domingo, 11 de outubro de 2009
O Perfume da Alma... [5]
A alma abria para mim o seu peito... rasgando também ele o seu. O seu interior breu, hipnotizava.. e sentia-me sugado por esse imaginário "buraco negro".
-- "Vem descobrir o meu mundo..." -- murmurava a tua alma, numa cativante voz de anjo.
Mas eu, apesar de ser "engraçado", sou fechado em mim.
Mais... do que tu és ti.
É a vergonha, o medo do amor, o medo de perder um dia...
Olhas-me a cara... o resto negro. Corado.
-- O que tens? -- perguntas, inclinando-te para a frente, para que vejas a cara que se transforma por baixo dos meus cabelos. -- Magoaste-te?
-- Eu estou bem. -- respondo com um pequeno sorriso.
-- Moras aqui perto? -- perguntas com um sorriso... tentando arrancar-me algo mais.
-- Sim, +/-. -- respondia apertando as mãos com força, roendo-me por entre, maltratando-me.
Ao veres... lanças as tuas mãos á minha e dizes meigamente:
-- Pára! não faças isso. Não fiques assim.
-- Hã? -- respondo olhando para ti, fitando os teus olhos transformarem-se em lágrimas, em dor, em memórias passadas...
-- Não faças isso por favor. Não enquanto eu estiver aqui.
Notei.. que tinha-mos mais em comum do que alguma vez pensara.
Aquele gesto, significava a dor, a dor emocional, física, uma repreensão em nós mesmos.
Mas também ódio, pena, angústia...
Retiras-te as tuas mãos das minhas, e continuas-te a desenhar.
Já não ouvias musica, mas podia ouvir, do head-phone caído, a musica calma...
-- Gosto da musica. -- dissera com um sorriso.
Olhas-te para mim, ainda a desenhar, e sorriste.
Esperava impacientemente para que a roupa seca-se no meu corpo.
Ficaria novamente doente... mas queria ficar mais um pouco ao teu lado.
-- O que é que costumas ouvir? -- perguntas-te-me.
-- O que estás a ouvir agora... toco um bocadinho de guitarra a acompanhar. -- ri-me. --
Normalmente é musica calma, ou melódica e pesada. -- sorri.
Esboças-te um sorriso, um sorriso que trazia perguntas e estranheza.
Era de facto estranho ouvir algo calmo e melódico.
-- Devias ir mudar de roupa! -- avisas-te-me, olhando para mim.
-- Não tarda a secar...
-- Não tarda ficas constipado! -- repreendes-te. Ri e riste-te também.
Agora me apercebera... desenhavas com a mão esquerda.
Para mim era difícil, e algo que, se tentasse fazer, só conseguiria desenhar linhas tortas e nada mais pareciam do os gráficos do pulsar do no coração.
-- Não me chegas-te a responder.. -- disses-te tu, olhando para mim.
Olhei para ti e fiquei intrigado, não me lembrava do que me tinhas perguntado...
-- Moras aqui perto? -- perguntas-te novamente.
-- Há, sim... não muito longe daqui. -- alguns segundos depois.. admirando o teu desenho perguntei: -- Não te costumo ver por aqui...
Riste-te, continuando a desenhar.
-- Vivo bastante aqui aperto. -- olhas-te para a frente e apontando para uma casa do teu lado esquerdo, um pouco ao longe, com um jardim invadido por grandes árvores, arbustos e cores berrantes como se fosse primavera e outono.
-- É bonita! -- respondi.
-- Saiu pouco de casa... gosto bastante do meu quarto. É sossegado, é onde tenho a minha privacidade e... -- olhando para mim, dizes temendo dizer a verdade, talvez.. dizer algo que é só teu e que nunca ousas-te dizer, continuas: -- ...onde me fecho e escondo do mundo. -- e acabas com um sorriso forçado, sem mostrar os dentes, sem mostrar uma pontinha de felicidade.
Talvez sim... uma felecidade de puderes partilhar comigo algo que é só teu.
-- É raro eu falar com alguém... ou que alguém fale para mim. -- continuas-te.
-- Porque te acham diferentemente rebelde, descontrolada, e fria. -- respondi.
Olhas-te-me de repente. Incrédula...
-- Eu não me dou muito bem com as pessoas, e... também não gosto de... falar para elas.
Não me sinto bem a falar o que quer que seja com os meus pais, e tão pouco com amigos com quem me dou.. bastante bem para dizer a verdade... -- ri-me.
-- E... as raparigas... pode-se dizer que não sou muito, simpático. Tenho vergonha, e ainda assim, não quero nem gosto que me olhem. Tudo o que trazem na mão... -- interrompendo-me, acabas dizendo:
-- ...são moedas sem cor.
Moedas sem cor significa que, podem trazer palavras bonitas, mas nunca com um sentimento verdadeiro. Apenas palavras ditadas, por pura brincadeira, para magoar. Palavras pisadas, riscadas.
Ficámos pensativos... sem falar, sem dirigir a palavra, sem troca de olhares.
Apenas o cheiro das nossas almas partilhava-mos entre cada pêlo dos nossos nariz.
Apenas... o toque das nossas auras se tocava, criando relâmpagos, criando sóis, e explosões de cores tão neutras... criando o arco-íris que morria em breves segundos, desabrochado em flores mortas, sem vida nem cor...
Ali... sentados, éramos dois estranhos, que partilhavam o medo do mundo, e a sua conquista com aventuras por letras soltas, letras que criavam palavras belamente cheirosas, estranhas e corajosas, por entre as linhas dos cadernos velhos, e fartos de palavras que não passavam nada mais do que meras palavras... cadernos... que sonhavam ver a nossa imaginação.
Cadernos... que desenhavam as histórias da nossa alma, histórias de um tempo e espaço, sem univerço, sem horas... sem vontade alguma, de ser esquecida.
Histórias que permanecem com os livros das nossas almas, almas, que perfumamos petala a petala, extraindo de cada uma, tudo o que têm para dar desse e de cada mundo.
Vivemos crescendo,
em mundos que entendemos
do frio que faz lá fora,
a tua alma jáz e demora,
pois nestes livros,
a vida é infinita,
nas almas,
em que pintas.
A pequena rapariga, que corria fugida, aproximou-se cautelosa, cuidadosa, pois entraria num mundo estranho, que nao compreendia, mas que aceitava, pois ela era curiosa.
Olhou para ambos, esperando que um deles lhe devolve-se a mesma atenção.
Olhei para ela, com um sorriso timido, mas com um grande abraço no coração, que parecia florir, rir e pular de tolice. A infância corria pelas veias, com o medo da regeição. Quero ser teu amigo! Gritava toda a minha alma... e então, o calor encheu-me o peito.
A rapariga afastou-se mais para o lado daquela rapariga misteriosa, indicando que não era comigo que queria criar contacto. Também ela tinha medo, mas estaria mais reciosa pois eu seria um simples rapaz, e para mim... ela nada traz.
Aquele ar rebelde, curioso e julgativo, rodeava-a com um turbilhão de poeira negra, palavras e frases que a envolviam em direcções e angulos estranhos.
Aquele olhar timido e receoso, porém frio e fechado... afastava-se de mim, negando qualquer tentativa de me compreender ou ouvir.
Crianças... transportadoras de verdadeiras palavras, do qual nao têm medo de dizer, medo de julgar, pois para elas... tudo é estranho e tudo é feio.
O desconhecido que as acompanha, preso se encontra ás suas almofadas e roupas, acorrentado e emlaçado de vermelho. Uma sombra com uma boca de descontentamente e ódio.
Não por andar assim vestido, mas porque tudo o que a rodeia, merece e é julgado e desconfiado.
A criança olhou a rapariga misteriosa, e ali permaneceu...
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