sexta-feira, 25 de setembro de 2009

O Perfume da Alma... [3]


-- Adorava ter asas.. -- mermuras-te.
-- Já as tens. -- retorqui com um sorriso, admirando-te.

Voltei a olhar para a rapariguita.
Sentia-me nostálgico, lembrava-me dos invejosos prazeres de criança, quando corria, pula e saltava...

Olhas-te-me a mão mais junto de ti, percorreste o braço e os cabelos com o olhar timido, corada... também tu me olhas-te e me admiras-te.

Lembrava-me ainda aqueles dia no campo, onde morava os avós da minha mãe... campos grandes repletos de animais, legumes, árvores... de perder a vista.
Inveja de voltar a sonhar com o mundo, de me magoar e sentir o aconchego dos animais junto de mim.
Das saudades de sentir a erva transformar-me em orvalho, e me levar por aqueles mundos de aventura.
Das saudades de sentir o frio pela manha, de acordar com o sol fraco no horizonte.
E de ressuscitar de novo, com uma taça de cereais e leite á mistura, para o novo dia que só acabava quando a fome apertava o meu coração excitado.

Das saudades... de correr por entre os animais, rebolar no chão e abraça-los a todos como peluches! ^^

Saudades... da chuva, da lama, das poças de água, e dos dias efémures de desenhos animados,
passados em casa, enrolado nos grossos cobertores que me picavam o corpo pouco protegido com camisolitas brancas de pijama, das etiquetas que me picavam o pescoço...

Saudades!! do amor dos meus avós, do carinho e atenção que sempre me deram, e que me ensinaram quando passava com eles os meus dias de criança, naquela quinta. Longe de tudo.
E tão perto do meu coração...

Voltei a olhar para ti, desvias-te o olhar e a cabeça muito repentinamente.
Estavas nervosa...
Também eu fiquei... e baixei a cabeça, olhando-te as mãos pálidas e venerando os teus dedos finos e unhas compridas.
Fechas-te-a delicadamente, como uma flor... um movimento tão delicado que enaltecia um perfume e um toque em mim, delicadeza de profunda simpatia, trazia algo frio, cheiro a rosas, um toque de gentileza e algo muito suave.

Pegas-te no lápis e continuas-te a desenhar...
Olhei o teu rosto corado e nervoso, tentavas esconder algo...


Descalcei os sapatos, aguerracei as calças e sentei-me, um pouco afastado da planta, na margem do rio, onde molhei os pés.
Olhei em volta com ambas as mãos apoiadas na margem decorada por grandes pedras.
As crianças brincavam... mas nao havia som.
Olhei para ti, e desenhavas...
Olhas-te-me... e ficas-te nervosa, e eu.. sorri algo escondido, com receio, um sorriso de apreensão..
Voltei-me para o meu reflexo, e pude ver-te...
Olhavas para mim por entre esse cabelo voador...

A flor... transformar-me ia no 2º plano do teu desenho.
Não havia linhas guia, e eram raras as correcções ao teus traços precisos.
Pintávas-me de traços firmes e demorados... sonhando nesse mundo em que me vias.
Os traços do cabelo, as costas... tudo num fervor de sentimentos inquietos e inseguros, afrodisíacos e calmos...

um desenho de amor...

Sem comentários:

Enviar um comentário