Tenho ouvido os teus gritos toda a minha vida. Como uma faca afiada voando bêbeda por todo o meu corpo. Tenho um trago esquisito na boca que se intensifica cada vez que me beijas, e um desconforto calafrio por todas as vezes que me obrigas a ajoelhar. As chapadas que me cortam a cara, soltam do teu corpo a raiva de um ser anormal e grotesco.
A carrinha parou em frente à escola e corri para junto dos meus amigos para jogar à bola. Estava muito sol e algumas nuvens no céu. A brincadeira prolongava-se como uma festa de anos repleta de bolos, até que um deles se entusiasmou e fez a bola cair do outro lado do portão, que me aprontei a abrir. A saia rodopiava com a velocidade e a minha alegria lia-se no rosto. Agarrei na bola e vi um senhor com uma cara simpática a querer oferecer-me um doce. Aceitei, gulosa. Disse-me para não contar a mais ninguém se não tiravam-me o doce e concenti. Com os dois braços, atirou a bola de novo para o recinto da escola e fez-me ficar muito caladinha com um "chio". Agarrou-me na mão levando-me até ao carro onde me deu um peluche. Colocou-me o cinto e levou-me até minha casa. A mamã e o papá eram muito amigos dele e tinham andado a preparar-me uma surpresa.
Com uma mão agarrou-me no cabelo e com a outra numa perna. Gritei e atirou-me contra a parede. Com uma agonia aguda no joelho, que dobrava tanto como uma dobradiça enferrujada, tentei levantar-me, fugir de um quarto sem fuga, de uma prisão que se tornava em cada esbracejo e agonia, no meu próprio túmulo. Arrastava-me pelo chão frio, enquanto as suas mãos me agarravam nos tornozelos como tentáculos de polvo, acorrentando-me para sempre ao som que me roubaria a liberdade.
Como um urso, agarrou-me no pescoço e obrigou-me a levantar do chão para me sentar numa cama feita de lençóis que me picavam as pernas. Com força que não podia igualar, enforcou-me o pescoço na almofada e enfiou a mão gorda por baixo da saia. Os meus gritos ecoavam nos meus ouvidos, fazendo-me consciencializar de que nem um simples grito de puro sofrimento, um guincho, escapariam daquele mundo cinzento ao qual não queria pertencer.
Como um urso, agarrou-me no pescoço e obrigou-me a levantar do chão para me sentar numa cama feita de lençóis que me picavam as pernas. Com força que não podia igualar, enforcou-me o pescoço na almofada e enfiou a mão gorda por baixo da saia. Os meus gritos ecoavam nos meus ouvidos, fazendo-me consciencializar de que nem um simples grito de puro sofrimento, um guincho, escapariam daquele mundo cinzento ao qual não queria pertencer.
A escuridão do teu olhar, continua a rasgar-me a alma, violação após violação, como um animal no cio, sedento de sexo, incapaz de amar. Quero voltar para os meus papás... quero abraçar a minha mamã e nunca mais a largar. Não quero voltar para a escola, não quero sair de casa, não quero sair do meu quarto.
Solte-me. Deixe-me ir, por favor. Quero sorrir!
Eu prometo que não conto a ninguém...
Eu prometo que não conto a ninguém...
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