sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

A aprendizagem através do medo...


No momento em que se ergueu sobre os seus dois pés, sentiu o peso da gravidade cair-lhe na anca e nos dedos sobre o tapete colorido. O brinquedo pelo qual gritava, de braços esticados e agitados no ar, tornava-se o único formato compreensível a uma pequena distancia do seu olhar ainda em fase de treino. Tudo em volta se desfocava, e servia-se apenas da voz do seu pai e da sua mãe, num tom encorajador, para se guiar num espaço desconfortavelmente infinito, vazio e insípido.
A perna esquerda arrastou-se um pouco no chão e seguiu-se a direita, que descolou instintivamente numa tentativa de prevenir uma queda que lhe surgiu em todas as partes do corpo e lhe desceu pela coluna até aos calcanhares. O cérebro absorveu a nova experiência. Calculou, no momento de grande aflição, a altura a que a cabeça, mãos, pés e joelhos se encontravam das cores do chão e ordenou uma nova passada, mais confiante e controlada. Os pais sorriram jubilantes.

O nosso bipedismo não nasceu de uma necessidade. Nasceu do medo constante de não sermos capazes de ver o horizonte à nossa volta, e com ele os predadores.
Sem o medo das coisas e a dor que sofres por elas, não existes verdadeiramente. Não vives nem saboreias o ar que te dá a vida; A força que te sustem em cada passo e o sangue que te alimenta a consciência do Eu.

2 comentários:

  1. Acho que todos nós teremos sempre esse medo que os bebés sentem ao dar os primeiros passos. Afinal de contas não temos sempre medo de avançar rumo ao desconhecido?

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    1. Há quem não sinta o mesmo medo que os comuns dos mortais. Talvez esse "medo" seja trocado por "loucura". Acho que é disso que os "heróis" são feitos.
      Estranhamente, não são verdadeiramente Machos/Fêmeas Alpha, mas têm sangue frio quando se trata de avançar para uma situação desconhecida ou perigosa.

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