sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

As mulheres não sabem amamentar...


Segundo um panfleto que se pode encontrar no Hospital da Mealhada, amamentar não é algo totalmente instintivo. Ao que parece, as mulheres de hoje são tão burras e ignorantes, que nem sabem segurar num bebé e amamentar. São mesmo? Isso significa que enfrentamos um nível de extinção nunca antes visto. Parece que Satanás não vai precisar de trazer o Apocalipse, visto que as mães estão a falhar na única tarefa simples que mantém a nossa espécie viva.

Posição e Técnica de Amamentação
A amamentação não é um comportamento totalmente instintivo. Mãe e bebé precisam de aprender a amamentar e a mamar.

OU

Amamentar é natural mas não é completamente instintivo.
É possível aprender a amamentar.

A única coisa que me ocorre é: "Esta gente escreveu isto com base em...?"
Bem, se pensarmos um bocadinho, a única razão para ensinar às novas mamãs como amamentar um bebé da forma "correcta", pressupondo-se de que existem benefícios ao utilizar uma determinada posição em detrimento de outra utilizada pelas nossas mães, avós e bisavós, deve-se ao facto de hoje em dia as meninas e as mulheres (jovens) terem deixado de frequentar as cozinhas com as suas mães, como se fazia à 30/40 anos. Deixaram, desde o tempo em que apareceu os computadores e internet, a tradição e o desejo de aprender a cozinhar, para que um dia cozinhassem também elas para os seus maridos e para elas próprias. Trocaram-se as mães por alguns blogs e livros muito mais fáceis de lidar e com o qual nem precisam de conversar ou aturar. Cozinham sozinhas sem ninguém a comentar que estão a fazer mal. A técnica e os paços mais detalhados e tão horrorosos em aprender E em fazer sempre da mesma maneira, são trocados pelas Bimbys.
É por tanto, natural que se deva ensinar a criançada a amamentar as crianças já que elas deixaram de parte, logo desde o início, o papel de ser Mulher. E toda a mulher deveria saber cozinhar, e não digo isto por ser machista ou malandro, porque eu adoro cozinhar, mas sim manter as suas origens de seres sociais, que tratam e cuidam das crianças, que preparam o comer e alimentam as suas crias. As mulheres antigamente, de à 30/40 anos, tinham uma auto-obrigação hereditária, um dom, um ponto positivo, que era: -- Sabiam cozinhar e fazer bom comer!.
Hoje em dia, não se sabem vestir, despem-se com "muita facilidade", preferem beber, fumar e desprezar os homens, e mais importante ainda, deixarem para trás o papel de se ser mulher, de ser feminina, de ser mãe, de ser sensível e o animal a ser conquistado. Obviamente que estarei a falar da maioria e por essa razão não se sintam ofendidas as mulheres que não encaixam na minha critica.
E se antigamente a mulher era a conquistada e se deixava conquistar, hoje elas já não estão tão interessadas nessa dança de acasalamento. Os papeis inverteram-se e agora são elas que pensam que mandam neles. O que não se aperceberam, é que o "homem" está a evoluir para o ser que elas sempre sonharam ter, e elas para as mulheres que nunca se deveriam tornar. À milhões de anos que evoluímos de uma determinada maneira, nomeadamente naquela em que a mãe é atenciosa e preocupada e o pai a figura que incentiva e protege. Para elas, também é verdade que se torna difícil cuidar de um filho sozinho, e baseio-me na quantidade de divórcios que começaram a acontecer desde o inicio da crise. No entanto, as mulheres também se têm tornado cada vez mais interesseiras. O casar por dinheiro já não é apenas um segredo bem guardado entre mães e filhas, é já do conhecimento de toda gente. A quantidade de homens/pais que se separaram e têm agora a obrigação de ajudar a mãe a cuidar da criança com uma quantia "simbólica" do seu ordenado é assombrosa! Parece que têm os filhos só para sacar dinheiro. O que até combina bem com a frase de um psicólogo: "Os pais de hoje, não querem ser pais". E não, não falo dos pais com dinheiro, bem na vida, grandes carros ou que vivem acima do limiar da pobreza, que têm ambições e hobbies produtivos e construtivos. Refiro-me aos pais que vivem no campo, em casas da segurança social, que não têm o 9º ano, em que falar de sexo é ainda tabu e o serão de domingo é passado a ver a TVI.
Se as mães de hoje, já não sabem e até já nem querem ser mães, então concordo em que se façam sessões que as ensinem a amamentar. E se por um lado a amamentação é importante para o desenvolvimento físico e psicológico de um bebé durante os primeiros 2 anos de vida, de nada adianta pois já foi comprovado, em estudos recentes, que a inteligência é algo hereditário. E todos nós dispensamos ovelhas de gado, que para isso, já basta o Zé-povinho que ainda cá permanece.

E não querendo falar apenas mal das mulheres, porque se 90% delas não vale o esforço dos bons homens, dos cavalheiros e daqueles que realmente se esforçam e dedicam à sua cara metade, também me vejo impelido a falar bem, e uma das coisas boas é a de que começam a interessar-se por agradar o seu homem na cama, e neste caso, falo exclusivamente daquelas que realmente têm uma mente aberta e sem tabus. Das mulheres que acompanham o homem numa volta de bicicleta ou que partilham a lida da casa, e -- porque não? -- que também os incentivam a limpar, a arrumar, a cozinhar e a tratar das crianças. Porque um homem sem uma mulher não cresce, e uma mulher sem um homem não ganha juízo. Mas não falando apenas de sexo e de lingerie, elas (as boas) também começam a ter conversas interessantes, e obviamente falo de uma percentagem da sociedade portuguesa muito, mas mesmo muito, pequeníssima. As poucas e boas, cada vez mais raras, não precisam de aprender a amamentar, a serem mais, a segurar numa criança ou a ler livros do género: "Porque chora o meu bebé?". Essas, já estão preparadas, já estão preocupadas, incentivadas, instintiva e geneticamente preparadas para segurar, amar e proteger uma criança, um rebento seu. No entanto, todas as mulheres são capazes de segurar num bebé, de o amamentar e acomodar nos seus braços, sai-lhes, a todas elas, de forma muito instintiva, não fosse afinal, uma necessidade biológica que executam à milhares de milhões de anos. Todos os mamíferos o fazem ainda que sejamos os únicos que seguram nas suas crias.
Afirmar que uma mulher não sabe amamentar, é o mesmo que passar um atestado de incompetência às mães das pessoas que escreveram estes folhetos. É suposto uma mulher aprender pela tentativa e erro, foi assim que as nossas avós fizeram, e é assim que se vive, através da experiência. Se uma mulher "não sabe amamentar", então não é mulher, e aparentemente, o que estes folhetos estão a tentar dizer, é que uma mulher só se torna realmente mulher, não apenas quando tem a menstruação pela primeira vez, engravida ou pare. Ela só se torna mulher quando a sua médica comprovar que sabe aplicar as técnicas de amamentação. Como isto está, não me admira nada que daqui por um par de anos, todas as mulheres sejam obrigadas a frequentar cursos de amamentação e de como se cuidar de uma criança.
Mas agora vêm vocês falar sobre aqueles encontros entre grávidas, que frequentam durante meses, para se preparem para o parto. Bem, quanto a isso só tenho a dizer que, parir nunca foi nem nunca será uma coisa fácil e muitas mulheres assustam-se facilmente com contracções ou sofrem de dores agonizantes durante vários minutos ou horas. Estes encontros servem para as preparar para o grande momento das suas vidas, e isso têm um grande impacto na auto-estima da mulher. E sim, também têm razão quanto à amamentação, mas desde que a mulher engravida até que o bebé deixe de amamentar, tudo pelo que a mãe passa, stress físico, psicológico ou emocional é transmitido para o bebé e também existem bastantes estudos que comprovam essa afirmação. Depois de deixar de mamar, tanto o pai como a mãe, influenciam directa e indirectamente a sua personalidade.

Hoje, elas vivem até cada vez mais tarde (30 anos) com o sonho de serem princesas, de terem um principio e um castelo. Sonham e fantasiam, sendo muito poucas aquelas que são capazes de lidar com uma relação de uma forma analítica complementando-a com a fragilidade, amor e uma pitada de ciúmes, de inveja. É suposto uma mulher pertencer e proteger o seu homem. Ainda que às vezes a violência para a maioria das macacas seja a solução, bastará, para as mais inteligentes, a utilização de pequenos gestos, um agarrar mais firme do braço ou da mão, um maior número de beijos ou olhares fulminantes. É também preciso que os bons homens deixem o futebol e ocupem esse espaço com a cozinha, com a mulher, com os pensos higiénicos ou os tampões, com as roupas ou as suas emoções. Eles são crescem se elas os chatearem, e elas só os agarram com força se eles se dedicarem. Mas cuidado, é preciso haver humildade, confiança e uma forte amizade. Relações com segundas intenções ou facadas pelas costas, não é uma relação, é uma guerra depressiva e negativa.

Mas deixando de parte as mulheres e a sua aparente incapacidade de cuidar de uma criança, penso que temos de começar a ensinar também os porcos e as vaquinhas a amamentar, e já agora, a preocuparem-se a terem mais cuidado com a higiene. A quantidade de bactérias que aquelas línguas trazem...

Deixando-me de brincadeiras, só não marco umas sessões, porque não tenho namorada, e ia parecer mal ir para lá sozinho... é isto que um homem recebe quando se preocupa com a saúde do filho e da mulher que ainda não tem. Sou olhado de lado, gozado e provavelmente "banido" por ter uma atitude demasiado estranha e direi até, TABU!.

--------------------
Informações:
A Unidade de Cuidados na Comunidade Bairradina está a organizar sessões pré natais sobre amamentação.
Informações e inscrições:

Contacte a sua enfermeira de família ou as conselheiras de amamentação:
  • Enfª Isabel Lima
  • Enfª Maria José Andrade
Contactos:
  • Centro de Saúde: 231 202 023
  • UCC Bairradina: 918 265 075
  • E-mail: ucc-mealhada@csmealhada.min-saude.pt
Links úteis de apoio às mães:

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

O importante, é descobrires que o podes fazer...



Nós aguentamos estas coisas difíceis, porque existe gente que não o consegue. É preferível que nos aconteçam a nós do que a alguém que não consegue nem sabe lidar com a situação. E é tão fácil a nossa mente criar pensamentos depressivos, negativos ou até mesmo a ideia de suicídio.
O grande problema porém, é esquecermos-nos de nós, de por vezes sermos incapazes de nos tirarmos da equação, deixarmos de ser o centro e passarmos a ser a periferia do problema, ou apenas uma variável. E se o problema às vezes é tornarmos-nos "egoístas" e acharmos-nos a culpa de um problema ou a incapacidade de agir, outras vezes também nos esquecemos de nós, dos nossos sentimentos, memórias, ideias e opiniões, que também têm valor. Ainda que possa não ter valor para o resto do mundo, tem para nós, e isso ajuda a desenvolvermos-nos e a conhecermos-nos. Porque nenhum problema é realmente horrível ou inteiramente culpa nossa.

Por vezes, mais frequentemente do que julgas, esquecemos-nos de nos perdoar, de nos acariciar, louvar e mimar. Mas estas atitudes "egocêntricas", não simbolizam a fragilidade e a necessidade de atenção, mas sim um meio de nos agradecermos, de nos abraçarmos e levantarmos uma auto-estima que não existe de todo no mundo animal. Um animal não desiste de viver só porque perdeu a manada, ele acredita que um dia voltará a encontrá-los e só tem de se manter vivo. Um animal não desiste de viver, fica apenas triste. Os neurónios espelhos ajudam-nos a aprender com os erros dos outros, a sentir a dor dos outros, sem nunca sentir verdadeiramente, ou a dar o valor que estas experiências devem realmente ter. Ajudam-nos a crescer sem nunca sentir aquilo que vemos, na pele. É um corta mato que nos trouxe até hoje, que nos ajudou a sobreviver. É um "boca-a-boca" transformado em imagem.
Esquecemos-nos de agradecer aos nossos pés, com uma massagem, o esforço tremendo a que os colocamos todos os dias. O auto-agradecimento, não é uma fraqueza espiritual ou psicológica. Não é  um desvio ou uma necessidade, é o centro emocional daquilo que nos torna humanos, aquilo que nos molda e inspira. Porque um beijo não é mais do que uma inspiração exterior, assim como o abraço ou nadar. Precisamos de nos perder de nós próprios, de deixar os nossos EUs passear sozinhos, de soltá-los das amarras, das máscaras, dos medos e indecisões. E quando os deixamos ir, precisamos de os encontrar de novo, de os incentivar a voltar, de cantar para eles, e fazê-los apaixonarem-se de novo pela pessoa que muitas vezes não conhecem.

Não preciso de experimentar uma praxe, para dizer não.
Não preciso de comer carne de cão, para dizer não.
Não preciso de violar uma criança, para dizer não.
Porque eu vi ou vivi o suficiente para me consciencializar, para me decidir e formar a minha própria opinião. Ainda que às "vezes", se deva experimentar algo antes de dizer que não, não significa que tenha de passar por algo ou fazer alguma coisa só para me autorizar depois disso, a ter e formar uma opinião. Porque se todos tivéssemos de fazer tudo de novo, de errar onde os outros erraram, de errar onde os nossos pais, amigos e familiares erraram, a palavra evolução não faria sentido. Não faria sentido porque nunca existiria. Aconteceria connosco o que acontece hoje com muitas espécies que existem neste planeta. A única coisa com o qual os animais podem contar é a sua própria memória. Mas a memória só é construída através das experiências. Experiências que foram vividas pelos próprios, como acontece com todas as tartarugas, ursos e leões depois de abandonarem a progenitora.

Nós não somos fracos por errarmos. Não somos horríveis por cometer erros estúpidos ou inconscientes. Somos animais que têm sorte em não viver na selva. Se vivêssemos, mais de 90% de nós estaria com a cara e o corpo cheio de cicatrizes causadas pelos erros que criámos durante a nossa vida. Provavelmente mais de metade de nós não existiria hoje e muito menos sobreviveria à adolescência.
Se sou incapaz de olhar para mim, de me perdoar e agradecer, de me colocar ou tirar da equação de um problema que me corrói, me causa angustia e não me deixa dormir, aquilo em que me torno, é numa pessoa incapaz. Incapaz de criar auto-empatia, auto-felicidade, de me valorizar. E eu tenho valor, tenho voz, tenho-me porque sou. E quem poderei abraçar ou ouvir quando um dia me perder no mundo, no meio da montanha? Se nunca me consciencializar de quem sou e me perdoar, continuarei a fazer parte do rebanho que me guia sem noção de que o sou. Deixo que as minhas opiniões sejam construídas pelos outros e pregadas pelos mesmos, só porque me soam bem ao ouvido ou se conjugam com o caminho que me fazem seguir.

Às vezes, temos de nos afastar para ver a pintura completa. Para observar as várias cores que o compõem, os traços, o plano de fundo, a cena principal, os detalhes e os adereços. Estudar o que se apresenta à nossa frente, não como um grave problema, mas como a oportunidade de aprender, uma vez mais, a derrubar o muro ou passar por cima da árvore tombada. No infinito do universo, os nossos problemas são insignificantes, apesar de terem o seu valor e pressão pessoal/social.
Se não soubermos aprender e crescer com o nosso choro, fracasso, depressão e tristeza, de nada nos adianta perdoarmos-nos. De nada adianta atirar para trás das costas o que nos custa tanto enfrentar. Se não quisermos pensar mais no que nos magoa, incomoda ou odiamos, de nada adianta ser-se e viver. Porque da mesma maneira que precisamos de enfrentar os nossos medos para nos levarmos mais longe, também precisamos de nos ouvir ou de exteriorizar com um ouvido que não ouça apenas, mas que se faça também acompanhar de um cérebro analítico, de uma consciência que decomponha o espinho na realidade estupidamente simples que é.

A minha ultima relação foi difícil. Ela decidiu atirar tudo para trás das costas e esquecer que existimos. Eu aceitei chorar, "passar pelo luto" e autorizar-me a perder-me de mim mesmo, de me esquecer e vaguear como uma sombra, silenciosa. E enquanto ela vivia, no seu mundo já muito melhor, eu regurgitava e recordava todos os momentos, todas as conversas, todos os gestos e carinhos. Percebi um dia, de que toda a culpa que carregava nos ombros desde a separação, não era minha. Que nem sequer era culpa, eram ideias que criara à minha volta, imagens e memórias falsas que denegriam a minha auto-imagem, o meu EU. Aquilo que tinha sentido durante tantos meses, não era culpa, era a minha incompreensão, a minha falta de decomposição dos problemas que achava serem problemas meus, quando nunca o foram. Porque uma erecção durante um beijo e um abraço não eram sinónimo de querer sexo. Pornografia nunca foi uma traição e mentir-lhe vezes sem conta de que não via, demonstravam a insegurança dela por perguntar tanta vez. Era a desconfiança dela e o fraco amor que sentia e tinha por mim. Eram jogos psicológicos e os ciumes obsessivos. Foram as quase proibições de não olhar para as outras raparigas ou sequer para as suas roupas. As tristezas acumularam-se como feridas que um dia voltariam para me atormentar, julgar e criticar. O problema, nunca fui eu, foi ela. Mas um problema mais grave, teria sido aquele momento em que chorar e deprimir-me teria sido apenas uma fase "má" da minha vida e não a CHAVE de toda uma descoberta e re-descoberta de mim próprio, do meu ser, do meu EU, do meu amor e da minha paixão.
Se ela atirou toda a "tristeza" para trás das costas e esqueceu tudo aquilo que "criámos", eu saltei o tronco, subi o muro e deixei para traz o Jardim do Éden que é acarinhado incompreensivelmente e sem fazer muitas perguntas pela grande esmagadora maioria da população neste planeta.

O difícil não foi sofrer, foi puxar-me de novo para fora do poço. Foi o aperceber-me de que se não tivesse chorado por mim e sentado a ouvir-me, teria acreditado para sempre, que tudo tinha sido culpa minha, que era um porco e um merdas. O fácil e gratificante, agradecer aos amigos vezes e vezes sem contas; Foi perdoar-me, abraçar-me e reconhecer que dentro de mim, existe um EU que nunca me abandonou e me ajudou a crescer. Um dia quando eu partir, quero ser o atalho.

O importante não é só ouvires-te, é descobrires que o podes fazer.
Às vezes estamos a errar e nem nos damos conta.

Basta subires para uma cadeira e rapidamente te lembrarás daquilo que procuravas...

--------------------

domingo, 19 de janeiro de 2014

Adoro ouvir-te, ver-te e cheirar-te... [2]


Subi as escadas sem pressa, enquanto os teus gritos chamavam pela Joana que de tanto medo paralisara atrás da porta do seu quarto. Ao longe, vi-te pegar na sua mão e fugir para o teu quarto onde usarias o telefone. Sorri.
Fechas-te a porta com força, exteriorizando o medo, e trancaste-te no único espaço que achavas ser seguro. Ri. O telefone não iria funcionar e tão pouco usarias o telemóvel. Deixaste-o no casaco, como sempre o fazes. Nunca te descuidaste. És monótona e eu adoro isso. És fácil! Previsível! E inteligente o suficiente para perceberes que sou eu quem faz as grandes decisões.
Podia ouvir-te os "shh" cada vez mais baixinhos, num pedido suplicado para que Joana pará-se de soluçar. A minha impressão digital da caminhada tornava-se ténue à medida que me aproximava da porta por cima daquele tapete de arraiolos que tinhas trazido de casa da tua mãe.
Parei. Inspirei e ouvi. A chuva caia, e o som dos relâmpagos caíram sobre a tua porta, desfazendo-se num estrondo que parou o teu coração por breves momentos. Viste a minha bota no ar e recolheste ainda mais a tua filha sobre o teu peito. Aquela cómoda nunca tinha sido um local tão bom para te esconderes como até este dia. Ouvi de novo a tua bela voz expressa através de um grito.
-- Não nos faça mal! Por favor! Leve o que quiser!
Nem sabes a vontade que me deu para rir dessas palavras fáceis de repetir e repetir sem sentires o que realmente querem dizer. O teu corpo pode tentar provar o contrário, mas só te estás a enganar a ti própria. Deixa que me aproxime de ti, da tua filha, da sua boca e das suas cuecas e a tua alma sentir-se à tão violada que serás incapaz de falar. Cada palavra ficará proibida de sair da tua boca e obrigada a usar o teu corpo feminino como escudo ou apenas uma presença chata, incomodativa e esperneada de músculos sem força e amor que nunca mais acaba.
Devagar tirei a máscara, deixando-a cair num soalho caríssimo, coberto de pó e farpas da porta rebentada pela maçaneta. Não precisei de olhar em volta para reconhecer a tua riqueza e luxuria. Passei semanas a olhar para este quarto, a ver-te despir e algo mais...
-- Adoro a decoração! Mas acho que devias pendurar uns puzzles nas paredes, trazer uns amigos, dar um jantar.
As duas porquinhas mantiveram-se em silêncio.

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Quando olhares para trás...


Sou um figurino na história da tua vida. Um adereço que serve simplesmente para entreter os olhos enquanto não desvias o olhar da estrada que segues religiosamente, acreditando que te irá levar ao futuro que programaste meticulosamente durante toda a tua adolescência. Quando olhares para trás, irás deparar-te com uma estrada rodeada por um deserto de nada; e vais-te perguntar para onde foram as flores, a relva, os arbustos, as árvores, os animais e as pessoas que criavam o plano de fundo da tua vida "perfeita".
Quando olhares para trás... já não existes, deixas-te de fazer parte deste mundo. Foste apenas uma recordação egocêntrica, que sem nunca olhar para trás, se desviou da estrada, sem perceber que um dia, seria deixada para trás na emaranhada floresta de fantasias.

No fim, só te terás a ti como a única recordação. Uma recordação que sorri e chora sem saberes; Que se encolhe e agita numa depressão ou numa festa que não controlas. E é então que ao pedires ajuda, tu gritas e soltas do peito a solidão da tua alma aprisionada, sozinha na frieza da tua pessoa, das tuas manhas e tramas. Fazes das tuas histórias um livro, na esperança que te abracem e te digam o que tu própria te tornas incapaz de dizer: "-- És perfeita! És especial! Tenho orgulho em ti! Fazes-me feliz...".
Serras os punhos, os dentes e baixas a cabeça, numa frustração humilhante de viver contigo mesma, sabendo que não podes fugir dela nem voltar para trás. As costas curvam-se numa dor que te aperta o peito e os lençóis arranham-te o corpo. Sentes as paredes conspirar contra ti e o teu cabelo tentar sufocar-te num calor que o teu corpo é capaz de produzir para aquecer duas pessoas. Não és uma delas. Tu queres morrer, desaparecer, voltar à estrada e ser atropelada. Deixada à fome de um carinho na tua cara, de um beijo carinhoso na tua bochecha e de um abraço que te tire o sopro da inocência.
Os suspiros propagam-se, chorando ranhosos pelas paredes do teu EU que teima em continuar a lutar por uma vida que já não te traz alegria. O teu cérebro abandonou-te... proibindo-te de te expressares e de te atraíres. O teu corpo tem inveja... Inveja do mundo que te pode ver, que te pode cheirar e tocar. Tem inveja do que não pode ter e esse ter és tu! O teu Eu que o abandonou na escuridão. O teu Eu egocêntrico viciado numa construção fantasiada por uma menina influenciada no mundo que a julga e a ensina a ser e a tornar-se.

Tenho saudades tuas... do teu sorriso e do teu abraço. Das gargalhadas e das noites abraçados. Da tristeza do teu olhar, dos teus olhos olharem os meus. Dos teus lábios moverem-se ao som da tua voz. Da tua voz, doce, que me embalava e acalmava o turbilhão de desilusões ou dores do passado que me atormentavam o presente. Saudades de acordar contigo e de nos puxarmos para fora da cama, esgrimindo a preguiça com a audácia que tendia em esquecer fazer parte ti.
Tenho saudades de quando olhavas para trás e num só momento, ainda que muito longe de te compreender, me abraçavas, me agradecias, sorrias e perdoavas. Tenho saudades tuas... dos teus sonhos e fantasias, dos teus livros e invenções na cozinha, do sabor na ponta do teu dedo, do cabelo à frente dos olhos e dos teus olhos me olharem no espelho.

Estou aqui, contigo. Agora e até ao teu ultimo momento.

--------------------

Ouve, respira, aceita...



Uma melodia tocava nos meus ouvidos, leve, como uma brisa pelos cabelos, levando-me da mente a preocupação. Um carinho gentil, de um amor que chega na primavera. O sol subia a cada passo, acordando do frio a natureza adormecida, hibernada no tempo; E em cada flor, cada pétala, cada folha, podia-se ouvir o espreguiçar cuidadoso. Criava-se à minha volta uma dança apaixonada que não se ouvia, nem se podia ler, mas que se podia sentir e fazer-nos chorar.

Sentei-me na margem do lago, onde as ondas me banhavam os pés e as pernas, num balançar orgânico acompanhando o som de uma música que recordava. Uma memória que me trazia alegria. Um reconforto emocional que não existia em fotografia ou numa peça de roupa. Um gesto, apenas. Uma mão sobre a minha cara e um par de lábios vermelhos, molhados, que embatiam nos meus como um doce. Fazendo crescer o roçar dos nossos corpos numa troca de pólens, de emoções e vibrações.
As notas flutuavam com o meu corpo, enquanto a natureza me carregava no seu ventre. E o seu ventre, era o mundo. Era aquele lago e aquela paisagem que acordava para um dia em que... não haviam oportunidades para aproveitar ou criar, mas uma solidão do cosmos com que se podia dançar.

Ouve...
Respira...
Aceita...
Estás em casa...

--------------------

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Azul transparente...


Viemos do mar e cada vez que o seu som rebenta nos nossos ouvidos, o cheiro nos entra pelo nariz e o sabor salgado se agarra à língua, o nosso corpo anseia o azul transparente do elemento que nos sacia a cede, arrefece o corpo e nos faz boiar na solidão do nosso pensamento.

Esticámos as fronteiras do "fim do mundo" e tornámos a circunferência numa esfera.

quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Se eu te der a mão...



Se eu te der a mão e partilhar um sorriso acanhado, quero que dances comigo. Quero, porque se apenas desejar, tenho a certeza que a confiança foge de vergonha. E como tem mão forte, leva à força as palavras que te preparei em dizer. A minha vergonha é tão medricas, que até a voz me leva para não ficar sozinha.
Se te abraçar, quero que sintas aquilo que o meu corpo é incapaz de dizer. Que os meus olhos sejam, devagarinho, conquistadores dos teus. O nariz, do teu corpo, do cheiro dos cabelos e do odor apaixonado que dança sobre a tua pele arrepiada de ansiedade. Os meus lábios, dos teus, para sentir na ponta da minha língua o sabor do teu batom e tu o calor que te prometo nos dias mais frios ou o reconforto dos conquistados com a malícia que reconheço ao longe nesse rosto tão único.
Se eu te der a mão, a dança que julgas conhecer e capaz de recriar, transformar-se-á num voo, num bater de asas, de murmúrios e gemidos, de cores e sabores. Uma dança de acasalamento que te atrai a mim pelo caminhar que se desloca a ti, confiante. Pelo sorriso que deixo alegrar-me o rosto e os olhos que te penetram a mente.
Se aceitares a dança, dança comigo até ao pôr do nosso sol, até que as memórias de já velhas, se apaguem para podermos um dia, do outro lado, nos re-encontrarmos e vivermos de novo o amor, a paixão, o desejo e a saudade daquilo que foi a nossa dança, o nosso voo, as nossas memórias...

Danças comigo?