domingo, 28 de fevereiro de 2010

O choro da minha morte...


Nua, encapuçada...
Num sitio húmido e silencioso.
Sinto-o pelo cheiro das paredes, do chão, e pelos pingos que me percorrem desde o alto da cabeça.

Sinto uma corrente grossa apertar-me o pescoço, e as minhas mãos suportar todo o peso do meu ser.
Os pulsos deslocam-se dos ossos lentamente, e a corrente corta-me a pele, aperta-me a cada esforço e movimento para me soltar.

Quero urinar, mas aquela situação impede-me.
O desconforto acumula-se, e o frio percorre-me o corpo como uma chama.
Uma corrente de ar atravessa-me o corpo, fazendo-me tremer tanto, que ambos os pulsos ficaram agora mais rasgados. As dores começam-me a dar enjoos.

Os pingos percorrem-me o corpo, provocando arrepios.
Arranhando-me, marcando, como ferro em brasa.
Sinto os dedos dormentes, frios.

Sinto-o aproximar-me.
Dá-me um está-lo na cara, e cospe-me.
Ri, enquanto o meu cérebro tenta saber de quem é o riso tão... característico.
Tirou-me o capuz da cabeça, arrancando cabelos. E pude ver os olhos daquela figura durante breves segundos, antes de fechar os olhos com a agonia daquele forte puxão.
Deixei lágrimas escorrerem-me pela cara marcada pela estalada.
Sentia-as, arrefecerem-me aquela queimadura tão profunda.

Quando acordei, toda a minha alma se arrepiou.
Todo o meu corpo tremeu, todo o meu ser exposto se repudiou ao ver aquela figura.
Era alguém, que à uns tempos atrás, me daria do seu carinho, me daria flores, e me levava a paraísos verdes, tocados pelo céu, cantados... pelo som do mundo.
-- Gonçalo? -- perguntei assustada.
-- Sim? -- respondeu ele muito sorridente, com um grande sarcasmo naquelas palavras e voz, que considerei meigas.
-- O que estás a fazer? -- perguntei sem pensar. Óbvio que sabia o que se passava, e talvez o porquê de ele me fazer aquilo.
Agarrou pelo pescoço, apertou-o com força e "levantou-me" pelo pescoço, respondendo com uma cara vermelha e de ódio profundo para comigo.
-- O que estou a fazer? O QUE ESTOU A FAZER?! Andas-me com aquele monte de merda! Aquele parvo e burro do teu vizinho, ou amigo ou lá o que é! E ainda tens a lata de me vir dizer que não andas com ele?
Achas que eu não tenho olhos? HÃ? Achas que sou ESTÚPIDO??!
-- Estás-me a magoar Gonçalo... para. -- respondi, enquanto as suas unhas se cravavam a cada palavra de raiva.
-- Ai estou? Ainda bem! Porque tenciono matar-me o mais depressa possível! CABRA!!

Largou-me, e senti de novo, o peso do meu corpo nos pulsos, e os meus dedos contorcerem-se.
Com as lágrimas a correrem-me pelo rosto, aos olhos dele, eu era como um filme de pornografia.
Podia-o "sentir" ter prazer com o meu corpo nu, marcado e com a minha cara vermelha e cheia de lágrimas.
-- Vou-te foder toda! -- disse sorrindo, enquanto me segurava pelo queixo.

Desapertou as calças, e enquanto se despedia um pouco mais da cintura para baixo, tentei dar-lhe um ponta pé naquele sitio que conhecera durante meses e anos. Mas nada no meu corpo reagia... Parecia um cadáver pendurado, como gado, à espera de ser esfolado.
Começou por mo enfiar todo, de repente, enquanto tentava desesperadamente fechar-me.
Forçando a entrar e a sair, enquanto se agarrava ao meu corpo.
Sentia-me enojada, traída, e dali a quase 1 hora, violada...

Estava agora no chão, violada, arranhada, marcada... enquanto me tentava manter acordada.
Lembrava-me, dos dias íntimos, das nossas carícias, do prazer e das conversas antes, durante e depois.
Lembrava-me... das palavras que o faziam corar, ou ficar louco.

Chegou-se perto de mim, depois de ter ido lá acima.
Eu sabia agora onde estava. Na cave. Onde tinha-mos tido a primeira relação sexual, e quando esse pensamento me passou pela cabeça, tremi de medo, sentindo toda a minha dignidade violada e rasgada de tamanha força feita por ambos.

Agarrou-me pelos cabelos, para me tentar ver a cara. Deu-me um murro sem sentido, que me partiu o nariz em 3 sítios. Encheu de pontapés o meu corpo. Fracturou-me 2 costelas, e deslocou-me o joelho, depois de um salto e de todo o seu peso me cair em cima.
A agonia percorreu-me o corpo. Cada toque seu, me parecia queimar.

Enfaixou-me o pescoço, e amarrou-me por ele à tábua que me pendurava antes.
Elevando-me, engasgava, e toda a minha traqueia, saía do sitio.
Pegou numa faca que tinha trazido para baixo, e passou-a pela minha cara...
Pousou-a, em cima da bancada de ferramentas, e ligou a moto-serra do pai.
Aproximou-se, e ligou a corrente, fazendo girar toda aquela corrente cheia de serradura. Disparando por todo o lado, picando-me o corpo, e empoeirando os meus olhos.

Aproximou-se mais, rindo-se descontrolada-mente, e deixando ligada a corrente, assustou-me, passando as lâminas a centímetros do meu corpo nu.
Vomitei-me toda, por cima dele, e do plástico semitransparente que esticou por baixo dos meus pés.
O meu corpo coberto por todo aquele vómito, que me aquecia o corpo...
Mijei-me também pelas pernas, e burrei-me toda. O cheiro impestava o local que assistia à violência em silêncio.

A merda caía-me pelas pernas, e o chichi escorria como um rio, que teimava em não terminar.
Todo o meu cérebro entrou em colapso, os meus olhos reviraram, e a minha cara, transformava-se numa criatura horrenda. Veio o choro, a cara vermelha, e os chicotes ao corpo, para me tentar libertar.
Deu-me uma estalada, e subiu...
Chorando descontroladamente, consegui partir o barrote, vesti algo improvisado, enquanto calcava toda aquela merda, vómito e mijo, que me provocavam enjoos, e me faziam estremecer a cada imagem que me passava pela cabeça, daquele movimento repentino feito pela moto-serra.

Tentei sair de casa sem que ele se apercebesse, e assim que consegui escapar, começara a minha morte.
O medo persegue-me por todo o lado, apesar de saber de que ele não volta a sair da cadeia.
O seu espírito amedronta-me à noite. Os rapazes metem-me medo, e nem pensar em olha-los quando passam por mim na rua, ainda que vá acompanhada pelos meus pais, que me tentam manter sociável.

Primos e tios mais novos, conversam comigo, enquanto me encho de medo.
Uma menina de 18 anos não deveria ter medo deste tipo de coisas... não acham?
As carícias do meu pai fazem-me lembrar o Gonçalo.
Todos os dias... quando choro, aquele dia reaparece, queimando-me.

Todos os dias... o choro leva-me à morte.

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Para ser ouvido ao som de: Sociopath - In The Name Of Marquis De Sade (2009)
http://www.mediafire.com/download.php?wyt0hqj1zmh
ou
http://www.mediafire.com/download.php?thwmzz2ymnk
ou
http://www.mediafire.com/download.php?mntk5tyyhzo

Outro texto. (não foi escrito por mim)
Kill me - http://solitarychild.deviantart.com/art/Kill-me-78515673

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