[no name. by ~usmiechprzezlzy]
Depois de ver o filme "O Tempo que Resta" (Le Remps Qui Reste - 2005), comecei a pensar como seria se eu soubesse que iria morrer dentro de um mês, mais dia menos dia.
Só o facto de não saber, assusta, mas se tivesse a certeza do dia e da hora... isso seria ainda mais assustador.
Perdemos a noção de tudo? Deixamos de dar valor a tudo? Às pessoas? Talvez o nosso Eu comece a dar mais valor às coisas que antes... pareciam nem existir.
"Vive cada dia como se fosse o ultimo". Se assim fosse, ninguém trabalhava, porque a vida que nos resta não deve ser desperdiçada a trabalhar. De facto, ao sabermos que temos X dias de vida, faz-nos desistir do emprego. "Qual é o objectivo de continuar? É suposto vivermos e sermos felizes nos nossos últimos dias.".
Faz-me lembrar um documentário sobre o Suicídio Infantil que vi à vários anos. Um rapaz marca o dia e a hora, e naquela semana, ele viveu como se cada dia fosse o seu ultimo. Podia sentir as coisas que o rodeavam, tudo parecia ter vida, tinha valor. Comer um gelado deixava de ser só por gulosice e até a água tinha outro sabor, outra textura. Cada parte do seu corpo parecia respirar.
Mas... o que fazer nesses últimos dias? Naqueles tempos mortos que por vezes aparecem e ficam colados como resina. São uma tortura, porque vamos morrer e não estamos a aproveitar o tempo, estamos só a vê-lo passar. Se calhar é esse o sentimento que procuramos afinal. No fim de tudo. Sentarmos-nos no meio do nada de uma natureza que hiperativa, a ver o tempo passar por nós...
Alguns dormem, outros preferem continuar com a mesma rotina. Despedimos-nos da família e dos amigos. Isolamos-nos ou convivemos, OU, tiramos as melhores férias. "Mortos não pagam dividas".
A comida e a água ganham outro sabor, cada garfada é uma mistura de dor, de saudade, de angustia e de autenticas explosões de prazer.
Choramos a nossa morte, choramos o inevitável, choramos a solidão do nosso Eu, no nosso pequeno mundo, da nossa pequena bolha. A nossa bolha!
É no fim, que damos valor a cada rotina da nossa família, a cada palavra, a cada viagem, a cada jantar, a cada ida ao cinema. Não vamos pelo que lá encontrarmos, vamos por eles, pela viagem, pelas conversas, pelos risos, pelos rostos. Mas... estar junto deles sem nada para fazer é o maior sentimento de impotência e tristeza para com aquele dia, que de certa forma perdemos. Porque, por muito felizes que estejamos ao lado deles, cada olhar para aquelas pessoas que "um dia foram" a nossa familia, percebemos que eles continuarão os seus caminhos, a sua vida. Que o seu peito ainda irá encher milhares de milhões de vezes, que poderão ver o mundo, que poderão abraçar, beijar e dizer: "Amo-te" ou "Adoro-te". Caímos de joelhos num choro que nos tira o ar.
Queremos sentir-nos vivos, activos, ocupados com algo que valha o tempo da nossa atenção. Que valha tanto ou mais que estes últimos segundos da nossa vida.
A ida à escola deixa de ter valor, porém... sentimos algo enquanto esperamos ou enquanto nos sentamos e ouvimos pela ultima vez aquele professor que tanta raiva nos dava ou que tanto prazer nos dava em ouvi-lo. Percebemos que ninguém a não sermos nós, naquela sala ou naquele corredor, sabe que vamos morrer. São pessoas que combinam o fim de semana, e cujas as agendas se enchem de tarefas até ao próximo mês.
Ficamos sozinhos. Estamos sozinhos. Pois falar não vai adiantar de nada. Ninguém sabe como nos sentimos. Ou gozam ou sentem pena. E nós? Teremos mais um ou dois dias depois desta semana acabar. Se tivermos essa sorte. Contamos então as horas perdidas, os minutos... as tarefas chatas.
O nosso propósito neste mundo, deixa de existir. Deixamos de ter valor, de ter tempo. Deixamos de ser, de criticar, ou criticar tudo o que agora tem tanta importância. Porque devia ser assim e não assim, devia existir isto ou mais daquilo. O próprio mundo deixa de ser ainda menos perfeito do que era quando olhávamos para ele.
Como gerimos o tempo? Como o sentimos? A correr? A passo de caracol?
Não, a vida não é fodida, nem difícil, nem um desafio. Não o era à milhares de anos atrás, até alguém começar a mandar. Não havia assassinatos, nem violações, nem guerras em nome de deuses ou de ideias ou de territórios, apenas lutas e conflitos entre famílias, entre grupos, entre espécies pelo seu território, pela sua comida. Quando ainda éramos australopitecos, quando tudo não passava de uma grande confusão, a vida sim, era bonita. Não havia tempo e por consequente não havia stress, nem obrigações, nem casa para pagar, nem água, nem luz, nem escola para pagar, nem transportes. Podíamos morrer de uma dor de dentes? A dor era terrível? Sim, podíamos, mas nunca na vida nos podíamos sentir tão vivos. Nessas alturas, o nosso corpo esperava que tudo parasse. Porque depois de uma constipação, ficamos maravilhados com a energia do sol. Basta ficarmos uns dias doentes, ou torcer um pé, que ficamos logo com saudades da nossa energia. A Saudade vem bater-nos à porta de casa e pergunta aos nossos pais se podemos ir brincar para a rua.
Não havia medo da morte, apenas medo de ser comido ou abandonado.
A vida tinha valor.
A dias da nossa morte, lembramos-nos de tudo o que queríamos fazer ou que podíamos ter feito. Mas sabemos que já não temos tempo. Uma lista que é preenchida ao longo do tempo que nos resta é a melhor maneira para termos a certeza de que não nos esquecemos de nada.
Quando recebemos a noticia, engendramos maneira de arranjar tempo para pedir desculpa ou dizer o que nunca dissemos às pessoas que nos rodeiam. Para um pai será o mês mais difícil da sua vida. Saber que nunca irá ver o que os seus filhos alcançarão, no que se irão tornar. Que amigos irão fazer, as namoradas/os, os choros, as aventuras, as conversas, nos filhos, nos netos. Faltava dizer tanta coisa, faltava mostrar-lhes tanta coisa...
Sinceramente.... não sei o que pensar ou concluir, sei apenas que se acontecer comigo, não me calarei um único dia! Que iria passear e fazer tudo o que nunca fiz. Eu sei que é esse o objectivo, mas como se costuma dizer: "Só damos importância às coisas quando elas desaparecem".
Já não tenho medo da morte.
Não somos mais do que uma sombra...
Não somos mais do que uma memória,
Uma lembrança, um sentimento, uma ideia, um gesto.
Somos apenas fotografias emolduradas, que eu dia serão esquecidas.
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My Life Without Me
P.S. I Love You
O Tempo que Resta
The Jacket
Regressar depois da Morte
Anna Bagenholm (Back from the Dead)
Nostalgia...
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