Acordo, com o cheiro do café... depressa o sol me bate na cara, através da cortina aberta.
Olho através da janela, fechada, e vejo o sol entre as nuvens... a sombra movesse calmamente.
Espreguiço-me, e abro a janela, sentido o ar fresco da manhã. Vejo o sol lá ao longe; também ele parece ter acabado de acordar, pois ainda está entre os seus lençóis brancos.
Vejo o prado de centeio, demorar-se em acabar, ali, no fundo do horizonte.
Desço. Saboreei na minha mente, o cheiro ao leite com café. O pão crocante, estaladiço e quentinho, acabado de sair do forno da minha avó, faz-me polar de aconchego.
-- Estou em casa... -- suspiro eu com um pequeno sorriso, admirando a manhã, de um dia que promete ser diferente dos outros.
Mas sinto-me sozinho... de alguma forma.
Sinto-me triste, neste espaço sem fim, longe de um possível inicio.
Aconchegado é a palavra correcta!
Longe de momentos, de palavras vivas!
Triste por ser o único, nesta terra distante, onde a paz reina, e a saudade se junta à solidão.
Quero sair de casa!
Sair e ir apanhar borboletas ao sol, e sentir-me só, numa profunda ausência de som.
Ver os cavalos galopar.
Correr e fazer levantar o papagaio.
Ler ao sol, e dormir umas horas, para bem longe deste sossego emocional "incómodo".
Acordo, com uma voz sobre a minha cabeça.
-- Abre os olhos... abre os olhos.
Levanto-me e olho em redor, numa aflição.
E é então que a vejo, e vacilo.
Era jovem. Bonita! Incompreensivelmente tentadora.
-- Ola. -- disse ela com um sorriso.
-- Ola. -- respondi, fascinado e curioso.
-- O que fazes por aqui? Perdeste-te?
Sorri acanhado, e respondi-lhe:
-- Não, vim passar umas férias em casa da minha avó. Fica já ali em cima.
Não estou a sonhar, ela é real, e cheira bem!
Cheira a... café e ao pão quente.
-- A tua avó mandou chamar-te, para nos ires ajudar a fazer alguns biscoitos.
-- Para "vos ir ajudar"? -- repetia.
Ela nada disse. Limitou-se a sorrir, enquanto desfarelava algumas coisas que ia tirando do seu cabelo. Caminhei, e dirigimos-nos para casa.
-- Como é que te chamas? -- perguntei.
-- Jaqueline.
Não é preciso descrever as emoções que sentia. Havia magia no ar!
Aquele olhar escondia algo. Parecia incentivar-me à aventura. Seria uma corrida?
Foi então que depois de uma troca de olhares, meio esquisitos para quem estivesse a ver de fora, começámos a correr que nem dois doidos.
-- Se perderes, vais ajudar a tua avó a amassar a maça!! -- gritou ela, a pouco menos de 2 metros mais à frente. O seu cabelo distraía-me. Era selvagem.
Jaqueline, corria com o vento e não contra ele. O seu correr, igualava-se ao galopar de uma fêmea, que mais do que sonhar, corria livremente, sentindo o seu corpo vibrar de tanta vida! de tanto sentimento que o seu peito transportava.
Quando dei por mim, ela já tinha chegado a casa. Fiquei à espera de um sentimento de derrota, enquanto não chegava a casa, mas só sentia fascínio. Um fascínio que não sentia à meses. Por momentos, apetecia-me chorar, por ver realizado tamanha perfeição concebida pela natureza. Algo tão belo e puro... algo tão sincero e misterioso, mas com um olhar tão meigo e corajoso, que me faziam tremer.
Era platónico! Olhá-la no olhos, com aquele sorriso que parecia desafiar a minha postura, era como vislumbrar as minhas memórias de infância. Todos os momentos que me fizeram.
E eu feio... um tolo, um apaixonado pelos momentos, sentia-me no entanto, e na realidade do meu ser... triste. Não tenho um sorriso bonito, e o meu cabelo não fica bem em qualquer altura... era preciso uma equipa de fotógrafos, para me puxarem do fundo do poço, e tirar este ar de "bruxa".
Uma menina tão bonita, tão bela... triste de mim que não consigo ser eu também um príncipe.
Triste de mim, que não consigo ser também, cativante e vivaço. Triste de mim, o infortuno do mundo, incapaz de satisfazer tal flor.
Jaqueline, a rapariga que cheirava a café...e ao pão quente pela manhã. Que transportava consigo aquele primeiro sabor do pão com queijo e fiambre, e a memória do algodão doce.
Não quero que este dia acabe...
Sem comentários:
Enviar um comentário