quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Edredão de sonhos...



Esta escuridão que me cobre como um cobertor... protege-me com o seu sossego.
Vejo os olhos do cavalo negro!
A sua respiração corta o silêncio... a sua força invade-me o sangue, e os músculos começam a transformarem-se... sinto os braços rasgar.
sangue que jorro pela boca... o peito arde-me.
Os meus braços estoiram, num conjunto de músculos que crescem para o dobro do tamanho...
Pê-los cobrem-me os braços, rasgando a pele como escama...
o meu cabelo cresce... sinto a cara moldar-se num grunhido estridente de dor e desconforto.

Em dor, em agonia, num rasgar de todo o meu corpo, e em toda a sua distorção molecular... me transformo num cavalo... negro.

O cobertor que me protegia do frio, do mundo, das imagens... que me fazia sentir em constante melancolia, tornou-se parte de mim.

Pois eu sendo cego, recebo nas mãos o mundo que desejo. E recebo-o com agrado!
Esta solidão... que me sossega o afogar dos sentimentos, amor e medo, traz um sorriso num brilho tímido...

O amor que antes deixei crescer em mim, morte jaz aqui... no fim do mundo. Em mim.
Um amor que aguardo novamente, ancioso mas tranquilo, sem pressas, de voltar a encontrar.
De voltar a amar, e de ser por fim, se merecer, a pessoa que sou sem medo!

Não sinto o coração no meu peito, mas sim algo palpitar nas minhas pernas traseiras... parece-me um toque.
É um meu coração a bater...
O outro "abutre" negro, que me ligou os sentidos, aquele cavalo negro de olhos vermelhos, é parecido comigo.. diria que estou a olhar-me ao espelho.

-- Ola irmão! Caminha... pois farás dos teus sonhos pisados, algo maravilhoso! Sonha, sonha com força! E sorri, pois a vida será tão interessante como quando a deixa-mos para trás... na nossa infância.

Pisco os pequenos olhos, e quando "acordei", deparei-me no caminho de uma floresta, era de noite, e um carreiro de árvores de ambos os lados, tapavam um pouco do que restava da lua.

Ele avança, devagar, deixando para trás sonhos pisados, sonhos... eram como possas de água límpida, onde podia ver as memórias, como um vídeo...

Uma rapariga de cabelo louro, baixa, vestindo uma capa vermelho, apesar de não ser o capachinho, parara ao meu lado. Fez-me uma festa no dorso, e percorreu o meu pescoço vagarosamente. Os meus pelos irisaram.
Ela sorrio para mim, e deu-me um beijo junto ao olho...

Caminhou em frente, após breves momentos de contemplação... seguia-a, por entre aquela floresta escura, apenas iluminada pelo sorriso daquela rapariga misteriosa.

Sinto a mão dela ainda no meu pescoço, protegendo-me de algo que não vejo, mas que sinto com todos os meus músculos, olho para trás e vejo as minhas pegadas, as minhas marcas dos cascos.

E também ela, apesar da aparência humana, deixa sonhos... pisados por cascos.

O vento sopra... e as folhas caiem em rodopios simples e lentos... sonhos... sonhos caiem...
Não são meus, mas transportam a alma de cada um que já percorreu, e continua a percorrer aquele caminho escuro...

Ela sorri... transformo-me de novo, no humano que fora... paro.
Interlaçando os seus dedos nos meus... ela aproxima-se do meu ouvido, trazendo na face, uma expressão de confiança, aventura mas um grande medo e desconforto...
-- Leva-me contigo... Leva-me contigo para esse mundo que é só teu... Leva-me! Pois por ti destruirei castelos, monstros e dragões! Leva-me deste mundo... pois após a minha morte... irei assombrar-te até ficares comigo... meu amor, meu anjo, meu espectro!

Sonha... e transforma!

terça-feira, 27 de outubro de 2009

O Perfume da Alma... [6]


[Death by ~marak24]

Crianças... transportadoras de verdadeiras palavras, do qual não têm medo de dizer, medo de julgar, pois para elas... tudo é estranho e tudo é feio.
O desconhecido que as acompanha, preso se encontra ás suas almofadas e roupas, acorrentado e enlaçado de vermelho. Uma sombra com uma boca de descontentamento e ódio.
Não por andar assim vestido, mas porque tudo o que a rodeia, merece e é julgado e desconfiado.

A criança olhou a rapariga misteriosa, e ali permaneceu...


O Desconhecido, o processo que era usado como carrasco auxiliar daquela pequena e irrequietante criança, vestia o preto. Andava como um fantasma... não tinha cara, apenas aquela expressão.
Era a morte, presa pelo próprio vestido, acorrentada e amordaçada de uma expressão completamente depressiva.
Se havia liberdade naquela pequena rapariguita?
Havia... simplesmente, aquela pessoa que passeava acorrentada por entre aquela seu quarto fechado ao mundo, aquele quarto só dela, era o poço das coisas tristes, enfadonhas, feias, estranhas, problemas, dificuldades... era um poço também ele por si só estranho, que juntava bonecos e memórias nostálgicas com aquele perfume depressivo e repugnante espalhado pelo ar.

A rapariga estranha, olhou para a rapariguita, parando de desenhar.
Sorris-te, e a pequenita entendeu a expressão facial que fazias. Tinha feito contacto, e poderia agora falar.
-- Gosto muito do teu vestido... -- disse a pequena, por fim. Sem rodeios, sem medos, sem saltear palavras, nem tremer do que quer que fosse.
-- Obrigada. -- agradeces-te com um sorriso doce, e gentil. -- E eu gosto da tua saia. -- retorquíste.
(já não me lembro se ela trazia saia ou não xD, mas sim, para mim a rapariguita trazia uma saia.)

A pequena afasta-se, deixando para trás o mundo que a manteve quente por breves instantes.
-- És muito boa com crianças. -- sorri.
-- Não posso dizer que as vejo como simples seres humanos mas... agrada-me estar junto deles, e ensinar-lhes o que sei. -- respondes-te com um simples sorriso. -- As suas almas são... verdadeiras, não têm restrições, e estão sempre carregados de energia. Vêm o mundo de uma forma inocente, de uma forma simples... O que mais me agrada, é puder sentir-me como uma mãe.
Agora que penso nisso... coitados dos meus filhos... -- riste-te, sem conseguir conter esse brilho que criavas aos meus olhos.

As crianças trazem a morte pelos cabelos, arrastando-a como os seus bonecos "gigantes" de peluche.
Brincam com ela, deixando-a indefesa, desprotegida... rapidamente se torna uma vítima.
Despindo a morte, da mesma maneira que despem uma pessoa e se entranham nelas, esta, transforma cubos em casas, castelos, naves... o cavalinho de madeira, antes desocupado, é agora guerreado pela própria morte, numa luta onde cabelos, roupas e caras são puxadas, apertadas, arranhadas...

Ainda elas são propícias ao seu descontrolo, cerebral e emotivo...
Não controlam as suas almas, mas tentam ainda assim, controlar e rasgar a dos outros.

Enquanto caminhamos para nos entendermos a nós próprios e tentarmos mudar que somos, subimos e descemos em direcções opostas.
A cada passo escavamos mais no nosso cérebro, e subimos enquanto compreendemos e aprendemos.

Voltas-te ao teu desenho...
-- Costumas ler? -- perguntas-te-me... prestando atenção ao traço longo e fino, cuspido pelo teu lápis.

sábado, 24 de outubro de 2009

Um parque de folhas...



Aqui, neste parque, o tempo voa, mesmo quando olho para as horas.
As folhas caem com o vento que as sopra levemente pelo ar.

A cor das folhas pinta o chão, a relva...
Ouço o som dos passaritos, que chilram pelos pais,
Ouço as árvores rangerem de frio, e esticam os seu braços, na espera de receber um abraço.

O casaco cobre do frio, e as mãos congelam lá fora.
O caminho é longo, e as cadelas correm, saltam e brincam de monte em monte... de folhas.
O orvalho cobre todo o arvoredo, todo o musgo da casca das árvores, toda aquela erva escura...

O céu está coberto por nuvens que parecem pesadas, carregas de um tom cinzento quase negro, que esconde todo o azul.
Sinto algo na costas da mão, e vejo uma gota.
Chuva miudinha caí-me em cima, tão subtil, tão gentil, tão pequenina...
Os meus cabelos lentamente acumulam o orvalho.

Olho para cima, e deixo que a chuva me molhe o rosto. Revejo a vontade de a beijar à chuva.
Revejo o sentimento nostálgico que sinto nestes dias.
Sinto o meu corpo descansar, os meu olhos fechar, e desejar adormecer sobre aquela chuva que me cobria de uma forma tão simpática.

A minha alma acalmava ao toque de cada gotícula, ao som dos meus head-phones.
O calor do meu corpo, fazia-me sentir as mãos mais frias, geladas e quase... adormecidas.
Era um "desconforto" agradável, geladas e rijas como pedra, apesar de não puder nem conseguir mexer um músculo...

Deitei-me num banco, e fechei os olhos.
Calmo, voei para fora da minha mente, e pude ouvir a natureza viver à minha volta.
Os pingos bater na madeira, e sentir, agora, as gostas frias.
Abri os olhos, folhas caiam... ouvia a brisa, e sentia-a nos meus cabelos, nas minhas mãos...
Ouvia-o também a ele, tremer de frio, o seu bater de dentes, e palavras marabundas.

O dia, o tempo, a época, o ano, naquele banco de jardim, não existia.
Era entre este e aquela mundo, entre o nada e tudo.
Um espaço de repouso, tão silencioso, que feria qualquer um até no seu estado mais depressivo.

Aquele era o espaço onde não nos era autorizado crescer, envelhecer, pensar em trabalho, problemas da vida. Ditava isto o nosso cérebro, enquanto nos trancávamos neste mundo de árvores, folhas, e de um perfume ao molhado que nos inundava tanto o nariz como o resto do corpo.

Relembrar, reviver, fazer, criar, e sonhar... vinha e ia com a o vento, embrulhado na chuva, oferecendo àquela floresta, que de todos os embrulhos recebidos, os guardava dentro de si... protegendo corações perdidos, mentes frágeis, mentes... que desabrochavam ao mundo, uma folha de cada vez...

terça-feira, 20 de outubro de 2009

A importância dos amigos?!



Porque são os amigos importantes?
Ou assim tão importantes?

Não os podemos ver como simples professores?
Pais?
Com quem trocamos informação, conhecimento, opiniões, ideias, pontos de vista?

Os amigos são processos, e se dás demasiado importância, valor e carinho, é porque necessitas sempre de alguém que te ajude nos obstáculos, necessitas sempre de crescer, de aprender, precisas de um bengala para todas as tuas tarefas.

Amigos devem ser vistos como pessoas comuns, eu pelo menos vejo assim, a única diferença, é que eles são diferentes pois partilhamos opiniões e ideias semelhantes, logo o nosso cérebro diz-nos que podemos-nos sentir seguros e confortáveis ao lado deles, pois também eles processam a mesma informação.

Para mim, não vejo os meus amigos como... grandes heróis, ou gente importantíssima.
Para mim são... como um irmão, como gente da rua, alguém com quem falo e partilho mais do que simples e supérfluas palavras. Partilho carinho e amizade (ajudo se precisarem), mas não faço disso um grande alarido.

Não me são importantes, são conhecidos, são pais, professores, são lápis e papel.
São simples pessoas a quem eu me dou a conhecer, um bocadinho mais.

Conseguiria viver sem eles, pois são-me irrelevantes.
O meu cérebro tem prazer em "socializar" com eles, mas apenas no seu instinto primitivo, porque para mim, cumprimentar chega.

Amigos são processos, e eu não estou rodeado deles, pois o que eu faço girar à minha volta, floresce por si só. Agira sozinho é o melhor e maior feito, para mim.
Agir com ajuda de outro não é o meu forte, além disso deixei de me dar com gente à algum tempo.

Para mim, não falar do que sofro, do que me faz feliz, do que assusta, do que sou, do que faço, do que gosto e do que me faz sentir vazio, guardo-o para mim.
Não preciso de amigos, de frascos, de pais nem irmão, não preciso de animais para me ajudarem naquilo que construo, mas como sempre, os processos acontecem, e acontecem à força. E desses eu não tenho controlo.
Pois são obrigados a acontecer.

Amigos são processos, para alguns, visíveis que os guia ou ajuda a atingir e a lidar com outros processos mais importantes para o seu próprio desenvolvimento.
Logo, quem dá demasiado valor ao "amigos", é porque está sempre a crescer, talvez depressa demais, ou de uma forma errada, a meu ver. Pois quando não os tiver por perto, a queda vai ser maior.
Vai doer muito mais, e aí o mundo parece estar contra vocês, quando na verdade... foram vocês que não se prepararam para cair, para se magoar, para levantarem-se sozinhos, e continuar a pedalar na vossa bicicleta que era e fora sempre empurrada pelos vossos amigos. Empurrando e afastando processos importantes da vossa linha da vida.

Amam mais os vossos amigos que o próprio namorado/(a), decerto modo até pensam bem, pois se ele/ela vos deixar, apoiam-se nos amigos.
Se assim for, nunca confiaram, nem nunca amaram verdadeiramente uma pessoa.
As pessoas de hoje não sabem amar, sabem que é bom ter uma boa "cunha", e agarram-na!
Não por amor, mas por jeito, por oportunismo, com intenções.

Eu talvez não seja a pessoa mais indicada para "discutir" este tema dos amigos e mal-amores.
Mas como o blog é meu, e a minha opinião é que conta, digo-o à mesma!


Uma pessoa que necessita ou dá demasiada importância à sua família, é alguém que é tão fraca, que quando sai à rua tem sempre de usar uma máscara, até mesmo quando está com a família, que apesar de mostrar que ela (a família) é o mais importante para ela, não mostra a sua parte fraca, nem frágil.


Eu não uso uma máscara para esconder os meus sentimentos, basta este meu corpo, este frasco!
Basta não falar, e vocês nunca saberão o que penso!
Olham para mim, e os vocês cérebros, pedem que me tente fazer falar, para me conhecer, para me compreender e guardar algo de mim nas vossas memórias fétidas, guardar mais do que uma simples imagem do meu rosto, do meu cabelo, da minha roupa.

Eu vejo o constrangimento que os meus pais sentem de cada vez que tentam "abrir-me", fazer-me falar.
Pois para "todos nós", a informação é importante, a compreensão e a catalogação, ou conhecer algo que não se envolve, algo que não temos guardado.
Pessoas que não falam provocam-nos sentimentos de irrequietação. O nosso cérebro obriga-nos a "tentar" conhecer pelo menos algo pessoal daquela pessoa. (os amigos de amigos de amigos ajudam nessas merdas!)

É como tentar compreender e conhecer o que existe para lá daquele misterioso corredor, ou daquele buraco no chão, escuro como a noite, e do qual não conseguimos qualquer informação.
Somos um ser curioso, daí advém a importância que os amigos têm para muitos de vocês, pois eles trazem sempre noticias novas. Algo novo... mas sempre igual.

Não me sinto minimamente preocupado com o facto de não ver as coisas como vocês, com a mesma preocupação, amor e carinho.
O suspense é "algo terrível". E é por isso que tentam conhecer alguém diferente, como aquele gajo sempre vestido de preto, ou aquela rapariga que fica sempre sentada a um canto, a desenhar umas merdas...

Simplesmente porque os vossos cérebros putridos, querem conhecer simplesmente porque é curiosidade, com intenções, porque são uma boa escolha de amigos, ter alguém importante em cada área, para que aconteça como nos filmes de acção e pós-apocalípticos, em que o general, ou o presidente, ou o médico mais importantes, tenham um helicóptero só para eles. Ou para que se safam com cunhas quando a situação o exige.

A importância que damos a essas pessoas, reflecte o contrário do amor que temos por dentro e que queremos demonstrar para com os outros.
A importância para mim deixou de me importar. Se acontecer aconteceu!
Não posso mudar, mas aprender, e aprendo-o sósinho! Com os processos.
Tentar compreende-los é-me importante, mas não necessito de ser carinhoso para com outros, não preciso de agradecer, nem fingir que me esforço, ou esforçar-me para continuar à mesma velocidade que aqueles.

Faço-o o que faço à minha maneira, ao meu ritmo, da maneira como eu quero!
Não preciso nem quero ajudas.
O meu frasco é algo que todos poderão ver e para sempre interrogarem-se que género de pessoa sou.
Nada do que escrevo, ou a maneira como escrevo aqui é a minha verdadeira pessoa...
Sou algo muito mais profundo, muito mais complicado.

Sou o frasco que todos olham, e que todos se interrogam: "O que existe dentro dele?".
Pois eu sou e conheço-me. Sou alguém diferente, extremamente diferente.
Difícil e complicado. Talvez para vocês demasiado convencido, criança, frio, mau...

Sou alguém com quem não te consegues ver valorizada. Pois a tua convença para mim, é só merda!
Achas que me deixo envolver nas tuas frases?
Nas tuas opiniões?
Achas mesmo que me consegues fragilizar?

Não preciso de me preocupar nem de entreter o meu cérebro com teatros de outros.
Tudo o que dizes não me tem a maior importância, e até tu, existires ou não, não me afecta.

Podes falar... mas não te ouvirei como os outros.
Podes perguntar... mas não te responderei como os outros.
Eu não sou os "outros". Serei puro e duro, frio e feio em todas as palavras que demonstrarão a visão que tenho do mundo, das coisas... de ti.

Amigos dão ao corpo e cérebro energia e reconforto. Para mim... isso é-me irrelevante.
Eu dou a mim mesmo o que necessito e quero! Eu mando no meu ser, na minha alma, no meu cérebro.
Se o fodo todo? Para mim não tem importância... sou-o sozinho.

Conhecidos caminham ao meu lado, não amigos, nem familiares... processos!!

domingo, 18 de outubro de 2009

Alma negra...



Neste mundo onde me fecho...
o meu quarto que eu encho.
Com as minhas recordações
e canções.

Neste quarto... nesta janela, onde me fechei, e onde sou sem medo.
Aqui! posso sorrir e chorar.


A televisão trás-me o "mundo" que existe lá fora, e que eu tendo em esquecer.
A internet trás-me algo mais do que os documentários, e programas intereçantes.

Aqui, na forja do meu ser, cresço... e estou cocegado.
Finalmente faço o que me der na cabeça.


As mantas na cadeira, que me cobrem de manha e de noite, protegem-me.
Tornam-me parte deste cubo de branco.
O portátil transporta-me... tal como transportara o Holzman.



Não tenho vontade nenhuma de escrever...
Mas tal como fiz com a PAP... esforço-me e faço acontecer.



Aqui onde me deito e morro a cada dia... ou pelo menos o desejo um bocadinho, posso dormir, ver tv, estar no computador, sentar-me e fazer da cama um ninho...
Posso criar tendas como quando em puto.
Recriar momentos de criatividade com o meu lego, reviver momentos com o meu irmão.

Aqui... nas paredes e prateleiras mostram de forma crua algo que sou um bocadinho... mas que não entendem...
Em cada canto descobrem mundos, puzzles cerebrais.
Mundo estranho este quarto, onde tudo o que posso ser nele... paradoxalmente sou-o na minha mente. Onde nada me vê. Onde ninguém entra, nem eu deixo entrar.

Onde nem pais, nem irmão, nem amigos entram...

Apesar de ser um pouco desarrumado, o meu quarto é a minha cama, o meu lago de reconforto.

Aqui dentro sou cobaia de mim mesmo!!

Depois de uma relação "amorosa" como a que tivera... este meu mundo cai e fecha-se no poço da minha mente mais perturbada.
E mais ninguém entrará no que é meu.

Nem amor, nem rapariga, nem relação.
Apenas ódio me alimenta o coração.
ódio que me esventra as veias como letras, palavras, sentimentos tão profundos que apenas eu sou.



No meu quarto entras-te, e dele nunca mais voltas a ouvir falar ou ver!
Falarei pouco... para que nele não entres!
Este meu segredo, meu poço, meu amor que sou só eu... a mim confio e a mais ninguém.

"anti-social"... obrigado!
Sou-o sem medo!!
Vão para a merda, pois serei para sempre, alguém diferente e consciente.
Demasiado casmurro, sim... mas tenho as minhas ideias e opiniões.

No fim de tudo... apenas vos dou a conhecer a maneira como interpreto o "mundo" que me espera lá fora de cada vez que fecho a porta.

Tentem ler-me o corpo, a roupa, os sapatos, a escrita, o cabelo... algo em que nunca irão cheirar é a minha alma.
O frasco em que a envolve é demasiado "sofisticado" para se deixar impingir pelas vossas gracinhas, ou conversas de elevador, conversas de ocasião...

Neste cubo em que me fecho, onde as 13 paredes estão pintadas de branco, e rasgadas por preto das palavras de dor, palavras de teorias, de sentimentos, de ideias, histórias e palavras nostálgicas... pintadas por imagens a cores, por fotografias, post-its... neste cubo de 13 paredes sou criança, onde brinco comigo e com ele, onde aprendo a ser também "adulto".
 

Os soldados que me rodeio o poço, o meu cérebro, são-me fieis.
E os cavaleiros que cavalgam por entre este vale, por estas planícies que se formam a cada pensamento, te destroem sem o mínimo sentimento de pena.
Pois tal como eu, não toleram que me roubes ou mudes quem sou.

Não me tentes mudar! Não me tentes compreender!
Ama-me como nunca amas-te ninguém, e eu dar-te-ei... mostrar-te-ei a minha alma negra.
Alma que perfumo a cada pensamento, alma bonita que admiro ao espelho.
Alma... perturbada e sensível.

Pensa fora do quadrado e verás um mundo diferente em cada acordar...
Conhece-me... e dar-te-ei um sorriso!

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"Riem-se de mim por ser diferente...
Eu rio-me de vocês por serem todos iguais!"

domingo, 11 de outubro de 2009

O Perfume da Alma... [5]


[Alone by ~hadasi-X]

A alma abria para mim o seu peito... rasgando também ele o seu. O seu interior breu, hipnotizava.. e sentia-me sugado por esse imaginário "buraco negro".
-- "Vem descobrir o meu mundo..." -- murmurava a tua alma, numa cativante voz de anjo.


Mas eu, apesar de ser "engraçado", sou fechado em mim.
Mais... do que tu és ti.

É a vergonha, o medo do amor, o medo de perder um dia...

Olhas-me a cara... o resto negro. Corado.
-- O que tens? -- perguntas, inclinando-te para a frente, para que vejas a cara que se transforma por baixo dos meus cabelos. -- Magoaste-te?

-- Eu estou bem. -- respondo com um pequeno sorriso.
-- Moras aqui perto? -- perguntas com um sorriso... tentando arrancar-me algo mais.
-- Sim, +/-. -- respondia apertando as mãos com força, roendo-me por entre, maltratando-me.

Ao veres... lanças as tuas mãos á minha e dizes meigamente:
-- Pára! não faças isso. Não fiques assim.
-- Hã? -- respondo olhando para ti, fitando os teus olhos transformarem-se em lágrimas, em dor, em memórias passadas...
-- Não faças isso por favor. Não enquanto eu estiver aqui.

Notei.. que tinha-mos mais em comum do que alguma vez pensara.
Aquele gesto, significava a dor, a dor emocional, física, uma repreensão em nós mesmos.
Mas também ódio, pena, angústia...

Retiras-te as tuas mãos das minhas, e continuas-te a desenhar.
Já não ouvias musica, mas podia ouvir, do head-phone caído, a musica calma...

-- Gosto da musica. -- dissera com um sorriso.
Olhas-te para mim, ainda a desenhar, e sorriste.

Esperava impacientemente para que a roupa seca-se no meu corpo.
Ficaria novamente doente... mas queria ficar mais um pouco ao teu lado.

-- O que é que costumas ouvir? -- perguntas-te-me.
-- O que estás a ouvir agora... toco um bocadinho de guitarra a acompanhar. -- ri-me. --
Normalmente é musica calma, ou melódica e pesada. -- sorri.
Esboças-te um sorriso, um sorriso que trazia perguntas e estranheza.
Era de facto estranho ouvir algo calmo e melódico.

-- Devias ir mudar de roupa! -- avisas-te-me, olhando para mim.
-- Não tarda a secar...
-- Não tarda ficas constipado! -- repreendes-te. Ri e riste-te também.

Agora me apercebera... desenhavas com a mão esquerda.
Para mim era difícil, e algo que, se tentasse fazer, só conseguiria desenhar linhas tortas e nada mais pareciam do os gráficos do pulsar do no coração.

-- Não me chegas-te a responder.. -- disses-te tu, olhando para mim.
Olhei para ti e fiquei intrigado, não me lembrava do que me tinhas perguntado...
-- Moras aqui perto? -- perguntas-te novamente.
-- Há, sim... não muito longe daqui. -- alguns segundos depois.. admirando o teu desenho perguntei: -- Não te costumo ver por aqui...
Riste-te, continuando a desenhar.
-- Vivo bastante aqui aperto. -- olhas-te para a frente e apontando para uma casa do teu lado esquerdo, um pouco ao longe, com um jardim invadido por grandes árvores, arbustos e cores berrantes como se fosse primavera e outono.
-- É bonita! -- respondi.
-- Saiu pouco de casa... gosto bastante do meu quarto. É sossegado, é onde tenho a minha privacidade e... -- olhando para mim, dizes temendo dizer a verdade, talvez.. dizer algo que é só teu e que nunca ousas-te dizer, continuas: -- ...onde me fecho e escondo do mundo. -- e acabas com um sorriso forçado, sem mostrar os dentes, sem mostrar uma pontinha de felicidade.
Talvez sim... uma felecidade de puderes partilhar comigo algo que é só teu.
-- É raro eu falar com alguém... ou que alguém fale para mim. -- continuas-te.
-- Porque te acham diferentemente rebelde, descontrolada, e fria. -- respondi.
Olhas-te-me de repente. Incrédula...

-- Eu não me dou muito bem com as pessoas, e... também não gosto de... falar para elas.
Não me sinto bem a falar o que quer que seja com os meus pais, e tão pouco com amigos com quem me dou.. bastante bem para dizer a verdade... -- ri-me.
-- E... as raparigas... pode-se dizer que não sou muito, simpático. Tenho vergonha, e ainda assim, não quero nem gosto que me olhem. Tudo o que trazem na mão... -- interrompendo-me, acabas dizendo:
-- ...são moedas sem cor.

Moedas sem cor significa que, podem trazer palavras bonitas, mas nunca com um sentimento verdadeiro. Apenas palavras ditadas, por pura brincadeira, para magoar. Palavras pisadas, riscadas.



Ficámos pensativos... sem falar, sem dirigir a palavra, sem troca de olhares.
Apenas o cheiro das nossas almas partilhava-mos entre cada pêlo dos nossos nariz.
Apenas... o toque das nossas auras se tocava, criando relâmpagos, criando sóis, e explosões de cores tão neutras... criando o arco-íris que morria em breves segundos, desabrochado em flores mortas, sem vida nem cor...

Ali... sentados, éramos dois estranhos, que partilhavam o medo do mundo, e a sua conquista com aventuras por letras soltas, letras que criavam palavras belamente cheirosas, estranhas e corajosas, por entre as linhas dos cadernos velhos, e fartos de palavras que não passavam nada mais do que meras palavras... cadernos... que sonhavam ver a nossa imaginação.
Cadernos... que desenhavam as histórias da nossa alma, histórias de um tempo e espaço, sem univerço, sem horas... sem vontade alguma, de ser esquecida.
Histórias que permanecem com os livros das nossas almas, almas, que perfumamos petala a petala, extraindo de cada uma, tudo o que têm para dar desse e de cada mundo.

Vivemos crescendo,
em mundos que entendemos
do frio que faz lá fora,
a tua alma jáz e demora,
pois nestes livros,
a vida é infinita,
nas almas,
em que pintas.

[child by ~fabiii]

A pequena rapariga, que corria fugida, aproximou-se cautelosa, cuidadosa, pois entraria num mundo estranho, que nao compreendia, mas que aceitava, pois ela era curiosa.
Olhou para ambos, esperando que um deles lhe devolve-se a mesma atenção.

Olhei para ela, com um sorriso timido, mas com um grande abraço no coração, que parecia florir, rir e pular de tolice. A infância corria pelas veias, com o medo da regeição. Quero ser teu amigo! Gritava toda a minha alma... e então, o calor encheu-me o peito.

A rapariga afastou-se mais para o lado daquela rapariga misteriosa, indicando que não era comigo que queria criar contacto. Também ela tinha medo, mas estaria mais reciosa pois eu seria um simples rapaz, e para mim... ela nada traz.

Aquele ar rebelde, curioso e julgativo, rodeava-a com um turbilhão de poeira negra, palavras e frases que a envolviam em direcções e angulos estranhos.
Aquele olhar timido e receoso, porém frio e fechado... afastava-se de mim, negando qualquer tentativa de me compreender ou ouvir.

Crianças... transportadoras de verdadeiras palavras, do qual nao têm medo de dizer, medo de julgar, pois para elas... tudo é estranho e tudo é feio.
O desconhecido que as acompanha, preso se encontra ás suas almofadas e roupas, acorrentado e emlaçado de vermelho. Uma sombra com uma boca de descontentamente e ódio.
Não por andar assim vestido, mas porque tudo o que a rodeia, merece e é julgado e desconfiado.

A criança olhou a rapariga misteriosa, e ali permaneceu...

domingo, 4 de outubro de 2009

Para onde eu vou...



Para onde eu vou... não há espaço para choros.
Não à ilusão, nem pensamentos, nem sonhos...

O eu não existe, desaparece e é consequentemente rasgado, devorado e regurgitado.

É uma caixa fechada, sem cor, não é branca nem preta.
não tem luzes, não tem ar, não existem asas, nem chamas.

Não existe amor!
Não existe atenção, nem carinho.

Ódio, saudade, paz...
Existe espaço para mim...

Poderei finalmente ser livre.

Não tenho pena de ninguém, não vou por ninguém, nem irei chorar.
Não permitirei que ninguém me traga de volta.

O meu coração está trancado!
E não aceito amor de mais ninguém.
Não amo, nem amarei.
Não me preocupo nem me importo.

Já estou destruído!
Medo?! que medo?
Desaparecer é a liberdade da mente...
é o sossego da alma, o descansar do corpo.

Para onde eu vou... poderei tirar este fato que me pesa, este estrume de doenças.
Deixar de ser a criança que os meus pais ainda vêm em mim, deixar de ser o seu querido.
Poderei ter paz e espaço, que não existe.

Poderei sorrir! :)
descansar, criar, imaginar, julgar-me, culpar-me, magoar-me... sem sentir dor.

Poderei desaparecer e adormecer, deixar de existir.
pois não existe espaço para o nada, para onde eu vou.

Não existirá pena, nem choros quando me for, nem frases bonitas...
odeio toda agente, odeio quem me toca, quem me olha, quem diz amar-me.
odeio! porque posso, e não me importo.

Trancado, de pulsos rasgados, de coração na mão, para o mundo que em tempos sonhei ser só meu.
Um mundo que criei, onde cresci e me eduquei. Onde não sou aceite, nem "amado".
Onde eu não quero ficar mais tempo.

Não tenho medo! Não deixarei que as "emoções bonitas", e o carinho ou o amor se infiltrem no meu cadáver putrefacto!
Não sou, e deixe de ser o "Paulo" sossegado... calado e tímido.

Tornei-me violento! e adoro porque não me preocupo...
Sou-o porque ela ajudou-me.
Porque eu "obriguei-me" a tornar-me assim.
Não controlo quem sou, nem me preocupo mais...

O amor existiu em mim... sim.
Mas não haverá mais espaço nessa caixa que encolhe.
E onde as pessoas guardam o "amor"... eu guardo o meu coração, o meu órgão.
E onde eu guardo e manipulo quem sou... as pessoas criam os seus pensamentos.

Estou em auto-destruição... estou doente, constipado, a minha cabeça ferve.
Mas não me importo de desaparecer... doente ou não... desejo-o na mesma!
Desejo a faca junto ao meu corpo... a cada dia que passa...

O que escreverei antes de partir?
talvez não deixe nada para que os meus pais leiam...
talvez apague tudo o que sou, fui, e criei.

Quero ser esquecido! Quero ser deixado em paz!
Quero que pelo menos uma vez na "vida"... faça alguma coisa em condições à primeira!
Estarei ao teu lado amiga!

Quem era eu, para antigamente criticar aqueles adolescentes que queriam e desapareciam?
Eles querem... eles fazem! porque é esse o processo deles.
Eu não me preocupo.
Eles fazem-no, não por serem desistentes, ou não quererem enfrentar a vida.
eles fazem... porque sentem! porque querem sossego, paz, espaço.
Querem ir para o nada!! onde não terão mais problemas, onde poderão dormir para sempre.

Estou farto de tudo...
(se eu não for capaz... que algo o faça!)

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

O Perfume da Alma... [4]

Pintavas-me de traços firmes e demorados... sonhando nesse mundo em que me vias.
Os traços do cabelo, as costas... tudo num fervor de sentimentos inquietos e inseguros, afrodisíacos e calmos...

um desenho de amor...


O sol reaparecia por entre as nuves, causando a todos, uma sensação de reconforto, livres novamente.
Olhei a água, o meu reflexo.. e voltei a olhar para ti... por uns segundos.. a água escura, fica turva, e algo sobressai. Um peixe que vem à tona para respirar... sinto-o passar pela planta dos meus pés, fazendo cócegas... rindo-me, tu olhas-me e contemplas, e tentas compreender o que se passa comigo, por momentos fechas as trancas, recolhes pontes e fechas janelas, apagas as tochas... pensando... e protegendo-te de mim.
Aos poucos.. destrancas-te do mundo, da imagem que crias-te de mim, e começas a aceitar o momento... a gravar a memória em ti.

O teu mundo, a quem ninguém dás, nem mostras, nem deixas experimentar nem sentir...
é um mundo, criado no centro da tua mente, rodeado por um mar infinito de ligações neuronais, protegida por energia... pensamentos.

É o mundo onde és sem medo, onde aceitas quem queres, onde crias sentimentos... onde és!
Onde não existe espaço para manipulações de qualquer individuo que te aborde, que te julgue ou impinja quem és e quem deves ser.
Um mundo tão sombrio, tão próprio, e sensível.

A alma comanda-te o cérebro... e o seu perfume, de tão excêntrico, belo, único, e auto-controlador... gotícula (deixa gotitas) a minha, saltita e corre, aromatizando também a minha alma questionadora.. que tudo controla.

Vês-me sorrir, rindo de algo que não conheces, que não viste, nem sentes...
Um sorriso que te atrai, algo... diferente, verdadeiro!

Olho para ti, e vejo-te sorrir do meu sorriso, do meu momento, que se perfuma na tua caixa sombria.
A borboleta, esconde-nos os olhos, impede a visão da alma e do perfume que traz...
Ainda assim, batendo as suas asas douradas, os meros segundos que nos deixaram rasgados... retirados do mundo, e do apunha-lamento da saudade... o tempo... parou.
Tão devagar, tão tépido o momento, tão infinito o seu bater de asas, permitia-nos deslumbrar a coisa mais bonita e ainda assim insignificante e frágil, peça da natureza.

Podíamos sonhar naqueles sóis distantes que nasciam do reflexo das suas asas... deixando o seu rasto de chama.
As aventuras que ambos criávamos, as imagens, as histórias e os heróis.
Histórias de uma borboleta, que também ela... perfumava-nos com a sua elegância e fragilidade, que nos fazia invejar o seu poder de voar!
Histórias de um "País das Maravilhas", onde crescíamos em "Terra do Nunca" no meio dos nossos momentos de criança, de peluches, de sentimentos pequenérrimos das nossas aventuras, de brincadeiras tão antigas como a nossa própria voz... onde a nostalgia voava com um rasto colorido por entre a pilha de brinquedos, pelo amontoado de memórias, onde brincava... com os números da nossa idade.

O cheiro da flor "incomum" tocava-mos os pêlos nasais.. com suavidade, transformando também, o seu perfume de pólen em energia que nos fazia reagir os músculos emocionais... guardávamos esse momento, esse filme do nosso momento, do agora!

Os teus olhos reluziam perante os meus, a história, o mundo, o sentimento em que te envolvias.

Olhas-te-me corando, sorris-te...
Tentei apanhar a borboleta. ...e algo em ti gritava, sentias-te ser enjaulada, trancada, privada de seres... sentido perder o sorriso.

Esticado, lembrámos-nos da rapariguita pequenina que antes a caçava entre os seus gestos pouco controlados... aproximei-me, e caí.

O frio cobria-me o corpo, a água encheu-me a boca, e a escuridão transformara-se na minha visão. Senti o peixe beijar-me o peito. A falta de ar ardia-me os pulmões, e levantei-me...
Ao agradecerem-me, os meus pulmões encheram-se numa grande lufada de ar, e a minha barriga escondia-se sugando a camisola.


Ouvi-te rir... vi-te... rir!
E ri-me também, incapaz de esconder o meu sorriso por entre o cabelo, de cabeça baixa.
-- Faz outra vez! -- disses-te, rindo-te ainda mais, sem nunca tapando o que de mais belo me fazia renascer, aquecer... o seu sorriso.
Controlando-se depois, e também ela respirando por fim, disse-me:
-- Nunca roubes a liberdade a ninguém! -- respondeu sorrindo.
-- Acho que mereci... -- respondi, olhando o meu corpo.

Subi o leito do rio, e sentei-me ao teu lado.
-- Vais-te constipar! -- disse, olhando-me o corpo molhado, sentindo também na sua pele o frio que me cobria. Um frio que eu vestia com prazer.

Eras diferente, muito protectora de ti mesma, muito confiante, independente.
Uma criança abraçada por muros tão altos como tu, mas tão belos por dentro como tu por fora.

Ó rapariga que perfuma a minha alma,
que me fazes crescer em calma,
tu que me salvas num momento
me sinto a ti prendendo...

Num sorriso teu me perco
neste olhar que me cerca
em chama e gelo se deu
o efémero processo da vida...

-- Ficas mais bonito assim... -- respondes-te de repente. Quebrando o gelo, e rasgando-me o muro de vergonha com palavras tão doces, tão simples... tão simpáticas.
Abriste para mim o teu portão, acendeste tochas e abris-te janelas.
A alma abria para mim o seu peito... rasgando também ele o seu. O seu interior breu, hipnotizava.. e sentia-me sugado por esse imaginário "buraco negro".
-- "Vem descobrir o meu mundo..." -- murmurava a tua alma, numa cativante voz de anjo.