segunda-feira, 7 de abril de 2014

O que sou...?



Virei-lhe as costas para que a forte saudade não me escorresse pela cara. Não queria que a ultima imagem que tivesse dele fosse as suas costas, tendo ele um sorriso tão bonito e tão tímido. Ao humedecer os lábios senti o seu sabor de novo, como um doce gentil que se derrete na boca. O sol aqueceu-me a cara e os meus cabelos loiros lembram-me dos dele. E aqui estava eu, virada de costas para o único rapaz bonito que me fazia sentir feliz, apesar de toda a dor que às vezes me causava. Percebi que não era ele que se afastava, era eu, por ter expectativas altas e objectivos que não podiam ser desviados por um único momento. Perdia-me do futuro reconfortante, trabalhando para uma vida solitária. Vê-lo já lá ao fundo, imperceptível, a caminhar sozinho no mesmo caminho tronhado que sempre percorrera, fez-me sentir, por breves momentos, um vazio de alegria. Um vazio tão profundo que todos os momentos de felicidade com os amigos, eram apenas momentos que me preencheram parte da vida e em que ser ouvida e sociável, se tornara um conforto de alguém já "completo".
O cheiro das suas mãos vagueavam pelos meus cabelos que me batiam na cara. Senti-o novamente perto de mim, alto, forte, confiante, como nunca o antes conhecera. A almofada de alfinetes que me recordavam de quem tinha sido, transformava-se aos poucos numa mão gentil de saudade no meu rosto, nos meus lábios, nos meus cabelos.
Senti a falta dele. Entre sonhos e pesadelos, arrependimentos, mentiras e memórias que não pareciam querer ir embora. Tê-lo posto para trás das costas só me ajudou a ultrapassar a separação, as mentiras e a dor que me causaram, mas o que realmente precisava era de crescer.
Eu segui em frente, quero acreditar nisso, e ele deambulou como sempre o fez, mas vê-lo naquele momento, naquele específico momento tão longe de mim, quase como uma miragem, fez o meu coração saltar de saudade e uma urgente vontade de apagar o que tínhamos sido para re-escrevermos a vida que sempre desejámos entre meias palavras. Porque na verdade... a única coisa má que aconteceu foi o de sermos ambos crianças com uma perspectiva e exigência um do outro muito grande.
Disse-me feliz por ter acabado tudo, que sonhou muito comigo e que ainda lhe trago boas recordações, mas também muita amargura.
Gostava de ter sido feliz. De ser abraçada de novo, mas a minha mente não me o permite, não deixa de ser casmurra e exigente. Deixei de o saber ver como É, para passar a julgar o que "Foi" e o que errou. Tornou-se, com o tempo, uma memória longínqua de más recordações e desilusões. O que fiz na minha mente, foi algo que não consigo perdoar ou esquecer, e ainda que conheça as razões a verdade é que... não o sei perdoar porque nunca o conheci. Sentia-o, ouvia-o, mas não existíamos realmente na vida um do outro.
Ter acabado com ele, foi a melhor decisão que tomei. Re-escreveu-se, quero acreditar.

O que sou aos olhos dele?
Uma história de amor?
Ou um doce amargo que nunca soubemos apreciar?

5 comentários:

  1. Uma memória doce de um amor e, ao mesmo tempo, o amargo do que não souberam apreciar. É sempre assim quando uma relação acaba e ainda ficou tanto por viver.

    r: Sinto exactamente o mesmo quanto às pessoas que se limitam apenas a um género. Não apenas ao "pop", apesar desse ser o mais vazio, para mim. Eu sou daquele estilo de pessoas que ouve tudo o que normalmente não agrada às massas. Gosto de ser diferente. E, acima de tudo, gosto de não me prender a um só género musical. Gosto de ouvir, conhecer, expandir o meu repertório musical. Mas bom, até seria estranho eu me prender apenas a um género, visto que tive formação musical a partir dos 8 anos. Acho que é isso que falta a muitas pessoas, formação. Não necessariamente para tocar um instrumento. Mas para aprender a ouvir música.

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    1. Faz bem ao ego relembrar todas as coisas positivas sobre as negativas. Mas atirar para trás das costas a dor que se viveu ou as experiências que nunca se tiveram só para tentar esquecer uma relação que muito resumidamente "correu mal", é deixar passar um erro sem querermos aprender com ele. E isso é grave!

      As pessoas dizem que eu penso de mais, que eu me preocupo de mais e que penso muito no futuro, nas coisas e que sou apressado. Se eu não encarasse os problemas, seria só mais um tanso que vive sem se conhecer e a cometer os mesmos erros, uma e outra vez, ou a não fazer nada para sempre, pelo medo de errar novamente.

      http://sonhosembranco.blogspot.pt/2014/04/errar-nao-e-humano.html

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  2. Estas palavras e toda a nostalgia, pareceram-me, por momentos, saídas diretamente da minha essência. Tudo é efémero mas ao mesmo tempo eternamente memorável...A transitoriedade do momento nunca é fácil...e nem todos lidam de forma igual com o "fim". Uns racionalmente lá se encaminham, outros deixam-se levar pela emoção que outrora lhes palpitou, e continuam, a caminhar, como se nada tivesse acontecido...


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    1. Na minha, modesta, opinião, acredito que para a mulher, seja mais fácil e necessário deitar para trás das costas, porque são seres mais sensíveis e são animais que necessitam de um macho alpha. Precisam, depois de uma relação, de encontrar alguém que seja mais capaz, porque ficarem "presas" a um macho que não foi grande coisa na dança de acasalamento, não merece muita atenção depois.
      Resumindo: Precisam de passar para o próximo, porque perder tempo é perder a oportunidade de encontrar o "tal" perfeito.

      Mas será que o deviam fazer? A melhor escolha é continuar a caminhar como se nada tivesse acontecido ou tentar perceber onde se errou?

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    2. Primeiramente, julgo que nenhuma opinião será deveras modesta.

      É verdade que as mulheres normalmente optam por "partir para outra". Porém, esse "outra" ou "outro" nem sempre tem como ponto de partida a busca pela perfeição. Pode ser, simplesmente, por não querer perder tempo com algo que já não lhes proporciona prazer. Andar em busca do que errou poderá ser igualmente um erro. Na minha nada modesta opinião, deve-se caminhar numa perspetiva futura mas sempre tendo como ponto de partida o que correu mal, refletir no que poderá ter acontecido...é possível fazer as duas coisas em simultâneo.
      Gosto do teu espírito crítico.
      Uma boa noite.

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