quinta-feira, 5 de junho de 2014

A árvore que o criou...

Estava a sua mãe chorosa, soluçando pelo filho pregado vivo na cruz. As feridas abertas, rasgadas pelos mil raios de luz, espinhavam de vermelho o caule de mente rosada. Eram doenças que se espalhavam no cadáver profanado e não a fé de mãos e pés lavados. A cabeça do rebanho, erguia-se no topo da estaca como um troféu, glorificando o pastor de uma visão atroz nos rostos que cegamente o choravam. O peito daquela Maria, que de pequeno não o conheceu mas que o encantou no meio da palha, gemia num soluço sofrido, compondo com sua senhora, uma cacofonia fora do tom. Lutava ele, o desmanchado, pelo fio da vida a quem dava como seu titereiro, o Adamastor triunfante que nunca lutou. Eram vinhas e centeio, semeados e lavrados, desgostados à mesa do chão. Não havia alimento do fogo para as cadeiras, nem o bronze, que compunha a lança que o trespassava, para os pregos. O dó explicito em que deixava a sua alma, jazia solitária com a dívida ao pescoço, mesmo coroado rei daqueles cujo o dinheiro vale ouro.
A morte anunciada, lavrada pelos bois que o puxavam, surgia-lhe pesada na nuca, enchifrando-o pelas palavras que lançava aos peixes.

2 comentários:

  1. Acredita no que te vou dizer: tens o dom da palavra! Usa-o bem :)

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    1. Não acredito que o tenha. :D
      Mas faço um esforço para melhorar. :)

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