segunda-feira, 12 de março de 2012

O que fiz eu...


O autocarro ia cheio, e uma rapariga que tentava sair, não teve tempo de chegar à porta. Ela pedia ao condutor para esperar um pouco, mas o barulho era muito, ele devia estar com algum phone posto e com a atenção no resto das horas que teria de fazer até sair.

Não o censuro, afinal são 8h a trabalhar, sentado, mas o melhor que ele tem a mais que alguém na mesma situação, é que pode conduzir por Coimbra.

Nem a voz tímida(?) da rapariga, impediram o motorista de continuar a marcha. Virou o volante, e foi quando tudo começou a olhar para o motorista, à espera que ele tivesse ouvido. Mas ninguém disse nada, e o motorista não parou. Ganhei coragem... ainda que tudo me tenha passado num milésimo de segundos pela cabeça, a ponderar se dizer alguma coisa, ou esperar que o dissessem. Gritei:
-- Há aqui gente que quer sair!
Parou, abriu a porta e a rapariga saiu. Foi quando comecei a pensar: "Será que gritei alto de mais? Que vergonha...". Mas ninguém dizia nada! Alguém teria de dizer. As conversas continuaram normalmente, como se nada tivesse acontecido.

Aquele pensamento seguiu-me o resto da viagem... será que marquei uma diferença? Nas pessoas, no motorista, na rapariga? Terá ela ficado agradecida? Ou irritada por não ter sido ouvida? --"Não tenho voz?" deve ter ela ficado a pensar. --"Sou mesmo tímida! Tenho de ter mais coragem!".
Será que marquei mesmo uma diferença? Será que fui diferente? Já não era a primeira vez... na semana anterior, também tinha "gritado" para o motorista, a pedir para sair pela frente, quando a voz de uma rapariga parecia não ter sido ouvida.

Faço falta?
Sou importante?
Marco a diferença?
Tenho valor?
Tenho voz, mas... continuo a não ser ninguém.
Não me sinto importante nem relevante ao mundo... e se não o sinto é porque não o sou realmente.

Num oceano de 6 biliões de gotas, o que sou eu? Nada! Mas se mais ninguém estiver neste mundo, não haveria oceano...
Mas também poderei estar a tirar oportunidades a pessoas incríveis por ainda estar vivo, ou sequer ter nascido.
Com a banalidade que qualquer pessoa hoje em dia tem internet em casa, cada um tem voz, mas serão importantes? Mais importantes do que eu? Menos? São uma moda que vende mais e mais. Eu não faço parte dela, estarei a estragar alguma coisa? Talvez o equilíbrio da sociedade? Como um efeito borboleta.

Faço parte do mundo? Mereço viver nele? Eu não quero...

Eu penso que fiz algo que ninguém se atreveu a fazer, será que demonstra que tenho voz? Que tenho personalidade? Que tenho confiança? Que sou alguém? Como é que as pessoas me terão visto? Um gajo cabeludo, seguro a um ferro, com cara de "zangado"... que raio de pessoa!
--"Se estivesse morta era indiferente para mim, desde que não fosse eu!". Na mente das pessoas não passo de mais um que aqui anda, mas talvez lhes tenha dado algo que não recebam todos os dias... talvez.

Quem sou eu para me achar "importante"? Não é isso que vejo nos olhos de quem me amou ou me ama...
Se não o sinto, é porque não o sou.

1 comentário:

  1. Esse milésimo de segundo…marcou a diferença.
    Se gritas não pode ser baixo  mas de uma coisa podes ter a certeza, foi necessário. Não te limitas-te a olhar para o motorista e sim agiste. Marcaste a diferença para todos que estavam no autocarro. Nas pessoas porque simplesmente olharam e não tiveram coragem de ter o acto que tiveste, no motorista porque quiçá lembrou-o que tem que estar mais atento e principalmente à rapariga porque não foi ouvida e tinha mesmo que sair do autocarro.
    Sim ficou agradecida, se não ficou não tem bom senso, mas na minha opinião sim ficou.
    E se não tivesses reagido dessa forma? Como iria reagir a rapariga? Iria ter com o motorista pedir para parar porque não foi a tempo de sair? Corria o risco de ouvir do motorista que tinha de ter saído porque tinha tido mais que tempo para sair.
    Ou para não se chatear saía na próxima paragem? Ou seja tu simplificas-te tudo isso, “gritas-te” de uma forma para ajudar, nada de mal nisso.
    De alguma forma, e para todos aqueles que te conhecem e que gostam realmente de ti e para todos aqueles que ajudas mesmo como a essa rapariga:
    Sim fazes falta;
    Sim és importante;
    Sim marcas a diferença;
    Sim tens valor;

    Sim tens voz…e podes usa-la.
    Alguém uma certa vez me disse:
    Que aqueles que se julgam incapazes são os mais capazes;
    Ou seja:
    Aqueles que pensam se merecem estar aqui são aqueles que merecem mais
    Aqueles que se perguntam se realmente fazem parte deste mundo, são realmente aqueles que mais fazem falta neste mundo.

    a questão não é se não somos confiantes em nós por colocar-mos essas perguntas, mas sim regem-se pela humildade.
    Acho que a cabas por ter um pouco de ambas és confiante mas de certa forma humilde.
    Tens grandes capacidades e sabes disso.
    Por isso não penses em efeitos borboleta…já viste se não existissem borboletas? Na havia efeitos e se não houvesse efeitos? Não sabíamos o animal belo que é.

    Um dia hás-de ver nos olhos de alguém o quanto és importante, o quanto és necessário, o quanto és querido. Um dia vais sentir esse olhar.
    O “tempo” o dirá.

    bj
    ****LIA

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