Entro em casa, penduro o casaco e o cachecol. Olho em volta e grito o teu nome.
-- Amor?
Não há resposta. Não ouço a tua voz doce dançar nos meus ouvidos e adocicar-me a mente. Talvez não estejas em casa. Talvez estejas no quarto e não me tenhas ouvido. Ou talvez tenhas os headphones colocados.
Avancei até à sala, onde te encontrei de camisa azul, meias e cuecas pretas vestidas, junto à mesa de jantar, de braços cruzados e muito zangada. Olhas-te-me verosifedamente os olhos e encolhi-me sem saberes.
-- O que tens? Está tudo bem?
-- Nada, não se passa nada! -- respondeste virando-me a cara, perdendo a tua atenção na rua lá fora.
Aproximei-me sem esboçar quaisquer sorrisos, num passo calmo enquanto o meu cérebro percorria todas as minhas memórias, vasculhava conversas, gestos, criticas ou carinhos que a tenha feito ficar assim.
Já junto de ti, senti o teu característico e preferido perfume. Um reconforto, um mar de aconchego e ternura, de fragilidade e sedução que sabia fazer-me suar ou adormecer tranquilo.
A leoa furiosa olhou-me de novo enquanto me aproximava dos seus limites territoriais. Tentei beijá-la e recusou voltando-me a cara.
-- O que se passa?
Olhou-me nos olhos e balançando entre a rua e o castanho do meu olhar disse:
-- O que andas-te a fazer até esta hora?
-- Estive a trabalhar amor.
-- A trabalhar? Tiveste foi a trabalhar com aquela loiraça nova lá do trabalho!
-- O quê? Estive a trabalhar! Não tive com loiraça nenhuma! Paras com isso?!
-- Não paro! Quando o meu marido se anda a atirar às outras mulheres, é porque alguma coisa não está bem!
-- Mas qual atirar às outras mulheres? Não ando a fazer coisíssima nenhuma! Vim agora do trabalho.
Olhou-me a face na tentativa de ver algum padrão de mentira.
-- Então são elas que se andam a atirar a ti!
-- E depois?
-- E depois?! -- levantou a voz e gritou ainda mais possessa. -- Não gosto! Quem são?! Que eu vou falar com elas!
-- Não é ninguém! Não estejas assim. Estive só a trabalhar. Tanto ciume...
-- E não me avisas?! Nem um telefonema, nem uma mensagem?! Tenho. Ao lado de um homem como tu sou eu quem tem de ter ciumes! Sou eu quem tem de mostrar às outras que és meu e só meu!
-- Pára com isso amor. És muito mais bonita do que eu! Sexy, charmosa, elegante, sensível...
-- Pára com isso! Não sou! Aposto que te aparecem lá mulheres com peitos maiores e todas decotadas!
-- Mas porque é que estás assim?
-- Estou assim porque não suporto que se atirem a ti! Que fales com mulheres mais bonitas!
-- Vou ser mal educado?
-- Falas o que tiveres a falar e acabou!
-- Não exageres. Sabes bem que eu estou contigo porque me fazes feliz! Porque me completas.
-- É? E quando eu deixar de te completar?!
Perdeu a compostura e lentamente chorou os medos e as incertezas que a assombravam. Abracei-a, mas rapidamente me afastou, tentando permanecer zangada.
-- Diz-me lá! Vais deixar-me quando deixar de te completar? De te fazer feliz?
-- Tu fazes-me feliz, não digas essas coisas. Estás chateada, tens razão, devia ter avisado, desculpa. Eu amo-te. -- olhei-a com um pedido de desculpas.
-- Não sei. -- poisou a mão no queixo e deixou as lágrimas escorrem-lhe pela cara. -- Estou cheia de estrias Estou gorda! O meu rabo é enorme e o meu peito é pequeno...
-- Pára por favor! Pára de dizer essas coisas! Não sabes que me magoas? Desculpa, devia ter avisado, achei que conseguia sair mais cedo e não consegui. Mas por favor, pára de dizer essas coisas!
-- Já não gostas é de mim e é por isso que ficas lá até tarde! Para não olhares para mim, para a minha cara feia!
-- Pára amor... -- senti um aperto no peito, uma dor, uma tristeza, mas uma profunda sensação de amor. Vê-la chorar fazia-me sentir amado. Agarrei-lhe a cara e beijei-a com força, abraçando-a com o meu amor.
Estaria com o período? Nunca lhe contara, mas os seus momentos mais difíceis, sensíveis e emocionais, eram os meus favoritos. Vê-la chorar, sentir-se tímida ou amuada, ou até mesmo zangada, desenhavam um sorriso caloroso nas minhas mãos, nos meus braços, nos meus lábios, que a seguravam com mais força do que era costume.
Abraçou-me com força, com os braços pelo pescoço.
-- Tive tanto medo! Nem imaginas... já tinha começado a pensar coisas...
-- Desculpa amor, foi sem querer.
-- Matas-me do coração...
se soubesses as saudades que tenho de te ler. as saudades que tinha de me perder pelos teus textos.
ResponderEliminarTens de cá vir mais vezes! :P
Eliminarquem te diz que não venho?
ResponderEliminareu venho. não são poucas as vezes em que abro a página e fico a olhar para ela e penso. Hoje não é o dia. E depois há dias em que abro e leio e recordo-me porque volto e revolto. ^^