segunda-feira, 16 de julho de 2012

Prendas com preço...


Normalmente, e geralmente, é por hábito as pessoas oferecerem prendas sem a etiqueta do preço. É uma regra, uma lei que não deve ser quebrada. E caso se nos esqueçamos da etiqueta do preço colada na prenda em si, todos tentam esconder e fazem um 31 só para tentar que a pessoa não veja o seu preço.

Eu não sou assim.

Quando ofereço uma coisa, o que quer que seja, ofereço-a com o preço.
Hoje fui à FNAC comprar um livro para uma amiga e a rapariga que me atendeu perguntou se era para oferecer e eu respondi que sim.
-- É talão sem preço, de oferta?
-- Não, com preço. -- respondi.
-- Com preço? -- perguntou ela um pouco perplexa.
-- Sim.

Dirigi-me depois à zona onde faziam os embrulhos. Retirei a etiqueta do preço, colei na parte de dentro da capa do livro, dobrei o talão e coloquei-o também dentro do mesmo. A menina ficou admirada. Com um pequeno sorriso pegou no livro, e pude-lhe ler na cara o que ela pensava: "Bem... cada um com a sua "mania".

Não me incomodou fazer o que fiz da maneira que fiz.
Deixar o preço e fazer questão que o preço esteja nas coisas que ofereço, não é para mostrar a quem recebe as minhas... "prendas" aquilo que gastei com elas. Não tenho medo de gastar dinheiro, e muito menos tenho vergonha de mostrar o valor daquilo que comprei. Fui EU que comprei, foi do meu dinheiro, fui eu quem decidiu gastar mais naquela prenda no que noutra qualquer. A prenda deve ser vista pelo seu lado de utilidade e não pela quantidade de dinheiro que foi gasta.
Eu gasto dinheiro nas prendas, porque quero, porque posso e porque tenho prazer em oferecer. Porque sei que aquilo que ofereço tem realmente alguma utilidade e não mais uma simples merdisse para colocar numa estante a apanhar pó. Se não tem utilidade, não compro. Foi algo que o meu pai me ensinou.

O preço nas prendas que ofereço, que não são muitas, servem também para que a pessoa um dia mais tarde possa sentar-se e olhar para aquele objecto e fazer a comparação do seu valor na altura e no seu valor agora.
Isso era algo que eu fiz e vi em casa das minhas "tias". Livros antigos com o preço escrito a lápis na parte de  dentro. Livros que na altura custavam poucos escudos. Da mesma maneira que eu comparo livros, comparo CDs de música, filmes em DVD, entre outro tipo de objectos. Eu gosto de saber o preço das coisas, não é para saber o quanto a outra pessoa gastou comigo, mas quanto custa o objecto. Pois caso eu o queira comprar para oferecer a outra pessoa, ou deseje comprar outro, sei o preço e o local.
Falei nuns textos mais antigos, de que o meu Pai e o irmão dele quando têm de oferecer uma prenda um ao outro, saem os dois, juntos, e perguntam um ao outro o que precisam ou o que lhes dava jeito. O meu pai compra a prenda para o irmão à frente dele. Não escondem nada, nem mesmo o preço. E o irmão dele faz o mesmo. Quando abrem os presentes no Natal lá dizem como era realmente aquilo que queriam. Óbvio que era, escolheram em antemão aquilo que realmente queriam.
De uma certa maneira, poupa-se tempo, dinheiro e alguma tristeza. Cada um recebe aquilo que quer, e abre a prenda que tanto queria.

É mau agir desta forma? Escolher a prenda? Deixar o preço nas coisas?
Da minha perspectiva não o é. Para além de que não acho mal nenhum. Como disse mais acima, não tenho vergonha da prenda que vou oferecer. Tenho consciência e sei dar valor ao que compro. Retirar o preço das prendas é apenas e sim simplesmente uma maneira de as pessoas que as recebem se sentirem seguras e confortáveis, para quando abrirem o seu presente não se sentirem mal por não gostarem de um presente que custou várias dezenas de contos. Neste caso, várias dezenas de euros.
Resumindo: Se eu não gostar de uma prenda de 100€, não me sentir mal por me terem oferecido algo tão caro que eu nem sequer gosto.

Saber o valor das coisas que me oferecem ou que eu ofereço é uma maneira de um dia mais tarde recordar os valor das coisas. De comparar, como já escrevi. Não é para saber o quanto as outras pessoas gastaram, porque foram elas e não eu. Se eu não gosto de uma coisa, não sou obrigado a não engelhar o nariz ou a dizer que não gostei. Simplesmente digo, com o devido cuidado e atenção.

Prendas com preço, não deviam ser vistas como algo "contra" o natal ou a oferta de prendas. Devia ser vista como o cuidado da outra pessoa, para que quem a receber saiba onde foi comprado quanto custou e mais tarde recordar o seu valor. Quem é que não se lembra que o pão à coisa de 10 anos custava apenas 7 cêntimos? Quem não se lembra que à mais de 20, 5 tostões dava para comprar ovos, farinha e azeite?
Quem não se sabe que à mais de 40 anos, 40 contos davam para comprar uma casa com terreno?
É interessante, recordar o valor das coisas, comparar o seu preço, perceber o que mudou ao longo dos anos, para que 500 escudos dessem para comprar tanta coisa e agora 2.50€ não dão para quase nada.
Ainda me lembro de que 1000 escudos era muito para mim. De que 6000 escudos, 6 contos, era algo que só poderia obter com muitos anos de mesada poupada, e muito bem poupada!!

Não tenho vergonha de oferecer o que quer que seja com o preço. Não tenho medo de pensarem mal de mim por pedir que os talões venham com o preço e as etiquetas permaneçam coladas.
Não tenho vergonha, porque sei que aquilo que ofereço tem valor, tem uso, é didáctico, o que não significa que seja para garotos mas sim que educa, que tem algo para ensinar.

Oferecer algo com utilidade é difícil, mas não é impossível. E acreditem que se pode oferecer coisas que realmente interessantes e até mesmo imprescindíveis!

Quando alguém vos diz que umas sapatilhas custaram X, ou um vestido custou Y, um preço abaixo daquele que vocês criaram na mente, vocês babam-se logo para ter umas iguais. Não é pela moda, mas porque realmente gostaram daquilo. É como ir comprar roupa aos chineses! Nunca fui mas sei que foi. Compram a metade do preço e trazem algo que mais ninguém tem. Pensem assim: Se eu souber quanto custam 10 tábuas de madeira, um dia mais tarde sei que tipo de madeira comprar e quanto vou gastar. Se eu souber quanto custa 1kg de pregos, porcas e parafusos, quando um dia precisar, sei +/- quanto vou gastar. De uma certa maneira, prevejo e faço uma estimativa dos meus gastos. Calculo melhor o material que devo comprar, onde sei que vou gastar mais, onde vou gastar menos e onde posso poupar. Se comprar 3m quadrados de tecido para fazer uma camisola ou um vestido para a namorada, sei se vou gastar mais ao comprar o tecido e as linhas para cozer do que a comprar um vestido numa loja normal do shopping.

Uma prenda é um produto final, acabado e pronto a utilizar. Pode ser devolvido, mas para quê esconder o preço? O preço não faz parte das nossas vidas? Saber quanto custou o pão, o queijo e o fiambre. Saber que posso comprar pão mais barato na loja X do que na Y. Que posso comprar um fiambre mais caro na loja Y mas que em contra partida é muito melhor e mais saboroso.
É assim que nós evoluímos! É assim que crescemos! Que aprendemos a utilizar e a comprar melhor as coisas que nos fazem falta. São dicas!
Por exemplo, existe uma mercearia aqui na mealhada que vende o croissant a 0.65€, mas sei que no Intermarché é a 0.39€. Ora... ainda que na mercearia sejam croissants muito bons, são mais pequenos que os do Intermarché. Uma pessoa que saiba e compare os preços de uma loja para a outra, consegue perceber onde deve comprar se quiser poupar.

O preço tem dois lados. Um lado negativo e um lado positivo. Pode ser motivo de vergonha ou pode ser motivo de orgulho.
Sei de que as laranjas que são vendidas nos super-mercados, são de portugal, vendidas à espanha e vendidas de novo a portugal já embaladas.
O leite Mimosa é recolhido por Portugal fora e é vendido a um preço acessível.
Mas o texto não é sobre isto, mas sim sobre o preço nas prendas. Se por um lado incomoda quem não gostou da prenda, por outro, faz com que as pessoas que oferecem pensem melhor nas coisas que querem oferecer e no que realmente faz falta ou dá jeito.
É que comprar penduricalhos só para enfeitar uma estante e apanhar pó, não vale a pena o dinheiro e o tempo que se gasta a procurar e a gastar...

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Por não ter dinheiro..
Destingir o valor das coisas...

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