terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Perdoo-me...


-- Porque dizes essas coisas!? O que foi que eu disse para reagires dessa maneira comigo?
-- Esperavas um príncipe!? Não o sou! Criar expectativas faz mal Inês...
-- Parvo! Fiz-te algum mal?
-- Não te armes em frágil comigo, está bem?

Parei, enquanto os pés dele marcavam o chão macio e húmido. Apesar do seu peso e altura, a maré apagava-lhes o rasto. Sem nunca olhar para trás, voltou de novo de onde tinha-mos vindo. Onde tinha eu a cabeça quando imaginei um mundo com ele?! Se a minha amiga Francisca estivesse aqui a ouvir-me fazer essa pergunta ou um par de garotos ranhosos, a resposta seria imediata! -- "Entre as pernas dele!".
Não foi a vida que me abriu os olhos neste momento, foi o interior dele, do Ricardo, que conseguiu passar a mensagem cá para fora: -- "Eu não sou aquilo que procuras e só irás sair ainda mais magoada se a relação continuar." Nunca o ouvi dizer tais palavras e muito menos o podia ver nos seus olhos, mas se nós mulheres somos boas numa coisa, é em memória! E cada pedaço de gesto que ele fez diante de mim, quer por mim ou para mim, fizeram-me perceber que algo dentro dele dizia que eu, mais tarde ou mais cedo, seria magoada.
Como fui capaz de ser tão pita!? Tão imatura e inconsciente!? Já nada tem valor ou valorizei demais? Que cega... Óh Inês? Ainda vives no mundo da fantasia?

O mar lavou-me os pés e olhei o horizonte. Abracei-me pelo frio e pela tristeza, em que me afundava entre os cabelos ao vento. Desci o olhar sobre os meus pés e tentei ver, entre um nevoeiro que descia a praia, um puto imaturo que fazia de mim a sua "menina" parva e sonsa.

O próximo rapaz que encontrar, terá de me fazer crescer. Terá de ter vontade de aprender e de ensinar. Não posso esperar tornar-me numa mulher só porque pura e simplesmente cresço velha ao lado de um rapaz que me diz amar. Não posso esperar que o tempo me dê um par de filhos ou que o "nosso" ambiente familiar se transforme com o tempo na paz que li e que me vendem em histórias, em novelas ou nos filmes. Não me posso permitir ser fraca a esse ponto. Não sou uma borboleta à espera de um borboleto que me construa um casulo e me ame para sempre. Sou um ser humano à procura da ligação que dê menos faíscas. Espero demasiado, dou demasiado e esqueço-me de mim com a mesma facilidade com que esqueço a matéria da 4ª classe. Será o meu eu a tentar esconder e esquecer o carinho que não é correspondido? Era suposto ensinar-me e não fazer-me apaixonar sempre pelo mesmo tipo de criança imatura que se acha sempre responsável e confiante. Dessa perspectiva, tem parte da vida feita, mas a vida é como um jogo? Não acho que seja muito saudável deixar para trás etapas importantes, como a humildade. Há coisas que não nos devem ser ensinadas pelos outros. Temos de ser nós, para dar valor.

Perdoo-me a mim mesma por ter acreditado numa relação que não entendia, com um rapaz que não conhecia. Perdoo-me pela falta de experiência por não saber guiar a minha relação para o caminho que nos trará bons frutos. Perdoo-me pelos ciumes e atitudes que levaram o melhor de mim e me fizeram agir de maneira negativa sem qualquer valor evolutivo ou educativo. Perdoo-me por aceitar uma relação para o qual ainda não estou preparada. Perdoo-me por me sentir culpada por algo que não fui capaz de ver e antecipar.

Chorar não é errado, apenas o que não fazes com aquilo que ele representa. Uma tristeza não é apenas um sentimento emocional criado momentaneamente pelo cérebro, é um conforto físico que se apoia em memórias, para nos fazer consciencializar a razão de algo negativo. Serve para nos fazer crescer. É o método que o próprio cérebro possui para se auto-instruir e evitar no futuro.

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