quinta-feira, 25 de março de 2010

Cruz feita de ossos


Vem...
Aproxima-te...
Abre-me o peito! Rasga-me-o com as tuas mãos putridas, expelindo muco negro tão espesso como o ranho.
Abre a boca, tão grande como a de um crocodilo, e come-me, com esses teus dentes podres, tortos e afiados, que cravas na carne, nos meus órgãos...
Cobre-me com a tua capa, domina-me os pensamentos, e ameaça-me com a tua foice, para que pare de gritar.
Viola-me a alma no inferno,
Ri-te de mim, nu, enjaulado na tua mente perturbada.

Pisa-me a campa, cospe-me na cara, e atira com merda para o meu caixão.
Trás contigo os abutres, arrasta através das correntes, as carcaças dos meus animais...
Enfia em vidro, os meus pensamentos, e deixa-me a solidão e o sofrimento...
Deixa-me só, no oceano de gritos e labaredas.

Transforma-me em pó...
Engole-o, e vomita.
Arranca de mim, os olhos que não pecam...

Arranca-me, é dentada, dos lábios as palavras..
Desliga-me os gritos da garganta..
Corta-me o ar do peito...
Afoga-me em números, em nomes, em datas... que escreves na tua lista.

Caminha sobre o meu túmulo.
Sussurra-me em corvo,
Desmonta-me em ossos, e enfia-os dentro do saco que trazes no ombro...

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