sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Quando olhares para trás...


Sou um figurino na história da tua vida. Um adereço que serve simplesmente para entreter os olhos enquanto não desvias o olhar da estrada que segues religiosamente, acreditando que te irá levar ao futuro que programaste meticulosamente durante toda a tua adolescência. Quando olhares para trás, irás deparar-te com uma estrada rodeada por um deserto de nada; e vais-te perguntar para onde foram as flores, a relva, os arbustos, as árvores, os animais e as pessoas que criavam o plano de fundo da tua vida "perfeita".
Quando olhares para trás... já não existes, deixas-te de fazer parte deste mundo. Foste apenas uma recordação egocêntrica, que sem nunca olhar para trás, se desviou da estrada, sem perceber que um dia, seria deixada para trás na emaranhada floresta de fantasias.

No fim, só te terás a ti como a única recordação. Uma recordação que sorri e chora sem saberes; Que se encolhe e agita numa depressão ou numa festa que não controlas. E é então que ao pedires ajuda, tu gritas e soltas do peito a solidão da tua alma aprisionada, sozinha na frieza da tua pessoa, das tuas manhas e tramas. Fazes das tuas histórias um livro, na esperança que te abracem e te digam o que tu própria te tornas incapaz de dizer: "-- És perfeita! És especial! Tenho orgulho em ti! Fazes-me feliz...".
Serras os punhos, os dentes e baixas a cabeça, numa frustração humilhante de viver contigo mesma, sabendo que não podes fugir dela nem voltar para trás. As costas curvam-se numa dor que te aperta o peito e os lençóis arranham-te o corpo. Sentes as paredes conspirar contra ti e o teu cabelo tentar sufocar-te num calor que o teu corpo é capaz de produzir para aquecer duas pessoas. Não és uma delas. Tu queres morrer, desaparecer, voltar à estrada e ser atropelada. Deixada à fome de um carinho na tua cara, de um beijo carinhoso na tua bochecha e de um abraço que te tire o sopro da inocência.
Os suspiros propagam-se, chorando ranhosos pelas paredes do teu EU que teima em continuar a lutar por uma vida que já não te traz alegria. O teu cérebro abandonou-te... proibindo-te de te expressares e de te atraíres. O teu corpo tem inveja... Inveja do mundo que te pode ver, que te pode cheirar e tocar. Tem inveja do que não pode ter e esse ter és tu! O teu Eu que o abandonou na escuridão. O teu Eu egocêntrico viciado numa construção fantasiada por uma menina influenciada no mundo que a julga e a ensina a ser e a tornar-se.

Tenho saudades tuas... do teu sorriso e do teu abraço. Das gargalhadas e das noites abraçados. Da tristeza do teu olhar, dos teus olhos olharem os meus. Dos teus lábios moverem-se ao som da tua voz. Da tua voz, doce, que me embalava e acalmava o turbilhão de desilusões ou dores do passado que me atormentavam o presente. Saudades de acordar contigo e de nos puxarmos para fora da cama, esgrimindo a preguiça com a audácia que tendia em esquecer fazer parte ti.
Tenho saudades de quando olhavas para trás e num só momento, ainda que muito longe de te compreender, me abraçavas, me agradecias, sorrias e perdoavas. Tenho saudades tuas... dos teus sonhos e fantasias, dos teus livros e invenções na cozinha, do sabor na ponta do teu dedo, do cabelo à frente dos olhos e dos teus olhos me olharem no espelho.

Estou aqui, contigo. Agora e até ao teu ultimo momento.

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