sábado, 28 de fevereiro de 2015

Uma última dança com a morte...



A escuridão da noite invade o meu quarto através da janela de persiana aberta e de cortinas corridas, pintando e entranhando-se nas paredes frias. O som do vazio, da solidão, da depressão, aquecem o ar que respiro vagarosamente, emaranhando no corpo, nos músculos, o desejo de um sono profundo. Da morte. Do despedir solitário e obscuro.
Se a música parar, que dances sobre a minha cama, com o teu sublime sorriso, jubilante. A ardente paixão que é de te abraçar... olhar-te nos olhos e beijar, de lábios colados e narizes numa esgrima de acasalamento. Saliva e línguas, quentes no meu rosto, nos teus dentes, no meu nariz.
Suspiro e rodopio de novo, numa dança que desconheço e não quero decorar. Que o caos me consuma os movimentos que o cérebro interpreta da música. A música da morte. A dança do defunto.
Não quero chorar o medo. Não quero chorar o desfecho final da evolução do olho. Não quero voltar à idade das trevas.
Mas quero dançar com o morto, que me levará aos portões do eterno descanso. Quero voltar a sentir a tua mão tocar-me na cara como um raio de sol. Os teus cabelos deslizarem sobre o meu rosto como uma massagem e os teus lábios molharem os meus, enquanto me perco no perfume que se agarra ao teu pescoço.
Não sou nada sem o teu ramo de flores murchas na pequena varanda da minha janela; E das cores vivas da surpresa que me volta a derreter o coração. É no processo da morte das pétalas que me recordo da fragilidade das saudades, das carências. O desejo de te voltar a ver, pela manhã, abraçada a mim como quem agarra um peluche num beliche, apedrejam um fraco e apaixonado rapazito.
Dá-me a mão; Quero sentir os teus dedos aquecerem-me o corpo em cócegas e gargalhadas. Se a música parar... devolve-me ao tempo.

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