terça-feira, 15 de maio de 2012

Tenho vergonha...

[Eu]
04-03-2011

Tenho vergonha... da pessoa que vejo no espelho.
Não é vergonha do que vejo, nem da pessoa que ela é, é por não a conhecer, por não a reconhecer.
Sinto a vergonha natural que normalmente sinto diante das outras pessoas...
Tenho portanto, vergonha de mim mesmo...

Olho-me ao espelho. Sei que sou eu, compreendo que aquela é a minha figura, mas o meu cérebro não a reconhece, não aquela cara, que tanta vez olho para ajeitar o cabelo ou limpar a cara.
Não me conheço. Não me lembro das caras que faço, desconheço o tom verdadeiro da minha voz e até o meu próprio olhar. Sou alguém que age sobre um corpo, que o comanda. Não me vejo nem me imagino fora dele. Não exteriorizo as minhas expressões.

Se tivesse de descrever o que sou/como sou no exterior, diria que é um mistério até para mim. Sou apático, apático de emoções mas não na presença. Acho, pelo menos sinto, que seja qual for o meu estado de espírito, consigo criar um ambiente, um fosso de olhares. Não só pelo cabelo, ou pelas roupas, ou pela postura... talvez pelo olhar. Pela maneira de caminhar para as coisas.
Não é algo que faça voluntariamente, tenho consciência de que atraiu alguns olhares, muitos deles que ficam pávidos e de nariz torcido porque não compreendem o que vêem.
Sou um mistério até para mim. Bem... sinceramente, dou muito pouca atenção ao que sou por fora. A mente trabalha cá dentro não lá fora. Eu trato da parte física, de me tentar vestir bem e estar arranjado, o meu Eu, a minha mente, trata de aprender e de ver o que mais ninguém vê. E a ela... deixo-a navegar livremente pelos mares da minha curiosidade.

Naquele espelho que me olho todos os dias... apenas olho, não vejo. Pareço desaparecer, desfocar. Não tenho valor aos meus próprios olhos. Não dou importância à pessoa do outro lado que me observa em mímica. Assim parece. Não aponto defeitos ao que vejo, não torço o nariz nem critico, não racionalizo muito sobre que tipo de pessoa pode ser. Sou uma imagem num espelho...

Sorrio, e do outro lado vejo o mais cativante e cómico dos personagens, uma pessoa feliz.
O meu olhar deixa "sério" desvanece, para passar a ser um olhar de felicidade espelhada, de fascínio por tal cara, por tal sorriso, pela pessoa que sei que Ela é. (eu) É quase como um amigo. Não preciso de lhe dizer nada pois sabe sempre como me sinto. Parece estar apenas aqui... ao meu lado no banco. Não diz nada a não ser que seja estritamente necessário. É calado, muito confiante e maduro. Não atura parvoíces e fala sempre de forma inteligente.
A imagem reflectida no espelho, não é a que desenho cada vez que converso comigo, não é a pessoa nem a cara que imagino. A minha pessoa não tem cara, tem apenas uma voz. É o Paulo que eu sou de uma forma que invejo. Sou aquela pessoa que imagino e não sei...

Eu não tenho vergonha daquilo que sou, daquilo que vejo ao espelho, naquilo que me tornei, naquilo que vivi, nos erros que cometi. A vergonha que eu sinto quando me olho ao espelho, é a mesma quando era pequenino, e olhava para aquelas pessoas grandes, ou quando começo a conversar com alguém que sabe mais do que eu. É um sentimento de pequenês, de respeito, de medo. Vergonha pelo fascínio.

Para quê amigos? Para quê tantos amigos? São tão fanáticos os que conheci, tornaram-se tão fanáticos, que a única coisa que iriam fazer era "destruir-me".
Foram e são pessoas que pararam no tempo, não é uma "especialização", é fanatismo. Não é "cultura geral" é um ciclo infinito de emoções, de falsas emoções, que não criam nem educam o indivíduo, apenas o fazem parar. Parar no tempo. Da sua educação, da sua aprendizagem.
Eu olho para mim, como um rapaz sem fanatismos, que cresce, que não para no tempo, que não se agarra a algo, a uma figura, a um filme, a uma música, apenas ao amor que EU tenho pela outra pessoa. Aos meus sonhos. Um sonho de vida, de realização.

Li no livro "Mulheres Inteligentes Relações Saudáveis" (pag. 97) esta frase muito inteligente:
"Uma pessoa madura é capaz não apenas de elogiar quem ama, mas todas as pessoas que de alguma forma a servem. Quem não é capaz de elogiar porteiros, cozinheiros, empregados de mesa e de limpeza não é digno de ser servido por eles. [...] há pessoas tão pobres que só têm dinheiro; há pessoas tão incultas que só têm cultura académica." de Augusto Cury.

Aquilo que compreendo desta frase, deste texto, é que a pessoa pode ser muito rica (dinheiro/saúde/amigos) mas não saber amar, não dar afecto, nem demonstrar carinho. Uma pessoa a esse nível, é tão inculta que a única coisa que tem é cultura académica. É um curso universitário, é a maquinização da sua pessoa, e não a criação da sua identidade e das suas emoções.
Acham-se tão ou mais inteligentes, tão socialmente acima de todos, com a sua suposta cultura geral, que não a têm, nem são mais nada do que aquilo que adquirem/adquiriram na universidade. Porque é aí que uma pessoa cresce com rapidez. Onde existe diversidade de personalidades, mas onde a estatística pode ser utilizada com grande sucesso.
Existem várias maneiras de crescer. Existe a maneira de crescer conscientemente, e outra socialmente. Porque quem "acha" que tem tudo, não tem a maturidade cerebral para compreender que nem tudo é comprado com palavras, dinheiro, ou um forte abraço, com amizades e interacção com uma várias pessoas. Existem coisas que nem as palavras valorizam ou transformam. Saber ser-se e agir, saber "re-escrever" a nossa história e ajudar a dos outros, é muito mais importante do que ser-se capaz de poder ter tudo sem esforço algum.
Quanto mais sei, mais racional me torno, mais curioso o mundo se torna. Mais compreendo que as relações têm muito para ensinar, principalmente as que acabam. Que um amigo ou um bom livro nos ajudam a compreender, a saber sentir e reconhecer a nossa dor, a admitir os nossos erros e fracassos, mas também a valorizar o que fomos e somos.
Porque olhar não é a mesma coisa que ver. E mesmo que tudo fique mais claro, como água de cristal, quando uma relação acaba, não pensar na mesma, é o erro mais grave. Não falar nem desabafar sobre os sucessos e sobre os erros, sobre as angustias e as atitudes parvas, não fazem crescer ninguém. Não se consciencializa-se. Não se abre os olhos para o que podia-mos ou não devias ter feito. E a pessoa continua inalterável durante anos. Isso não é saber aceitar, não é querer esquecer, é não saber ser-se.

Tenho vergonha... da pessoa que vejo no espelho, da pessoa que sei que fui em tempos, daquilo que fiz e disse. Tenho vergonha do Eu que parece estar sempre um passo à frente da minha consciência, da minha maturidade pessoal. Tenho vergonha, sinto-me pequenino e fascinado. Tenho orgulho das escolhas que fiz, por muito más que tenham sido, pois não estaria aqui.
Seria incapaz de ver o mundo com este olhar peculiar. 
Seria incapaz de o sentir e aprender.

Aprender a crescer, é a parte mais difícil das nossas vidas. Saber crescer é tão importante como educar um filho. E nem todos crescem. Julgam que crescem... mas apenas aprendem outra maneira de manipular a sua mente. Aprendem uma maneira diferente de serem sem nunca assimilarem, sem nunca consciencializar e amadurecer a sua história cerebral. São uma cópia rasca das falsas emoções e das modas.

Se eu souber dar valor a mim mesmo, se eu aprender a crescer e souber crescer, serei capaz de dar aos meus filhos uma educação que eu próprio invejo. E não tenho medo de o dizer apesar de a nunca ter dado. É preciso ter-se paixão pelos nossos sonhos, pela nossa namorada, mulher, esposa, amiga. Por aqueles que nos irão acompanhar até à nossa ultima caminhada.

Amar e viver com a pessoa que vejo ao espelho, por muitas criticas pejorativas que ouça sobre mim, é o passo mais importante para criar uma relação estável e confiante com a minha cara metade.
Saber-mos amarmos-nos sem culpar os outros, permite criar relações vivas, verdadeiras, rodeadas de amor e carinho, ao invés dos cancros, das zangas, das culpas que o outro parece ter sobre a nossa pessoa, ou nós sobre a outra.
Saber colocarmos-nos na posição da outra pessoa, de a tentar compreender, de a aceitar, e trocar estes pequenos cancros que atiramos à cara, por elogios, surpresas, carinhos, palavras de reconforto, um desabafo ou até mesmo um choro... abrem a mente, criam experiências e novas emoções à volta de nós mesmos, que ligam, que fazem interagir, que nos fazem abrir e explorar o outro.


É preciso saber amar a pessoa que vemos ao espelho, antes de amar quem quer que seja.
E eu acrescento: É preciso saber e aprender a crescer, antes de se juntar a quem quer que seja.

Tive uma namorada que dizia que se achava feia, gorda e que às portas da velhice a ia trocar por raparigas mais novas; e apoiava-se no facto de eu ver pornografia e de gostar de ver a roupa de outras raparigas como a causa para esses pensamentos e sentimentos.
Uma pessoa que não confia em si própria a este nível, tem dificuldade em saber e aprender a crescer. Tem dificuldade em amar e transmitir carinho. Não tem maturidade nem consciência das partidas que a sua mente traumatizada e ciumenta lhe pode causar. As emoções são um palco louco que podem causar e criar problemas tanto à própria pessoa como as que a rodeiam. Tudo é razão para ciumes, para uma zanga. Quando o mais importante é confiar na pessoa que tem ao lado, dentro dos limites racionais que uma relação deve ter.


Quando me perguntavas de 1 a 10 quanto é que gostei, das várias vezes que perguntas-te, daquilo que me fazias, devia-te ter respondido que adorava cada uma delas da mesma maneira. Que dava valor a tudo o que me davas; e estar a atribuir um valor a algo "feito com amor", seria perder o carinho, o respeito e a ternura que sentia por ti, por tudo o que me fazias, e fazias sentir.
Era o que eu devia ter respondido, mas na altura eu era tão tonto como tu.
Querer mecanizar algo que não é mecanizavel, mas louco e incompreensível, é como tirar o prazer de um saborosa tarte de maçã.
É preciso haver comunicação, mas é preciso ter atenção ao tipo de perguntas que fazem um ao outro. Atribuir um valor ou reprimir/rebaixar por algo mesquinho, é infantil e nada saudável. Às vezes faz-nos bem, alivia a frustração e o stress, mas pode criar atritos numa relação que pode já não ser bonita.


Tenho vergonha... porque me sinto pequeno à minha própria imagem.

Adoro o meu sorriso.

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