quarta-feira, 14 de novembro de 2012

É algo que imita, ou algo que é?


[Time by ~Daizy-M]

Há coisa de +/- 2 meses, no Forum de Coimbra, deparei-me com um cenário interessante. Mãe e filha, paradas na escada rolante que subia. A mãe encostava-se do lado esquerdo, com a mão na anca e posicionava as pernas em forma de 4, como é natural fazer. Olhei então para a filha, e encostava-se do lado direito, com a mão na anca e as pernas traçadas num 4. Era o espelho da mãe.


Como já li em vários livros, é natural uma criança copiar os movimentos dos pais. É uma mímica que os ajuda a desenvolver rapidamente sem ser preciso pensar muito sobre o assunto. Sabe-se que é algo instintivo, mas...
Se por um lado é uma prova de que os "neurónios espelho" realmente existem, pergunto-me então, até que ponto, parte da personalidade dos pais passou para os filhos. Neste caso, passa. Existe hereditariedade de pontos, ideias ou sentimentos?
Como debato em: 

Algo interessante sobre estes comportamentos mímicos, é que existem filhos que pretendem des-associar-se dos pais e outros que seguem as suas pisadas e as perpetuam por infindáveis gerações.


Mas focando-me no assunto. Será realmente uma mímica instintiva, ou apenas uma maneira de estar que hereditou? O facto de alguém dizer que uma criança se parece com o pai ou com a mãe quando eram novos, apesar de os próprios filhos nunca terem conhecido as atitudes dos seus pais quando eram da sua idade, a não ser através de histórias, significa que parte da personalidade dos seus pais foi transmitida geneticamente  Ou que simplesmente, quando eram pequenos, os seus pais agiam +/- da mesma maneira que agiam quando eram mais novos e isso influenciou os seus filhos?
Mas isso não explica o sucesso, a inteligência  ou falta dela, a capacidade de aceitar coisas que os seus pais tiveram ou não têm. Explicando melhor, Uma criança inteligente pode surgir num seio familiar com um baixíssimo grau escolar ou de cultura geral. Significando então que a criança não copiou os pais de qualquer maneira, mas que se sobrepôs a eles mesmos. Mas outros nascem filhos de pais inteligentes, e tornam-se inteligentes.
Talvez um ponto fulcral, é a maneira como se educa a criança. Como se lida com as situações e como se as expõe no sei familiar. Uma criança que emita a postura física da mãe ou do pai, poderá mostrar algumas ideias.
Poderá mostrar que se associou, que se agregou à personalidade da mãe. Que fez da mãe uma pessoa importante e necessária para a sua vida.
Poderá mostrar que a criança tem facilidade em imitar, dependendo da perspectiva  porque podendo não se conhecer quem é, usa os outros como uma imagem a seguir. Com uma personalidade que deve estudar. Todos nós já imitámos alguém. O pai, a mãe, o irmão, os amigos, os primos, quer fisicamente, psicologicamente  anedotas, frases, roupas, objectos, etc.
Poderá demonstrar num outra perspectiva  que por ter facilidade em imitar, gosta de fantasiar personagens. Ou se identifica com várias pessoas.

Poderá mostrar que, sim, é uma maneira de crescer, mas imitar poderá ser algo perigoso. Poderá mostrar que é esse o exemplo que acha mais correcto, pois é perpetrado por um adulto. O que poderá criar um sério problema pois a criança assume a mímica que faz como correcta, positiva e algo que se usa no mundo natural humano ou em sociedade. Dependo obviamente do que imita, a criança tanto poderá sair prejudicada como beneficiada.
Voltando então às posições da mãe e da filha, na escada rolante. Pôde-se ver com facilidade, que aquela era a filha dela, e que a senhora era a mãe. Significa então que existe um impressão digital para cada família? Sabe-se que, hoje em dia, os genes transmitidos, são, a cada geração, menores que na geração anterior. De certa forma, podem significar uma limpeza aos genes que não são necessários ou que simplesmente estão a mais, que são lixo ou estragam a própria estrutura de luta dos vírus.
Filhos de homens mais velhos têm mais mutações
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Uma ideia a reter disto, é a de quando vamos na rua, e parecemos ver alguém ao longe ou do outro lado da estrada, de costas, e pensamos que é um conhecido. Ficamos calados e tentamos olhar-lhe a cara. Até ao momento que caminhamos até à pessoa, o nosso corpo estuda o caminhar, a maneira como os ombros balança, o cabelo, a cor, o tipo de roupa, sapatos, e as mãos ao longo do corpo. É uma impressão digital individual. É, de facto. Mas numa família, é possível ver um padrão? É possível ver uma impressão digital? Estatística e psicologicamente, é "praticamente" impossível ver uma maneira própria de uma só família  nem que contemos só com os filhos e os pais. Apenas é possível  e falando por mim, acredito mesmo que seja possível  associar uma determinada criança a um pai/mãe através de um simples olhar, de perceber como interage ou fala com os objectos e as pessoas, quando o laço entre pais e filhos é forte. Não é preciso fazer nenhum estudo para perceber isso.

A impressão genética, está presente na cor do cabelo, tipo de cabelo, cor dos olhos, nariz, lábios, orelhas, etc. Como se estuda em Ciências no 7º ano. Mas uma impressão genética levanta perguntas como nos textos que escrevi e mencionei mais acima. Uma criança, como animal que enfrenta um mundo que desconhece e do qual nada sabe, nem como funciona, com os anos aprende as teias que regem a sociedade, e se tiver sorte, a da psicologia, daquilo que o faz um individuo. Por isso, é natural e um mecanismo que ela mesma possui, uma capacidade adquirida ao longo de milhares de milhões de anos. Mas até que ponto é algo "natural" no sentido de ser aprendido, educado e ensinado através da visão e da experiência própria (óbvio) e não uma descendência de genes?
Mas até a hereditariedade tem limites, tem deficiências. Até um grande impacto profundo no foro psicológico poderá criar uma visão das coisas completamente diferente da normal. E o que é "normal"?

Uma ideia interessante, é a de: Se a personalidade de um individuo, gostos, ideias e opiniões são criadas apenas pelo individuo, na cabeça do individuo, até que ponto realmente as ideias de uma pessoa, as opiniões, as maneiras de ver o mundo, de o sentir, de pensar, de compreender, a consciência  a forma de vestir, a maneira de lidar com as coisas é algo individual, é algo criado pelo próprio e não pela própria sociedade? Pelas empresas, pelo marketing? Até que ponto a mímica "animal", é utilizada para outros fins que não algo natural?
Até que ponto a auto-aprendizagem do mundo através de "neurónios-espelho" é algo nosso, ou se mantém no nosso controlo?
Até que ponto as nossas opiniões deixam de ser as nossas para serem opiniões globalizadas, consciencializadas, pensadas e formuladas por outros? Existem modas, existem estatísticas, existem padrões. Até que ponto alguém é ela mesma?

Monkey See, Monkey Do? The Role of Mirror Neurons in Human Behavior
Mirror Neuron Forum.
Neurons That 'Mirror' The Attention Of Others Discovered
Distinct Brain Cells Recognize Novel Sights


É algo que ela cria e usa, ou algo pelo qual ela se deixa usar?

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