quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Se eu fosse um livro...

[Alice by ~NRichey]


Se eu fosse um livro, seria algo no qual se escreveria, mas continuaria a ter palavras que te desafiavam. Onde através dos meus erros tu poderias crescer. Poderias aprender. Páginas desenhadas de uma história sem dono. Talvez de um tolo que tenta viajar pelo mundo, olhá-lo de maneira diferente, mas nunca compreendê-lo.
Se eu fosse um livro, estaria numa estante antiga. Escrito com letras arcaicas do tempo dos reis e rainhas, de fábulas e lendas que desenhavam um mundo mágico de perigos e lutas corajosas de heróis e princesas, de risos, gargalhadas, amor, ódio, vingança. Um mundo... onde ninguém desistia.
Seria um maço de folhas, com capítulos rasgados, inacabados, tal como os meus sonhos, os meus desejos, as minhas paixões, as minhas lutas, a minha vida.
Um inacabado cobertor colorido, velho o suficiente para perder a sua cor. Ideias com pó, parágrafos riscados ou recorrigidos.
Não seria um diário, nem seriam memórias. Seriam recordações de um alguém que já viveu e quer ensinar a quem quer viver, quem pode viver, quem pode cruzar as estradas romanas e ir mais longe que a lua, que as estrelas e o centro das constelações, que a vida tem várias caras.
Ensinar que todos os livros são diferentes, mas todos são iguais. Tal como as pessoas. Mas o importante, é saber reconhecer as pessoas. Saber reconhecer o que são e como são. Porque saber interpretar uma palavra nos vários contextos, tal como a uma pessoa, um animal, poderemos aprender a ser melhores.
Porque um livro não se escreve de apenas tinta e papel, de ideias e aventuras das lendas que não contam histórias, mas falsidades.
Porque a melhor mentira, só pode ser verdade se for vivida. Só muda quem vê e sente, o que as outras compram e aceitam ler.

Um livro pela capa, uma pessoa pela cara. Caminhando eu sobre as minhas histórias, as minhas lendas, as minhas aventuras de criança-guerreiro destemido, o mundo floresce como nunca vi. Os caminhos com o tempo ficam mais nítidos  Tentando eu percorrer a mesma estrada, só tenho a aprender. Porque se eu não tiver preparado para errar... se eu não tiver preparado para perder... não serei capaz de ser um livro. Um livro para ensinar, para se escrever, para se fazer ler.
Se eu fosse um livro... seria um mundo fantasioso, perturbado e incompreensível, cativante do principio ao fim. Um livro para sublinhar e re-escrever.
Porque se eu fosse um algo que me abrisse... ou seria engolido pela sociedade ou digerido pelo natureza. Um sentimento, de um livro seco, que não quer abrir as suas páginas.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

O meu grito chora...



Solto um forte grito, que me rasga o peito, no meio daquela floresta molhada. Um grito que me enche de raiva as mãos de punhos fechados. Sinto as unhas penetrarem-me a pele. O meu corpo treme.
O som deste meu choro, desta minha morte lenta, enrijesse o peito que tanta força tem para se fazer ouvir. Mas ninguém me ouve, porque não quero que ouçam. Ninguém sabe, porque não quero que saibam.
O vento atravessa-me com força, sem piedade sobre o meu corpo nu. O grito não ecoa, porque ninguém quer perpetuar o sofrimento. Não ecoa, porque ninguém quer ouvir a dor que me faz fechar os olhos. Os joelhos caem no chão, as minhas mãos enterram-se na lama e nas folhas mortas, enquanto uma chuva de largas gotas me apedreja as costas pálidas. Contorcem-se das chicotadas, e fazem surgir rios vermelhos, montes que me parecem subir pelas costas, fustigadas e inibidas da perfuração. Uma tortura que me afoga na frieza do meu sorriso, na rigidez da minha expressão, do temer pelo bem da minha alma quando os trovões caem com força à minha volta.
Trovões que parecem brincar, tiro ao alvo, e eu... o centro, o grande ponto vermelho, magoado e pálido que não sabe o que é sorrir nem sentir um abraço. Que nunca partilhou um beijo, um entrelaçar de dedos ou  a almofada.
Um Eu que não tem um diário e cujo o único amigo é ele mesmo. Estou farta do sono que não traz a morte. Triste da solidão que não me traz uma companhia. à minha volta não existe um mundo, existe um buraco fundo e profundo que me espinha e me calca.

As lágrimas salgadas brotam dos olhos em fogo, os meus peitos parecem cortar-se, e a brisa agarra-se, querendo levar-me a pele que me reveste.
Caio ao chão, virada para o céu cinzento, negro como o meu quarto se torna quando lhe fecho a porta, as janelas e as persianas. Os trovões iluminam a madrugada fresca, como flashes de memórias que vivem na minha mente. O rugido das suas gargantas estremecem o chão, faz as folhas caducarem em plena madrugada de primavera, e embala a minha pobre carcaça sem cor, sem força, sem desejos nem vontades.
Um olhar morto que se lança aos céus, à espera que seja levado para outras paisagens. Lançado ao mar de pólens que fustiga o mundo de irritações e constipações.
Desejar a morte arrastar-me enforcada, por entre a vegetação que nunca viu alegria. Vida. Uma vegetação negra e empalhada de folhas moribundas sem cor, sem emoção que espelho na minha consciência inexistente. Engolida pela solidão das cascas que viveram com a Lua tenebrosa, de um sol inconstante. Aprisionada e fechada em mim, num Eu que não me pertence. Sem companhia, num bosque que explode de vida.
Afogada nas lágrimas, em gritos surdos, mudos, de gestos violentos sem força para me erguer. O meu grito de Vida abandonou-me acompanhado pelo grito de Guerra.
Estou sozinha como vim ao mundo, despida de afectos e carinhos, de toques delicados e perfumada pelas flores. Sem amor nem humor.

O meu grito chora... sente a falta, tem saudades e sonha longe. Vê sorrisos e carinhos, em gestos simples. Um sofrimento profundo que me faz perder a esperança. Que me faz desesperar.

O meu grito chora... e eu choro com ele.
-- Estou aqui, contigo.

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Estavas bem era calado!


Porque é quando te expões de forma estúpida! Quando partilhas o teu pensamento interior, os teus sonhos e desejos, as tuas criticas e visões do teu mundo, que ao invés de aprenderes alguma coisa, que ao invés de te ensinarem alguma coisa. Só te criticam e te dizem que te preocupas de mais.

Porque quando o teu mundo é construído à volta do teu EU, e partilhas o que és, com os teus pais, com os conhecidos que te são mais próximos todos os dias, fodes-te. Ficas com a cabeça pior do que estavas. Porque partilhas-te algo que nunca deveria ter sido partilhado. Porque falas de mais e continuas a falar.
Partilhar quem és, destrói em segundos aquilo que construíste durante anos. Aquilo pelo que lutaste. Aquilo que sempre acreditas-te ser sempre o mais correcto a fazer. Talvez não o melhor, mas o aceitável dentro dos teus limites. Sim, os teus limites. Porque os outros não são tu, e nem tu és os outros. Porque deixares-te rebaixar pelos teus pais e por quem quer que seja. Ao dizerem-te que te preocupas demasiado. Ao dizerem-te que deves crescer antes de pensares em ter filhos, ou uma casa.
Cuspirem-te bem na cara que deves crescer e preocupares-te contigo, é a maior apunhalada que alguém, seja quem for, te poderá fazer.
Mas eu agora escrevo isto, para tu, que tiveres a ler, ergueres-te de novo, com mais força, com mais garra, com mais pujança e vontade de fazer as coisas! De lutar e bater no que for preciso para defender os teus sonhos, os teus desejos, os teus objectivos.

Pois sendo eu um badinas, que não se esforça no curso universitário, pelo menos esforço-me para não ser um badamerdas noutras coisas que na minha perspectiva acho serem tão ou mais importantes que ter na vida um curso universitário. Mas falarei por mim. Ainda assim, existem pessoas que pensam que o são, não são nada, e nada sabem fazer.
Foda-se!? Deixar de me preocupar com as coisas que me preocupo? Se não me preocupa-se com tudo, não fazia a ponta de um corno. Se nada me incomoda-se, não fazia nada e estava-me a cagar se tinha ou não emprego, se tinha ou não dinheiro, ou um filho nos braços.
Não me preocupa-se com tudo, e ai sim, seria um grande badinas de merda que não sabia fazer um caralho na vida.

Pensando eu que já estava a conseguir alguma coisa, e ainda mal comecei... Mas é por isso que se fazem as coisas, uma e outra vez, para quando o dia chegar, se estar preparado.
Por tanto paizinho de merda, vai com o caralho mais as tuas "dicas" que nada me interessam. As tuas "dicas" negativistas e destrutivas que tu tanto tens habilidade em engendrar e "partilhar" com os teus filhos!! É curioso, porque eu já pude falar com algumas pessoas que assistiram às tuas "palestras" de defesa pessoal, e todas me disseram que quando falavas, era de maneira positiva, a puxar as pessoas para cima. No entanto... fazes precisamente o contrário com os teus filhos. Destróis os sonhos como quem rouba um gelado a uma criança. É incrível.
E espero que quando vieres falar comigo, não mistures as coisas. É que já me ensinas-te o que tinhas a ensinar, "felizmente" ainda ensinas às vezes, mas também eu te ensino muita coisa. Também a mim me deves dar ouvidos, e não só ao contrário. Mas és mais estúpido que eu. Que eu pelo menos sou casmurro mas penso e repenso nas coisas. Já tu, crias uma muralha à volta das tuas ideologias, e tudo o que for contra elas, está errado, é negativo e não devia existir. Mas felizmente sou mais inteligente que tu.
Muito mais inteligente que tu quando tinhas a minha idade. Mas ainda eu sei reconhecer as coisas há minha volta, e já tu... não vês um caralho.
E por favor, não me enchas a cabeça de barulhos e barulinhos. A tua "opinião" é tão boa como a minha. Não te armes em sabichão.

Um bom local para viver... pode ser em qualquer lado, desde que não abras demasiado a boca e expresses a tua opinião. Aprendo e cresço mais estando calado, do que dizer tudo o que sei e conheço. Ganho mais estando calado, fechando o meu Eu, do que a armar-me em estúpido desbocado. Se estiveres calado. Acredita, ganhas muito mais com isso. Até porque... segundo psicólogos que estudaram as origens da Fala e do desenvolvimento psicológico humano, como já escrevi no blog, o ser humano evolui por falar consigo próprio.
Fecha mais vezes a boca, pensa nas coisas e aí de ti que partilhes a tua opinião!! É da maneira que não perdes nada da memória, e não dizes "disparates" aos olhos imperfeitos dos que te rodeiam. Até porque... a tua opinião tem mais valor que a dos outros, porque... bem, é a tua opinião!

Estavas bem era calado! Ouvias e não dizes nada. Era preferível, do que dizeres baboseiras.
E eu estava bem, era sem expressar a minha opinião, pois quando menos souberes, MELHOR!!!
Cada vez que falas e te envolves, só estragas! Sê como a mãe, que só tens a ganhar! Pelo menos humildade e saber estar calado a ouvir. Não custa nada.
Mas tu queres lá saber é disso para alguma coisa, és igual aos outros. Igual àqueles que eu tanto critico aqui. Mas é bom eu saber reconhecer isso, e preocupar-me em não ser como tu, em não ser como os outros. É bom, porque pelo menos sei ser melhor. E enquanto cresço, aprendo. Porque eu não paro, eu ando para a frente. Mas tu és tão cegueta que só percebes metade. Enfim...
Não te envolvas e fica calado.

Não fosse eu preocupado, e era como a namorada do Pedro! Roubam-lhe tudo e ela não faz nada.
Não fosse eu preocupado, e continuava o mesmo filho da puta de merda, o mesmo parvalhão badamerdas que era quando me tinham deixado. Mas eu preocupo-me. Preocupo-me e MUITO!!! E nunca irei parar.
Ser como tu??? NUNCA!! Ser MELHOR!! MUITO MELHOR!! do que tu.

Uma ultima coisa... tu não és aquilo que escreves.
Tu não és aquilo que tanto partilhas no teu facebook.
Tu não és aquilo que lês, nem aquilo que aprendes. Não vendes nem sabes vender.
Por tanto, até lá, aconselhava-te a preocupares-te mais com aquilo que não és nem sabes ser, do que preocupares-te em ser o melhor instrutor do mundo! Já que como pai... neste caso, como um pai deve ser e agir, deixas muito a desejar.
Já que como tu me cuspis-te na cara, a dizer que eu devia-me preocupar mais comigo do que com os meus filhos, acho que és tu quem precisa de redefinir as tua prioridades.

Não sou eu quem perde, és tu.
Eu estou sempre bem, até mudar.

domingo, 21 de outubro de 2012

Tenho saudades...


Sento-me sobre a cama, encostada às almofadas, aconchegada nos lençóis. Apago a luz e sou engolida pela triste e solitária escuridão. Apenas o ponto vermelho da minha televisão me faz companhia, no negro que me magoa mais do que a solidão de mim próprio. Porque me deito sozinho... não existe ninguém para me ouvir, para me olhar, para me cheirar, beijar, abraçar. Ninguém com quem descansar e partilhar o meu calor.
Tenho saudades de sentir as mãos pelo meu corpo, de o nariz me farejar o pescoço, e os lábios tocarem-me o ombro com um beijo de flor. Delicado. Saudades de ser acolhida e recolhida. Protegida e encaminhada.
Saudades de sentir a força do incentivo nas palavras de quem me ama mais do que tudo. Saudades de sentir ciúmes por todas no geral, e me sentir amada em particular.
É ao olhar para este vazio, este quarto sem cor e sem objectivos de vida emocionais e amorosos, que eu deixo sair uma lágrima. O meu corpo treme debaixo do frio gélido e enrosco-me sobre mim mesma, num aperto forte de cobertores e almofadas. Um nada que me aquece. O único nada com quem vou viver para sempre. Não quero! Nem sou feia... sou até bem constituída, bonita, cabelo ondulado  Sei ser sexy, inteligente e sedutora, mas ninguém quer uma rapariga que saiba falar, que saiba ser, que seja inteligente e fale do que ninguém goste de falar.

As coisas boas parecem estar ao virar da esquina, e só preciso de decidir que caminho escolher. Mas depois de escolher, de lutar, a única coisa que vem é uma mão cheia de nada. Uma carta endereçada a mim, sem letras, sem tinta, sem selo, sem origem. Esperava um sorriso, um objectivo concluído ou um caminho novo para seguir, para me erguer, para tentar de novo. Mas o "novo" e o "erguer" não fazem parte da minha vida, aparentemente.
A única coisa que me foi ensinado, e talvez a única coisa que realmente é importante, mais do que estar sempre a ganhar, foi levantar-me de cabeça "erguida", cada vez que cair ou errar. Mas eu não quero estar sempre a errar. Eu quero ganhar à primeira, uma vez na vida. Não é só uma, são várias.
Quero poder realizar aquilo que quero. Mas a minha realidade é que desde pequeno que nunca realizei tudo o que quis e sonhava. Nunca pude. E tal como já escrevi, sempre fui obrigado a ver os meus desejos, sonhos e vontades serem rasgados pela minha incapacidade, e pela incapacidade dos meus pais de os "realizarem". Tenho de ser sincero e dizer que fui "feliz", que tive, fiz e vi coisas boas, mas o que mais me faltou foi a satisfação pessoal. O poder de controlo na minha vida nunca existiu. Faltou, sempre faltou, a capacidade de realizar, o poder de conseguir realizar algo. De facto chegar ao fim, de obter algo.
Não, nunca houve, e este ano pela primeira vez acreditei que conseguiria mudar isso, mas não... tudo ficou na mesma. Na mesma merda que era e estava antes. Acho até que ficou pior de uma certa perspectiva  Não tenho controlo em nada.
Sabendo eu não ser o único, só posso ter pena de vocês. Só posso dizer como já me disseram a mim em tempos: "Se caíres 7 vezes, levanta-te 8".
É um olhar para trás, para a minha vida, e ver uma criança feliz, mas que nunca alcançou nada na vida. Uma criança que nunca teve nada, que nunca concretizou um sonho. Uma criança que compreende, que por não ter mais, e por ter tido mais, não é mais do que ela própria já o é. Que por não ter, e saber quem pôde e teve, a inteligência na equação é só uma pedra na praia. Um rapaz que tem consciência de que não é nada nem ninguém.
Fosse eu mais rico, ou tivesse a mais dinheiro, e faria hoje o que sempre me deu mais vontade de explorar, de fazer e ver. Mas eu não tenho... e é por não ter que não evoluo. É por não ter, que a minha mente se encolhe, como encolhe o dinheiro no meu bolso.
É por eu ter consciência de que não tenho dinheiro, que o meu cérebro entra num estado de puro negativismo. Onde o meu ego deixa de ser ego para passar um poço de lamurias. Mas tal como vi numa série, é por eu me sentir parado e sentir que toda agente à minha volta anda para a frente, que eu posso realmente fazer alguma coisa, com esse tempo em que estou "parado".
Mas se não tenho motivação... se não tenho objectivos que posso realmente olhar de frente e acreditar que podem ser realizados, porque nunca tive nenhuma experiência positiva, como poderei levantar-me de novo?
Vou ficar à espera? Do quê? Que o mundo avance? Vou caminhar para onde e porquê? Tivesse eu tido essa educação em casa... e tudo seria diferente. Tivesse eu tido uns pais com mais dinheiro... tive eu tido uma educação diferente... e todo o negativismo não existiria. Nem as hesitações, nem os medos, nem as preocupações. Mas não tive, e talvez seja esse o objectivo. Porque talvez saiba dar valor, e o negativismo não me afecto tanto como a outras pessoas.
O meu pai disse-me uma vez que nos preparou para falhar-mos. Que nos educou para lidar bem com as coisas más, com a perda e o negativismo. E é isso que tenho de bom para passar aos meus filhos. Pois enquanto eu sei dar valor, e lidar com as coisas más. Porque compreendo a tristeza e a alegria, porque não paro de caminhar durante 18 km seguidos na encosta da serra da estrela nem que me doam as pernas e os pés, que os meus músculos gritem por uma pausa, eu tenho mais resistência que muitos e muitas. Porque a resistência psicológica trouxe-me até aqui, pelos bons e maus momentos, como disse uma vez ao meu pai, temo-los, nós, a nossa família, porque sabemos lidar com eles. E dinheiro não compra isso. Estudos não me dão isso.
No fundo de tudo, sei mais do que alguém com dinheiro, existem excepções e há dias tive uma prova de que tais pessoas existem, pelo lado positivo. Mas faltará algo em todas elas. Um algo que vejo foscamente. Uma auto-educação. Uma auto-consciência. E pensem o que pensarem, narcisista já sou há muito.
Reconheço uma falta de consciência familiar e educacional. Falta-lhes a capacidade de se envolverem e dialogarem num algo negativo, num algo depressivo. Num algo sem vida. Uma consciência que parece fugir de muita gente. Têm tudo e são os melhores, mas têm sempre defeitos.
Qual é então o meu defeito? Errar demais? Esforçar-me de menos? Ser malandro? E que preocupações tenho eu nesta fase da minha vida? Tenho muitas, é verdade, mas não tenho nada que realmente me preencha o calendário.
Quais são os meus defeitos?
Talvez deva perguntar de outra maneira... O que me falta? O que me faz falta? O que devia fazer mais? O que posso fazer mais?
Eu faço as perguntas correctas, dou as respostas acertadas, mas será que as vivo?
Será preciso mais um susto? Ou mais um daqueles momentos em que consigo controlar a minha vida? Um momento que me volta a dar ânimo, que me volta a dar forças e garra, que me volta a colocar um sorriso na cara e uma força de vontade que me surpreende?

Tenho saudades daquilo que nunca tive... e tenho medo que nunca venha a ter.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Entretida no teu colo...


-- Segura-lhe. -- disse-me a irmã mais velha de forma convidativa.
-- "Vai ser só por um bocadinho" -- prometi a mim mesmo.
Recebi-a nos meus braços e tentei segurá-la de forma a ficar confortável. Em pé, assim me deixei ficar enquanto as cantigas da minha infância tocavam num leitor de CDs. Relembrei-me delas, das músicas, do som, mas as letras estavam gastas na minha memória. Limitei-me a estar em silêncio, enquanto a sentia agitar as pernitas no ar, quase sincronizadas com a minha dança. Foi um momento gratificante, porque percebi que estava a comunicar com ela da maneira correcta, e não da maneira mais chata. Não chorava e isso deixava-me descansado.
Manteve-se calma a ouvir a música, agarrando por vezes no meu cabelo e nos meus dedos. De costas para mim, sentei-me, deixando-a entretida com um galho mole de um planta suspensa.
As suas pequenas mãos, tentava arrancar as folhas, estava entretida e isso deixava-me ainda mais descansado.
Por vezes sentia uma vontade enorme de a sentir minha, e depositava a cara na sua cabeça, ou ao lado da orelha de forma a dar-lhe um carinho; mas sentia uma falha entre mim e aquela criança. Uma falha de amor. Apesar de a estar a tratar muito bem, não sentia a ligação que existe entre pai e filho. Não queria ser aquilo que não era e tinha pena que aquela criança tão pequenina nos meus braços não fosse minha.
Num momento de epifania, sentia o desejo de a acarinhar e a apertar com força contra o meu peito, de a beijar na cabeça e aconchegá-la, virá-la para mim e falar para ela, brincar com ela. Mas não queria perder a "confiança" que tinha conquistado até àquele momento. Tinha medo de a fazer chorar e aparecer alguém para me a tirar dos braços por ter mais experiência que eu.

Mais para o fim da minha "longa" experiência como "pai", talvez neste caso, babysitter, ficou agarrada a uma folha na sua mão. Tentada a colocá-la na boca, esforçava-me para tal não acontecesse. Com os meus dedos tentei-lhe abrir a mão esquerda e abri a minha mão. Deixei-a deslizar debaixo da dela, para cima e para baixo. Ficou entretida e sozinha já movia a sua mãosita na minha. Tentei despertar-lhe o interesse para a minha pulseira e subi o braço, foi então que ela esticou os seus deditos, e esfregou a mão sobre o meu braço, quase como uma festa. Tentava agarrá-la enquanto o sono começava a conquistar a sua energia.

Na festa, algumas pessoas olhavam para mim, e até comentavam:
-- Tens jeito! Até está sossegada...
-- Não era esta que estava a chorar?
Alguém respondeu que sim, mas como eram gémeas, ninguém tinha bem a certeza.
Não sabia, e ainda hoje não sei, pegar num bebé, não com instinto, talvez com alguma teoria, mas isso não chega. Pelo bem ou pelo mal, ela ficou sossegada e entretida no meu colo e isso para mim já é uma grande vitória. Mais tarde nesse dia, ao recordar o momento, senti e percebi que afinal não estou assim tão longe de me tornar no pai que ambiciono ser um dia.
Tanta gente a duvidar de mim, e pelos vistos estou-me a dar melhor do que pensavam...

Não sei o que os meus pais sentiram, mas acho que ficaram orgulhosos, talvez, ao ver um filho segurar num bebé e todos dizerem que tinha jeito. Eles próprios sentirem que estava quase preparado para cuidar de um. E ainda eu sei que eles estão confiantes que irei tratar bem dos meus filhos.
-- É mais difícil do que parece. -- comentei com o pai da aniversariante.
-- Nem imaginas. -- respondeu.
-- Não, não é nada! -- retorquiu o meu pai.
-- Quando fores pai, verás que vale a pena todo o esforço e trabalho que se tem no inicio. -- completaram-se um pouco os dois. Eu percebi, compreendi o que queriam dizer, mas não o senti. Por enquanto, seriam só palavras. Espero que um dia o deixem de ser para ser algo mais. Muito mais...


Pela primeira vez na minha vida, sinto que estou a caminhar da forma mais correcta que sou capaz, e a recolher os frutos que consigo, do meu esforço, da minha excessiva preocupação, da minha capacidade de ver e sentir o mundo, da minha vontade de ser diferente e de querer estar preparado para ensinar o melhor que souber.
Pela primeira vez na minha vida, não me sinto um badinas. Apesar de ainda ser muito garoto, muito imaturo, muito irresponsável. O meu esforço está a dar bons resultados, pé-ante-pé, contrariando as criticas desconstrutivas que recebo de tudo e todos. Mas para vocês, eu continuo errado. Não é?

A criança ficou entretida no meu colo. Soube naquele momento, que não estava a falhar na minha vida, mas a conquistar. Ontem vi, aquilo que posso e irei ser um dia.
Tive pena de não me terem tirado uma foto... gostava de relembrar o momento.

domingo, 14 de outubro de 2012

A nossa eterna manhã...



Os dois corpos caíram na cama depois do pequeno almoço tomado, numa casa vazia, desprovida de olhos inquisidores. Olharam os dois pela janela do quarto e sentiram o calor do sol ondular nos seus pijamas.
Os seus olhos cruzaram-se e sorriram. Beijaram-se e um chilrear de andorinhas em voo picado separou os lábios carnudos dela dos lábios dele. Contemplaram pela janela, uma corrida de nuvens brancas num céu azul. Não tinham forma, mas pareciam ter vida. Um grupo pequeno de andorinhas voo ao longe e ele cruzou os dedos na mão dela.
-- Tens as mãos tão frias amor! -- retorquiu ela, beijando-as de seguida.
-- Devias sentir os meus pés!
Ela sorriu e com a mão na cara dele deixou-lhe um beijo nos lábios, virou o seu corpo para ele e colocou a perna esquerda sobre a perna dele. Agarraram-se num pequeno momento, com o sol a aquecer-lhes os corpos e o cheiro à primavera a conquistar o quarto a cada brisa suave que entrava a dançar pelas cortinas coloridas.
Foi então que ele deixou a sua mão deslizar pelas curvas do corpo dela, enquanto a sua língua se entretia com os dentes e os lábios. Devagarinho colocou a mão aranhinha sobe a sua camisola, e subiu até aos seus seios. Olhou-a nos olhos com desejo e acariciou-a. As pernas dela fecharam, enquanto um arrepio de prazer lhe subia pela coluna, passou pelas orelhas e aninhou-se na parte de trás da sua nuca, onde fervilhou por alguns segundos.
-- Ai... estás-me a deixar com desejos!
-- É doces? -- perguntou ele entusiasmado, com um grande sorriso na cara que a fez desmanchar-se a rir.
-- Não tolo! Desejos, daqueles...
Mordeu o lábio e sorrio, provocando-a com uma mão marota pelo seu corpo. Encostou a sua cabeça no ombro dela, e beijou-o, enquanto massajava a barriga pálida. Encostou-se a ele e fechou os olhos. Os dois deitados, de olhos fechados e de narinas bem despertas pelo aroma quase com sabor a baunilha, fê-los simplesmente ouvirem o respirar um do outro. Sentirem os corpos tocarem-se e as mãos negociarem termos de rendição de dois apaixonados.
Por fim, adormeceram. Ao fim de alguns minutos, estavam enroscados, abraçados pelos braços e cabelos. Quando o silêncio reinava naquele quarto, o coração de cada um chamava a atenção dos pequenos passaritos lá fora, que cessavam a sua doce opera só para ouvir, se inspirarem, no pulsar daquelas duas criaturas. E lá voltava então o mundo a girar, a brotar de vida, o pólen rodopiar no ar e as árvores mudarem de cor.

Duas folhas que trapulavam no ar, lado a lado, com uma dança que os liga para sempre, como um laço acolhe um presente.
Gira-sóis que se cruzam em olhares, hipnotizados pela luz dos seus corações...

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Morrer não é vergonha...




Sentámo-nos à mesa, no macdonalds, poisámos os tabuleiros e comemos algumas batatas.
Olhei para ela, e os seus olhos concentraram-se num nada, lá fora, através das janelas, onde só os carros passavam de tempos a tempos e a chuva caía devagar. Ouviam-se as crianças a rir e a brincar, um silêncio fez-se na sua cabeça, a sua visão afunilou no passeio molhado e a sua respiração parou num pequeno suspiro, as suas mãos pararam de tremer, os seus olhos de piscar e pude ver o bater forte do seu coração nas veias do seu pescoço. Uma lágrima escorreu-lhe pela cara...
-- Estás bem? Onde estiveste?
-- Numa memória... saudades que me deixam sem ar. Sinto-me frágil, enfadonha, triste, incompetente... a minha vida escapou-me das mãos, a única coisa que eu mais desejava ver crescer e ser feliz, foi-me arrancada e por muito que eu lutasse por ela... não foi suficiente! Não consegui estar lá e lutar. Lutaria por ela mas não pude e isso destroça-me!
-- Nunca chega. Nunca irá chegar... -- agarrei-lhe as mãos com força, olhei-a nos olhos e continuei -- Tenho saudades dela, sabes disso, e por muito cruel que possa parecer dizer-te isto... olhar para estas crianças todas, com um grande sorriso na cara, faz-me recordar os momentos que passámos juntos com ela, neste mesmo local. Quando ela brincava e corria por todo o lado, falava com todos e era sempre simpática. Possa... -- um nó apertou-me a garganta e as lágrimas escorreram-me pela cara quase como se fosse a chuva lá fora -- Tenho tantas saudades dela!

A Teresa chorou, os olhos vermelhos fizeram-me entristecer ainda mais, e abraçámo-nos sem pensar. Ver a minha mulher tão triste e desamparada, com a imagem da nossa filha... ali, mesmo ao nosso lado com toda a sua simplicidade e ingenuidade a perguntar-nos:
-- Está tudo bem papá?


Na cama do hospital
-- Lamento não ter conseguido ser o pai que devia ter sido. Curar-te, fazer-te sorrir de novo, correr... desejava ter feito muito mais, ter-te levado para todo o lado.
-- Não lamentes pai, morrer não é vergonha. Foste o melhor pai que soubeste ser, ensinas-te-me a sorrir nos tempos mais difíceis  Ensinaste-me a lutar nos piores momentos da minha vida, e amanhã podes não me ter junto de ti e da mãe mas... quero que te sintas orgulhoso por me terem mostrado o mundo com os vossos olhos... Sei que não o conheci através de outros horizontes, nem outras paisagens, mas os vossos fizeram-me mais feliz do que alguma vez podia imaginar ser um conto de fadas.
-- Devia-mos ter feito mais! Devia ter dado muito mais...
-- Deste o suficiente e ninguém te culpará. Nem eu, e especialmente a mãe, te culparemos. Porque cada vez que penso em ti, te vejo nos meus sonhos ou aqui sentado ao meu lado, sinto os teus braços à minha volta, apertarem-me o coração com ternura, amor e carinho. Sinto-me aconchegada junto de ti e da mãe e quando partir, será com um forte abraço em família... -- sorrio pedindo um abraço.

No restaurante
-- Recordo-a no jardim, a brincar na relva, de o sol bater-lhe na cara e fazer-me caretas com a língua. De a minha barriga fazer uns barulhos estranhos e ficar absorvida por um momento... a primeira vez que se mexeu... a primeira caminhada, o primeiro choro e a primeira explosão de raiva. Porque até as coisas "más" são boas, e só agora lhes começo a dar ainda mais amor e sentimento. Porque eu via, podia sentir, mas não com esta saudade, que me faz ver as coisas e o mundo de uma maneira tão... pura. E no fundo... são apenas sentimentos. Ela sim, fez-nos ver, E SENTIR, o mundo de maneira diferente! E isso, nunca irei perder. Não está ao nosso lado a comer batatas fritas e a rir-se com a boca toda suja de ketshup, mas está em mim, dentro de mim, e a minha vida terá para sempre uma parte dela, faça o que fizer, o que disser, o que sentir. Ela estará comigo, connosco, neste mesa ou no fim do mundo. A minha luta por ela só vai parar quando morrer.
-- Conhecendo-te como te conheço... vais levar essa luta para a cova, e eu estarei lá contigo, ao teu lado.
-- Achas que fomos bons pais? -- perguntou-me olhando para mim acariciando-me as mãos.
-- Faria tudo de novo!!


Porque a dor é mais depressa relembrada que a felicidade, faz de nós animais inteligentes e conscientes. Queremos, desejamos e lutamos por voltar a sentir um beijo, um abraço e palavras no ouvido, enquanto os maus momentos são relembrados com nostalgia. Porque não precisamos de receber um choro, mas um sorriso. Porque a alegria e a intensidade de sentir a saudade libertar-se do peito, faz de nós, de mim e de ti, criaturas que anseiam por mais uma fatia de amor, como um bolo que nos contagia, um sorriso que nos enrijece a alma. Porque sentir saudades e fraquejar perante memórias tão belas, de nos fazer chorar ou sorrir de alegria, faz-nos viver e reviver. Ensina-nos a dar valor aos pequenos momentos, torna-os reais. Para que no dia do nosso ultimo piscar de olhos... desenhemos um largo sorriso na cara, sem tristeza:
-- Disse tudo o que sentia, fiz tudo o que pude e não me arrependo de ter sido e ter feito outros feliz.


Ela olhou-me nos olhos e sorrio. Não havia medo nem desconforto, apenas saudades... brilharam à luz dos candeeiros e senti então, que estava orgulhosa em me ter ao lado dela e termos os três, ultrapassado por tanto. Defendermos o que mais nos era precioso, de tudo o que a natureza, na sua profunda e incontestável sabedoria e força, nos atirou.
E sim, naquele momento, a nossa Inês estaria ali ao nosso lado, suja e sorridente, alegre e feliz.
-- Adoro-vos!
No entanto, não podiam deixar de pensar como seria Inês, uma jovem adulta, tão participativa como era quando os deixou...

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Inspiração: My Sister's Keeper (Para a Minha Irmã) (2009)

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

A neve nos meus cabelos...



Um forte vento gelado bateu-me na cara, acordou-me novamente. Estou cansada de caminhar, de carregar esta tristeza aos ombros. Quero descansar um pouco as pernas, nem que seja só por uns segundos. Estou exausta e começo-me a chatear até com a mínima árvore que treme de frio.
Desejo ardente, este, de te voltar a ver, meu guerreiro. Sentir as tuas mãos quentes na minha cara e os teus lábios aquecerem os meus. O que eu dava para te ver fazer uma chávena de chá... olhar-te a cara por entre os longos cabelos que te escondem a fragilidade interior. Esboçar um sorriso de completa alegria de cada vez que brincas com o nosso filho, e rir-me de ti, contigo e por ti, com um contágio que me faz arder o peito e chorar.

-- "Mais um passo... já falta pouco!"
O ambiente à minha volta pinta-se de branco e um nevoeiro cobre o horizonte que me leva a casa. O meu corpo pode fraquejar e desligar-se, mas o meu amor por ti continuará para sempre a manter quente. Porque sou emocionalmente tão estável como os braços que seguraram o nosso filho a quando da grande guerra, naquela subida íngreme à colina de Bon'z. Lutas-te por nós, para mais um dia, e hoje luto eu, sozinha contra a maior adversária que alguma vez podia escolher. A natureza não faz amigos nem acolhe ninguém.
Aprendemos a viver nela, com ela, assim me dizes vezes sem contas, meu amor...

Tenho saudades das noites em que passamos horas a olhar para as estrelas. Abraçados um no outro, separados pelo cacho mais sumarento da nossa colheita. Tenho-te saudades meu filho! A mamã não tarda em casa. Não chores meu filho, o papá está contigo e a mamã pensa em ti todos os momentos.

Uma aventura para contar ao meu filho, e aos meus netos. Uma caminhada sem fim numa memória sem validade.
A neve nos meus cabelos arrefece-me as ideias, mas não me cessa a vontade de continuar a andar. Casas-te-te com uma mulher guerreira meu homem, e aqui a tens. Uma mulher que se completa ao teu lado. Que cresce, renasce cada vez que olha para o teu sorriso, que é abraçada e tocada por ti.
Estes pensamentos começam-me a dar calores, sentir as tuas mãos descerem pelos meus peitos, passarem pelas ancas e sentir-te em mim, brincalhão.
Aquece-me, mas não posso pensar mais nisso, deixa-me com saudades a mais, faz-me sonhar e eu perco a concentração da minha caminhada. Desculpa-me meu girassol.
A barriga ronrona, e a única coisa que tenho para comer, é o que conseguir caçar. Mas está tudo tão calmo,  que o vento parece falar comigo.
Outra rajada de vento que me corta a cara, me rasga os lábios e me queima os olhos. Encolho-me nos teus braços, sinto-os apertarem-me as peles contra o corpo, mas não estás aqui... relembro a ultima vez que te vi, a acenares para mim com o nosso rebento ao colo, os dois com grandes sorrisos. Sinto uma lágrima cristalizar na minha bochecha, e um aperto no peito que me parece matar de saudade. Ironia... matar-me-á mais depressa as saudades que vos tenho, que um tempo gelado como este.
-- "A tua mãe é danada!" -- relembro eu uma frase tua, que tantas vezes lhe dizes quando me chateio contigo.
-- "A tua mãe é tola!"
Pois sou... muito! Por vocês os dois vou ao fim do mundo, irei ao inferno e volto! Por vocês serei imortal... uma esposa com um grito de guerra que fará tremer os alicerces da terra.

Sou frágil como a neve nos meus cabelos, os lábios rasgados do frio e as mãos já resfriadas, engelhadas. Uma caricia do meu homem, uma memória do meu bebé chuchar-me na mama, e encolho-me, abraço-me, sorrio e choro... aconchego-me sozinha nestas folhas que voam sobre a minha cabeça, entre arco-íris que me iluminam a alma, me fazem aninhar como um coelho ou voar como um pássaro.

A neve nos meus cabelos... são lágrimas de alegria, espalhadas ao vento, pelos meus antepassados.
Vejo as estrelas pularem no céu já adormecido.
-- "Estou perto, meus amores... A mamã está a chegar!"

terça-feira, 9 de outubro de 2012

A futura geração...

[Kids 5 by ~migouze]

A futura geração de jovens, cresce neste momento, com desenhos criados em computador. Desenhos animados em 3D, sem vida, sem cores, sem energia.
As crianças de hoje, crescem num mundo atípico de interactividade que eu nunca vi. Num mundo moldado para jovens adultos, que se esquece dos idosos, que se fazem carregar nas costas nos mais pequenos.
As televisão moldam mentes, criam opiniões e pré-escolhem escolhas de um ser que se intitula ter "livre arbítrio".
Em pleno século 20, já ninguém cresce, molda-se.


Um boneco está com medo das alturas, é bombeiro e tem de apanhar um boneca.
-- Tenho medo!
-- Tira as mãos dos olhos, estás a fazer figuras tristes.

É este o tipo de incentivo que se deve dar às crianças? Não seria melhor dizer:
-- Força André! Tu consegues!



Porque não é só a geração de jovens que está à rasca... também as crianças de hoje vão ficar à rasca da vida, quando tiverem de viver numa realidade sem grandes esforços psicológicos. Mas com um grande monstro para a sua personalidade nada desenvolvida.
Não quero ver um país nem um mundo como o que vi e revejo no documentário "ReGeneration".
Porque tal como se diz em "Surviving Progress", nem todo o progresso é positivo.
Os pais são cada vez menos pais. São cada vez menos humanos. Existe uma mentalidade americanizada, como já referi antes, que está a destruir toda uma geração sem que esta se dê conta. Felizmente ainda existe gente capaz de sair fora do quadrado e pensar, reflectir, crescer, ensinar e evoluir.

A estupidez humana arrepia-me a alma...

Onde tu erras...


If you don't mind failing, you can never lose. (New Scientist 06/10/2012 - pag. 13)

Se não tens medo de errar, nunca irás perder.
Seguindo esta ideia de pensamento, lembrei-me da altura em que no dia 05/10/2012, hastearem a bandeira ao contrário. Lembro-me de ver e ouvir as pessoas se sentirem incomodadas com o erro. Um erro que só foi corrigido algumas horas depois, pelo que vi na televisão.
Para ser sincero, não me incomodou. O que me incomodou foi hastearem uma bandeira falsa! Uma bandeira que não é genuína e em nada parecida com a verdadeira desenhada à dezenas de anos.
Passou uma reportagem sobre isso antes de 2008, se não me engano, na SIC.
O que me incomodou foi uma mulher gritar ao Cavaco Silva enquanto "discursava" e não se calar uma única vez para a ouvir, ou esperar que a levassem para fora.

O grande problema, é que mais de metade da população não está pronta para perder.  Não está pronta para errar, para "pensar demais" sobre algo com o qual se vão preocupar daqui por uns anos.
Não pensam na maneira como querem educar, nem se preocupam com os filhos em si, porque não são pessoas por dentro. Porque não são, não têm tempo para isso. A cabeça é-lhes ocupada por tudo de mau que lhes é impingido e atirado todos os dias através da televisão, da rádio, das conversas de ocasião, dos jornais e pessoas.

Tenho-me apercebido com o tempo, que as pessoas estão cada vez mais manipuladas pelos meios de comunicação. Não são livres. Todas as escolhas que possuem, já são pré-definidas. É um molde social que as empresas andam a criar à dezenas de anos. Coisa que os Estados Unidos fazem bastante bem. Compramos coisas que não precisamos, com dinheiro que não temos. 80% da população possui uma mentalidade consumista. Quer comprar tudo o que está na moda. O ultimo grito do "rapanhonha". Tudo o que tiver a ser comprado em massa, como curiosos que somos, queremos ver, comprar, ter, experimentar também. 

Existe uma crise em portugal, mas não é monetária, é de valor moral e valor cívico. Como já referi em textos anteriores, a nova educação escolar em portugal está a renovar o pensamento de que quem tem um curso tem tudo, e quem não tem, não tem nada. O pior, é que hoje em dia quem tem um, não tem mesmo nada. Até tem mais dificuldades em arranjar emprego do que um que só tenha o 12ª ano.
Ainda assim, continua a existir muita gente que se acha mais do que os outros, que se coloca acima de tudo e todos, daqueles que não têm um curso, ou que não andam na universidade, porque... bem, não estão nesse "mundo" novo. Porque não fazem parte da elite de estudantes universitários que têm poder sobre as suas vidas, mas que no entanto... não têm poder sobre quem são enquanto pessoas.
São pessoas que não têm consciência  não têm maturidade, existem excepções à regra, mas 90% dos restantes, é igual a mais meio milhão de alunos.
E sim, eu sei que me estou a repetir, que me farto de repetir, porque é isso que acontece todos os dias, e que tem vindo a acontecer desde a geração do meu pai.
São pessoas formadas em tudo e mais alguma coisa, foram da moda do Walkman de bolso e dos Leitores de CDs, mas não sabem usar um telemóvel, nem um computador, nem um Leitor de MP3. Tudo o que compram é sem pensar mais do que duas vezes. O que é bom, mas não chega. Nunca chega.

O problema das pessoas, é que não pensam. Que não se preocupam quando se devem preocupar. Querem atirar tudo para trás das costas, esquecer o sofrimento e a dar, ou o incómodo o mais rápido possível  para continuarem com as suas vidas miseres e insignificantes. Porque ao não se preocuparem, não aprendem, não crescem, não vêm nem tomam consciência. Não ganham maturidade psicológica, apenas se moldam, aprendem a agir de maneira diferente. Nunca acabam por assimilar e evoluir com isso. Esse é o problema das pessoas. Só se preocupam quando já é tarde de mais para se preocuparem.
Têm medo de tentar, de ir à luta. E também eu tenho muitas vezes momentos de negativismo. Mas pelo menos eu vejo-os de maneira diferente e tento sempre aprender com eles. Até quando me armo em parvo.
Foi preciso muito tempo para acordar, mas pelo menos acordei a tempo. Deixei de ter medo.
Sou um badinas de merda que não sabe fazer a ponta de um corno na escola, mas que sabe fazer bastante, fora dela e disso eu me orgulho.
Porque me preocupo com o futuro educacional e intelectual que vou dar aos meus filhos, enquanto os outros jovens, preferem pensar primeiro em arranjar emprego, arranjar dinheiro, casa, carro, condições. E não digo que não, mas isso não é o mais importante. Para mim, o mais importante é ter uma base madura e fértil onde acolher os filhos. E é por me focar nesses pontos que sou mais que os outros. Porque enquanto vocês ainda estão a pensar em subir os primeiros degraus da escada, eu já estou a pensar naquilo que me vai ser necessário enquanto as subo. Vocês pensam nos primeiros 10 metros e eu estou a pensar já nos 50 mais à frente.
Não, não se aplica quando vou sair. Quando vou sair gosto de ir à descoberta. Mas quando o assunto é a educação dos meus filhos, e a interacção e ensino que lhes irei dar, aí sim, é importante.
Conseguem ver? Conseguem sentir? O excesso de preocupação que existe em mim?
Pelo menos eu preocupo-me com o resultado da minha interacção com os meus filhos. Não os tenho, mas preocupo-me.
Posso não saber estudar e nunca ter trabalhado, para além do LIDL, mas preocupo-me em não ser um badinas. Um zé ninguém que não tem nada para oferecer. Estou farto de me repetir que até já enjoa.

O que eu quero dizer com isto tudo, é que, mesmo as coisas não me correrem como eu esperava, mesmo eu sendo um badinas que não tem nada para oferecer. Mesmo não sendo ninguém e errar "muitas vezes". Olho para essas coisas como uma maneira de aprender com elas e não apenas e só como pontos negros, como espinhos que nunca posso arrancar. Posso aprender, crescer, compreender, ver e sentir. Posso tornar-me melhor se pensar naquilo que faz de mim um badinas e um zé ninguém.
Porque eu não tenho medo de errar, logo, nunca irei perder.

Também foi preciso muito tempo para perceber que acabar com a ex, foi a melhor coisa que me aconteceu, porque agora sei, que se continuasse, continuaria a ser o mesmo badamerdas de sempre. Nunca iria crescer, nem me preocupar. Ela continua a mesma coisa que sempre foi, e eu pelo menos fico feliz por ter mudado.
Os livros que eu li, os textos que eu escrevi, aquilo que vi e ouvi, só me ajudaram a perceber a mulher que realmente quero ao meu lado. O tipo de homem que me falta ser, aquilo que me falta aprender. Porque eu sei que me falta aprender muita coisa. Todos os dias erro, mas tento aprender com isso. E todos os dias sou um pouco melhor que no dia anterior. Não fico estagnado em ideias nem em pensamentos. Não penso só em filhos e educação. Não sou nenhum maníaco com a mania do perfeccionismo  Mas preocupo-me. E é por me preocupar que mudei quem era e quem sou.

Onde tu erras... eu aprendo. E mesmo eu não sendo o maior experiente da vida, preocupo-me em sê-lo, pelo menos para os meus filhos. Esse é o ponto importante de cada humano, e não pessoa. Podia-me preocupar com tudo, mas não iria preocupar com o mais importante. A educação dos meus filhos. É um ponto que escrevo muitas vezes e escrevi ao longo deste texto, talvez porque quero tentar explicar-me melhor cada vez que o faço.

Que se foda...