga-me!
-- Puta! Eu disse para engolires!
A minha mente viaja, e o dinheiro alimenta-me o corpo, ainda que por momentos.

Os flash das câmaras na passerele iluminam-me os meus lindos olhos... acho eu.
Visto-me de princesa, enquanto homens se babam para o meu corpo, pálido e ossudo.
Os castelos e os príncipes vão-se formando na cabeça, á medida que o tempo passa, entre vestidos, penteados e maquilhagem.
Lá fora, comerei um bom petisco, num bom restaurante, que me saciará a fome, por algumas horas.

Tão gorda estou naquele espelho!
Tão feia naquele vestido...
E com choros e vómitos,
A maquilhagem espalha-se pela cara, escorrendo para o meu corpo, pintado-me os seios deformados que tendo em enfaixar.

-- Não quero mais! Odeio essa carne!
-- Come filha, ainda não comes-te nada o dia todo! E tu Paulo? Não comes?
-- Não tenho fome.

É uma doença que se espalha...
É uma regra que me domina.
É um sabor amargo que me queima a língua a cada trinca.
A falta de força cança-me os músculos.
É uma ordem, que teimo em seguir.

Não autorizo o tamanho colossal que a minha barriga atinge, sempre que como uma bolacha!
Para mim, é um dever cuidar do meu corpo desproporcionado e gordo!

Odeio-me!

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Rapariga com Bulimia e Anorexia.
Vende o corpo para arranjar dinheiro, e anda numa passarele para juntar mais algum.
O seu corpo é regido pela sua mente, enquanto o seu cérebro lhe grita para comer e manter no corpo.

A imagem, para além de eu achar ser muito boa, tem também um sentimento que é o de ela vomitar tudo o que à de bonito dentro dela. Ainda que por fora se possa achar feia, por dentro será como o arco-íris.

2 comentários:

  1. As palavras são, são uma força que não se ouve, mas que se sente. :)
    A beleza, já uma amiga dizia:
    "Lindo é aquele que não se preocupa se está ou não bonito." É lindo quem acredita e gosta do que vê em si. :D

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  2. Há que gostar de nós próprios, para que os outros gostem também :)

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