domingo, 1 de setembro de 2013

O silêncio...




A escuridão vai e vem, sobre um vento que nunca sopra, cantando ao som do silêncio que não tem voz nem presença. O uivo do lobo levanta-se sobre a lua cheia, ultrapassando as nuvens e perdendo-se nas estrelas que não compreende. A água escorre no rio como uma veia em adrenalina, protegendo da chuva tempestuosa os peixes peregrinos.
Os pássaros já não cantam, o sol já morreu e um candeeiro acende-se no inicio da rua, onde sombra alguma mora. Os papeis fazem corridas, e o som do frigorifico começa como um zumbido inerte, sem asas. O quarto encolhe, os ouvidos dilatam e até o mais pequeno grilo te desperta a atenção. A roupa acolhe o corpo abandonado, despejado como um balde para a fossa de amores e carinhos que existem apenas na tua mente fantasiosa. Desconheces o porquê, mas decoraste como um mapa a tristeza que te corrói e a felicidade que te faz correr. O sono não vem e dás-te fechada num quarto vazio que já esteve mais cheio, de um algo que espremido não dá nada. A solidão segreda-te ao ouvido, o murro no estômago que não sentes, mas que cheira a azia. Toda a gente nesta casa dorme acompanhado, e tu, és a única ovelha malhada que estraga a tendência, a estatística. Apertas-te então nos cobertores já tão enrolados, na esperança de fazer desaparecer do teu corpo o frio emocional que te acompanha em cada sorriso e em cada passo. Olhas para o lado à espera de ver um milagre mágico personificado, e dás-te de caras com uma parede velha que te conhece o rosto melhor do que tu lhe recordas a tinta. O incómodo que te faz criar histórias, é o mesmo que te destróis os sonhos que já não recordas mas que te fazem relembrar, vezes e vezes sem conta, as merdas que foste fazendo. Os erros que se entalam na garganta e se acumulam como martelos que nunca param de bater no corpo frágil que já não controlas,  que já não respira; Que apenas sobrevive, aos fracassos que guerreiam com a tua fragilidade e os teus sentimentos, à espera sorrateiramente de um descuido teu para assumir de vez o controlo da vida amarfanhada e nojentamente defeituosa.
O medo não é teu, foi-te herdado, assim como tudo o resto que cresceu em ti e contigo. A criação de um ser humano, começa no momento fora das cronologias e dos temporizadores. Um momento que te passa em faísca por esse teu corpo que não te atrai.
A noite não é escura, é apenas o teu lado negativo a observar. O mundo não fechou as persianas só para deixar de te ouvir pensar. Não se esqueceu que existes quando tudo se calou, e não apagou a luz só para deixar de te ver.

O silêncio... está na tua mente, e é nela que começa a tua revolução.

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