quinta-feira, 11 de abril de 2013

Não paras de me surpreender...



Entrei à tua procura, com um pequenino sorriso nas minhas bochechas. Respirava fundo, não por ter medo mas por ansiedade. As minhas mãos começavam a soar e a roupa parecia prender-me os movimentos.
Sentei-me na primeira cadeira que encontrei e sorri para a Joana, a enfermeira com quem tanto conversavas.
-- Ela está mesmo a sair! -- respondeu, reconhecendo-me.
-- Obrigado. -- sorri.
Ouvi a porta abrir e de imediato me levantei escondendo atrás das costas o que trazia na mão. Felizmente ainda vinhas meia distraída e a conversar com a doutora.
-- Obrigada... -- respondeste, depois de dois beijos na sua cara. Voltaste-te para a enfermeira Joana e reparaste logo numa sombra muito distinta, com um formato e altura bastante reconhecível. Atiraste o olhar contra o meu peito e subiste-o até aos meus olhos, à minha cara, aos meus lábios que conhecias de cor. Olhaste-me com alguma tristeza, um certo trago a raiva que se desenhava nas tuas sobrancelhas mas um sorriso que rapidamente transformou todo o teu corpo em total euforia química. Parecias uma criança a desembrulhar um ovo-kinder, ou aquela estudante que tinha tirado o seu primeiro "Muito Bom". Qualquer pessoa que olhasse para ti naquele momento, iria perceber a felicidade jubilante em que te encontravas, era contagiante! Eu próprio não podia deixar de me sentir tão feliz por te ver tão confiante e confortável.
Destapei a mão direita do pano surpresa e apresentei-te, muito romanticamente, como se fosse a primeira vez que te pedisse em namoro ou em casamento, um ramo de flores vermelhas, muito bem enfeitado. Coisas melosas que eu sei que te agradam.

A tua face corou e tapaste a boca com alguma vergonha. Tinha chegado atrasado à consulta, sabia-lo, mas não me tinha esquecido de ti. Jamais de um rosa como tu. Reparaste na camisa branca, debaixo da camisola vermelha, nas calças bege que tu tanto dizias fazer sobressair o meu rabo bonito. Ficaste embasbacada, admirada e sem saber o que dizer. Deixaste-te absorver pela minha presença, pelas cores, pelo presente que já não importava mas que ajudava a embelezar e a dar valor àquela mão tão grande que adoras ver passar pelo teu corpo, à noite, quando o frio aperta.
Estiquei o braço oferecendo-te o ramo, e todo o teu corpo tremeu, levemente, gritando por um abraço que parecia tocar-te. Correste para mim, chorando de felicidade pelo momento que nunca irias esquecer. E se o fizeres, estarei aqui todos os dias da tua vida, para te-o relembrar, de como foi e ainda é mágico.
Abraçada a mim, a apertar-me com força, segredas-te-me ao ouvido, as palavras que me fizeram vibrar e desbotar em lágrimas.
-- São gémeos. São um casal...
A voz doce cintilou nos meus ouvidos como uma simples canção de embalar, pura, perfeita. O meu peito já fraco encheu-se de ar e abracei-te, colei-te a mim. Agarrei-te com vontade de te mostrar que eras minha, e sem medo, chorei por ti e por mim o milagre que a natureza nos tinha presenteado. Aqueles dois pequeninos intrometiam-se entre nós, como ainda hoje fazem de braços esticados à espera de colo. Mas abraçar-te não chegava, e queria olhar para a tua cara, reconhecer a tua felicidade, relembrar-me das lágrimas e do teu sorriso incrivelmente ternurento.
Viste-me a chorar, de bochechas molhadas e lábios rasgados, um para cada lado, com os olhos a brilhar, mesmo achando que podia ser da luz, sorriste um pouco, reconhecendo os sentimentos que transbordava. Beijei-te, senti os teus lábios, os teus cabelos, o cheiro ao teu perfume, o calor do teu corpo, e riste-te, contagiando-me de imediato.
-- Parabéns!! -- felicitou a Joana, batendo palmas por breves momentos, até que aceitas-te o seu abraço respondendo oportunamente:
-- Obrigada.
Cada um tão caloroso e verdadeiro, que quando chegou a minha vês, podia jurar que sentiste um bocadinho de ciúmes. E vontade não te faltou de lhe dizer: -- "Já chega, ele é meu, larga-o!"

Aceitaste o ramo de flores que olhas-te por breves segundos, pois o grande presente não eram elas, com as suas cores aromáticas e beleza sinfónica, era eu. O maior e o melhor presente naquela pequena sala. Percorreste todo o meu corpo demoradamente, gravando na memória uma imagem babada de mim, a que agrafaste com força à ecografia e às emoções eufóricas que te faziam pular.
Muito rapidamente, debruçaste-te sobre a grande mala e vasculhastes os pojos e despojos de maquilhagem, telemóvel, carteiras de cartões e moedas, lenços e batons, retirando com cuidado de um pequeno bolso escondido, a ecografia oferecida pela doutora.
-- Olha... a Inês e o André. -- largámos juntos as lágrimas de felicidade que a Joana parecia partilhar com alguma inveja. Sabíamos que era apenas uma foto, a preto e branco, onde nada podia ser destingido, mas olhar para ela, era como ver os futuros desenhos a lápis daqueles rebentos abotoados às nossas asas.
Sentis-te um ponta-pé na barriga, e olhas-te rapidamente para mim. Agarraste-me na mão e levantas-te a roupa que te escondia esse sexy umbigo. Fui tocado, interagi de novo. Na minha mente, as minhas mãos pareciam agarrar as deles, e desejei secretamente sentir naquele momento a força das suas mãozinhas, de ouvir o seu choro, de apressar o processo...
-- Vamos! Quero ir comer, estou cheinha de fome. Parece-me que vão sair glutões como o pai... -- sorriste incriminando-me de comer mais do que a tua barriga danone aguenta. Cozinhas bem! O que queres que faça!?
Despedimos-nos da Joana, atravessamos a porta e o Sol radiante parecia já saber da noticia. Até a Lua nos tinha vindo espreitar, para que rapidamente fosse afastada pelas nuvens que pareciam pintar o azul do céu, com pinceladas brancas de guache. As mesmas pinceladas loucas com que os nossos filhos pintam tudo o que vêm, tudo em que tocam. Não as transformam em ouro, mas a nossa paciência e dedicação... parecem-se com ele!

-- Ai que guerrillas! Não sei como conseguem ter tanta energia! Que diabretes!
-- Só podem sair a alguém... -- retorqui.
-- A ti! -- respondeste sem pensar, sorrindo como um pequeno diabrete. Sem avisares correste para junto deles de braços abertos.
-- Vou-vos apanhar! hahahahah
-- Não me escapam!
Eles, corriam de um lado para o outro, a fugir de nós, gritando em plenos pulmões o medo criança de serem apanhados pelo papão do papá e pela bruxa da mamã... Estás tramada connosco!

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