quinta-feira, 19 de abril de 2012

O nome das coisas...


"Como te chamas?". Porque é que é tão importante? Quer dizer... porque é que gostamos de saber como os outros se chamam? Não em todas as ocasiões, mas quando nos envolve de alguma maneira.
É e serve para identificar, conhecer e interagir "melhor". A pergunta é feita tanto para pessoas como para  objectos, animais, plantas ou natureza.
Não precisamos de saber o nome para o usar, mas precisamos para poder conversar sobre ele. Chamar-lhe "esta coisa", não diz muito e uma imagem de um objecto ao fim de algum tempo acaba por se perder nos cantos do cérebro. A identificação através de uma imagem e de um nome, é a ferramenta que pertence e é usada no córtex cerebral.

Informações sobre Memória.

Quando perguntamos o nome a outra pessoa, existem vários porquês associados. Podemos perguntar para posteriormente lhe associarmos os dados, sejam eles quais forem. O nome associa-se a uma cara, a uma roupa, a um momento, a um sentimento, tudo criado pelo cérebro. É por isso que quando olhamos para alguém e a reconhece-mos "facialmente" mas não através do nome, ficamos a coçar a cabeça à procura do nome. Vasculhamos todos os cantos e recantos, e se porventura tivermos a "infelicidade" de não nos lembrar-mos... lá vem o momento embaraçoso.

Perguntar o nome a uma pessoa que se encontre à nossa volta, e que possivelmente tenha comunicado ou esteja a manter uma conversa, é uma maneira de lhe dizer-mos: "Estou interessado em te conhecer melhor." ou "Quero que vás mais longe na tua opinião." ou ainda "Podes-te chegar mais perto de mim ou do nosso grupo.". Haverá outras, mas fico-me por estas, pois o intuito é perceber porque é que perguntamos.

Mas tem de haver algo mais. Algo que explique o porquê de uma cara sem nome ser... estranha e misteriosa, com um pouco de desconforto à mistura.
Na caça, quando ainda caminhávamos na savana, conhecer e saber quem estava ao lado de quem e onde, permitia localizarmos-nos no grupo, como por exemplo identificar o macho alfa.
O nome passa a ser então, mais do que uma palavra, passa a ser um resumo da própria pessoa. Um resumo conciso e fácil de lembrar. O X e o Y são bons a atirar lanças. O Q é bom a correr durante muito tempo. O Z é bom a incorra-lar e a orientar as presas para uma emboscada. Sabemos que o X está ao lado do Y, que o Z está lá mais à frente e que o Q vai do lado oposto. Podemos então pedir que cada um deles execute uma acção, não como grupo mas como indivíduos. É fácil de perceber que se todos fizerem bem o seu papel, acabarão por apanhar o animal. É uma macro-acção realizada por indivíduos, tal como o fazemos quando utilizamos um computador. Mexemos no rato, no teclado, entre outros dispositivos, para realizarmos uma acção. Quantos mais objectos conhecermos e soubermos manipular, melhores e mais rápidos nos tornamos.

Um nome ajuda a resumir um individuo/objecto, da mesma maneira que as caras não são todas iguais, nem mesmo em animais, por muito parecidos que nos sejam. As ovelhas sabem destingir a mãe, o pai, ou os irmãos. Ainda que para nós nos seja impossível.
Os nomes vieram tornar tudo muito mais rápido. Permitiram a evolução do cérebro humano, a criação e associação de palavras para símbolos, sentimentos, ideias, etc.

Existe algo que nos intriga, especialmente se essa pessoa tiver uma máscara à frente. Mas nesse momento não queremos saber o nome, queremos conhecer a cara. Mas qual é a razão? Por dia passamos por centenas de caras, e a que nos intriga mais, não foram aquelas que têm muito mais para contar no interior, mas aquela que está escondida. Um nome deixa então de ter valor, pois o mistério, se revelado, passou a ser outro e não o nome. O nosso cérebro ficou saciado, pois o que nos faz especular ainda mais, é a razão para o qual a pessoa estava a usar a máscara e que outros segredos e mistérios esconde.

Um nome é apenas uma informação de fácil acesso para outras informações. Se pensar em maçã, a imagem da maçã surge-me à cabeça. Se pensar no meu irmão, ele aparece-me com um sorriso na cara. Se pensar em mim, lembro-me de rapaz estranho de cabelo comprido do qual não conheço muito. Tudo tem um nome associado, nem que seja apenas "jardim", mas como se costuma dizer, uma imagem vale mais que mil palavras, e dar um nome a uma fotografia, hoje em dia tem uma grande importância pois de certo que irá ser pesquisada pelo que contém e não pela extravagancia do seu fotografo em lhe dar nomes sem nexo ou sem nada haver.

É importante dar um nome, mas mais do que isso, é importante dar valor, se assim o desejarem,  às imagens que guardam na memória, pois sem elas, hoje não seriam nada. Como humanos, não seriamos nada, não teríamos a capacidade de memorizar, e até mesmo as lembrar-mo-nos de emoções. Tenho dificuldades em acreditar que estariam tão vivas em nós se não tivéssemos criado e evoluído a partir de algum sistema/mecanismo. É essa uma das razões básicas que nos leva a perguntar: "Porque é que é assim?" "Porquê?". O ser humano nasce curioso pelo mundo, porque é algo que o cérebro aprendeu a fazer. Dar um significado às coisas. Dar um nome, uma razão, uma emoção, uma lembrança, algo que possa usar para partilhar ideias. A linguagem, falada e escrita, não são mais do que uma extensão das nossas emoções. Um sonho não é apenas um conjunto de imagens, são emoções. São um conjunto de acções que criam um sentimento. E sem compreender esses sentimentos, ficamos estranhos, vazios, incomodados, pois não percebemos o que temos, quer seja bom quer seja mau.

Existe uma razão para tudo o que nos rodeia, e se eu puder aproximar-me daquilo que vocês não vêm, sentir e perceber aquilo que vocês não sentem nem percebem, por muito disparatada que possa ser a minha visão e explicação das coisas, ficarei mais consciente do que sou, enquanto animal que sou instintivamente. Serei mais capaz de dar explicar o ser humano, o meu mamífero interior com cérebro capaz de recordar caras, nomes, objectos, símbolos, imagens, momentos...

Um passo de cada vez...

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