terça-feira, 27 de outubro de 2009
O Perfume da Alma... [6]
Crianças... transportadoras de verdadeiras palavras, do qual não têm medo de dizer, medo de julgar, pois para elas... tudo é estranho e tudo é feio.
O desconhecido que as acompanha, preso se encontra ás suas almofadas e roupas, acorrentado e enlaçado de vermelho. Uma sombra com uma boca de descontentamento e ódio.
Não por andar assim vestido, mas porque tudo o que a rodeia, merece e é julgado e desconfiado.
A criança olhou a rapariga misteriosa, e ali permaneceu...
O Desconhecido, o processo que era usado como carrasco auxiliar daquela pequena e irrequietante criança, vestia o preto. Andava como um fantasma... não tinha cara, apenas aquela expressão.
Era a morte, presa pelo próprio vestido, acorrentada e amordaçada de uma expressão completamente depressiva.
Se havia liberdade naquela pequena rapariguita?
Havia... simplesmente, aquela pessoa que passeava acorrentada por entre aquela seu quarto fechado ao mundo, aquele quarto só dela, era o poço das coisas tristes, enfadonhas, feias, estranhas, problemas, dificuldades... era um poço também ele por si só estranho, que juntava bonecos e memórias nostálgicas com aquele perfume depressivo e repugnante espalhado pelo ar.
A rapariga estranha, olhou para a rapariguita, parando de desenhar.
Sorris-te, e a pequenita entendeu a expressão facial que fazias. Tinha feito contacto, e poderia agora falar.
-- Gosto muito do teu vestido... -- disse a pequena, por fim. Sem rodeios, sem medos, sem saltear palavras, nem tremer do que quer que fosse.
-- Obrigada. -- agradeces-te com um sorriso doce, e gentil. -- E eu gosto da tua saia. -- retorquíste.
(já não me lembro se ela trazia saia ou não xD, mas sim, para mim a rapariguita trazia uma saia.)
A pequena afasta-se, deixando para trás o mundo que a manteve quente por breves instantes.
-- És muito boa com crianças. -- sorri.
-- Não posso dizer que as vejo como simples seres humanos mas... agrada-me estar junto deles, e ensinar-lhes o que sei. -- respondes-te com um simples sorriso. -- As suas almas são... verdadeiras, não têm restrições, e estão sempre carregados de energia. Vêm o mundo de uma forma inocente, de uma forma simples... O que mais me agrada, é puder sentir-me como uma mãe.
Agora que penso nisso... coitados dos meus filhos... -- riste-te, sem conseguir conter esse brilho que criavas aos meus olhos.
As crianças trazem a morte pelos cabelos, arrastando-a como os seus bonecos "gigantes" de peluche.
Brincam com ela, deixando-a indefesa, desprotegida... rapidamente se torna uma vítima.
Despindo a morte, da mesma maneira que despem uma pessoa e se entranham nelas, esta, transforma cubos em casas, castelos, naves... o cavalinho de madeira, antes desocupado, é agora guerreado pela própria morte, numa luta onde cabelos, roupas e caras são puxadas, apertadas, arranhadas...
Ainda elas são propícias ao seu descontrolo, cerebral e emotivo...
Não controlam as suas almas, mas tentam ainda assim, controlar e rasgar a dos outros.
Enquanto caminhamos para nos entendermos a nós próprios e tentarmos mudar que somos, subimos e descemos em direcções opostas.
A cada passo escavamos mais no nosso cérebro, e subimos enquanto compreendemos e aprendemos.
Voltas-te ao teu desenho...
-- Costumas ler? -- perguntas-te-me... prestando atenção ao traço longo e fino, cuspido pelo teu lápis.
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Engraçado!?!
ResponderEliminarJá fui essa menina que é sábia por saber tão pouco e ter apenas noção da própria alma que não pode controlar.
Agora sou assombrada pela luz da sociedade, mas parte de quem fui me deixa encontrar conforto na imagem daquela cara que não tem expressão e mesmo assim me espelho nela. Deixei de gostar do manto dela pra vesti-lo e senti-lo, quando descobri que era impssível deixa-la nos meus desenhos, pois eu nunca esqueci o quanto sou parte dela (a Morte), tão odiada por todos que um dia também sorriram pra ela quando crianças, mas hoje a abandoram por não saberem a festa que é a tristeza...
Hã... é verdade! Já me esquecia de dizer que estou feliz por sua tamanha empatia!!!
|m|-_-|m|