sexta-feira, 4 de abril de 2014

Errar não é humano...



Errar, não é algo única e exclusivamente humano. A tão célebre frase "Errar é humano", é uma desculpabilização pelos erros que cometemos, desde os mais imperceptíveis ao mais graves. É um atenuar da culpa que sentimos, uma forma de "desvalorizar" o erro, que por sua vez torna a dor que sentimos em algo mais fácil de tolerar.
Errar, não é humano, é animal. Acham-se tão superiores aos animais, que eles não têm autorização para errar!? Porque se um cão morde, é abatido, se uma pessoa agiu mal e é despedida, é-lhe dado como consolo, a frase que aparece sobre à porta de entrada de cada sala de bloco operatório dos hospitais por todo o mundo. Tornamos fácil e fechamos os olhos, parte das vezes, a um problema que não deveria ser desculpável ou apaziguado por uma frase e alguns dias de sentimento de culpa. O que deveríamos fazer seria estudar o erro, decompô-lo, perceber onde se falhou, o que fizemos de mal e como o evitar. Mas o que é que as pessoas adoram fazer!? Atirá-los para trás das costas ou aparafusarem-se a eles durante alguns dias até se esquecerem de que alguma vez os cometeram.

Errar, no mundo animal, é inaceitável. Por essa razão, errar no mundo social, não deveria ser algo que se deixasse passar de forma tão fácil. É a errar que aprendemos, mas só aprendemos com a "infelicidade" se a olharmos de frente e a enfrentarmos. Não defendo a violência física ou verbal caso alguém erre, já é suficientemente mau errar, apesar de hoje em dia isso não ter valor nenhum a não ser pelo facto de vivermos em conjunto e não o de: sobrevivermos juntos. Os erros de uma pessoa não são esquecidos, mas se assim fosse o caso, todos os adolescentes de hoje jamais arranjariam um emprego, amizades com valor ou respeito por todos os outros com quem se cruzam, obrigatoriamente ou não.
Não errar, e não deixar que se erre, nas coisas mais simples e "óbvias", é o mesmo que negar a aprendizagem e a evolução psicológica de um ser, é estar a proteger o animal de todo o mundo de possibilidades, de acontecimentos importantes que deveriam ser enraizados ou sentidos. Se nos tornarmos todos Pais e Mães galinhas, os nossos filhos e também as outras pessoas, acabaram por nunca saber o que é tentar ou arriscar por terem medo de errar. "Proibir" que alguém erre é o mesmo que exigir que todos sejamos perfeitos, que estejamos sempre a agir bem, da forma mais correcta, que nunca haja guerras sociais, que as amizades sejam verdadeiras, que as mulheres não sejas cabras e os homens uns cabrões. Mas esperar que alguém não erre e esperar que toda a gente seja "perfeita"...
"In the right situation, we are all capable of the most terrible crimes. To imagine a world where this was not so, where every crisis did not result in new atrocities, where every newspaper is not full of war and violence. Well, this is to imagine a world where human beings cease to be human." - Quote from The Invasion
Uma gazela que come num prado verde e se esquece de levantar a cabeça para vigiar o horizonte dos predadores, está a falhar na sua própria segurança. Está a cometer um erro que lhe poderá custar a própria vida e, de uma perspectiva futura, a de uma inteira árvore genealógica.
Os animais evoluem através da tentativa e erro. É dessa maneira que guardam na memória o que devem evitar fazer se quiserem continuar vivos.
Porque se todos tivéssemos de fazer tudo de novo, de errar onde os outros erraram, de errar onde os nossos pais, amigos e familiares erraram, a palavra evolução não faria sentido. Não faria sentido porque nunca existiria. Aconteceria connosco o que acontece hoje com muitas espécies que existem neste planeta. A única coisa com o qual os animais podem contar é a sua própria memória. Mas a memória só é construída através das experiências. Experiências que foram vividas pelos próprios, como acontece com todas as tartarugas, ursos e leões depois de abandonarem a progenitora.

Nós não somos fracos por errarmos. Não somos horríveis por cometer erros estúpidos ou inconscientes. Somos animais que têm sorte em não viver na selva. Se vivêssemos, mais de 90% de nós estaria com a cara e o corpo cheio de cicatrizes causadas pelos erros que criámos durante a nossa vida. Provavelmente mais de metade de nós não existiria hoje e muito menos sobreviveria à adolescência.

Em O importante, é descobrires que o podes fazer...
Porque haveremos de ter tanto medo de errar se é a única coisa que nos permite conquistar? Errar é mau, dependendo da perspectiva, mas é algo deveríamos ensinar aos nossos filhos como algo saudável e não horrível. Deveríamos ensinar-lhes a ver o problema de várias formas e não apenas como um espinho que nos mói a cabeça dias e noites. Porque se eles não conseguirem compreender o erro, como poderão saber resolvê-lo? A interpretação das coisas que nos rodeiam, ajuda-nos a trabalhar melhor com aquilo que temos à mão. É como tentarmos apanhar peixes com um pau que não foi afiado na ponta. Se decompusermos o erro que estamos a cometer ou que cometemos, perceberíamos de que se a ponta fosse composta por um conjunto de espinhos compridos ou um bico afiado, deixaríamos de errar para passarmos a ter sucesso. Nessa altura, errar não seria relevante, apenas a inovação teria importância, pois foi ela que nos fez e moldou. Muitos até diriam, que aquele feito só poderia ter sido conseguido por um humano. "Inovar é humano". Não é. Polvos e macacos conseguem superar crianças de até 8 anos. Tal como abordo em "O que faz dos humanos, humanos?" e "Animais espelhados como humanos...".

Errar não é humano, faz parte da evolução de toda a espécie animal e vegetal. Errar pode ser fatal, mas se for usado com inteligência analítica poderá ser algo extraordinário. Sempre foi assim que a ciência e a tecnologia evoluíram, e grande parte das experiências poderiam ter um fim trágico.

“I have not failed. I've just found 10,000 ways that won't work.” ― Thomas Edison

Não facilitemos o incómodo que nos vai na cabeça depois de um erro, com uma frase pseudo-reconfortante, só porque as pessoas não sabem ou não conseguem valorizar uma falha sua o suficiente para entenderem que elas não falharam mas que criaram uma oportunidade de aprender.
É através do erro que procuramos a perfeição e o aperfeiçoamento. Nós, animais, não erramos, aprendemos uma nova maneira de nos adaptarmos ao ambiente e a sobreviver, e só o simples facto de continuarmos vivos depois de sairmos de um rio onde a água nos chegava pelo pescoço e os crocodilos nos tentavam abocanhar, deveria servir de motivação para continuarmos a correr da morte e do azar. Devemos evitar errar, mas se errarmos, que estejamos preparados para o compreender e resolver.

No entanto, se todo o planeta enfrenta-se uma extinção em massa, o acontecimento visto de Marte passaria despercebido, tornando-se assim, todos os erros que cometemos, em absolutamente nada.
Se nos privarmos das experiências e do auto-conhecimento, o que nos resta? No que nos tornamos? - Em Moralmente incorrecto...
"A person who never made a mistake never tried anything new." - Albert Einstein

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O importante, é descobrires que o podes fazer...
Evoluímos ou Evoluímos-nos?
É um design optimizado...
O fogo esquecido...
Moralmente incorrecto...

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