domingo, 13 de abril de 2014

Adoro ouvir-te, ver-te e cheirar-te... [6]


Flashback

Vesti a camisa branca, uma camisola vermelha e um casaco preto por cima. Ainda o sino da Igreja não tinha tocado para as 20h, já estava a caminho do shopping. Numa ultrapassagem, vi-te, sorridente, conversando com a tua filhota que brincava com um peluche. -- Uma noite de raparigas hã? -- O teu carro vermelho rapidamente passou pelo meu, e sais-te do carro no momento em que entrei no parque de estacionamento. És uma mulher que gosta de chegar a horas, agrada-me! Isso vai facilitar muito as coisas.
A pequena Joana segurava-te a mão enquanto ainda brincava com o boneco, sem se aperceber na confiança do teu caminhar nesses sapatos incrivelmente bonitos de salto alto, pretos. O vestido realçava as curvas do teu corpo, tornava a tua anca deliciosa e fazia sobressair o teu rabo em cada passo. Já a Joana, de cabelos loiros encaracolados docemente na ponta, ficava bem em qualquer coisa, principalmente com o mesmo par de meias pretas que vestias, por baixo de um vestido vermelho. Vinham para algo especial? Esta noite era especial ou estavas-te a sentir especial? Nunca vi ninguém tão bem vestido a entrar num centro comercial com gentalha de pobres, mas se continuares a cá vir, passo cá os meus dias! Uma mulher com uma class e glamour como a tua não vejo todos os dias e são cada vez mais difíceis de encontrar...
Depois de entrar, tentei procurar-te por entre aquele mar de gente analfabeta, e dei contigo a namorar alguma roupa interior  na loja da Intimissimi. Rapidamente a pequenota se sentou e dirigiste-te, sem nunca perder a pimpolha do teu campo de visão, para a secção das meias, onde, de tempos a tempos, lançavas o teu olhar meigo sobre a brincadeira que crescia calmamente no canto de um banco branco, raso e almofadado.
Sentias os homens olharem para ti do lado de fora das montras, comiam-te, fodiam-te de alto a baixo. As suas esposas odiavam-te pelo facto de seres simplesmente mais bonita e te saberes vestir bem, de seres magra e alta, de pele reluzente e caminhar provocador. Outras, mais novas, passariam pela entrada da loja e da montra sem deixar, por um único segundo, que os seus olhos se desviassem daquela menina pequenininha, bonita e fofinha. A mente das raparigas viajava em sonhos de príncipes e sem querer, fortaleciam o sonho de um dia vir a ter filhos tão bonitos e saudáveis como a tua pequerrucha. De conhecerem o "homem-perfeito", de casarem e serem para sempre amadas, tratadas e acarinhadas até ao fim dos tempos, com direito a rosas e um jantar romântico para cada ocasião especial.

Sabes porque é que existe a luxuria? Porque é que vendem esse "status" e ele se torna, às vezes, tão fácil de atingir e fazer parte desse mundo? Porque o povinho exige ser também rei. Ter a possibilidade de ser grande e não apenas mais um que cava a terra. Quer fazer parte de uma genealogia distinguida quando a sua árvore familiar nunca saiu do mesmo galho. Até o nome tem de soar à rico! Incrível. O que os pobres fazem para tentarem ser reis.


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Tudo o que vês e lês, existe e foi escrito com um propósito. Porque a máscara, na verdade, não caiu.

5 comentários:

  1. Ainda só li esta parte do que julgo ser uma "mini-história" mas fiquei curiosa quanto às restantes. Conhecendo o teu espírito crítico como conheço acredito que não me vou arrepender de te ler pelas entrelinhas ;)

    r: Podes achar estranho mas assim que publiquei aquilo pensei que provavelmente irias lá comentar, acreditas? Concordo com tudo o que disseste e vou só explicar o porquê de precisar de um blogue "anónimo". Os meus pais têm acesso ao meu "pássaros de papel" e ainda que não lhes esconda nada há desabafos meus que prefiro que eles não conheçam. São muito modernos para algumas coisas mas noutras vivem em séculos passados. Principalmente a minha mãe. Ao meu pai "fujo" porque ele não sabe ler nada sem comentar comigo ou em frente à minha restante família. Eu sou eu em todos os sítios onde publico algo. Só prefiro não expôr segredos meus onde sei que certas pessoas que eu não quero vão ler. Ainda assim preciso libertar-me deles. É um ciclo vicioso, entendes? Talvez não, tenho uma mente confusa...

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  2. Já li todas as partes e bom, será demasiado cliché estar ansiosa pela próxima parte?! É que a escrita é tão inebriante que só quero ler o que se passará de seguida. O que estará na cabeça das personagens... Estarei atenta.

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    1. É bom saber que gostas-te, principalmente por já teres publicado um livro, teres centenas de seguidores e eu ser um simples amador. Obrigado pelo comentário! :)

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  3. Gostei não como "escritora" mas como leitora. Não importa que eu tenha um livro ou centenas de seguidores. Um livro todos escrevem. Seguidores todos têm. O que falta é leitores. E eu gosto de ser tua leitora :)

    r: É só para que saibas que aceitei o teu conselho e te respondi ao comentário no meu blogue. Não tinha esse hábito porque normalmente não respondo ao que me dizem. A minha "resposta" é ler (com olhos de ler) o blogue da pessoa que comentou e comentar também.

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    1. É uma boa "resposta". Permite-te conhecer o trabalho que os teus seguidores (ou não) fazem nos próprios blogs.
      Também faço isso, mas no meu caso, não sei se é por gostar de ter as coisas separadas. Respondo ao comentário que me fizeram, e comento algum post que me tenha interessado no blog deles, caso o tenham. É uma das formas que tenho para seguir alguém ou me inspirar.

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