quarta-feira, 16 de setembro de 2009

O Perfume da Alma...


[Deviantart Picture: :JARI GOTH 42: by ~DarkBeCky-StOcK]

Olho-te ao longe, sentada num banco do jardim, junto ao rio.
Vestida de preto, com os teus cabelos loiros que esvoaçam no vento.

Tinhas vestido algo, muito requintado, sedoso, e suave, muito aristocrata, de várias camadas.
A saia... escondia todo o teu eu, do mundo exterior, o que te permitia correr e saltitar por entre cada pensamento, desejo, criação... sem temer.

Desenhavas algo num caderno de folhas brancas, parecia uma flor, que estava junto ao rio.
Vi o fio de um suposto headphone, sair-te pelos cabelos brilhantes. E não te disse nada.
Sentei-me ao teu lado, e podia ver o teu Iphone em cima da saia.
Ouvi a tua musica, quase como um sussurro calmo... podia jurar que era Dark Sanctuary!
Musica calma, sombria, bela, inspiradora de nostalgias.

Eu sabia que sentias a minha presença, mas não me olhas-te.
Continuavas místicamente enfeitiçada por aquela flor tão invulgar, e ainda assim, que despertava um intenso fervor no meu corpo, dizendo à minha mão para a alcançar e recolhe-la junto dos objectos estranhos e belos.

Ao olhar-te mais em pormenor, apercebi-me de que estavas de pernas cruzadas, e usavas umas botas de salto alto, mas a sua parte frontal nao era fina, como estava á espera, era de um redondo que demonstrava grande conforto.

Olhei-te para a face, quase escondida por esse cabelo guerreiro, que lutava com o vento ao lado do sol... e tu, fitas-me os olhos pequenos e sempre curiosos, tão abruptamente como a brisa forte que te destapa a cara dos cabelos longos, por meros segundos.
tão azuis, tão grandes, lábios vermelhos e carnudos, e o nariz... tão fino e bonito.
Nesse momento, o meu mundo estremeceu, e a minha alma esboçou um sorriso.
Que rapariga tão bonita, tão mística, tão diferente e única, tão sombria, sensual...

Olhei para o chão, corado, pensando que me acharias criança, um rapaz da minha idade "nao deve" parecer uma criança, ou mostrar os seus sentimentos emocionais, tão frágeis quanto os de uma rapariga.

Entre os meus cabelos compridos, e cara tapada, quase que assumindo as culpas por ter espreitado para o teu espaço... o teu mundo; vejo-te pausar a musica. Pousas o caderno na perna, e com o teu cuidado tão femenino e gentil, tiras o headphone do ouvido mais perto de mim, e poisas o lápis e a borracha branca. De um branco tão pálido que parecia um pedaço de nuvem.

"-- É bonita não é?" -- dizes, contemplando e redesenhando todos os traços perfeitos da flor. E qual não é o meu espanto, de que um ser já tão magnifico e iluminado, sai a voz mais doce, meiga e sensível que alguma vez ouvira.
Estremeci de tamanha gentileza que transportavas nas tuas palavras.
"-- Sim, é." -- digo sorrindo, erguendo a cabeça.
Olho para as tuas mãos, e tinhas vestido um Mitene para braços, que te tapava também as costas da mão. As unhas pretas, faziam-me entrar devagarinho no teu mundo secreto.

Levantei os olhos, para que eles matassem saudades da tua face, e tinhas um sorriso tão bonito, que o meu coração pulou de alegria.
O meu corpo recarregou energias, senti-me protegido, aconchegado no mundo obscuro que ambos partilhamos...

2 comentários:

  1. simplesmente perfeito!
    Fiquei sem palavras!
    O texto está muito bem escrito!
    PARABÉNS

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  2. sentimentos lindos de uma alma sensível!
    É de tirar o fôlego e palpitar o coração!
    Lindo!

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