sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Raizes de cabelos arrancados...


Ajoelhada, a um canto de um quarto vazio...
Chorando em seco, as paredes arranjadas.
Chorando, a cama de pedra, um chão frio.

Cabelos compridos, que me tapam a cara, e desfocam a visão.
Molhados pelo duche frio contra uma parede de tijolos brancos e sujos.
Cabelos, enraizados na escuridão de um quarto indesejado, mas aconchegam-te.

Dores, e hematomas, que se espalham como riscas de uma zebra, neste corpo pálido, pela falta do sol.
Pés, que se engelham ao frio do chão liso.

Sinto-me acorrentada, presa, sem ar... neste quarto que não me pertence.
Sem janelas para que possa sonhar dias livres.
Sem luz, que me ilumine ideias ou os sentimentos que perco nas lutas, contra estas paredes.
Quer perco... em murros, em gritos e pontapés.

Sem espaço, para que a minha alma se possa esticar...
Sem espaço, para que me possa deitar...

E eu grito!
E rasgo de vez a minha voz, num sofrimento e raiva, que se aprisionam comigo neste quarto que me provoca.
Enraizado em murmúrios e queixumes, em choros e melancolias, que me acorrentam ao cimento negro.

Não vejo a sombra, nem sonho com o sol...
Venero... o silêncio.
A escuridão, a fraca força que ainda me consegue fazer levantar...

Os olhos dele... assombram-me de noite.
Ofegante fica o peito...
Sinto afogarem-me, em água gelada que me corta os olhos, e me molha o corpo nu.
Atirando-me de novo, contra as paredes deste quarto que não me pertence, e que começo a aceitar como sendo a minha casa...

Monstros... visitam-me a cama, trazendo com eles as bestas do inferno, que me gritam e violam a alma.
Enjaulada por ser diferente... por ver razão nos números, e falar para um amigo imaginário.

Os meus ossos "partem-se", entre puxões e estalos.
A criança... já não brinca, não vê, e ouve vozes.
Atada pelo pescoço, de punhos serrados, e garganta degolada pelos abusos que me provocam as paredes.
Vómitos de sofrimento, que pintam em cheiro, e não em cor, as paredes deste quarto que renego.

Sonhos, sem cor, sem caras, sem paixão.
Dor, e um círculo que me fecha.
Que me aperta os braços contra os peitos, e que me arranca o ar dos pulmões frágeis.
E num colete de forças, acabo por vezes. Desejando o meu quarto frio, negro e vomitado.

Um casulo de emoções, que se negam em mostrar.
Um posso fundo, coberto de lama, e ramos que ao meu corpo causam medos e fobias.

E as dores de cabeça constantes, que provoco pelas paredes, cospem-me de dores que nego em ter.
Nós dos dedos, que se incham e abrem em ferida, pela força violenta em que bato nestas paredes.

Nojenta, me vou sentindo, nestas noites longas que parecem anos.
Mas os anos... esses simbolizam apenas 15 minutos do meu tempo.

E de tudo o que este quarto repudiam-te me rasga de mim, apenas a minha voz se mantêm...

Não sonho, não desejo, não imagino...
Viola-me de novo, e poderei sentir o sol, já que o meu corpo se esqueceu de como é ver...
Bate-me de novo, atira-me contra estas paredes, para que possa sentir novamente, a solidão de um ser desaparecer.

Ata-me à cama, para que possa saborear o seu conforto...
Afoga-me no teu banho, para que me aqueças... este corpo torturado.

Confusa...
Que me deixes viver, neste mundo de preto, enquanto me apago...
Degola-me, bate-me, cospe-me para cima!

Da minha vida não guardo recordações, nem dias, nem amores, ou amizades...
Tortura-me... e esfrega-me deste mundo que não vejo.
Corta-me...

Este preto, no meu sol se torna agora... e num monstro em mim transforma.
Devora-me, em marteladas e bofetadas...

Aprisionados ficam os meus gritos, que se tornam parte destas paredes... apertando-me a cada dia...

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Talvez seja um bocado... "depressivo". Não sei... =/
Baseei-me na Samara, que é um personagem nos filmes "The Ring".
Adorei a sua figura, a sua mente, a sua dor, o ódio, a sua... solidão.
A sua figura negra no primeiro filme, ajudou-me a concentrar-me mais, neste... pedaço de escrita.
Ouvi dizer que ia sair o 3º filme.

Este tipo de sofrimento sempre me fascinaram.
Mas, nunca tendo passado por tal experiência, filmes e imaginação, dor e sofrimento ajudaram-me um pouco. :)

Quis escrever algo, depressivo, psicologicamente chocante e violento.
Já que adoro imaginar este tipo de situações, e violações, este texto segue um bocadinho ao post: Fantasy? Rape and Kill!

Explicando:
Este "texto", fala sobre uma menina confusa, presa num quarto já há vários anos.
Que deixou de saber se está num hospício, ou se foi raptada.
A mente começa a entrar em colapso, e deseja agora estar com quem a mantém em "cativeiro", para puder voltar a sentir-se "viva".
O resto, fica ao critério da vossa imaginação. ;)

Filmes que destaco:
"Let The Right One In" - 2008
"The Broken" - 2009
"Mary and Max" - 2009
"Case 39" - 2009

"Brightstar" - 2009
"City Island" - 2009

Depois de um texto destes, não admira que as pessoas digam que eu não me riu! :|

2 comentários:

  1. gostei muito da tua escrita, sem dúvida que ou seguir.

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  2. rejeita este comentário- pequenas gralhas que encontrei ao longo do texto:

    "E rasgo de vês a minha voz" - neste caso, a forma correcta deveria ter "vez" no lugar de "vês". (esta é do verbo ver)

    "Noz dos dedos" - neste caso, a forma correcta teria "nós" no lugar de "noz". (esta é um fruto)

    "num quarto já a vários anos" - aqui, a forma correcta teria "há" no lugar de "a".

    (;

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